Edmund Pink deixou Porto Feliz e seguiu em direção à fábrica
19 de julho de 1823
04/04/2024 21:54:23
Em 19 de julho de 1823 Edmund Pink deixou Porto Feliz e seguiu em direção àfábrica, onde chegou na manhã do dia seguinte. Um dos seus primeiros apontamentossobre o estabelecimento é sobre a sua localização:“Essa fábrica está situada nas proximidades da base da montanhaArassoiava – uma corruptela de Guarassoiava, significando cobertura dosol, ou sombra do sol, por causa da grande extensão do terreno sombreadapor ela, [ilegível] sol aparece no horizonte – produzindo minério de ferro emgrande quantidade e riqueza, rendendo mais de 80% de metal. O RioIpanema corre à direita da fábrica e suas águas foram aproveitadas paratodos os propósitos exigidos, através do represamento ou mesmo comcomportas, etc. de maneira a alimentar os vários canais abertos que cruzama fábrica. [...] Foi construído um prédio adequado para refinar, fundir eforjar este ferro. Carvão vegetal é amplamente usado uma vez que nenhumcarvão mineral foi achado até agora, mas diz-se que ele existe nasredondezas. A região tem madeira em abundância na vizinhança. Muitas dasconstruções são feitas com um excelente tijolo amarelo, igual aos melhoresmanufaturados nas redondezas de Londres. A pedra calcária encontrada nasredondezas é de excelente qualidade e foi construído um forno para queimaralguma” (PINK, 2000: 93).
Edmund Pink deixou Porto Feliz e seguiu em direção à fábrica
“Os nossos tupinambás muito se admiram dos franceses e outros estrangeiros se darem ao trabalho de ir buscar o seu arabutan [pau-brasil]. Uma vez um velho perguntou-me: Por que vindes vós outros, maírs e perôs (franceses e portugueses) buscar lenha de tão longe para vos aquecer? Não tendes madeira em vossa terra ? Respondi que tínhamos muita mas não daquela qualidade, e que não a queimávamos, como ele o supunha, mas dela extraíamos tinta para tingir, tal qual o faziam eles com os seus cordões de algodão e suas plumas.
Retrucou o velho imediatamente: e porventura precisais de muito? Sim, respondi-lhe, pois no nosso país existem negociantes que possuem mais panos, facas, tesouras, espelhos e outras mercadorias do que podeis imaginar e um só deles compra todo o pau-brasil com que muitos navios voltam carregados. — Ah! retrucou o selvagem, tu me contas maravilhas, acrescentando depois de bem compreender o que eu lhe dissera: mas esse homem tão rico de que me falas não morre? — Sim, disse eu, morre como os outros. Mas os selvagens são grandes discursadores e costumam ir em qualquer assunto até o fim, por isso perguntou-me de novo: e quando morrem para quem fica o que deixam? — Para seus filhos se os têm, respondi; na falta destes para os irmãos ou parentes mais próximos. — Na verdade, continuou o velho, que, como vereis, não era nenhum tolo, agora vejo que vós outros maírs sois grandes loucos, pois atravessais o mar e sofreis grandes incômodos, como dizeis quando aqui chegais, e trabalhais tanto para amontoar riquezas para vossos filhos ou para aqueles que vos sobrevivem! Não será a terra que vos nutriu suficiente para alimentá-los também ? Temos pais, mães e filhos a quem amamos; mas estamos certos de que depois da nossa morte a terra que nos nutriu também os nutrirá, por isso descansamos sem maiores cuidados.