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“Profunda tristeza”
6 de junho de 189505/04/2024 14:32:28

No entanto, houve também recepções diferentes, como uma que foi publicada no jornal O 15 de Novembro, denotando uma profunda tristeza pela notícia. Tratava-se de uma cartinha enviada para uma das articulistas do jornal, escrita em papel velino perfumado, com letrinha miúda e regular:

“Minha Séphora. Escrevo-te esta sob impressão de dolorosa tristeza. Imagina, querida amiga, que li no 15 de Novembro a noticia de que a cidade vai ser iluminada a luz elétrica, durante todas as noutes. E o nosso luar, Séphora, o nosso luar encantador de Sorocaba vai ser desfeiado, vai ficar sem credito, vai morrer para sempre.

Podemos nós ambas, com lágrimas nos olhos, soluçantes, dizer adeus eterno e essas noutes deliciosas, em que a pallida Ophélia dos infinitos constellados, banha de arvores deslumbrantes as ruas e alvoredos, dandolhe um aspecto mágico, risonho, puro, innocente como um véo candido de virgem.

Ah!…quanta tristeza, quanta melancholia indefinível não vai agora em minha alma. Recordas-te? Foi por uma noite branca de luar, poética e magestosa, em que no infinito azul o disco luminoso da lua singrava, singrava e aos meus olhos de quando em vez passavam visões encantadoras, que eu sonhei a primeira vez acordada: sorriu-me ao luar a luz do amor primeiro.

E aquella noite aprazível, esplendida, em que as estrelas sorriam pela altura, ficou me gravada na mente, povoando minha imaginação como um paraíso ideal. Pois bem, minha amiga, nunca mais, nunca mais poderei apreciar em todo o seu esplendor uma noute de luar como aquella em Sorocaba, uma noute do céo baixando sobre a terra em ondas luminosas, diluindo-se em chuva de latuscencias sobre os capados arvoredos.

O luar, o encanto de Sorocaba, está moribundo e o sino da torre, parece-me, já dobra a finados. E é isto que se chama progresso e é isto que se diz em bem, que se cobre de encômios: a morte de um encanto, a profanação sacrílega e brutal das perfeições da natureza!… Bárbaros e cruéis paladinhos da civilização, não vos treme na dextra o punhal com que ides perpetrar um crime tão hediondo?…

Assassinos!… E tu, pobre cidade, nem protestas, nem levantas um grito de dor, nem chamas por socorro, quando pretendem arracar-te as vestes mais seductoras, quando pretendem despojar-te da roupagem ethéria e branca dos luares?… É esta, Séphora, a minha tristeza immensa, porque não só me custa muito perder um bem para sempre, como também isto ainda uma vez me vem revelar que toda a formosura se esvai, se desfeia, com a passagem do tempo minaz, com a vinda fatal do progresso… Adeus. Tua Débora.”
“Profunda tristeza”

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Jornalista que me entrevistar tem que ser sério, competente e tem que ter inteligência, e sensibilidade para colocar no papel os meus bons e os meus maus pensamentos.

1840
“Os nossos tupinambás muito se admiram dos franceses e outros estrangeiros se darem ao trabalho de ir buscar o seu arabutan [pau-brasil]. Uma vez um velho perguntou-me: Por que vindes vós outros, maírs e perôs (franceses e portugueses) buscar lenha de tão longe para vos aquecer? Não tendes madeira em vossa terra ? Respondi que tínhamos muita mas não daquela qualidade, e que não a queimávamos, como ele o supunha, mas dela extraíamos tinta para tingir, tal qual o faziam eles com os seus cordões de algodão e suas plumas. Retrucou o velho imediatamente: e porventura precisais de muito? Sim, respondi-lhe, pois no nosso país existem negociantes que possuem mais panos, facas, tesouras, espelhos e outras mercadorias do que podeis imaginar e um só deles compra todo o pau-brasil com que muitos navios voltam carregados. — Ah! retrucou o selvagem, tu me contas maravilhas, acrescentando depois de bem compreender o que eu lhe dissera: mas esse homem tão rico de que me falas não morre? — Sim, disse eu, morre como os outros. Mas os selvagens são grandes discursadores e costumam ir em qualquer assunto até o fim, por isso perguntou-me de novo: e quando morrem para quem fica o que deixam? — Para seus filhos se os têm, respondi; na falta destes para os irmãos ou parentes mais próximos. — Na verdade, continuou o velho, que, como vereis, não era nenhum tolo, agora vejo que vós outros maírs sois grandes loucos, pois atravessais o mar e sofreis grandes incômodos, como dizeis quando aqui chegais, e trabalhais tanto para amontoar riquezas para vossos filhos ou para aqueles que vos sobrevivem! Não será a terra que vos nutriu suficiente para alimentá-los também ? Temos pais, mães e filhos a quem amamos; mas estamos certos de que depois da nossa morte a terra que nos nutriu também os nutrirá, por isso descansamos sem maiores cuidados.
Jean de Léry (1534-1611)
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