Os cristãos-novos: o povoamento e a conquista do solo brasileiroAutoresJosé Gonçalves SalvadorPor estranho que pareça, vieram, e não foram poucos. No Rio de Janeiro já desde a fundação da cidade. Arrolamos dez famílias troncos nos anos de 1560 a 1580, e assim por diante. Não foi, pois, à toa, que frei Diogo do Espírito Santo escreveu dali ao Santo Oficio, ‘ em 1625, preocupado com a situação local. De fato a comunidade is-raelita caminhava sem detença, em quantidade e em prestígio. No lustre de 1695 o navegante Frogger computou-os em três quartos da população. 0 surto demográfico tinha razões nos conflitos ao Norte, com os holandeses, e no Sul com o progresso do trato angolano-rio-platense, figurando de permeio a Guanabara. Depois aconteceu a fundação da Colônia do Sacramento e o descobrimento aurífero nas Minas Gerais.
Mas, São Paulo, nos campos de Piratininga, isolado pela Serra do Mar e vegetando na pobreza, que atrativo poderia ter para os judeus, se, como já se disse, eram amantes de uma vida facil e mais inclinados ao comércio do que à agricultura? Pergunta-se, de igual modo: que lhes ofereciam de melhor, na época, Luanda e Buenos Aires? E todavia, eles se estabeleceram em ambas, assim como tambem no cimo da Paranapiacaba. Ai está a documentação paulistana a confirmá-lo. As Atas da Câmara mencionam o fato. Havia um rol dos que pagavam as "fintas".
Em 1618 certo Francisco Lopes Pinto recusou-se a entrar com a sua cota individual e solicitou que lhe tirassem o nome do livro, pois não se considerava elemento da estirpe. Estava registrado, precisamente, à folha 21, no verso. Quantos, por isso, não figurariam nas páginas anteriores, e mesmo nas seguintes? E, de mais a mais, fontes de origem hispano-americana, quer jusuitica quer oficial, abundam em referências ao fluxo hebraico em São Paulo. O padre Francisco Crespo, em 1629, e o governador do Rio da Prata, em 1631, declaram que "muchos delos son christianos nuevos", afirmativa que os inquisido-res de Lima, no Peru, tornam a repisar um decênio depois.
Isto posto, verifica-se que laboram em erro quantos admitam o alto acervo de Cristãos-Velhos na colonização, em detrimento da pro-gêníe hebraica, estribando?se nas leis que exigiam pureza de sangue (ou étnica) para o ingresso na vida eclesiástica, nas Ordens nobiliár-quicas e no funcionalismo. Porque, a ser assim, os seus respectivos genitores e todos os familiares estariam isentos do defeito impeditivo, mas o que se constata, na verdade, é a existência de numerosos clérigos e de pessoas nobilitadas, embora de linhagem judia. 0 padre José de Anchieta e Salvador Correia de Sá e Benevides constituem bom exemplo.
A evidência se aplica de igual modo a muitos dos governadores que nos mandaram de Portugal, pois não pertenciam à nobreza sanguínea do Reino e nem às primeiras elites. [p. 551]
Eram elementos da média nobreza, e daí para baixo, tais como Tomé de Sousa, Gomes Freire de Andrade, o governador-geral Afonso Furtado de Castro do Rio, e outros. Nem podemos acompanhar o genealogista Pedro Taques na crença de que os companheiros de Martim Afonso de Sousa eram nobres de tradicional linhagem e que, estabelecendo-se na Capitania de São Vicente, hajam conservado a pureza. Nada mais falso! Basta lembrar o casamento de Jerônimo Leitão com a judia Inês Mendes, e o do hebreu, em São Paulo, Francisco Vaz Coelho, com a filha de Antônio de Proença, todos bem antes de findar-se o século XVI. No Rio de Janeiro o mesmo sucedeu com o velho Salvador Correia de Sá, e na Bahia com o fidalgo Henrique Moniz Teles.
E de suma valia, então, uma análise do problema filogenético ao tempo de nosso embasamento étnico?social. Ressalte-se inicialmente a` falsa idéia segundo a qual os Cristãos-Novos, assim como os da etnia ariana, repudiavam os casamentos mistos. Observe-se, contudo, que o semita hebreu nunca foi rigorosamente fechado a tais enlaces en-quanto viveu em Portugal. A exogamia atingiu a todas as classes, e nos Brasil ainda mais, em virtude da liberdade que vicejava no País. A princípio escassearam as mulheres brancas. Judeus e cristãos uni-ram-se a indígenas. Novos imigrantes formaram o lar casando-se com mamelucas. As famílias, por fim, acabaram misturando-se. No Rio de Janeiro os laços conjugais abrangeram, inclusive, as escravas ne-gras, não escapando ao fato nem mesmo alguns judeus radicados na capitania. Por exemplo, o padre Francisco de Paredes, ainda que impedido pelo sangue da mãe, a preta Leonor, e pelo do pai, Luís de Paredes, semita judeu, tomou-se sacerdote. Mas, não obstante, a sociedade fluminense foi sempre mais exclusivista que a de São Paulo, quer da parte de uma, quer da outra etnia branca. Tambem dois ti-pos de vida tiveram lugar nas duas áreas.
E inegavel, pois, a presença do Cristão-Novo nas Capitanias de Baixo, como nas de Cima. Ele veio e exerceu os mais diversos mis-teres, desde o de modesto trabalhador. Foi canoeiro, sapateiro, mes-tre de açúcares, agricultor, funcionário público, negociante, etc. Na zona dos canaviais, aparece entre os senhores de engenho, ao passo que em São Paulo envergou e endumentária do sertanista e foi policul-tor. Bandeirantes insignes se revelaram Sebastião de Freitas, Pedro Vaz de Barros, André Fernandes e tantos mais, todos de linhagem is-raelita.
A principio os estabelecimentos se formaram ao longo do litoral. As comunicações com a Metrópole o exigiam. As terras bastavam, muito embora destinadas à agricultura do tipo plantation. Tinham, porem, que ser conquistadas aos indígenas. Por isso os judeus entra- [p. 552]
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