Para o Exmo. Barão de Caxias - Illmo. e Exmo. Sr. - Tive a honra de receber o Ofício de V. Exa. escrito ontem de junto ao rio Baruery, e fiquei inteirado de quanto me expõem. Creio, que os rebeldes continuarão amostrar a prudência de não esperar por V. Exa. e que só virão ás mãos com as Forças, comandadas por V. Exa. quando não tiverem meios de se retirarem.
Provéra a Deus que V. Exa. pudesse já restituir a esta Província a paz, e a tranquilidade, de que a rebelião a tem privado: estou convencido, que breve V. Exa. terá essa glória, e fará mais esse relevantíssimo serviço a Sua Majestade o Imperador.
- Hoje partem a fazer junção com as Forças de V. Exa. cem homens da Guarda Nacional de Santos. Do Rio ainda não tem chegado a esta Cidade gente, e nem me consta, que esteja em Santos porção alguma de soldados, remetidos pela repartição da Guerra; porém logo que cheguem farei que sigão para o campo de V. Exa.
- Tenho dado todas as providências para obter o maior número de Cavalos, que se puderem comprar, já escrevi sobre isso á diversas partes, mas cumpre dizer a V. Exa. que não espero remete-los a V. Exa. com a celeridade que desejo: V. Exa. mesmo foi testemunha das dificuldades, com que se alcançarão os primeiros.
Pode V. Exa. estar certo não imitirei diligência alguma para satisfazer as requisições de V. Exc. - Com a Força que parte hoje segue igualmente a Caixa Militar. Deus Guarde a V. Exa. Palácio do Governo de São Paulo, 14 de junho de 1842. - Barão de Monte Alegre.
“Os nossos tupinambás muito se admiram dos franceses e outros estrangeiros se darem ao trabalho de ir buscar o seu arabutan [pau-brasil]. Uma vez um velho perguntou-me: Por que vindes vós outros, maírs e perôs (franceses e portugueses) buscar lenha de tão longe para vos aquecer? Não tendes madeira em vossa terra ? Respondi que tínhamos muita mas não daquela qualidade, e que não a queimávamos, como ele o supunha, mas dela extraíamos tinta para tingir, tal qual o faziam eles com os seus cordões de algodão e suas plumas.
Retrucou o velho imediatamente: e porventura precisais de muito? Sim, respondi-lhe, pois no nosso país existem negociantes que possuem mais panos, facas, tesouras, espelhos e outras mercadorias do que podeis imaginar e um só deles compra todo o pau-brasil com que muitos navios voltam carregados. — Ah! retrucou o selvagem, tu me contas maravilhas, acrescentando depois de bem compreender o que eu lhe dissera: mas esse homem tão rico de que me falas não morre? — Sim, disse eu, morre como os outros. Mas os selvagens são grandes discursadores e costumam ir em qualquer assunto até o fim, por isso perguntou-me de novo: e quando morrem para quem fica o que deixam? — Para seus filhos se os têm, respondi; na falta destes para os irmãos ou parentes mais próximos. — Na verdade, continuou o velho, que, como vereis, não era nenhum tolo, agora vejo que vós outros maírs sois grandes loucos, pois atravessais o mar e sofreis grandes incômodos, como dizeis quando aqui chegais, e trabalhais tanto para amontoar riquezas para vossos filhos ou para aqueles que vos sobrevivem! Não será a terra que vos nutriu suficiente para alimentá-los também ? Temos pais, mães e filhos a quem amamos; mas estamos certos de que depois da nossa morte a terra que nos nutriu também os nutrirá, por isso descansamos sem maiores cuidados.