A discussão sobre João Ramalho no IHGSP teve início com a formação de uma comissão que buscava responder a uma indagação levantada no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro
3 de março de 1899
10/04/2024 15:55:30
A discussão sobre João Ramalho no IHGSP teve início com a formação de umacomissão que buscava responder a uma indagação levantada no Instituto Histórico eGeográfico Brasileiro (IHGB), pelo consócio José Luis Alves na reunião de 3 de marçode 1899. Enquanto a proposta teve pouca repercussão no próprio IHGB, os paulistas acolheram o tema ederam início a um debate acalorado. A indagação em questão referia-se à veracidade dotestamento de João Ramalho, documento citado pelo monge beneditino Frei Gaspar daMadre de Deus no século XVIII e que não havia sido encontrado por nenhum outrohistoriador até então. Propôs José Luis Alves que se lançassem os historiadores à caçadesse documento, do qual deveria haver “copia na Bibliotheca do mosteiro S. Bento deS. Paulo ou de Santos”, além de procurar averiguar o caso com a documentação dotempo. (RIHGB, 1900: 286)
A discussão sobre João Ramalho no IHGSP teve início com a formação de uma comissão que buscava responder a uma indagação levantada no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro
“Os nossos tupinambás muito se admiram dos franceses e outros estrangeiros se darem ao trabalho de ir buscar o seu arabutan [pau-brasil]. Uma vez um velho perguntou-me: Por que vindes vós outros, maírs e perôs (franceses e portugueses) buscar lenha de tão longe para vos aquecer? Não tendes madeira em vossa terra ? Respondi que tínhamos muita mas não daquela qualidade, e que não a queimávamos, como ele o supunha, mas dela extraíamos tinta para tingir, tal qual o faziam eles com os seus cordões de algodão e suas plumas.
Retrucou o velho imediatamente: e porventura precisais de muito? Sim, respondi-lhe, pois no nosso país existem negociantes que possuem mais panos, facas, tesouras, espelhos e outras mercadorias do que podeis imaginar e um só deles compra todo o pau-brasil com que muitos navios voltam carregados. — Ah! retrucou o selvagem, tu me contas maravilhas, acrescentando depois de bem compreender o que eu lhe dissera: mas esse homem tão rico de que me falas não morre? — Sim, disse eu, morre como os outros. Mas os selvagens são grandes discursadores e costumam ir em qualquer assunto até o fim, por isso perguntou-me de novo: e quando morrem para quem fica o que deixam? — Para seus filhos se os têm, respondi; na falta destes para os irmãos ou parentes mais próximos. — Na verdade, continuou o velho, que, como vereis, não era nenhum tolo, agora vejo que vós outros maírs sois grandes loucos, pois atravessais o mar e sofreis grandes incômodos, como dizeis quando aqui chegais, e trabalhais tanto para amontoar riquezas para vossos filhos ou para aqueles que vos sobrevivem! Não será a terra que vos nutriu suficiente para alimentá-los também ? Temos pais, mães e filhos a quem amamos; mas estamos certos de que depois da nossa morte a terra que nos nutriu também os nutrirá, por isso descansamos sem maiores cuidados.
“
Nem sempre tudo que tem uma relevância na memória tem uma relevância na historiografia.