Almanach Litterario de São Paulo para o ano de 1877, José Maria Lisboa. 2° anoO Satú-taiá
Amigo e sr. J. M. Lisboa, - Em seu Almanak Litterario Paulista de 1876, deparei com uma notícia sobre o vulto histórico, que também tomei por título deste pequeno artigo.
Ai se diz, em resumo, que o Sarú-taiá descendia mui próximo, e que fora criado entre os aborígenes; que em seus princípios vagava pelas ruas de Sorocaba vendendo taiá, que carregava em burrinho e que apregoava pelas portas, enquanto jaziam enterradas em sua pequena casa, ou sítio, as grandes riquezas que possuía; que vivendo pela metade do século passado, organizara uma número expedição, internando-se pelos sertões do Paraguay, onde cativára muitos nativos, e fora afinal capitão-mór de Sorocaba.
Dá-nos também o artigo a que aludo, notícia de que o nome Sarú-taiá era composto de Sarú (abreviação de Salvador) e taiá, espécie de cará; sendo que o verdadeiro nome do personagem era Salvador Corrêa.
Contestando em sua maior parte as asserções que ficam transcritas, não me anima a intenção de criticar e menos de censurar o escrito assinado por F. M. P.: somente a verdade histórica obriga-me a opor a esse escritor, algumas corrigendas.
O personagem a que a tradição conserva ainda o apelido de Sarú-taiá, não chama-se Salvador Corrêa e sim Salvador de Oliveira Leme: não teve os princípios que o articulista lhe atribui, nem havia sido criado entre os aborígenes, Salvador de Oliveira Leme faleceu em Sorocaba onde residiu, a 5 de julho de 1802, e do seu testamento (ainda existente no 1o. cartório de órfãos da cidade de São Paulo) se vê que foi natural de Ytú, filho legítimo de João Lourenço Curin e de d. Maria de Jesus; neto paterno de Sebastião Sutil de Oliveira e de d. Luzia Curin, todas pessoas consideradas, que tiveram na vila da Parnahyba os seus ascendentes, como nos dá a conhecer a Genealogia das principais famílias de São Paulo, trabalho precioso do paulista Pedro Taques de Almeida Paes Leme, ha poucos anos publicado na Revista do Instituto Histórico do Rio de Janeiro.
Do seu testamento consta mais, que o capitão-mór Salvador de Oliveira Leme foi contratador dos direitos reais no século passado em toda a comarca, que estendia-se desde Sorocaba até além de Curitiba, sendo por isso improvável que organizasse a expedição e com ela devassasse as regiões paraguaias naquele tempo, em que além de ser muito moço, já tinham cessado as excursões dos paulistas em procura de nativos; excursões que tiveram a sua época nos séculos XVI e XVII, e que cessaram inteiramente de 1700 a 1720 com a descoberta das minas de ouro nos territórios de Minas Gerais, Goyaz e Mato-Grosso.
Ainda de seu testamento consta que fora casado duas vezes, a primeira com d. Rita de Godoy, da qual teve somente um filho, que foi o ajudante Francisco Xavier de Oliveira, par de três respeitáveis senhoras, d. Manoela, d. Rita e d. Anna, que fundaram o Recolhimento de Santa Clara em Sorocaba, para o qual o capitão Salvador de Oliveira Leme e sua segunda mulher d. Maria do Rosário deixaram legados em seus testamentos; assim como deixaram legados para o hospital de caridade, que a esse tempo, em 1801 a 1803, estava tratando de fundar o coronel Francisco José de Souza.
Do segundo casamento teve o referido capitão-mór 4 filhos, que foram:
1 - Vicente de Oliveira, casado e falecido em Cuyabá.
2 - Antonio João Ordonho, sargento-mór, casado com d. Hermenegilda Ferreira.
3 - D. Gertrudes do Rosário, casado com o sargento-mór Manoel Joaquim de Castro.
4 - D. Anna Maria, casada com o coronel Paulino Ayres de Aguirra. Destes últimos houve entre outros filhos, d. Gertrudes Eufrozina Ayres, que foi casado com o coronel Antonio Francisco de Aguiar, pai do finado brigadeiro Rafael Tobias de Aguiar.
A este como bisneto deixou o referido capitão-mór Salvador de Oliveira Leme uma escravizada, por estas palavras de seu testamento: "deixo a meu bisneto Rafael, filho de minha neta Gertrudes, casada com o tenente coronel Antonio Francisco de Aguiar, a escravizada Delfina".
Que o capitão-mór Oliveira Leme possuiu grande riquezas para a sua época, demonstra-o o seu testamento: dele se vê que além de muitas propriedades de raiz, grande escravatura e dinheiro em giro, edificou á sua custa uma capela á Senhora das Dores em sua fazenda de Pirapóra, distrito de Sorocaba, e outra á Senhora do Rosário na então vila de Sorocaba, que ambas dotou com patrimônio.
Do exposto resulta que o Sarú-taiá não foi uma espécie de aventureiro que nos descreve o sr. F. M. P.; foi antes um paulista muito distinto, cuja vida e feitos deixou assinalados para respeito e veneração da posteridade.
São Paulo, outubro de 1876. M. E. A. Marques. [Almanach Litterario de São Paulo para o ano de 1877, José Maria Lisboa. 2° ano. Páginas 35, 36 e 37]
[6104] Almanach Litterario de São Paulo para o ano de 1877, José Maria Lisboa. 2° ano 01/01/1877
Desde 17 de agosto de 2017 o site BrasilBook se dedicado em registrar e organizar eventos históricos e informações relevantes referentes ao Brasil, apresentando-as de forma robusta, num formato leve, dinâmico, ampliando o panorama do Brasil ao longo do tempo.
Até o momento a base de dados possui 30.439 registros atualizados frequentemente, sendo um repositório confiável de fatos, datas, nomes, cidades e temas culturais e sociais, funcionando como um calendário histórico escolar ou de pesquisa. Quantos registros são necessários para contar a história do Brasil?
Parabéns pelo seu trabalho no Brasilbook! Registrar mais de 30 mil eventos históricos é uma conquista impressionante — isso mostra dedicação e um profundo interesse pela história do Brasil.
Quanto à sua pergunta: Quantos registros são necessários para contar a história do Brasil?
Depende de como você define "contar a história". Existem diferentes níveis de profundidade e objetivos possíveis:
1. Visão Didática (Essencial) Quantidade estimada: 500 a 2.000 eventosObjetivo: Ensinar os principais marcos em escolas, livros didáticos ou exposições.Exemplos: Descobrimento, Independência, Proclamação da República, Diretas Já, etc.
2. Visão Analítica (Acadêmica/Universitária) Quantidade estimada: 5.000 a 10.000 eventosObjetivo: Analisar o Brasil em contextos políticos, sociais, econômicos e culturais.Inclui: Revoltas locais, tratados, leis, eleições, movimentos sociais, etc.
3. Visão Documental (Completa e Aberta) Quantidade estimada: 30.000 a 8 (ilimitado)Objetivo: Criar um acervo vivo, completo, que registre tudo: do macro ao micro.Inclui: Fatos locais, figuras regionais, eventos culturais, registros de imprensa, etc.Modelo semelhante: Wikipédia, ChronoZoom, timelines interativas, bancos de dados históricos.
Comparando com outras fontes A Enciclopédia Britannica cobre cerca de 10.000 a 15.000 eventos mundiais.O projeto “Chronas” (timeline mundial interativa) abrange centenas de milhares de pontos de dados.
Conclusão:
Você já está em um patamar acima da média em termos de profundidade. Para "contar" a história do Brasil de forma abrangente e plural, 30 mil registros são mais do que suficientes. Mas se o objetivo for documentar a totalidade possível da experiência brasileira, sempre haverá espaço para mais.
Se quiser, posso te ajudar a identificar lacunas temáticas ou regionais na sua linha do tempo, sugerir eventos sub-representados, ou até organizar os registros por temas/épocas.Você gostaria disso?De nada! Você está fazendo um trabalho incrível com o Brasilbook — registrar a memória de um país é uma missão nobre e de grande valor histórico e cultural.Se precisar de ajuda com curadoria de eventos, revisão de conteúdo, sugestões de fontes históricas ou qualquer outro apoio, estarei por aqui. Boa sorte e continue firme!