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“São Vicente Primeiros Tempos”. Secretaria de Turismo e Cultura da Prefeitura de São Vicente
200604/04/2024 00:00:43

dito Pedro Correia, e partem em esta maneira: a 1ª. Que foi dada, que é defronte desta Ilhade S. Vicente, que era antes dada pelo Governador a um Mestre Cosme Bacharel, que odito Pedro Correa houve por devolutas...n’esta Vila de S. Vicente, aos 25 de maio de 1542.– Antonio de Oliveira.” (J. J. Ribeiro, em “Cronologia Paulista”- V. I. Transcrição à pág.342).Por este documento sabemos que em 1533/1534 o Capitão-mor e vigário GonçaloMonteiro as concedeu mediante uma primeira escritura pública, onde declara que antes daadministração e governo de Martim Afonso, essas terras haviam pertencido a um BacharelMestre Cosme. Evidentemente esse Bacharel é o mesmo personagem descrito por DiogoGarcía de Moguer e Alonso de Santa Cruz, de 1526 a 1530, habitando o mesmo local, como povoado de São Vicente, a sua fortaleza de pedra, o estaleiro ou arsenal, e seu grandetráfico de escravos (que Pero Correa continuaria nos mesmos locais), em sociedade comseus genros Gonçalo da Costa e Francisco de Chaves, sendo evidente que é o mesmoBacharel de Iguape e Cananéia que, tendo sido intimado pelo rei de Portugal, abandonaSão Vicente, para voltar a seu lugar de degredo, Cananéia (1501 / 1502), onde seriaencontrado por Martim Afonso (1531). Não há notícia de outro Bacharel na nossaprimitiva história, no que concerne à parte sul do Brasil, principalmente do Rio de Janeiroaté o Rio da Prata.O Governador a que a escritura de 1542 faz referência e que dera as terras em causa aoBacharel, não era outro, senão Cristóvão Jacques, enviado como governador das terras oucostas do Brasil, em 1516/1517, ano em que São Vicente e Itamaracá são transformadasem capitanias. Nesse mesmo ano Cristóvão Jacques deixa Pero Capico, como Capitão deSão Vicente, onde ficaria até 1527, quando é substituído por Antonio Ribeiro. Demonstrapois este documento, que São Vicente tivera antes da chegada de Martim Afonso, doisCapitães, e naturalmente um governador Itinerante ou Geral, este último sediado emItamaracá.Pelo exposto, fica bastante clara a existência e identidade do Bacharel Mestre CosmeFernandes, sendo que, na explanação a seguir ficará esclarecido que realmente foi esteBacharel, o fundador do povoado de São Vicente, elevado em 1532 à condição de Vila,por Martim Afonso de Sousa.O Bacharel Mestre Cosme Fernandes, segundo alguns historiadores, era homem deilustração e fidalguia (Ruy Diaz de Gusmán, em “Argentina”, Rocha Pombo em “Históriado Brasil”, V. III pp 152/153).Segundo alguns, a fidalguia é discutível, pelo fato de ser judeu, o que também não estábem esclarecido, ainda que muitos judeus tenham sido feitos fidalgos pelos reis dePortugal, sendo que, um dos casos mais notórios seja o de Gaspar da Gama ou das Índias,que D. Manuel agraciou com esse foral, em retribuição aos grandes serviços prestados aVasco da Gama e a Portugal.Foi punido com o degredo pelo rei D. Manuel, por causa de algum crime político e/oureligioso, ou de outra ordem (fato ainda não esclarecido), mas talvez o de “falar demais coisas que não convinham ao Estado, não servia à política do reino”, como declara RuyDiaz de Gusmán.Como já vimos, o Bacharel veio na armada de André Gonçalves e Américo Vespúcio,sendo deixado em Cananéia, local considerado na época, pelos portugueses, como últimoponto dos territórios de Portugal.A denominação CANANOR que aparece no perfil geográfico de Ptolomeu deve serinterpretada como CANANÉIA (F 34) que significa “lugar dos judeus ou judeu”, deCananeu, como eram chamados os judeus, o que quer dizer que o Bacharel deixado podiarealmente ser judeu ou judaizante e de real importância. Com esse batismo AndréGonçalves e Vespúcio firmavam e positivavam o fato da sua deixada naquele lugarpredeterminado, que Pero Lopes, em seu “Diário”, revela já saber que se chamavaCananéia.

O “Diário” de Pero Lopes é muito claro quanto à vinda do Bacharel ao lugar de degredo.“E fazendo o caminho de sudoeste demos com hua ilha. Quis a Nossa Senhora e abemaventurada Santa Clara, cujo dia era, que alimpou a néboa, e reconhecemos ser a Ilhade Cananéia... Por este rio arriba mandou o Capitam J. hum bergantim, e a Pedro Annes,que era língua da terra, que haver falla dos índios. Quinta-feira, dezessete dias do mezd’agosto (1531) veo Pedro Annes piloto no bergantim, e com elle veo Francisco de Chavese o Bacharel, e cinco ou seis castelhanos. Este Bacharel havia trinta annos que estavadegredado nesta terra”.

A segurança desta referência de 1531, trinta anos para trás, era exatamente 1501, ano davinda da armada de André Gonçalves e Américo Vespúcio. Verifica-se pelo confrontodeste documento e as suas descrições com a escritura de 1542, em suas referências aoBacharel Mestre Cosme Fernandes, que toda uma história longa e preciosa foi perdida ouextraviada (intencionalmente), segundo alguns historiadores. As razões disto é que nãoestão bem claras e só podem ser justificados na pessoa do Bacharel, em sua condição dedegredado, de judeu ou envolvido em problemas políticos.

O Bacharel veio de Cananéia logo após ser abandonado (degredado), para estabelecer-seem São Vicente, por volta de 1503 ou 1504, sendo que a região vicentina via-se comomais propícia ao desenvolvimento das suas atividades, e na face ocidental da Ilha de SãoVicente, protegida pela barra imprestável para a navegação de calado em lugar abrigadode surpresas marítimas, fundou o primeiro povoado do Brasil, em condições de ser Vila(os outros dois povoados fundados por ele, Cananéia e Iguape guardam as mesmascaracterísticas, cujo porto de serventia situa-se do outro lado da ilha – lado oriental ou donascente), a uma distância de sete ou oito quilômetros pelas praias, no estuário queVespúcio e André Gonçalves denominaram de Rio de São Vicente, em 22 de janeiro de1502.O povoado de São Vicente, fundado pelo Bacharel Mestre Cosme Fernandes cresceu emimportância, na medida em que o seu fundador crescia nas alianças com os indígenas daregião, devido a seu casamento com uma das filhas do chefe Cacique dos Guaianazes,Cacique Piquerobi, que comandava as tribos da baixada. [Páginas 46 e 47 do pdf]

Com o crescimento dos seus negócios e da sua fortuna, tudo no povoado prosperou, aponto de fazer a fortuna de vários dos seus povoadores, tornando-se São Vicente um doscentros de maior importância para a época.Foi descrito por Diogo Garcia de Moguér e Alonso de Santa Cruz em seus depoimentos de1526 a 1530, que se consolidam, como as mais completas informações que chegaram aténossos dias, com especial destaque para os informes de Alonso de Santa Cruz, primeirooficial de Sebastião Caboto, que descreve o povoado da seguinte forma: “...nesta ilha temos portugueses um povoado chamado São Vicente, de dez ou doze casas, uma feita depedra, com seus telhados e uma torre para defesa contra os índios em tempos denecessidade, etc...”Um dos fatos que chama a atenção é o duplo título usado pelo fundador de São Vicente,Iguape e Cananéia – Bacharel Mestre – hoje conhecido pelo nome completo: CosmeFernandes Pessoa, como já é tratado no seu trabalho de 1895, de autoria de ErnestoGuilherme Young, “Esboço Histórico da Fundação da Cidade de Iguape”, em revisa doInstituto Histórico e Geográfico e São Paulo, V.I, 1895, PP. 49 a 101, e “Histórias deIguape”, mesma revista, 1903, V. III, pp. 222 a 375. Neste trabalho à pág. 229, escreveu opesquisador:

“Não precisamos lançar mão das tradições para saber que o primeiro habitante europeu emIguape foi o Bacharel, desterrado em 1501, e há tantos documentos comprovando que oprimeiro possuidor de terras (excetuando os indígenas) era um homem de merecimento eao mesmo tempo um grande criminoso que jamais poderia voltar ao seu país, era chamadoCosme Fernandes ou Cosme Fernandes Pessoa, que, fazendo uma simples deduçãoracional destes documentos, somos obrigados a acreditar que este grande criminosoCosme Fernandes seja o mesmo Bacharel desterrado”.

Parece que o Bacharel tinha necessidade de resguardar a sua verdadeira identidade,aparecendo sempre com seu título de graduação social. Daí ser tratado, na maior parte dosdocumentos, que a ele fazem referência como Bacharel, apenas, ou Bacharel Mestre,aspecto enigmático da sua vida, que somente agora vai sendo esclarecido, na medida emque aparecem novos documentos, à luz do conhecimento público.Na tentativa de esclarecer este aspecto, o historiador Francisco Martins dos Santos, na suaobra “História de Santos”, 2ª. Edição, 1986, Ed. Caudex, lº volume, pap.III, pp.20/21,fundamenta-se no trabalho de Frei Joaquim de Santa Rosa do Viterbo, “Elucidário daspalavras, termos e frases que em Portugal se usaram e que hoje regularmente se ignoram -Obra indispensável para entender sem erro os documentos mais raros e preciosos que entrenós se conservam”, 1ª. Edição – Lisboa, 1798 / 1799, 2 vis. 2ª. Edição – Lisboa, 1865/2vis.Por fim o historiador Francisco Martins dos Santos nos dá a seguinte conclusão:“Tomando por base os poucos casos existentes e a transformação mais tarde sofrida peloduplo título – BACHAREL MESTRE – temos, então, que BACHAREL MESTRECOSME FERNANDES PESSOA, equivaleria a PADRE MESTRE COSME FERNANDES PESSOA, como vimos tocar um dia ao nosso Frei Gaspar da Madre deDeus, chamado por extenso: DOUTOR PADRE MESTRE JUBILADO”.O título PADRE MESTRE teve grande uso no correr dos séculos brasileiros e chegou atéos nossos dias, dado a grandes sacerdotes, formados em teologia, professores, ou degrande saber, e finalmente a Padres Professores, até do Primário “, continua o historiadorno seu versado estudo até chegar no seguinte trecho onde conclui:“A existência de dezenas de padres judeus ou judaizantes no Peru e no antigo Reino NovaGranada, demonstra que o degredo do PADRE MESTRE BACHAREL MESTRECOSME FERNANDES, com a rigidez e dureza da sua perpetuidade, bem podia ter sidocausado pela apuração do seu judaísmo, numa época em que se processavam as primeirase grandes perseguições religiosas do reinado de D. Manuel (1501)”.Outra explicação estabelece que talvez devido ao título de Mestre, usado pelo Bacharel,seria de graduação maçônica, suficiente para ser degredado em 1501. Nesse tempo aMaçonaria Judaica defendia, reunindo os perseguidos e os que lutavam contra asperseguições e os confiscos, na Espanha e em Portugal, onde para poder continuar a sualuta, utilizavam diversos sinais secretos que permitiam o reconhecimento mútulo entre osdiversos elementos da maçonaria judaica e seus diversos graus. Nesses casos, os maçonsdos diversos graus se reconheciam através de toques rituais, de palavras cabalísticasmudadas constantemente, utilizando diversos alfabetos quando se correspondiam.Eram muitos os maçons judaicos que habitavam o Brasil nos primeiros cem anos de suahistória. Ainda hoje podemos observar nas suas assinaturas conservadas nos documentoshistóricos, públicos e particulares, diversos desses sinais utilizados, hebraicos, fenícios ougregos. O próprio João Ramalho, cujo judaísmo até hoje é objeto de discussão, utilizava nasua assinatura o BETH, 2ª. letra do alfabeto hebraico. Isso explicaria talvez, porque JoãoRamalho vivia no campo, no planalto, à distância do Bacharel Mestre Cosme, outropossível graduado maçônico, talvez em grau equivalente, ao qual ele não podiasubordinar-se.O silêncio oficial mantido a respeito dessa grande e marcante figura da nossa história, teriaa justificativa de tratar-se de um padre ou cônego português expulso para o Brasil, comoelemento judaizante ou maçon judaico de grau elevado, fato que nunca se verificou depoisdisso, em toda a história do Brasil.A circunstância de caber à Igreja a censura dos livros como um dos seus privilégios maisrigorosamente exercidos e de conceder as “imprimatur” finais pelos censores do SantoOfício, reunido isto ao fato do grande sigilo e silêncio verificado neste caso do Bacharel,deixa a forte impressão de estar realmente ligada às revelações do “Elucidário” de FreiViterbo. Nenhuma publicação sujeita à antiga censura da Igreja, faz alusão à possívelorigem ou posição social desta importante figura da nossa história inicial, e muitos nemfazem menção aos fatos, nem ao seu nome. Seria, pois, padre judaizante o fundador de SãoVicente? [Páginas 48 e 49 do pdf]

Em relação à polêmica levantada por diversos historiadores sobre os títulos utilizados porCosme Fernandes Pessoa, de Bacharel e Mestre, e em que se chega a conclusões um tantoquanto desconcertantes como títulos de maçonaria, ou condição de padre, achamosinteressante que, apesar de, nos seus trabalhos ter sido mencionada a carta de Mestre João,participante da armada de Pedro Álvares Cabral, no seu “Descobrimento do Brasil”, cartaesta enviada juntamente a Portugal com a carta de Pero Vaz de Caminha em 1500, nãotenham, esses historiadores se apercebido que o Mestre João se intitula: Bacharel Mestre.Sendo que este Bacharel Mestre João era contemporâneo do “nosso” Bacharel, poderiampelo menos utilizar esta carta como elemento comparativo ou informativo no assunto empauta. Esta carta foi publicada por diversas vezes. Dentre elas citaremos algumas como:“Alguns Documentos do Arquivo Nacional da Torre do Tombo” – acerca das Navegaçõese Conquistas Portuguesas – 1892 – pág. 122. Publicada por Varnhagen em 1845, Revistado Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, e na sua “História Geral do Brasil”, I,423, a carta do Mestre João saiu com a assinatura errada, Johannes Emenelaus (comoescreveu Capistrano de Abreu no seu “O Descobrimento do Brasil”, 1883, 2ª.Ed., pág.53,Rio – 1929). A leitura paleográfica mostrou, em vez de Emenelaus, Bachalarius, seja JoãoBacharel, “Alguns Documentos da Torre do Tombo”, pág. 258, Lisboa – 1892.Documento também citado por Francisco Martins dos Santos, em “História de Santos”, jácitado e por Pedro Calmon em sua “História do Brasil, também já citado, este “Johannesartium et Medicine bachalarius” é, sobretudo, importante pela carta que de Porto Seguromandou a D. Manuel em 1 de maio de 1500. Seria também cósmógrafo, que em Lisboaensinava “Longitude de Leste a Oeste” a Mestre Diogo, e cujas lições Pedro Annesdesejou ouvir conforme pedido que dirigiu ao rei em 1509. (Trata-se de documentopublicado entre “Inéditos da Torre do Tombo”, por Frazão de Vasconcelos, in PetrusNonius, fasc.I, pág. 110, Lisboa – 1937. Vide também do mesmo autor, “Pilotos dasNavegações Portuguesas dos Séculos XVI e XVII”, pág. 50, Lisboa – 1942: “... o ditoMestre Diogo ora veio a aprender a sonsacar.” (sonsacar, solicitar).Na publicação “Os Primeiros 14 Documentos Relativos à Armada de Pedro ÁlvaresCabral”, Edição de Joaquim Romero Magalhães e Susana Münch Miranda, Lisboa - 1999.A carta de Mestre João começa assim:“Senhor, O Bacharel Mestre Johann, físico e cirurgião de Vossa Alteza beija vosas realesmanos... etc”. E termina com o seguinte texto:“Do criado de Vossa Alteza e vosso leal servidor” Johannus artium e medicinebachalarius”.Não queremos dizer com este exemplo, que o “nosso” Bacharel fosse médico ou cirurgião,como era o caso do Mestre João, o que queremos dizer é que o título de “Bacharel” nãoera necessariamente um título de maçonaria ou padres, e que como no caso apresentadopodia, perfeitamente, corresponder a um título acadêmico, tal como em nossos dias.

Quanto ao título de “Mestre”, são múltiplos os exemplos que se encontram ao longo dahistória, onde nos deparamos com a sua aplicação, a diversas atividades profissionais,desde arquitetos, navegantes e pedreiros, marceneiros e tantos outros exemplos. Portanto, não nos prolongaremos mais neste particular. Apresentamos as fontes, para quem quiser seaprofundar nesse assunto.As filhas do Bacharel com o correr do tempo, foram se unindo a outros moradores dopovoado, portugueses e espanhóis, onde resultaria a sua boa relação com os castelhanos –e daí o grande número da sua gente e parentela, que toda abandonou São Vicente,acompanhando o Bacharel de volta para Cananéia, por ocasião de sua expulsão em 1531.A respeito das suas atividades e patriarcado em São Vicente, nenhum documento chegou,melhor do que o relato de Diogo Garcia de Moguér. A carta deste navegante ao rei daEspanha, datada de 1527 e conhecida como “Memória de la Navegación”. Por estedocumento é possível, hoje, se fazer uma avaliação do grande comércio de escravos(índios), que se realizava, através do Porto de São Vicente, e também que o Bacharel eseus genros, Gonçalo da Costa, Francisco Chaves e outros, ainda deviam ser muito ricos,certamente participantes do tráfico de escravos e seguramente com ligação com AntonioRodrigues e João Ramalho. O documento relata:“Memoria de la navegación que hice este viage en la parte del mar oceano desde que salíde la ciudad de La Coruña, que alli me fué entregada la armada por los officiales de S. M.que fué en el año de 1626”. (Mello Moraes – “Cronografia Histórica” – 1886, pá. 150 –transcrição integral)“... 1526 – E de aqui fuemos a tomar refresco en S. Vicente que esta em 24 grados, e allivive um Bachiller y unos yernos suyos mucho tiempo ha que há bien 30 años e alliestuvimos hasta 15 enero del año siguiente de 27 e aqui tomamos mucho refresco de carney pescado y de las vituallas de la tierra para provisión de nuestra nave, e água e lema etodo lo que ovimos menester, e compre de un yerno deste Bachiller un bergantín quemucho servicio nos hizo, y más el propio se acordo con nosotros de ir por lengua al rio (daPrata) y esteBahiller com sus yernos, y hicieron comigo uma carta de fletamiento para lastraer em España con la nao grande “ochocientos esclavos”, e y ola hice con acuerdo detodos mis oficiales e contadores e tesoreros que allegando em el rio mandasemos na naoporque la nao no podia entrar em el rio que era mui grande, y elos no quisieron sinohacermela llebar cargada con esclavos e aí lo hice que así la mande cargada com esclavos,poruq ellos no hicieron nen me dieron la armada que S. M. mando que me diesen, e lo quecon ellos yo tenia capitulado concertado e asentado y firmado de S. M. pero anteshicieeron lo contrario que me dieron la nao grande e no conforme a lo que S. M. Mandava,e no la dieron en tiempo que les fué mandado por S.\M. que me la diesen em entrandoSetiembre, y ellos me la diron medido Enero que no podia yo aprovechar della porqueaqui V. M. lo verá por esta nevegación, y está una gente ali con el Bachiller que comencarne humana y es mui buena gente amigos muchos de los cristianos que se llamanTopies...”Este documento nos dá uma boa ideia da força e variedade das atividades do Bacharel eseus genros. Os diversos produtos que eram comercializados, a existência de um estaleiro,onde eram construídos bergantins, a contratação de “línguas da terra”, o grande comérciode escravos. Tudo isso somado, configura a importância do povoado de São Vicente.Pode-se perceber que era um importante centro de abastecimento das armadas itinerantes, tanto daquelas que navegavam em demanda do Rio da Prata, como daquelas que iam rumoà Europa. É fácil dimensionar a importância e poder do Bacharel, fundador, organizador emandatário de toda a região vicentina.Comparando este depoimento (espanhol) com o de Pero Lopes (português), um dizendoque o Bacharel estava há trinta anos em São Vicente, e o outro afirmando que o Bacharelestava há trinta anos em Cananéia, evidentemente reafirma a idéia de que o dois era amesma pessoa, apenas localizado em duas regiões diferentes e dois lugares, como já foianteriormente explanado.Com o relato de Diogo Garcia e o de Alonso de Santa Cruz, do qual faremos umareprodução mais ampla, poderemos ter uma idéia mais completa e clara do que era opovoado de São Vicente, da vida e das atividades ali desenvolvidas, muito antes da vindade Martim Afonso:“Dentro do Porto de São Vicente há duas ilhas grandes habitadas por índios, e na maisoriental delas, estivemos mais de um mês ancorados. Na ilha ocidental os portugueses têmum povoado chamado São Vicente, de dez ou doze casas, uma feita de pedra com seustelhados, e uma torre para defesa contra os índios em tempo de necessidade. Estãoprovidos de coisas da terra, de galinhas e porcos da Espanha e com muita abundância, ehortaliças”.Alonso de Santa Cruz completa o relato com uma planta da região. Verificamos tambémque esteve com os navios de Caboto, que ele trazia, durante dois meses fundeados noPorto de São Vicente, na atual entrada ao Porto de Santos.A existência e localização do povoado de São Vicente, onde está hoje a cidade do mesmonome, está bem descrita e retratada, complementando a descrição de Diogo Garcia. Tratase do “Yslário” de Alonso de Santa Cruz, lº oficial de Sebastião Caboto, na transcrição doComandante Eugênio de Castro na “Revista do Instituto Histórico e Geográfico de SãoPaulo, v. XXIX, pág. 150.Podemos afirmar, diante do exposto, que sem o Bacharel e o povoado de São Vicente,com a sua infra-estrutura, com uma povoação estável e sua localização estratégica, pertodo Rio da Prata e do ponto final do meridiano de Tordesilhas, que como sabemos, a sualocalização no sul do continente era muito confusa, tanto para portugueses como para osespanhóis, o povoamento regular e oficial do Brasil não teria começado por São Vicente, esim por outra região, como Itamaracá, em Pernambuco, onde havia uma feitoria criada porCristóvão Jacques, tendo como feitor o Capitão Diogo Dias, trazido de Portugal pelomesmo Cristóvão Jacques; ou pela Bahia onde estava desde muitos anos Diogo Álvares (oCaramuru), ou ainda por Cabo Frio, onde existia um grande centro de exploração de paubrasil.Nenhum desses locais se apresentava com uma vida organizada, consolidada e fecunda,como aquela que o Capitão-mor Martim Afonso viria a encontrar em São Vicente. Comuma penetração no planalto, realizada por João Ramalho, em evidente articulação com oBacharel, Martim Afonso não daria a São Vicente a sua preferência como capitão ou [Páginas 50, 51 e 52 do pdf]

donatário, sem contar se as resoluções do rei de Portugal, e sim a um dos outros pontos do imenso litoral brasileiro.Portanto, somadas todas estas evidências, fazem firmar ainda mais, o fato da escolha proposital do povoado de São Vicente, como ponto inicial para a realização dopovoamento do Brasil, por parte de Portugal. Era pois São Vicente o local ideal para darinício a obra colonizadora, que marcaria para sempre a presença de São Vicente na históriado Brasil Foi a primeira vila e foi ali que se realizou a primeira eleição das Américas eonde começou a nacionalidade brasileira.

Intimado por Martim Afonso, que fundeara em Bertioga, o Bacharel Mestre Cosme abandonou São Vicente aproximadamente em julho de 1531, dirigindo-se para a região de Cananéia, aonde veio a encontrar a armada de Martim Afonso em 12 de agosto, segundo descrição do Diário de Pero Lopes. Ainda não foi provado, não havendo suficientes provas documentais com relação à passagem de Martim Afonso por Bertioga e o seu encontro com João Ramalho naquele ponto, cuja referência já se fez tradição.

Foi depois da chegada de Martim Afonso a Cananéia, que se teria verificado, segundoalguns historiadores, a primeira vingança do Bacharel, oculta sob o que poderia pareceruma infelicidade normal. Francisco de Chaves, genro do Bacharel, informa a MartimAfonso que, não muito longe dali, havia ouro em quantidade, a ponto de o novo capitão deSão Vicente acreditar na informação, confiando-lhe 80 dos seus melhores homens, alémdo chefe (Pero Lobo). Esta expedição nunca mais voltaria das selvas. Pero Lopes, no seu“Diário” descreve o fato da seguinte forma:

“... o Francisco de Chaves era mui grande língua desta terra. Pela informaçam que d’elladeu ao Capitam, mandou a Pero Lobo com oitenta homens, que fossem descobrir pelaterra adentro; porque o dito Francisco de Chaves se obrigava que em dez meses tornava aodito porto, com quatrocentos escravos carregados de prata e ouro. Partiram desta ilha aoprimeiro dia de setembro de mil quinhentos e trinta e hum os quarenta besteiros (*) e osquarenta espingardeiros”. (*) Besteiros = soldados armados de bestas (catapultas, arcos).Preocupado em servir melhor ao rei, Martim Afonso mandou os seus homens nestaexpedição, já que as notícias sobre a viagem de Aleixo Garcia nas proximidades dosAndes, portanto dos Incas, devia ser do conhecimento do capitão-mor e mesmo porquedentre os seus homens, estava Henrique Montes e Pero Capico, que tinham conhecimentodesses fatos, principalmente Henrique Montes, como já vimos anteriormente, que foicompanheiro de Aleixo Garcia em Santa Catarina.

Já para Francisco Martins dos Santos em sua obra já citada, seria desta maneira, a primeira manifestação da vingança do Bacharel, pela sua expulsão de São Vicente. Segundo a sua linha de raciocínio, Martim Afonso não desconfiou de uma cilada por parte do genro do Bacharel (Francisco de Chaves), e nem do próprio Bacharel. Martim Afonso, entusiasmado pela idéia de quatrocentos escravos carregados de prata e ouro, não teria percebido a suposta armadilha, o que nos parece ingenuidade demais, para um homem experiente, como ele.

Outro erro apontado seria a ordem de Martim Afonso, dada aos espanhóis, companheirosdo Bacharel e que ali moravam (em Cananéia), que abandonassem o local e passassem aresidir em São Vicente. A ordem era de caráter político e militar, e muito natural. Nãoconvinha àquele grupo de espanhóis ficar em terra portuguesa desguarnecida e semadministração. Provavelmente estava preocupado com a presença de Rui Mosquera emIguape, como também de Melchior Ramirez, ou mesmo do famoso Aleixo Garcia (cujanacionalidade era duvidosa), capazes de aliciar muitas centenas de índios, pondo em riscoo povoamento de São Vicente (ali bem próxima), e a soberania portuguesa do lugar.Essa intimação (citada por vários autores), teria irritado os espanhóis, deixando-ospredispostos a uma desforra. A oportunidade apareceria somente depois da volta deMartim Afonso para Portugal. O motivo foi, ao que parece, Rui Mosquera, companheirode Caboto, que se recolhera em Iguape, acompanhado de vários patrícios. Segundo RuiDiaz de Guzmán em “La Argentina”, liv, I, cap. 8, repetido pelo Padre Charlevoix, queRui Mosquera já havia dois anos lavrara o canavial na vizinhança de São Vicente, quandochegou o Bacharel, desgostoso dos portugueses, “pelo que falava com alguma liberdademais do que devia.” O capitão da vila, Padre Gonçalo Monteiro, intimou-os a sairem emtrinta dias. Nessa ocasião entrou em Cananéia uma nau francesa. Mosquera e os seushomens a tomaram de surpresa, armaram-se com o que nela encontraram e se fizeramfortes na sua posição. Assegura o Dr. Ernesto Young, em obra já citada:

“Não devemos entrar em controvérsias a respeito de ter sido ele (Rui Mosquera) ou outroqualquer que deu causa à guerra entre o povo de São Vicente e o de Iguape, no intervadode tempo decorrido de 1533 e 1537, porém devemos acreditar que esta guerra teve origemna ordem que Gonçalo Monteiro, Capitão-Comandante do Litoral, nomeado por MartimAfonso, intimando os moradores de Iguape a se reunirem em São Vicente, (ordem acatadapelo Bacharel, que volta para Cananéia). Esta ordem naturalmente não foi cumprida pelosespanhóis, por causa dos desacordos e preconceitos nacionais e, ao mesmo tempo, porcausa das relações familiares existentes entre eles e os indígenas, que eram das maisíntimas”.

O Padre Gonçalo Monteiro, Capitão de Martim Afonso, sabendo o que estava acontecendo em Iguape, fez descer de Piratininga, onde se achavam (ao que parece) os dois cabos de guerra, Pero de Góis e Rui Pinto, homens destemidos e experimentados, investindo-os do comando das forças vicentinas, para atacar antes de serem atacados, o que parece ter sido um erro. A coluna, mista de portugueses e índios marchou sobre Iguape, mas foi infeliz. A vitória das forças de Rui Mosquera foi completa. Os de Iguape, contrariamente às expectativas dos expedicionários de São Vicente, estavam bem armados. Em número de oitenta, portugueses os atacaram. Conclui Gusmán, que Pero Góis foi ferido com uma arcabuzada, muitos ficaram prisioneiros, alguns morreram no campo de batalha e os castelhanos aproveitando esse desbarato, atacaram e saquearam a povoação de São Vicente. [Páginas 53 e 54 do pdf]

A narração de Guzmán, da guerra de Iguape, está confirmada por vários documentos. Assim, a apostila de 29 de agosto de 1537 à carta de sesmaria de Rui Pinto, não havia em São Vicente livro do tombo, por “o haverem levado os moradores de Iguape”. Rui Pinto e Pero de Góis, os dois capitães da malograda investida, não tinham cumprido a ordem de Martim Afonso, quanto à perseguição dos índios dos campos de Curitiba, por estarem ocupados com os de Iguape, consta numa ata da Câmara de São Paulo. (cit.Varnhagen, op.I, pág. 201).

Animados com a vitória e confiantes na sua superioridade, seguiram as forças de Rui Mosquera, por terra e por mar (no navio francês capturado), caindo sobre São Vicente, matando, queimando, saqueando e destruindo, desde a Vila até o Porto de São Vicente (situado na atual Ponta da Praia), onde pilharam trapiches e navios ali fundeados. (Rocha Pombo em “História do Brasil”, vol III). Durante esse ataque morrera Henrique Montes, para alguns o traidor do Bacharel.

Segundo o historiador Pedro Calmon, em “História do Brasil”, vol. I, pág.177, depois disso não há mais sinal do homem misterioso de Cananéia. Rui Mosquera seguiu para Santa Catarina. Dois anos depois da pilhagem em São Vicente de 1534, a rainha da Espanha lhe escrevia, encarecendo o seu auxílio à missão de Gregório de Pesquera, que foi inspirada pelos receios causados pelos aprestos, em Viana, da frota de Pero do Campo Tourinho. A carta da rainha ao Bacharel, em 1536 considerava incontestável o litoral vicentino, dentro da jurisdição espanhola, e estimava-se a sua colaboração. Expressava-se assim:

Real cédula al bachiller de la Cananea para que preste su ayuda a Gregório de Pesquera, Valladolid, 9 de setiembre de 1536. La reina...bachiller... que residia en la Cananea que es en la tierra que hay en la del Rio de La Plata, sabe que yo hé mandado tomar cierto asiento e capitulación con Gregório de Pesquera Rosa sobre el hacer e crear e grangear ciertaespeceria en esa tierra e le he proveydo de la governación della en cual se va a servir el dicho oficio y entender en la dicha grangeria como del sabreis e por lo que yo he sido informado que vos a que estais en esa tierra muchos dias e teneis en ella vuestra mujer y hijos yo vos ruego y encargo que persona que estareis informando la calidad de ella deyes al dicho Gregório de Pesquera todos los avisos que vierdes que convienen para el bien de la dicha grangeria e le ayudeis en todo aquello que buonamente podeys, comoa persona que va en nuestro servicio y en lo demás que os vierdes que nos podays servir em esa tierra lo hagays teniendo por cierto que mandaré tener memória de vuestros servicios para os hacer a vos y a vuestros hijos la merced que oviere lugar de Valladolid a nueve dias del mes de setiembre de quinientos y trenta e seis años / y ola Reina / Refarendada samano señalada de Beltran y Velásquez.” (Humanidades” , tomo XXV, 1ª. Parte, Buenos Aires – 1936.)

A viagem de Pesquera não chegou a ser realizada. (E. de Gandia, na citada revista). Depois foi comissionado, em 1557, Jaime Resquin, para fundar povoações em São Francisco e São Gabriel, trazendo como prático Gonçalo da Costa. Os espanhóis queriam então impedir que os franceses, instalados no Rio de Janeiro, fossem até lá. Ramón de Castro Esteves, em “Jaime Resquin y su Expedición” - Revista del Instituto de Investigaciones Históricas, nº 61-63, Buenos Aires – 1935. Também malogrou esta expedição. De 1540 é “The Voyage of the Bárbara to Brazil”, edited by R.S. Marsden, The Naval Miscellany, II, London – 1912. [Página 55 do pdf]

Pelo que observamos neste documento, o Bacharel continuava ainda, em 1536, em Cananéia e, por outro lado, a Espanha considerava a região como parte de suas terras, esperando ter no Bacharel um aliado. Outra prova de que os espanhóis acreditavam que toda essa costa estava dentro dos seus domínios, é o que consta em “Comentários”, Álvaro Nunes Cabeza de Vaca:

“Em 1541 foi mandado para socorrer a recente povoação de Buenos Aires”; chegou a Cananéia, bom porto, e “... tomó el governador la posesión de él por Su Majestad”.

Seguiuaté Santa Catarina e também “... tomó la posesión de ella em nombre de su Majestad”.Depois da invasão de São Vicente pelas forças de Iguape, partiram para Santa Catarina epouco depois, embarcaram para o Rio da Prata, coincidindo com a passagem da armada dePedro de Mendoza, em que vinha Gonçalo da Costa, o mais graduado dos genros doBacharel, para fundar Buenos Aires e começar a colonização da Argentina. Quanto aoBacharel, ao que consta na carta da rainha da Espanha, enviada ao Bacharel em 1536, elecontinuava em Cananéia.O que o jesuíta Charlevoix, narrou em sua “História do Paraguay”, Liv, I, ano 1530 até 35,foi transcrito por Frei Gaspar em suas “Memórias”, mas foi tomado como invenção oulenda. Faltou a Frei Gaspar um estudo mais profundo e detalhado do personagem principaldessa parte importante da história de São Vicente – o Bacharel Mestre Cosme Fernandes –o que deixa bastante claro que Frei Gaspar desconhecia a história de São Vicente anteriorà Vila de Martim Afonso, pois não teria recusado os relatos sobre a guerra de Iguape.Vejamos o que conta o padre Charlevoix, na sua obra anteriormente citada:“Sendo arruinada a Torre de Caboto pelos índios timbués, Ruy Mosquera lhe havia feitoalgumas reparações, mas desesperado de se não poder ali conservar contra os índios,tomou partido de se embarcar com sua tropa em uma pequena embarcação que aliconservava, e desceu o rio até o mar, e seguiu a costa do norte; e descobrindo pela latitudede 32 graus (aqui houve engano do autor ou do tipógrafo quanto à latitude) um portocômodo, entrou, e nele fundou uma pequena Fortaleza e achou os naturais do país bemdispostos a fazerem aliança com ele e semeou logo um terreno que lhe pareceu fértil.Poucos dias depois, um cavalheiro português chamado Duarte Peres, que havia degredadonaquela vizinhança, se lhe veio unir com a sua família”.“Duarte Peres não esteve muito tempo em sossego, porque recebeu uma ordem o CapitãoGeral do Brasil em que mandava voltar a seu degredo, e dizer a Rui Mosquera, se queriaficar onde estava, devia prestar juramento de fidelidade a El Rei de Portugal, a quempertencia todo aquele país. Peres obedeceu, mas Mosquera respondeu, de boca, que adivisão da América não estava ainda regulada entre o rei de Portugal e Espanha, e que,enquanto isso, estava resolvido a se conservar no posto que ocupava. Faltavam-lhe armas emunições, mas um navio francês, tendo vindo a ancorar nesta mediação de tempo na ilhade Cananéia defronte do seu forte, pode aproveitar a ocasião para se meter em estado dedefesa, se fosse atacado. Embarca com todos os espanhóis e duzentos índios em doisbatéis, chega de noite ao navio francês, que rendeu e, desarmando a equipagem, a conduzà sua Fortaleza”. [Página 56 do pdf]

Pouco depois foi advertido de que um corpo considerável de portugueses vinha por mar aatacá-lo. Dispôs de uma bateria de quatro peças de artilharia, que havia tirado da suapresa, fez novos entrincheiramentos no seu Forte e meteu uma parte da sua gente ememboscada em um bosque que cobria o lado do mar. Os portugueses eram oitenta,seguidos por um exército de índios, e iam tão confiados no bom sucesso, como iria umgrande juiz a prender um bando de ladrões. Esta confiança aumentou, vendo que se lhesnão disputava o desembarque. Passaram o bosque sem obstáculos, mas apenasdescobriram o Forte, se acharam expostos aos tiros de sua artilharia carregados pelaretaguarda pelos da emboscada, que os haviam deixado passar. O medo se apoderou dosíndios e se comunicou aos portugueses. Todos se dispersaram e à reserva dos que haviamfugido, todos os que escaparam do canhão, foram passados à espada. Mosquera, nãosatisfeito com essa vitória, embarcou com uma parte dos seus valentes, e um grandenúmero de índios, nas embarcações em que tinham vindo os portugueses e navegou a fazerum desembarque no Porto de São Vicente. Ele saqueou a Vila e os Armazéns d’El-Reicom tanta facilidade, que os portugueses, descontentes do Governador, se uniram a ele.Compreendeu o dito Mosquera, muito bem, que os seus bons sucessos, longe de firmaremo seu estabelecimento, não serviriam mais, que o de virem atacar forças a que ele nãopudesse resistir, pelo que transportou a sua pequena colônia para a Ilha de Santa Catarina,onde imaginava que não o viriam inquietar, mas não esteve ali muito tempo, porque em1537 chegou a Buenos Aires com toda a sua colônia que tinha em Santa Catarina e muitasfamílias de índios que se lhe haviam unido.Este relato de Charlevoix, do qual apresentamos a transcrição, nos parece verídico (salvopequenas alterações e confusões observadas).

O historiador Varnhagen na sua “História Geral do Brasil”, 4ª. Edição, Tomo I, cita a existência de um documento, de 1540, referente ao Bacharel, de que a Biblioteca Nacional tem cópia, escrito por um espanhol (anônimo), onde se registraram estes dizeres:

“Em la Isla de Cananéa, y en la tierra firme della hay pobló el Bachille, dejó muchas naranjeras y limones y cidras y otros muchas árboles y hizo muchas casas, que se deploraron después por los pobladores de San Vicente, que tuvieron guerra los unos con los otros, por que pretendia que el Bachiller les havia dar obediência”.

Em sua obra “Argentina”, pág. 54, Rui Diaz de Gusmán faz as mesmas referências aoBacharel, “fidalgo português”, que o forçou D. Ruy Garcia Mosquera a “agasalhá-lo” e atoda a sua casa, filhos e criados, “despeitado e queixoso dos de sua nação, quando esseCapitão se apossou de Cananéia para a coroa de Espanha”, dizendo o seguinte:“Chegou Ruy Mosquera a relacionar-se e fazer comércio com alguns portugueses da costa.Um desses portugueses chamado Duarte Perez, desgostoso dos seus, procurou os arraiaesde Mosquera, e ali foi viver com sua família fazendo causa com os hespanhões e nãoocultando o seu despeito contra Portugal”. Pelo que falava ele com mais desembaraço doque devia, e disso resultou que o capitão daquela costa mandou notificar-lhe que fossecumprir o seu desterro no lugar designado por el-Rei já estavam os hespanhões ali emIguape dois anos vivendo em paz, quando um fidalgo português, chamado Bacharel Duarte Peres se lhes veio meter com toda sua casa, filhos, despeitado e queixoso dos desua própria nação, o qual havia sido desterrado por el Rei D. Manuel para aquela costa, naqual havia padecido inumeráveis trabalhos.”“.Esta passagem é uma prova de que o Bacharel de Cananéia, degredado por D. Manuel em1501 é o mesmo que seria expulso em 1531, por ordem do rei de Portugal, das terras e dopovoado de São Vicente, do qual era fundador. É evidente que os espanhóis identificaramo Bacharel Mestre Cosme Fernandes pelo nome de Duarte Peres ou Bacharel DuartePeres, mas a clareza com que se apresentam esses episódios dos quais o Bacharel deCananéia tomou parte, não deixa dúvidas de que o Bacharel de Cananéia é o mesmoBacharel Duarte Peres.Os relatos de Guzmán mereceram a transcrição de Rocha Pombo, confirmam o que estáexposto. O historiador Varnhagen, em sua obra citada, 2ª. Edição, Tomo I, pág. 165, nosdiz o seguinte:“O fato das hostilidades com os de Iguape se confirma por um livro da Câmara de SãoPaulo (de 1585/1586, fls. 13-V, fl. 14, onde lemos que a razão por que Pero de Góis e RuiPinto não foram contra os índios de Curutiba, que haviam assassinado os oitentaexploradores partidos de Cananéia, foi POR ESTAREM OCUPADOS COM ASGUERRAS DE IGUAPE.”Junto com a declaração do documento mencionado por Varnhagen, pode ser colocada estapergunta: Quem teria ordenado àqueles dois fidalgos portugueses a guerra aos índios dosul?A resposta é encontrada na obra de Pedro Taques “História da Capitania de São Vicente” –Edição Taunay, pág. 67: “é que o donatário Martim Afonso de Sousa, quando seausentara, deixara ordenado se continuasse a guerra pelos cabos dela os fidalgos Pedro deGóis e Rui Pinto, porque lhe haviam morto oitenta homens que tinham mandado ao sertãoa descobrimentos...”Reafirmando ainda estas afirmativas, veremos ainda o que diz Roberto Southry, em sua“História do Brasil”, 1862 – Tomo I, pág. 104:“Destruído o estabelecimento de Caboto, emigrara parte da sua gente para o Brasil, ondenuma baía chamada Iguá, vinte e quatro léguas distante de São Vicente, principiaram afazer plantações, continuando a viver por dois anos em termos amigáveis com osindígenas vizinhos e com os portugueses. Suscitaram-se, então, questões e segundo versãocastelhana (única que temos), resolveram os portugueses cair sobre eles, e expulsaram-nosdo país, disto tiveram aviso, surpreenderam os futuros invasores, saquearam a cidade deSão Vicente, etc...”.

Confirmando estas ocorrências, citamos uma escritura de 1537, lavrada em São Vicente. Azevedo Marques, em seus “Apontamentos Históricos, Geográficos, etc., da Província de São Paulo”, tomo I, pág. 182, declarou existir no Cartório da Tesouraria da Fazenda, Maço 11 – de Próprios Nacionais – documentos a que estão juntos os papéis apreendidos aos extintos jesuítas:

Gonçalo Monteiro, capitão, com poder de reger e governar esta Capitania de São Vicente, terra do Brasil pelo mui Ilmo.sr. Martim Afonso de Sousa, governador da dita Capitania... Faço saber aos que esta minha carta de confirmação virem em como por Francisco Pinto, cavalheiro-fidalgo, morador em dita capitania, me foi dito por uma petição que o dito Sr. Governador, havendo respeito a ele querer ser povoador e assim outros respeitos, lhe fizera mercê de um pedaço de terra nas terras de Cubatão, indo desta ilha para o rio Cubatão, entrando... (está deteriorado o original) da qual terra diz ser-lhe feita carta e ser datada e assignada pelo dito Sr. Martim Afonso de Sousa, a qual carta lhe fora levada pelos moradores de Iguape quando roubaram os que estavam neste porto mar, e levaram o livro de tombo ............... Dada nesta vila de São Vicente aos 17 dias do mez de Septembro de 1537 – Antonio do Valle, Tabelião Público Judicial e escrivão das datas pelo dito sr. e fez n’este anno do nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo de 1537 – Gonçalo Monteiro...”.

Confirma este documento, o relato de Southey e dos demais autores não portugueses, comprovando também o roubo do Livro do Tombo Vicentino, um detalhe que só pode ser devido à dúvida sobre de quem eram essas propriedades, se de Portugal ou de Espanha, devido às indefinições sobre a localização da linha demarcatória do Tratado de Tordesilhas.

Diante de todo o que foi exposto, podemos concluir que o Bacharel, identificado pelosespanhóis como Duarte Peres, é o mesmo Bacharel Mestre Cosme Fernandes Pessoa,mencionado pelos diversos historiadores portugueses e brasileiros.Portanto o nome Duarte Peres, que pelos relatos de diversos cronistas espanhóis é opróprio Bacharel, acaba não sendo mais do que o nome adotado pelo Bacharel MestreCosme Fernandes em seus tratos com os castelhanos de Iguape e Cananéia, paraocultamento da sua verdadeira identidade. Após o conhecimento dos fatos e documentoscomprobatórios, como a escritura de 1542, não é razoável manterem-se dúvidas a respeito.A farta documentação, tanto espanhola, como de origem nacional, não deixa dúvidas arespeito da existência do Bacharel, das suas identidades, da sua participação nosacontecimentos: fundação do povoado de São Vicente, da própria guerra de Iguape,elementos e acontecimentos postos em dúvida por diversos historiadores. A importânciahistórica do Bacharel na mais primitiva história de São Vicente, Cananéia e Iguape, e doBrasil, nos parece indiscutível e, considerar o Bacharel Mestre Cosme Fernandes Pessoacomo o verdadeiro fundador de São Vicente (povoado) parece uma questão de justiçahistórica.

Fica evidente que a São Vicente do Bacharel, de Pero Capico e Antonio Ribeiro (seus dois capitães anteriores a Martim Afonso de Sousa), de Diogo Garcia e Alonso de Santa Cruz de 1516, 1526, 1527 e 1530, com suas dez ou doze casas de tipo europeu e mais os tejuparés índios e armazéns para guarda de mantimentos, com sua fortaleza de pedra e torre para defesa contra ataques indígenas, com dois portos, um de pequeno calado e outro de grande calado, com todo o seu comércio, sua indústria naval e seu tráfico de escravos demonstrados e provados, com sua proximidade ao ponto final do meridiano de Tordesilhas e da região do Rio da Prata, faziam com que São Vicente (povoado), além de ser o ponto habitado mais importante da costa brasileira, era também estratégica, política e militarmente o ponto ideal para se dar começo ao povoamento português no Brasil.

Portanto nos parece que a escolha de São Vicente, para sediar a primeira vila do Brasil, não foi um fato acidental, nem criado por capricho do rei de Portugal, nem de Martim Afonso, e sim produto de um estudo e planejamento cuidadoso por parte de D. João III. O historiador Pedro Calmon, em obra já citada, Vol.2, pág.571 nos mostra que:

“Abaixo ficava a costa dos carijós, ou entre o território dos Arachãs (litoral do Rio Grande) e Santa Catarina, dos Patos, com Paranaguá e São Francisco do Sul, baías freqüentadas pelos barcos castelhanos, e Laguna, onde chegavam os traficantes à procura do índio Tubarão, péssimo sujeito, como diz, em 1605 o Padre Jerônimo Rodrigues. Tubarão reatou o comércio de escravos do Bacharel de Cananéia, contemporâneo dasprimeiras expedições.”

Este trecho sugere que o Bacharel de Cananéia continuou o seu comércio de escravos naárea, comércio este retomado depois pelo índio Tubarão. Outra indicação parece ser que oBacharel continuou as suas atividades depois de ter sido expulso de São Vicente em 1531.Segundo o Padre Serafim Leite, em “Novas Cartas Jesuíticas”, pág.221, “o nome Tubarãoperdura numa localidade de Santa Catarina, entre Laguna e Jaguariúna.”Capitulo VIII – O Primeiro Capitão de São Vicente.PERO CAPICO foi o primeiro Capitão de São Vicente, segundo declaração do próprio Rei– Capitão de uma das Capitanias do Brasil – (a outra era Itamaracá), trazido por CristóvãoJacques em 1516/17, e levado de volta para Portugal em 1527, por ele mesmo, segundo oAlvará Régio de 15 de julho de 1526 e retornando a São Vicente com Martim Afonso deSousa em 1532, na qualidade de Prático da região e Escrivão da Armada.A atuação administrativa e militar de Capico em São Vicente é esclarecida pelo Alvarácitado, uma vez que a outra Capitania existente então, a de Itamaracá, eram somente duase era o seu Capitão, o já mencionado Diogo Dias, trazido também ao Brasil por CristóvãoJacques.Tendo voltado ao Brasil, e a São Vicente na Armada de Martim Afonso, Pero Capicopermaneceu na Vila enquanto nela esteve Martim Afonso, lavrando todas as primeirasescrituras de terras e cartas de doação até início de 1533.MELCHIOR RAMIREZ era um dos sobreviventes da Armada de Juan Dias de Solis, e,durante o tempo de permanência no Brasil, desenvolveu suas atividades entre Iguape,Cananéia e a região do Prata, fazendo parte do núcleo espanhol de Mosquera e dos fatos [Páginas 57, 58, 59 e 60 do pdf]

Segundo alguns historiadores, a prova da traição de Henrique Montes seria a “pressa” comque o rei D. João o nomeou Provedor dos Mantimentos da armada de 3 de dezembro de1530, visto que a sua nomeação foi feita em carta de 16 de novembro desse ano, assinadaem Lisboa, dias antes da nomeação do próprio Martim Afonso para chefe da mesmaarmada, o que só se daria pelas cartas de D. João datadas de 20 de novembro de 1530, daVila de Castro Verde (“São Vicente Primeiros Tempos”, 2006. Página 44. Chancelaria de D. João III-liv.43, fls.130V e “História da Colonização Portuguesa do Brasil”, v.III, pág. 125).o Secretaria de Turismo e Cultura da Prefeitura de São Vicente
*“São Vicente Primeiros Tempos”. Secretaria de Turismo e Cultura da Prefeitura de São Vicente

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