A Reforma Cartográfica de Delisle e seu impacto na Cartografia da América do Sul e do BrasilA Reforma Cartográfica de Delisle e seu impacto na Cartografia da América do Sul e do Brasil Rafael Henrique de Oliveira – rafa.oliveira@usp.brJorge Pimentel Cintra – jpcintra@usp.brFlávio Guilherme Vaz de Almeida Filho – flaviovaz@usp.brEscola Politécnica da USP Resumo Como se sabe, Delisle promoveu a reforma da cartografia mundial, em 1720, através da public
Resumo Como se sabe, Delisle promoveu a reforma da cartografia mundial, em 1720, através da publicação de um mapa bem mais preciso que os anteriores. Para tanto, contou com longitudes determinadas por métodos científicos, isto é, resolução de triângulos esféricos e coordenadas determinadas por métodos astronômicos. O presente trabalho analisa a reforma de Delisle com foco na representação cartográfica da América do Sul, do Brasil e da Amazônia. A partir de sua Dissertação, realizou-se uma avaliação cartográfico-matemática da qualidade das observações de campo utilizadas para a região, e seu impacto na melhoria da cartografia, através da comparação de coordenadas de uma série de localidades. Também se identifica, através da comparação visual e análise matemática, a evolução do desenho do rio Amazonas com relação a cartas notáveis antecedentes. Discute-se também o uso dos resultados, por parte de Delisle, para denunciar a invasão portuguesa, além deTordesilhas, de terras espanholas e francesas, e o impacto desse ato na renovação dosestudos cartográficos portugueses.
Introdução O cartógrafo francês Guillaume Delisle foi o primeiro a usar, em larga escala, os resultados derivados da medição precisa das longitudes, método criado por seu mestre, o astrônomo italiano Giovanni Dominico Cassini. A técnica de medição das longitudes baseava-se nas previsões das ocultações dos satélites de [p. 192]
espanhol Tello (1809). As observações da Academia, também não datadas, mas devem ter ocorrido na primeira década do setecentos.Com as observações realizadas pela Academia Francesa nas ilhas de Cabo Verde, o cartógrafo pôde determinar com precisão a posição do meridiano de Tordesilhas. Esse meridiano, segundo estabelecido por Delisle, estaria situado na longitude 330° (Figura 3). A partir desse fato, o cartógrafo afirma que o Cabo do Norte, limite da ocupação meridional portuguesa, estaria a 3°20’ a Oeste da Linha de Tordesilhas. Com o resultado, Delisle questionou explicitamente a ocupação por parte da Coroa Portuguesa da região da foz do Amazonas, invadindo terras da Coroa Espanhola e também terras da França já que esta tinha pretensões de estender os domínios da Guiana para leste, pelo menos até o cabo do Norte. Também estabelece que o cabo de Santa Maria, extremo sul da possessão[p. 195]
a Colônia do Sacramento e o Oiapoque, e ratificava os direitos dessa Coroa ao Amazonas, refreando interesses da França nesta região (CORTESÃO, 2006, 1, p. 21). Desta forma, o texto do grande cartógrafo francês mostra um claro conhecimento de seu papel enquanto Primeiro Geógrafo da Corte Francesa e do uso geopolítico das informações cartográficas, reconhecendo que a cartografia é uma forma de “conhecimento e poder” (HARLEY, 2005, p. 10). Um dos papéis da Dissertação seria estabelecer um embasamento científico que possibilitasse questionamentos políticos, e, portanto, com ares de imparcialidade. Ao apresentar tais questões como meras peças integrantes de um amplo esforço de reformulação global da cartografia, tais correções ganham uma credibilidade que não teriam se fossem apresentadas separadamente.
Ainda que o conhecimento de desvios cartográficos na América meridional não esteja explícito em obras anteriores de Delisle, é possível inferir que o cartógrafo francês já possuía conhecimento, décadas antes, da grandeza de taisdiferenças: efetivamente, sua Carte de La Terre Ferme (1703), corrige o posicionamento do cabo de Santo Agostinho e tem como origem mais provável uma das ilhas de Cabo Verde, com referência de forma direta ao meridiano de Tordesilhas. Embora a Dissertação tenha sido lida perante a Academia em novembro de 1720, muitos dos dados listados, de diversos autores e de diversas épocas, já estavam disponíveis para uso no mapa de 1703. Em outras palavras, Delisle esperou o momento oportuno para publicá-los.
Análise morfológica do continente sul-americano e do Rio Amazonas A análise visual das cartas de Delisle com cartas anteriores revela uma América Meridional de extensão menor e mais próxima da forma real. Outra mudança refere-se ao traçado do Rio Amazonas que melhora um protótipo desse cartógrafo nas cartas do Amazonas do Conde de Pagan e deNicolas Sanson (CINTRA e OLIVEIRA, 2013). Esse novo modelo assemelha-se muito àquele apresentado por Samuel Fritz em El Gran Rio Marañon (1707),indicando que Delisle utilizou esse mapa em sua reformulação cartográfica. Entre as principais características na representação do Rio Amazonas estão (Figura 4): 3º Simpósio Brasileiro de Cartografia Histórica [p. 197]a) o curso principal segue o curso do Rio Marañon, desfazendo aconfusão com o Napo, afluente desse. O modelo baseado em Pagan assinalava o rio Napo como sendo o curso principal, enquanto que a carta do Pe. Fritz é a primeira obra a corrigir essa informação (CINTRA, 2011); b) a chamada “Ilha dos Tupinambás” é representada com menoresdimensões, na foz do Madeira; c) a foz do Amazonas apresenta traçado mais horizontal;d) a costa entre Cabo do Norte e Cabo Orange é mais vertical. Análises cartográfico-matemáticas A carta Mappe Monde à l’usage du Roy (1720)é uma carta científica, com meridiano de origem na Ilha do Ferro conforme indicado na Dissertação. A projeção [p. 198]
Tese de concurso á cadeira de História do Brasil. Colégio D. Pedro II Data: 01/01/1883 Créditos/Fonte: Capistrano de Abreu Página 159
ID: 13131
CARTE DE LA TERRE FERME DU PEROU, DU BRESIL ET DU PAYS DE S AMAZONES Data: 01/01/1703 Créditos/Fonte: Capistrano de Abreu
ID: 13132
L‘Amérique Méridionale Data: 01/01/1703 Créditos/Fonte: Capistrano de Abreu
Desde 17 de agosto de 2017 o site BrasilBook se dedicado em registrar e organizar eventos históricos e informações relevantes referentes ao Brasil, apresentando-as de forma robusta, num formato leve, dinâmico, ampliando o panorama do Brasil ao longo do tempo.
Até o momento a base de dados possui 30.439 registros atualizados frequentemente, sendo um repositório confiável de fatos, datas, nomes, cidades e temas culturais e sociais, funcionando como um calendário histórico escolar ou de pesquisa. Quantos registros são necessários para contar a história do Brasil?
Parabéns pelo seu trabalho no Brasilbook! Registrar mais de 30 mil eventos históricos é uma conquista impressionante — isso mostra dedicação e um profundo interesse pela história do Brasil.
Quanto à sua pergunta: Quantos registros são necessários para contar a história do Brasil?
Depende de como você define "contar a história". Existem diferentes níveis de profundidade e objetivos possíveis:
1. Visão Didática (Essencial) Quantidade estimada: 500 a 2.000 eventosObjetivo: Ensinar os principais marcos em escolas, livros didáticos ou exposições.Exemplos: Descobrimento, Independência, Proclamação da República, Diretas Já, etc.
2. Visão Analítica (Acadêmica/Universitária) Quantidade estimada: 5.000 a 10.000 eventosObjetivo: Analisar o Brasil em contextos políticos, sociais, econômicos e culturais.Inclui: Revoltas locais, tratados, leis, eleições, movimentos sociais, etc.
3. Visão Documental (Completa e Aberta) Quantidade estimada: 30.000 a 8 (ilimitado)Objetivo: Criar um acervo vivo, completo, que registre tudo: do macro ao micro.Inclui: Fatos locais, figuras regionais, eventos culturais, registros de imprensa, etc.Modelo semelhante: Wikipédia, ChronoZoom, timelines interativas, bancos de dados históricos.
Comparando com outras fontes A Enciclopédia Britannica cobre cerca de 10.000 a 15.000 eventos mundiais.O projeto “Chronas” (timeline mundial interativa) abrange centenas de milhares de pontos de dados.
Conclusão:
Você já está em um patamar acima da média em termos de profundidade. Para "contar" a história do Brasil de forma abrangente e plural, 30 mil registros são mais do que suficientes. Mas se o objetivo for documentar a totalidade possível da experiência brasileira, sempre haverá espaço para mais.
Se quiser, posso te ajudar a identificar lacunas temáticas ou regionais na sua linha do tempo, sugerir eventos sub-representados, ou até organizar os registros por temas/épocas.Você gostaria disso?De nada! Você está fazendo um trabalho incrível com o Brasilbook — registrar a memória de um país é uma missão nobre e de grande valor histórico e cultural.Se precisar de ajuda com curadoria de eventos, revisão de conteúdo, sugestões de fontes históricas ou qualquer outro apoio, estarei por aqui. Boa sorte e continue firme!