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Manuel da Nóbrega (1517-1570)
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      2016
De Cunhã a Mameluca. A mulher tupinambá e o nascimento do Brasil
Atualizado em 13/02/2025 06:42:31
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plantation e dos centros de comércio com a metrópole e coma África, as línguas gerais derivadas do Tupi representavam oprincipal veículo de comunicação. Em regiões de forte presençaindígena, como São Paulo, o uso do português foi marginal atéfins do século XVIII.Em 1698 o governador Artur de Sá e Menezes solicitavaao Rei que só enviasse clérigos que falassem a língua geral,tendo em vista que: “(...) a mayor parte daquella Gente se nãoexplica em outro ydioma, e principalmente o sexo feminino etodos os servos, e desta falta se experimenta irreparável perda,como hoje se ve em São Paulo com o nouo Vigario que veioprovido naquella Igreja, o qual ha mister quem o interprete(...)”. A mesma solicitação foi feita em 1725. Em 1828 HerculesFlorence escreveu que as senhoras paulistas de quarenta anosantes – por volta de 1780 – ainda falavam a língua geral noambiente doméstico.3O exemplo das línguas faladas no Brasil colonial mostraa necessidade de se olhar, com uma seriedade e interessecada vez maiores, as influências indígenas na formação socialbrasileira. O que ocorreu nos primeiros séculos da colonização,mais do que uma simples “dizimação” das sociedadesindígenas, foi um processo de transculturação4, em que muitoseuropeus se “indianizaram” a ponto de praticar a poliginiae a antropofagia, falar as línguas indígenas, e interagir, nemsempre de forma violenta, com as sociedades encontradas noNovo Mundo. Europeus como João Ramalho e Diogo ÁlvaresCaramuru foram bem sucedidos, contra todas as possibilidades,porque souberam se imiscuir naqueles espaços reservados pelasociedade Tupinambá aos estrangeiros, espaços que sempre [Página 34]

Nada, aliás, exemplifica melhor este ponto do que orelativo desleixo – quando comparados aos Jê – com que osTupi organizam o espaço da aldeia: aparentemente é o bastantehaver um ou mais pátios entre as casas reservados para ascerimônias; todo o resto parece um tanto caótico.74 Isto parececontradizer a evidência para os Tupinambá, já que todas asrepresentações de suas aldeias mostram uma rígida – ou“cartesiana”, como diz Roque Laraia75 – organização espacial.

No interior da paliçada, a aldeia Tupinambá aparece quase como uma cidadela renascentista. Seria isto uma transposição feita pelos artistas europeus de seu próprio “cartesianismo” para os Tupinambá?

Talvez nunca se possa responder a esta questão: por um lado é possível que a presença das paliçadas tenha se constituído em uma resposta à pressão militar advinda do contato, o que teria modificado padrões ancestrais mais próximos aos Tupi contemporâneos; por outro lado nunca foram encontrados, nas aldeias Tupinambá ou supostamente Tupinambá escavadas pelos arqueólogos, restos de paliçadas (que seriam facilmente detectados caso fossem encontrados).76 Sintomaticamente, a aldeia Carijó visitada por Hans Staden na ilha de Santa Catarina não é representada da mesma forma. [Página 120]

talvez esta tenha sido a alternativa preferida pela maioria dosgrupos, embora esta sugestão seja de impossível verificação.Alguns Tupinambá do Rio de Janeiro, após a derrota da Confederação dos Tamoios, migraram em direção ao interior emesmo para Santa Catarina (onde venceram os Carijó e foram destroçados pelos portugueses) e para a Bahia.Grupos de Tupinambá fugitivos de Pernambuco e daBahia ocuparam o Maranhão e o Pará, onde travariam contatosíntimos com franceses e outros europeus a partir da segundametade do século XVI. Durante o século XVII, após a expulsãodos franceses do Maranhão, estes Tupinambá iniciariamuma grande revolta contra os portugueses que se espalhariaaté o Pará; nesta revolta, de forma fugaz e insólita, gruposTupinambá e de tapuias se uniram contra os portugueses, masa morte do chefe Tupinambá Cabelo de Velha acabou por fazera confederação se romper e ser destruída. Os sobreviventesseriam escravizados e, por fim, quase extintos pelas epidemiasdos aldeamentos e pelas guerras, sendo também utilizados comsucesso pelos portugueses como caçadores de índios bravos.62Estas fugas, muitas vezes, estavam relacionadas à buscapela Terra sem Mal; não é o caso de, neste trabalho, discutira polêmica questão do significado da Terra sem Mal para osTupinambá,63 mas é importante notar que a fuga era umadas poucas estratégias de resistência às guerras, doenças eescravização disponíveis, e com a competição entre pajése jesuítas todo um terreno ficou aberto para os discursos [Página 254]

Deve-se salientar, a propósito, que não foi apenas na América que os holandeses se mostraram afeitos às uniões com os povos nativos: durante seu curto domínio na Angolaportuguesa (1641-1648), aqueles europeus deixaram muitos mestiços com as africanas, mestiços que representavam um grande problema para os portugueses. Tanto é assim que o Conselho Ultramarino, em 1651, afirmava que seria conveniente “muito por bons meyos, hir tirando daquelas partes, os filhos que os Olandeses aly deixarão, e os mestiços delles, e ter amisade, e pas com os negros (...)”. [“Sobre as capitulações que Salvador Correa de Saa G.or de Angolla fes cõ ElRey do Congo...”, (27/07/1651), in Norton, 1965: 290; sobre os relacionamentos entre os holandeses e os nativos de suas colônias cf. Boxer, 1981: 131]

No Paraguai os espanhóis que tentavam chegar ao Peru estabeleceram laços de aliança militar e matrimonial com os Cario, que eram os mesmos índios de fala Guarani chamadosna América portuguesa de Carijós.

As expedições conjuntas de espanhóis e índios ao Ocidente eram acompanhadas pelas mulheres como carregadoras – papel tradicional por elas ocupado nas guerras – e os espanhóis logo trataram de obter acesso a esta capacidade de trabalho através do casamento e da poliginia, naquilo que ficou conhecido como cuñadazgo, instituição que regulava, em benefício dos espanhóis, as relações de afinidade e intercâmbio com os parentes das esposas.

Em 1545 escrevia o padre Francisco Paniagua que os espanhóis de Assunção tinham até sessenta mulheres, e que apregoavam isto com orgulho:

“En las calles y plazas”: “(...) el cristiano no llama hermanos de mis creadas y mozas àlos hermanos de sus indias concubinas (mas) hermano de mis mujeres o cuñados’ (e aospais delas) suegros y suegras, con tanta desverguenza como si en muy legítimo matrimônio fuesen ayuntados a las hijas de los tales indios y indias”.86 [De Cunhã a Mameluca: A mulher tupinambá e o nascimento do Brasil, 2016. Páginas 266 e 267]

Os europeus logo passaram a tratar estas esposas comoescravas, trocando-as entre si por mercadorias como roupase cavalos; os espanhóis chegaram mesmo a assaltar aldeiasde índios aliados (as rancheadas) com o objetivo explícitode raptar mulheres para o trabalho: tais violências levaramas mulheres Cario a comandar um dos primeiros levantesindígenas contra os espanhóis, em 1539.87De todo modo, acabou por se constituir no Paraguaium sistema euro-indígena do qual nem os padres escaparam.Em 1552, o jesuíta Leonardo Nunes criticava asperamente ossacerdotes de Assunção, bem como dava conta da profundainteração entre nativos e adventícios:“(...) porque me dizen que ay allí diez sacerdotes, y destos solos dos o tres no tienem siete, ocho hijos, como los otros tienem; y éstostodavia tienem cinquo o seis indias dentrode su casa, las quales los sirvem dando mucha mala sospecha de mala vida; y alguno aydellos que no celebra a ya diez años, y otro a3 ó 4, y aos otros más les valdría no celebrar.Ay allí, según dizen, sietecientos o ochocientos hombres y todos repartidos em cinquobandos contrarios, y quada uno tiene a lomenos dez indias y algunos hasta sessentae setenta. Ay quyen tiene madre y hija, y deambas hijos; y otros que tienem dos hermanas y tías y sobrinas, y de la misma maneraque tienem de unas y de otras hyyos; y muchos o quasi todos tienem muchas parientascomo primas hermanas, y en otros grados deaffinidad. Y állase que éstos todos, entre hijose hijas, son quatro mil, y todos de quatorzea quinze años para baxo. Todos éstos, según sus peccados, parecen que no tienem sino elnombre de christianos: y si ouviesse de contar a V. R.ª los grandíssimos excessos que tienem en sus vicios, numqua acabaria” [Carta do P. Leonardo Nunes ao P. Manuel da Nóbrega, Baía (S. Vicente, 29/06/1552), in Leite, 1954 (I): 337-8]. [Páginas 268 e 269]

cada vez maiores de cana-de-açúcar. Em um dos principaisengenhos baianos do final do século XVI, por exemplo, asmulheres já eram consideradas como “inúteis” para o trabalhodo açúcar, e no entanto ainda representavam parte significativada mão-de-obra:“Nos inventários do século XVI, as escravas foram invariavelmente arroladas comosem ocupação (...). Assim as mulheres constituíam-se em uma categoria onipresentemas não particularmente especializada nasoperações elementares do engenho. Algumas indicações sugerem o reconhecimentono Engenho Sergipe do papel tradicional damulher nativa na agricultura de subsistência: uma roça era mantida separadamentepara suprir as necessidades alimentares doengenho; cinqüenta escravos foram designados para trabalhar nesta roça, dois terços dosquais eram mulheres – proporção muito diversa da razão entre sexos encontrada para apopulação total do engenho. Isso implica quese reconhecia o papel das mulheres nativasem certos tipos de agricultura”.169Nas regiões onde a escravidão negra não se desenvolveuprecocemente, caso de São Paulo, a presença privilegiada damulher nativa, Tupinambá ou Carijó (Guarani), durou bemmais e constituiu-se em um elemento básico do sistema: comomostrou John Monteiro, havia uma predominância clara demulheres e crianças nos plantéis de escravos de São Paulo, emum momento em que estes eram oriundos das áreas ocupadaspelos Guarani. Para Monteiro, esta predominância de mulheres [Página 308]



Frei Agostinho de Jesus e as tradições da imaginária colonial brasileira Séculos XVI - XVII
Data: 01/01/2013
Créditos/Fonte: SCHUNK, Rafael
Frei Agostinho de Jesus e as tradições da imaginária colonial brasileira Séculos XVI - XVII. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2013. (Coleção PROPG Digital - UNESP). ISBN 9788579834301 página 181


ID: 5979





  


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