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RAIO-X DO BRASIL
01/01/1993 (0 fontes)


Homem na Estrada" é uma canção do grupo brasileiro de rap Racionais MC‘s. Composta por Mano Brown, foi lançada em 1993 no LP Raio X Brasil.

Um homem na estrada recomeça sua vida. Sua finalidade: a sua liberdade. Que foi perdida, subtraída; e quer provar a si mesmo que realmente mudou, que se recuperou e quer viver em paz, não olhar para trás, dizer ao crime: nunca mais!

Pois sua infância não foi um mar de rosas, não. Na Febem, lembranças dolorosas, então. Sim, ganhar dinheiro, ficar rico, enfim. Muitos morreram sim, sonhando alto assim, me digam quem é feliz, quem não se desespera, vendo nascer seu filho no berço da miséria. Um lugar onde só tinham como atração, o bar e o candomblé pra se tomar a benção. Esse é o palco da história que por mim será contada. ...um homem na estrada.

Equilibrado num barranco um cômodo mal acabado e sujo, porém, seu único lar, seu bem e seu refúgio. Um cheiro horrível de esgoto no quintal, por cima ou por baixo, se chover será fatal. Um pedaço do inferno, aqui é onde eu estou. Até o Ibge passou aqui e nunca mais voltou. Numerou os barracos, fez uma pá de perguntas. Logo depois esqueceram, filha da puta! Acharam uma mina morta e estuprada, deviam estar com muita raiva. "Mano, quanta paulada!". Estava irreconhecível, o rosto desfigurado. Deu meia noite e o corpo ainda estava lá, coberto com lençol, ressecado pelo sol, jogado. O Iml estava só dez horas atrasado. Sim, ganhar dinheiro, ficar rico, enfim, quero que meu filho nem se lembre daqui, tenha uma vida segura. Não quero que ele cresça com um "oitão" na cintura e uma "Pt" na cabeça. E o resto da madrugada sem dormir, ele pensa o que fazer para sair dessa situação. Desempregado então. Com má reputação. Viveu na detenção. Ninguém confia não. ...e a vida desse homem para sempre foi danificada. Um homem na estrada... Um homem na estrada.. Amanhece mais um dia e tudo é exatamente igual. Calor insuportável, 28 graus. Faltou água, já é rotina, monotonia, não tem prazo pra voltar, hã! já fazem cinco dias. São dez horas, a rua está agitada, uma ambulância foi chamada com extrema urgência. Loucura, violência exagerado. Estourou a própria mãe, estava embriagado. Mas bem antes da ressaca ele foi julgado. Arrastado pela rua o pobre do elemento, o inevitável linchamento, imaginem só! Ele ficou bem feio, não tiveram dó.

Os ricos fazem campanha contra as drogas e falam sobre o poder destrutivo dela. Por outro lado promovem e ganham muito dinheiro com o álcool que é vendido na favela.

Empapuçado ele sai, vai dar um rolê. Não acredita no que vê, não daquela maneira, crianças, gatos, cachorros disputam palmo a palmo seu café da manhã na lateral da feira, Molecada sem futuro, eu já consigo ver, só vão na escola pra comer, Apenas nada mais, como é que vão aprender sem incentivo de alguém, sem orgulho e sem respeito, sem saúde e sem paz.

Um mano meu tava ganhando um dinheiro, tinha comprado um carro, até rolex tinha! Foi fuzilado a queima roupa no colégio, abastecendo a playboyzada de farinha, Ficou famoso, virou notícia, rendeu dinheiro aos jornais, ham!, cartaz à policia Vinte anos de idade, alcançou os primeiros lugares... super-star,notícias populares! Uma semana depois chegou o crack, gente rica por trás, diretoria. Aqui, periferia, miséria de sobra. Um salário por dia garante a mão-de-obra. A clientela tem grana e compra bem, tudo em casa, costa quente de sócio. A playboyzada muito louca até os ossos! Vender droga por aqui, grande negócio. Sim, ganhar dinheiro ficar rico enfim, Quero um futuro melhor, não quero morrer assim, num necrotério qualquer, um indigente, sem nome e sem nada, o homem na estrada.

Assaltos na redondeza levantaram suspeitas Logo acusaram a favela, para variar E o boato que corre é que esse homem está Com o seu nome lá Na lista dos suspeitos Pregada na parede do bar.

A noite chega e o clima estranho no ar E ele sem desconfiar de nada, vai dormir tranquilamente. Mas na calada, caguetaram seus antecedentes. Como se fosse uma doença incurável. No seu braço a tatuagem "DVC", uma passagem, 157 na lei, no seu lado não tem mais ninguém.

A justiça criminal é implacável. Tiram sua liberdade, família e moral, mesmo longe do sistema carcerário Te chamarão para sempre de ex-presidiário.

Não confio na polícia, raça do caralho Se eles me acham baleado na calçada Chutam minha cara e cospem em mim, é Eu sangraria até a morte, já era, um abraço! Por isso a minha segurança, eu mesmo faço É madrugada, parece estar tudo normal Mas esse homem desperta, pressentindo o mal Muito cachorro latindo Fim de Semana no Parque A toda comunidade pobre da zona sul Chegou fim de semana todos querem diversão Só alegria nós estamos no verão, mês de janeiro São paulo zona sul Todo mundo a vontade calor céu azul Eu quero aproveitar o sol Encontrar os camaradas prum basquetebol Não pega nada Estou à 1 hora da minha quebrada Logo mais, quero ver todos em paz Um dois três carros na calçada Feliz e agitada toda "prayboyzada" As garagens abertas eles lavam os carros Disperdiçam a água, eles fazem a festa Vários estilos vagabundas, motocicletas Coroa rico boca aberta, isca predileta De verde florescente queimada sorridente A mesma vaca loura circulando como sempre Roda a banca dos playboys do guarujá Muitos manos se esquecem na minha não cresce Sou assim e estou legal, até me leve a mal Malicioso e realista sou eu mano brown Me de 4 bons motivos pra não ser Olha meu povo nas favelas e vai perceber Daqui eu vejo uma caranga do ano Toda equipada e o tiozinho guiando Com seus filhos ao lado estão indo ao parque Eufóricos brinquedos eletrônicos Automaticamente eu imagino A molecada lá da área como é que tá Provalvelmente correndo pra lá e pra cá Jogando bola descalços nas ruas de terra É, brincam do jeito que dá Gritando palavrão é o jeito deles Eles não tem video-game às vezes nem televisão Mas todos eles têm um dom são cosme são damião A única proteção No último natal papai noel escondeu um brinquedo Prateado, brilhava no meio do mato Um menininho de 10 anos achou o presente Era de ferro com 12 balas no pente E fim de ano foi melhor pra muita gente Eles também gostariam de ter bicicleta De ver seu pai fazendo cooper tipo atleta Gostam de ir ao parque e se divertir E que alguém os ensinasse a dirigir Mas eles só querem paz e mesmo assim é um sonho Fim de semana do parque sto antônio Vamos passear no parque Deixa o menino brincar Fim de semana no parque Vou rezar pra esse domingo não chover Olha só aquele clube que dahora Olha aquela quadra, olha aquele campo Olha, olha quanta gente Tem sorveteria cinema piscina quente Olha quanto boy, olha quanta mina Afoga essa vaca dentro da piscina Tem corrida de kart dá pra ver É igualzinho o que eu ví ontem na tv Olha só aquele clube que da hora, Olha o pretinho vendo tudo do lado de fora Nem se lembra do dinheiro que tem que levar Do seu pai bem louco gritando dentro do bar Nem se lembra de ontem, de hoje e o futuro Ele apenas sonha através do muro Milhares de casas amontoadas Ruas de terra esse é o morro A minha área me espera Gritaria na feira (vamos chegando!) Pode crer eu gosto disso mais calor humano Na periferia a alegria é igual É quase meio dia a euforia é geral É lá que moram meus irmãos meus amigos E a maioria por aqui se parece comigo E eu também sou bam bam bam e o que manda O pessoal desde às 10 da manhã está no samba Preste atenção no repique atenção no acorde (como é que é mano brown?) Pode crer pela ordem A número número 1 de baixa renda da cidade Comunidade zona sul é dignidade Tem um corpo no escadão a tiazinha desce o morro Polícia a morte, polícia socorro

Aqui não vejo nenhum clube poliesportivo pra molecada frequentar, nenhum incentivo. O investimento no lazer é muito escasso. O centro comunitário é um fracasso. Mas aí se quiser se destruir está no lugar certo Tem bebida e cocaína sempre por perto. A cada esquina 100, 200 metros.

Nem sempre é bom ser esperto Schimth, taurus, rossi, dreyer ou campari Pronúncia agradável estrago inevitável Nomes estrangeiros que estão no nosso meio pra matar m.e.r.d.a. Como se fosse ontem ainda me lembro 7 horas sábado 4 de dezembro Uma bala uma moto com 2 imbecis Mataram nosso mano que fazia o morro mais feliz E indiretamente ainda faz, mano rogério esteja em paz Vigiando lá de cima A molecada do parque regina Tô cansado dessa porra de toda essa bobagem Alcolismo, vingança treta malandragem Mãe angustiada filho problemático Famílias destruídas fins de semana trágicos O sistema quer isso a molecada tem que aprender Fim de semana no parque ipê Pode crer racionais mc´s e negritude junior juntos Vamos investir em nós mesmos mantendo distância das Drogas e do alcool Aí rapaziada do parque ipê, jd. são luiz, jd. ingá, parque araríba, váz de lima Morro do piolho e vale das virtudes e pirajussara É isso aí mano brown (é isso ai netinho paz à todos)"