Manoel da Cruz Correa da Silva Capitão-Mor nesta Vila de Santa Anna de Parnahiba por Sua Magestade e nomeado Juiz Ordinrário o por bem das Ordenanças dom . mo Senhor que Deos ge . etc . etc.
Atesto, e faço certo que o Alferes João de Deus Miz Claro, m.or no Destricto do meu comando, a sette annos tem andado na diligencia do descobrimento de ouro em pó nos matos de Juquiá Guassú, entre a fronteira de Iguape, e Vutucavarú, fazendo as suas entradas pela resaca de Pereatuva, a custa de sua fazenda, com o maior esforço, e excessivo disvelo / segundo me consta / só afim de querer descobrir os tesouros encobertos para o aumento da Real Fazenda, e dos Povos necessitados, cujo exforço o tem mostrado, não só por ser dotado de uma natural inclinação desde sua infância; como tambem tem sido sempre pronpto na execução das ordens do Real Serviço, quando lhe hé encarregado.
E por me ser esta pedida a passo de minha Letra e Signa Villa de Parnahiba 8 de Setembro de 1816.Manoel da Cruz Corr . a da S.a124Pg . 100 rs . de Sello . S. P.11 de Setembro de 1816.Mor. aPor se interessante damos abaixo o manuscrito seguinte que seencontra junto:
Roteiro Antigo
Entre Sorocaba, Itapitininga, Iguape e Uvutucavaru : nestes sertoins á perto de duzentos annos, mais, ou menos achou hum antigo segundo as noticias que propoz estando ao fim da vida: mandou escrever assim.
Seguindo-se pela reçaca dos Campos de Pereatuba, entre Sul, e Leste, passando dois ribeiroins, e duas serras; adiante se dá com hum ribeiro, que p.a as cabeceiras tem hum meio descalvado, ou bastante pedras.
Dobrando-se a mesma serra está outro ribeiro que pela cachoeira acima tiramos oiro em pedaços: e seguindo p.a diante, mais ao lado do Sul se dá com hum vargido, que com 4 ou 5 palmos que se tire de lodo se acha m . to bom cascalho, e oiro com muita conta.
E logo adiante subindo, e descendo algumas serras não mui incantiladas, está uma Lagoa grande, que feito hum socovão na beira se tirou ouro em pedaços, e muitas pedras que me pareciam preciosas.
E a lenda que veio dos tempos coloniais, perdura ainda, empolgando o espírito de muita gente boa... (Memória histórica de Cananéia XV, 06.1971. Páginas 492 e 493)
“Os nossos tupinambás muito se admiram dos franceses e outros estrangeiros se darem ao trabalho de ir buscar o seu arabutan [pau-brasil]. Uma vez um velho perguntou-me: Por que vindes vós outros, maírs e perôs (franceses e portugueses) buscar lenha de tão longe para vos aquecer? Não tendes madeira em vossa terra ? Respondi que tínhamos muita mas não daquela qualidade, e que não a queimávamos, como ele o supunha, mas dela extraíamos tinta para tingir, tal qual o faziam eles com os seus cordões de algodão e suas plumas.
Retrucou o velho imediatamente: e porventura precisais de muito? Sim, respondi-lhe, pois no nosso país existem negociantes que possuem mais panos, facas, tesouras, espelhos e outras mercadorias do que podeis imaginar e um só deles compra todo o pau-brasil com que muitos navios voltam carregados. — Ah! retrucou o selvagem, tu me contas maravilhas, acrescentando depois de bem compreender o que eu lhe dissera: mas esse homem tão rico de que me falas não morre? — Sim, disse eu, morre como os outros. Mas os selvagens são grandes discursadores e costumam ir em qualquer assunto até o fim, por isso perguntou-me de novo: e quando morrem para quem fica o que deixam? — Para seus filhos se os têm, respondi; na falta destes para os irmãos ou parentes mais próximos. — Na verdade, continuou o velho, que, como vereis, não era nenhum tolo, agora vejo que vós outros maírs sois grandes loucos, pois atravessais o mar e sofreis grandes incômodos, como dizeis quando aqui chegais, e trabalhais tanto para amontoar riquezas para vossos filhos ou para aqueles que vos sobrevivem! Não será a terra que vos nutriu suficiente para alimentá-los também ? Temos pais, mães e filhos a quem amamos; mas estamos certos de que depois da nossa morte a terra que nos nutriu também os nutrirá, por isso descansamos sem maiores cuidados.
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É por demais conhecido o fato de que toda a empresa marítima portuguesa foi expressa pelos contemporâneos em linguagem religiosa e, mais ainda, missionária. Os contemporâneos nos dão a impressão de que, para eles, o maior acontecimento depois da criação do mundo, excetuando-se a encarnação e morte de Jesus Cristo, foi a descoberta das índias.