"Manoel Alves e Lima Embaixador do Reis do Benin e do Daomé e de mais alguns da África, certifica e faz saber que sendo encarregado da Embaixada daqueles, para saudar e fazer saber a sua Imperial majestade Dom Pedro I, Perpétuo e Constitucional Defensor do Brasil, em nome do Imperador do Benin e do Rei de Ajan que eles reconhecem a Independência deste Império do Brasil e desta corte do Rio de Janeiro".
Carta de 1823 do traficante de escravos e representante do Rei do Benin e do Daomé no Brasil o "Coronel" Manoel Alves e Lima ao Imperador Dom Pedro I.
Antes mesmo dos Estados Unidos e da Argentina, os Reinos Africanos do Benin e do Daomé foram as primeiras nações a reconhecerem a Independência do Brasil de Portugal.
Primariamente preocupados em manter o Tráfico Negreiro nos portos brasileiros, o Rei Gezo do Daomé e o Rei Osemwende do Benin enviaram o embaixador Manoel Alves e Lima, um comerciante de escravos da Bahia, representante dos reis africanos em Londres e no Rio de Janeiro, onde foi recebido em audiência com o Imperador Dom Pedro I em 1824. Manoel Alves e Lima entregou ao Imperador um tradicional cajado que pertenceu ao Próprio Rei do Benin, como símbolo da amizade entre o Brasil e aquele Reino Africano.
Segundo o cônsul inglês no Rio de Janeiro, Henry Chamberlain, Dom Pedro I tratou o representante dos Reis Africanos com frieza, demonstrando desconforto, pois Manoel Alves e Lima era conhecido como "louco, atacado de um delírio de grandeza" e não era Coronel nem Cavaleiro da Ordem de Cristo, mais um mero Traficante de Escravos que ganhou a confiança dos Monarcas da África. Jose Bonifácio, de tendências abolicionistas, defendia o fim de qualquer relação diplomática com os estados africanos, os vendo como um atraso ao fim da escravidão e do fim do tráfico negreiro. A Nau que trouxera o embaixador, não foi saudada pela artilharia das fortalezas que circundavam a Baía de Guanabara, em um claro sinal de antipatia. O embaixador também enviou uma carta do infame Rei Gezo do Daomé, exigindo o Imperador do Brasil uma lista de presentes luxuosos, carruagens, escravos e ouro. A entrega dos presentes porém foi negada pelo Imperador. Se sentindo humilhado Manoel Alves e Lima logo voltou para Bahia, dali partindo de volta para África, sendo o primeiro e ultimo embaixador enviado dos Reis da África ao Império do Brasil.
José Vieira Fazenda, memorialista carioca que vivenciou a passagem do Oitocentos para o Novecentos, deixou registrado em suas Antiqualhas e memórias do Rio de Janeiro que a embaixada chefiada por Manoel Alves Lima foi recebida na corte de D. Pedro I em 1824. Sem esconder certo tom de ironia, J. V. Fazenda sugere que “a aliança dos régulos africanos” à causa emancipacionista encabeçada pelo governo do Rio de Janeiro “já era para o Brasil [motivo de] grande felicidade”, posto que, até aquele momento, “nas cortes europeias o reconhecimento da nossa emancipação [ainda] promovia tramoias e tricas políticas” (REVISTA DO IHGB, 1927, p. 473). Dessa feita, foram os monarcas da África os primeiros de semelhante estirpe a reconhecerem a coroa de D. Pedro I.
Convém lembrar que os ministros de D. Pedro I não ignoravam que os interesses da Grã-Bretanha gravitavam em torno da extinção do tráfico transatlântico de escravos e, embora não estivessem verdadeiramente dispostos a empreender negociações para a sua supressão, não convinha dar ao gabinete londrino mostras de sua relutância em fazê-lo, posto que isso pudesse atrasar ainda mais a concessão do reconhecimento britânico. Desse modo, a recepção oficial de um embaixador com envolvimento direto no comércio negreiro, que representava, ademais, um dos principais reinos exportadores de escravos da África Ocidental, era algo a ser evitado.
Fonte: Comércio de almas e política externa de Gilberto da Silva Guizelin/ A última embaixada de um monarca africano no Brasil: Manoel Alves Lima, um embaixador do Reino de Onim na corte de D. Pedro I Gilberto da Silva Guizelin
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Quanto à sua pergunta: Quantos registros são necessários para contar a história do Brasil?
Depende de como você define "contar a história". Existem diferentes níveis de profundidade e objetivos possíveis:
1. Visão Didática (Essencial) Quantidade estimada: 500 a 2.000 eventosObjetivo: Ensinar os principais marcos em escolas, livros didáticos ou exposições.Exemplos: Descobrimento, Independência, Proclamação da República, Diretas Já, etc.
2. Visão Analítica (Acadêmica/Universitária) Quantidade estimada: 5.000 a 10.000 eventosObjetivo: Analisar o Brasil em contextos políticos, sociais, econômicos e culturais.Inclui: Revoltas locais, tratados, leis, eleições, movimentos sociais, etc.
3. Visão Documental (Completa e Aberta) Quantidade estimada: 30.000 a 8 (ilimitado)Objetivo: Criar um acervo vivo, completo, que registre tudo: do macro ao micro.Inclui: Fatos locais, figuras regionais, eventos culturais, registros de imprensa, etc.Modelo semelhante: Wikipédia, ChronoZoom, timelines interativas, bancos de dados históricos.
Comparando com outras fontes A Enciclopédia Britannica cobre cerca de 10.000 a 15.000 eventos mundiais.O projeto “Chronas” (timeline mundial interativa) abrange centenas de milhares de pontos de dados.
Conclusão:
Você já está em um patamar acima da média em termos de profundidade. Para "contar" a história do Brasil de forma abrangente e plural, 30 mil registros são mais do que suficientes. Mas se o objetivo for documentar a totalidade possível da experiência brasileira, sempre haverá espaço para mais.
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