Guaranis - As primeiras explorações do sertão compreendido entre os rios Paranapanema, Paraná, Tibagi e Iguaçú, acusaram numerosa presença, em toda a parte, de nativos da nação Guarani.
Em 1541 D. Alvar Núñez Cabeza de Vaca, mandado pelo rei de Espanha para o Paraguai, como "adelantado", tomou posse em nome do seu soberano, de Cananéa e da ilha de Santa Catarina e se internou no território do sertão correspondente a esses dois pontos extremos da costa, seguido de numerosa comitiva militar, e fez o longo trajeto do litoral ao rio Iguaçu, Campos de Curitiba, Campos Gerais, rios Tibagi e Piquiri e novamente ao Iguaçu (próximo dos Saltos de Santa Maria) e em todo esse imenso percurso encontrou numerosas aldeias de nativos guaranis e nenhuma outra nação.
Em 1555 e em 1557 o governo do Paraguai, apossando-se efetivamente desse território, fundou as povoações de Ontiveros, Vila Rica e Ciudad Real del Guayra, respectivamente junto ao rio Paraná, próximo à foz do Piquiri e à do Corumbataí, com soldados e civis castelhanos e a estes submeteu os nativos guaranis dos quai precisassem para os seus trabalhos e para fins de defesa da terra.
De 1610 a 1629, autorizados pelo soberano espanhol, os padres da Companhia de Jesus mantiveram 13 reduções do gentio guarani nos valos dos rios Pirapó, Tibagi, Ivaí e Piquiri. Somente depois da destruição, pelas "bandeiras" paulistas, das povoações castelhanas e jesuíticas, foi que os nativos de outras etnias invadiram esse extenso território compreendido na província espanhola de Guaíra, sujeita ao governo do Paraguai.
Carijós - Dominadores de toda a costa marítima, de Cananéa à Lagoa dos Patos. Atacados e preados em grandes levas na região de Paranguá pela "bandeira" de Jerônimo Leitão, em 1585. Pouco antes de 1640, Gabriel de Lara, ao procurar estabelecer-se em Paranaguá, receou a hostilidade do gentio Carijó possivelmente ainda ressentido do assalto de 1585, e prudentemente se localizou com sua expedição na ilha de Cotinga, fronteira ao continente, para onde se transferiu depois, fundando a vila de Nossa Senhora do Rosário de Paranaguá.
Tendo captado a confiança dos nativos, deles se serviu para a descoberta e a exploração de ouro. Assim foi que os carijós da costa parnanguara que não foram escravizados pela "bandeira" preadora ou que não se internaram no sertão fugindo a outras agressões dos brancos, passaram a constituir o lastro da nossa população litorânea.
Os carijós que debandaram para o sertão repontaram no vale do Paranapanema onde os encontraram as "bandeiras" seiscentistas, e no baixo Iguaçu onde ainda em 1894 os visitou Ambrossetti, que, aliás, os identificou com os Guaiaquis do Paraguai. [Páginas 29, 30 e 31]
Guaianás - Após a derrota que os franceses de Villegaignon, seus aliados, sofreram em Guanabara (Rio de Janeiro) e da que lhes foi infligida na vila de São Paulo no combate de 10 de julho de 1562 conjuntamente com os Tupis, Caribocas e Tamoios.
Os Tupinakis, ou Goiá-na, preferindo deslocarem-se a submeterem-se aos portugueses de Piratininga, tomaram a direção sudoeste e estabeleceram-se na Serra Apucarana, além do Rio Tibagi, onde em1661Fernão Dias Paes Leme os encontrou divididos em três reinos (Pedro Taques Paes Leme, Nobliarchia Paulistana, Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro., vol. 25, parte primeira, p. 106 a 109).
Em 1610, por ocasião das fundações jesuíticas no Guaíra, foram encontradas tribos Guaianás nas margens do rio Paraná, acima e abaixo dos Saltos das Sete Quedas; na mesma época, segundo o cônego J. P. Gay (História da República Jesuítica do Paraguay) existiam numerosas malocas de Guaianás às margens do rio Iguaçu e do Santo Antônio, bem assim, em 1775 ao sul do rio Pirituba (Rio Chopim) segundo o Mapa Geográfico da América Meridional, de Olmidilla.
Mapas coloniais assinalam a região do baixo Tibagi, em ambas as margens, com a indicação: "Sertão do Gentio Guanhanás" e a que demora entre os rios Iguaçu e Santo Antônio com a indicação: Guanhanás, very little known (muito pouco conhecidos); os jesuítas de Guaíra aldearam Guaianás na Redução de São Tomé, em Guaíra, situada a leste do rio Corumbataí; Ambrossetti, em 1903 visitou aldeias de Guaianás no curso inferior do Iguaçu e no alto Paraná. Vem de longe a discussão sobre se os Guaianás eram Tupis ou Tapuias. O cônego Gay, situando Guaianás no baixo e alto Iguaçu e Uruguai, respectivamente, acrescenta: - "(...) e sua língua pouco difere da dos Guaranis", mas também diz que "o nome Guaianás dá-se a todas as tribos que não tem outra denominação e que não são Guaranis". Teodoro Sampaio, A Nação Guaianá da Capitania de São Vicente, filia os Guaianás no grupo Guarani; Carlos Teschauer, S. J., Os Caingang ou Coroados no Rio Grande do Sul, entende que os Guaianás, como também os Camés e os Xocrêns, eram Caingangs.
Também H. von Hering, Revista do Museu Paulista, vol. 6, p. 23 e 44, conclui que os Guaianás descritos por Gabriel Soares, "são os atuais Caingangs". Telêmaco Borba, Atualidade Indígena, p. 128 e seguintes diverge, e entende que eram Tupis-Guaranis, pois esses nativos se entendiam perfeitamente com os Carijós.
O fato de serem aldeados em Guaíra conjuntamente com os Guaranis, fortalece esta opinião do saudoso indianista paranaense.
Guarapiabas - Região de campo ao norte de Guarapuava, entre os rios do Peixe (Piquiri) e Tibagi, onde o Mapa da Costa de Iguape à Laguna e Sertão Inculto até a Fronteira Espanhola os assinala com esta larga inscrição: Campos do Gentio Guarapiaba. Milliet de Saint´Adolphe, diz que Castro teve origem em acampamento de nativos Guarapuabas (Rocha Pombo, O Paraná no Centenário, 123). [Páginas 32, 33 e 34]
TEMINIMÓS — Entre os rios Piquiri e Tibagi, em zona de campos. Manoel Preto levou Teminimós para São Paulo , de regresso de Guaíra, em 1629. A "bandeira" de Nicolau Barreto, que visou o Peru, deu combate a Teminimos em território paranaense, segundo Alfredo Ellis Júnior em "O Bandeirismo Paulista e O Recuo do Meridiano, página 21. Afonso E. de Taunay (História Geralas Bandeiras Paulistas, p . 186 ), diz que os Teminimós habitavam a região guairenha, nas imediações de Vila Rica. (História do Paraná, 1899. Romário Martins. Página 34)
(...) a Portugal pelo Tratado de Tordesilhas (1492), pois essa linha, segundo os cosmógrafos espanhóis, caía no mar na altura de Iguape, embora para os portugueses terminasse na altura da Laguna, e a expedição de Pero Lopes de Souza (1532) ainda mais ao sul procurasse estender o direito lusitano, colocando marcos na foz do rio da Prata.
Se prevalecesse a marcação da linha que terminava em Iguape, todo o território hoje paranaense estaria compreendido no direito espanhol. Se prevalecesse a linha que terminava na Laguna, apenas uma estreita faixa marítima, que não excederia a Serra do Mar, seria do domínio português.
Além disso, o povoamento por portugueses, até o ano de 1600, somente havia tentado no planalto meridional o estabelecimento de São Paulo. Na costa do sul eram eles senhores de zona que não ia além de Paranaguá. "Todo o vasto interior do Brasil permanecia desconhecido". (Lucio José dos Santos, História de Minas Gerais, p. 7).
Nenhum trecho da costa paranaense a esse tempo possuía população branca. Apenas vicentistas vinham traficar com tupiniquins em Superagui e de 1585 a 1591, santistas, vicentistas e paulistas vinham assolar terras de Paranaguá preando nativos Carijós.
O célebre mapa organizado segundo a carga de Johannes Blaeu, de Amsterdam, na forma usadapelos jesuítas e intitulado Brasiliae pars Capitania S. Vicentii cum adjacentibus (1553-1595) é um documento elucidativo de que até aquele último ano o nosso litoral e suas adjascências eram possuídos pelo gentio.
A povoação branca mais meridional da costa era Itanhaém, assim mencionada na convenção do mapa: Luzitanorum civitates extructates. Ao norte de Itanhaém, figuram São Vicente e Santos no litoral e Santos Paulo de Piratininga no interior. Tudo o mais ou era o deserto ou o império de numerosas nações de nativos.
Apenas duas referências há no mapa de Johanes Blaeu à costa marítima paranaense: - Ararapira e Paranatiú (sic) - este nome fora e acima da enseada de Paranaguá, parecendo denominação genérica de largo trecho de nossa orla atlântica. [Página 59]
Pelo estudo feito neste parágrafo, baseado nos documentos autênticos locais, deve-se concluir que nenhum dos Afonsos Sardinhas teve propriedade em Jaraguá; que a fazenda de Afonso Sardinha, o velho, onde ele morava e tinha trapiches de açúcar estavam nas margens do rio Jerobativa, hoje rio Pinheiros, e mais que a sesmaria que obtivera em 1607 no Butantã nada rendia e que todos os seus bens foram doados à Companhia de Jesus e confiscados pela Fazenda Real em 1762 em São Paulo. Se casa nesta sesmaria houvesse, deveria ser obra dos jesuítas. Pelo mesmo estudo se conclui que Afonso Sardinha, o moço, em 1609 ainda tinha a sua tapera em Embuaçava, terras doadas por seu pai. Não poderia ter 80.000 cruzados em ouro em pó, enterrados em botelhas de barro. Quem possuísse tal fortuna não faria entradas no sertão descaroável nem deixaria seus filhos na miséria. [“Na capitania de São Vicente”. Washington Luís (1869-1957), 11° presidente do Brasil. Página 202