O ano de 1762 foi dosmais críticos: a guerra houve por determinar nova alteração administrativa, cabendo á cidade do Rio de Janeiro converter-se em capital doEstado do Brasil, enquanto era nomeado o Conde da Cunha (AntônioÁlvares da Cunha) para Vice-Rei e Capitão General de Mar e Terra doEstado do Brasil (1763-1767). Nesse mesmo ano os dois blocos adversários na Europa concertaram a paz com o Tratado de Paris (101211763), pelo qual tudo deveria ser reposto ante bellum. Exorbitando, os castelhanos devolveram apenas a Colônia doSacramento a Portugal, enquanto asseguravam a posse militar nosterritórios meridionaIS, sem deixar de continuar assediando e aumentando o seu poder. A paz jamais se estabeleceu por completo, exigindo que os gabinetes ministeriais de Madri (Marquês de Grimaldi) e deLisboa (Marquês de Pombal) mantivessem em estado permanente dealerta os seus governadores em Buenos Aires e Rio de Janeiro, bemcomo os seus comandos militares.
A vinda do Apóstolo São Thomé á estas partes da América, e principalmente ao Brasil e ás regiões do Paraguay, está baseada em tais fundamentos, que d´ela não se pode duvidar. *Revista trimensal do Instituto Histórico, Geográphico e Etnográphico Brasileiro, tomo XXVI
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“Os nossos tupinambás muito se admiram dos franceses e outros estrangeiros se darem ao trabalho de ir buscar o seu arabutan [pau-brasil]. Uma vez um velho perguntou-me: Por que vindes vós outros, maírs e perôs (franceses e portugueses) buscar lenha de tão longe para vos aquecer? Não tendes madeira em vossa terra ? Respondi que tínhamos muita mas não daquela qualidade, e que não a queimávamos, como ele o supunha, mas dela extraíamos tinta para tingir, tal qual o faziam eles com os seus cordões de algodão e suas plumas.
Retrucou o velho imediatamente: e porventura precisais de muito? Sim, respondi-lhe, pois no nosso país existem negociantes que possuem mais panos, facas, tesouras, espelhos e outras mercadorias do que podeis imaginar e um só deles compra todo o pau-brasil com que muitos navios voltam carregados. — Ah! retrucou o selvagem, tu me contas maravilhas, acrescentando depois de bem compreender o que eu lhe dissera: mas esse homem tão rico de que me falas não morre? — Sim, disse eu, morre como os outros. Mas os selvagens são grandes discursadores e costumam ir em qualquer assunto até o fim, por isso perguntou-me de novo: e quando morrem para quem fica o que deixam? — Para seus filhos se os têm, respondi; na falta destes para os irmãos ou parentes mais próximos. — Na verdade, continuou o velho, que, como vereis, não era nenhum tolo, agora vejo que vós outros maírs sois grandes loucos, pois atravessais o mar e sofreis grandes incômodos, como dizeis quando aqui chegais, e trabalhais tanto para amontoar riquezas para vossos filhos ou para aqueles que vos sobrevivem! Não será a terra que vos nutriu suficiente para alimentá-los também ? Temos pais, mães e filhos a quem amamos; mas estamos certos de que depois da nossa morte a terra que nos nutriu também os nutrirá, por isso descansamos sem maiores cuidados.Jean de Léry (1534-1611) 8 registros