Em 1904, subindo-se a rua do Cemitério (hoje Hermelino Matarazzo, via-se junto a uma cêrca de guaratans, logo adiante da rua Olaria (hoje Arlindo Luz), uma simples e modesta cruz de madeira. Essa rua, nessa época remota, era quase toda insenta de prédios, principalmente no trecho entre a rua Arlindo Luz e praça M.M.D.C., onde altos barrancos a ladeavam.
Não pude saber ao certo a origem dessa cruz mas verdade é que todas as noites, logo ao sol posto, pessoa caridosa vinha acender uma vela em sinal de intenção pela alma daquele que talvez dali enveredou pelas frias e escuras veredas do reino da morte.
Com o decorrer do tempo foi construído nesse local um prédio: "Padaria Record" e no meio do muro do quintal foi feito um encaixe em forma de oratório tendo ao centro, em relevo, uma cruz de cimento. Mas, mesmo assim, quase que desaparecido, esse emblema sacrosanto do martírio de Nosso Senhor Jesus Cristo, almas piedosas continuam a acender velas nesse local testemunho sempre das tradições do passado.
Como explicar a colonização ter iniciado-se na América e não na África? A África era mais próxima e a conheciam melhor. O périplo africano inicia por volta de 1412, com a tomada de Ceuta. A viagem de Vasco da Gama foi 1497 e a de Bartholomeu Dias em 1499. Ou seja, temos quase 1 século de conhecimento da África. Mas a colonização deu-se na África, mas sim na América. *“Portugal e Brasil: Antigo sistema colonial”; Fernando Novais; Curso de pós-graduação Geografia; youtube.com/watch?v=JsAXNoumgS8
1840
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“Os nossos tupinambás muito se admiram dos franceses e outros estrangeiros se darem ao trabalho de ir buscar o seu arabutan [pau-brasil]. Uma vez um velho perguntou-me: Por que vindes vós outros, maírs e perôs (franceses e portugueses) buscar lenha de tão longe para vos aquecer? Não tendes madeira em vossa terra ? Respondi que tínhamos muita mas não daquela qualidade, e que não a queimávamos, como ele o supunha, mas dela extraíamos tinta para tingir, tal qual o faziam eles com os seus cordões de algodão e suas plumas.
Retrucou o velho imediatamente: e porventura precisais de muito? Sim, respondi-lhe, pois no nosso país existem negociantes que possuem mais panos, facas, tesouras, espelhos e outras mercadorias do que podeis imaginar e um só deles compra todo o pau-brasil com que muitos navios voltam carregados. — Ah! retrucou o selvagem, tu me contas maravilhas, acrescentando depois de bem compreender o que eu lhe dissera: mas esse homem tão rico de que me falas não morre? — Sim, disse eu, morre como os outros. Mas os selvagens são grandes discursadores e costumam ir em qualquer assunto até o fim, por isso perguntou-me de novo: e quando morrem para quem fica o que deixam? — Para seus filhos se os têm, respondi; na falta destes para os irmãos ou parentes mais próximos. — Na verdade, continuou o velho, que, como vereis, não era nenhum tolo, agora vejo que vós outros maírs sois grandes loucos, pois atravessais o mar e sofreis grandes incômodos, como dizeis quando aqui chegais, e trabalhais tanto para amontoar riquezas para vossos filhos ou para aqueles que vos sobrevivem! Não será a terra que vos nutriu suficiente para alimentá-los também ? Temos pais, mães e filhos a quem amamos; mas estamos certos de que depois da nossa morte a terra que nos nutriu também os nutrirá, por isso descansamos sem maiores cuidados.