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História Da Civilização Brasileira, 1978. Sob a direção de Sergio Buarque de Holanda (1902-1982)
197808/04/2024 03:56:29

HISTÓRIA GERAL DA CIVILIZAÇÃO BRASILEIRA lado, nenhum argumento sério. E que os dados referidos em sua carta, ele os apurara, de fato, no curso da expedição que saíra da Espanha sob o comando de Hojeda, indica-o a circunstância de este capitão, nas célebres Probanzas de 1513, citar expressamente o nome de “Emerigo Vespuche”, ao lado de Juan de la Cosa, entre os pilotos que consigo levara. Seja como foi; é só à custa de tateios, aproximações A expedição de Cabral . _ , . , , . .

e exclusões que se podem retirar dados plausíveis de textos tão intrincados ou equívocos. E esse é o caso da generalidade dos documentos existentes acerca dos verdadeiros ou falsos precursores do descobrimento do Brasil por Pedro Álvares, o mesmo não se dirá da expedição deste último, que nos é conhecida com grande abundância de pormenores. Sabe-se, com certeza, que ele aportou em algum lugar da costa brasileira no dia 22 de abril de 1500 e pode-se, com precisão quase absoluta, dizer qual foi o lugar. O fato de a Igreja celebrar no dia 3 de maio a “invenção da Santa Cruz” levou alguns autores a associar erradamente a essa a data do descobrimento de Santa Cruz de D. Manuel. O engano principia a surgir nas páginas de Gaspar Correia, ainda no século XVI, e nele se funda, após a Independência, a escolha do 3 de maio para a abertura da nossa primeira Assembléia Constituinte. Manteve-se longamente o erro, desde então, de sorte que chegou a haver, para o descobrimento do Brasil, uma espécie de data convencional, diferente da outra, rigorosamente histórica, o 22 de abril.

Quanto a esse último ponto, conhece-se pelo menos um documento insofismável, que é a carta, já lembrada, de Pero Vaz de Caminha, o mais valioso, incomparavelmente, dos depoimentos que nos ficaram de testemunhas diretas do Descobrimento. Não se pode afirmar, e nem negar, que, destinado a escrivão da feitoria de Calecute, na índia, já exercesse seu autor cargo idêntico na frota. De qualquer modo, seu depoimento, longe de constituir um relatório seco e burocrático, é a animada descrição do primeiro contato entre o europeu e a terra incógnita. Ao longo de vinte e sete páginas do venerando texto surpreende-se, num flagrante vivaz e colorido, a visão inaugural da terra do Brasil.

Para começar, os marinheiros quinhentistas apresentam-se, aqui, em sua quotidiana simplicidade: homens de carne e osso, não estátuas de bronze ou mármore. Um deles, Diogo Dias, irmão de Bartolomeu, surge lado a lado com os Tupiniquins do Porto Seguro, procurando bailar ao jeito deles e ao som de uma gaita. Por ser homem “gracioso e de prazer”, torna-se serviçal aos navegantes, atenuando ou dissipando a natural esquivança do gentio. E não é, o seu, um caso isolado.

O próprio Pedro Álvares surge aqui e ali, junto aos moradores da terra, folgando entre eles. Só em dada ocasião parece contrair a fisionomia. E quando um índio velho, tendo tirado do próprio beiço o tembetá de pedra verde, insiste em metê-lo na boca do capitão.

Esse primeiro encontro das duas raças é o mais cordial que se poderia esperar. O europeu apresenta-se certamente cauteloso, fugindo a fazer o menor gesto que possa interpretar-se como provocação. O índio, de sua parte, mostra-se acolhedor, embora com algumas reticências e reservas - as mesmas reservas que jamais deixará de manter, através dos séculos, em face do branco invasor.

É a atitude normal em tantos povos primitivos, de quem vê, continuamente, no estrangeiro, um eventual inimigo. Desconfiados, inconstantes, dissimulados... — não são outras as expressões que os próprios catequistas hão de utilizar depois para a descrição do gentio da terra. Essa volubilidade não escaparia ao nosso mais antigo cronista.

Levados para bordo da capitânia, onde são mimados e acolhidos com presentes, os Tupiniquins que tiveram esse privilégio não dão mais sinal de si, uma vez trazidos a terra. Outros escondem-se assustados, à presença de um branco, mesmo quando, momentos antes, pareciam confiantes e expansivos. Nisso não se mostram diferentes dos pardais diante de uma armadilha, declara-o Caminha. E nota ainda, a propósito, que ninguém ousava falar-lhe de rijo para que não se esquivassem ainda mais.

Apesar de tudo, não haveria nenhum obstáculo insuperável à sua conversão e domesticação: “... essa gente”, escreve, “é boa e de boa simplicidade. E imprimir-se-á ligeiramente neles qualquer cunho que lhe queiram dar”. O Padre Manuel da Nóbrega, cinqüenta anos mais tarde, dirá a mesma coisa em outras palavras, comparando os índios ao papel branco, onde tudo se pode escrever.

O espírito de imitação, que tantas vezes tem sido apresentado como traço de caráter comum a todos os nossos índios, também transparece com nitidez dessa descrição da segunda missa no Brasil:

“E quando veio ao Evangelho, que erguemos todos em pé, com as mãos levantadas, eles se levantaram conosco e alçaram as mãos, ficando assim até acabado; e então tomaram a assentar como nós. E quando levantaram a Deus, que nos pusemos de joelhos, eles se puseram assim todos, como nós estávamos, com as mãos levantadas, e em tal maneira sossegados, que certifico a Vossa Alteza nos fez muita devoção.”

Uma página, entre todas as da carta, merece particularmente ser guardada. E aquela onde se pinta a cena da apresentação de dois índios a Cabral, a bordo de um navio da frota. O diálogo dos gestos, que nesse [Páginas 59 e 60]

60 HISTÓRIA GERAL DA CIVILIZAÇÃO BRASILEIRA momento se trava é admiravelmente instrutivo e. melhor do que muitas páginas de erudita interpretação psicológica ou etnológica, pode revelar a posição respectiva das duas raças que se defrontavam quando estava para começar a ocupação da terra.

Não é para desprezar, além disso, o conhecido testemunho do inglês John Whithall, ou João Leitão, como era conhecido, morador em Santos e ligado à gente principal do lugar (pois estava para casar-se com uma filha de José Adorno), sobre minas descobertas, não só por Brás Cubas como por Jerônimo Leitão, as quais só esperavam a vinda de mineiros práticos para ganhar incremento sua exploração.

O depoimento, que traz a data de 1578 e consta de carta dirigida a um Richard Staper e divulgada por Hakluyt, fala não só em ouro, que sem dúvida existia em várias partes da capitania, mas ainda em prata, objeto constante de tantas buscas e tão malsucedidas.

Só isto, além do que se sabe dos muitos veredictos ilusórios de mineiros e ensaiadores, permite alguma suspeita sobre a autenticidade do ouro manifestado na capitania até aquela época. Do próprio Luís Martins, tido como mineiro prático, e de seu tirocínio no mister, pouco ou nada se conhece.

A carta de 7 de setembro de 1559, por onde é mandado às partes do Brasil, declara, sem maior qualificação, que vinha a “ver os metais que se diz que nelas há”. Venceria quarenta mil-réis por ano, enquanto no dito negócio entendesse e houvesse por bem e não se mandasse o contrário. A julgar pelo resultado aparente de sua ida ao sertão, de onde levou e apresentou à Câmara de Santos três marcos de dobra e seis grãos de ouro, deu boa conta, e bem depressa, da incumbência. Na mesma oportunidade pede embarcação para mandar à Bahia as amostras alcançadas. Quem as mandará é Brás Cubas, que mais tarde se dá por descobridor de ouro e metais. E no mesmo ano de 1562 vai aparecer Luís Martins em São Paulo, como procurador do Conselho. Ligado, desde então, a esse e a outros car- gos municipais, não mais aparece, em documentos conhecidos, entre os que cuidam da exploração das minas, como se já não entendesse no dito negócio, para usar das palavras da carta de nomeação.

Nada impede, porém, que ele ou alguns dos práticos em minas, já esperados em 1578, tivessem dado princípio a explorações de ouro de lavagem que parecem positivar-se mais para fins do século. O nome de Afonso Sardinha - o pai e o filho homônimo - anda quase invariavelmente associado a essas tentativas, iniciadas, segundo diferentes versões, entre 1590 e 1597. Propostas por autores que se serviram de fontes hoje desaparecidas ou não nomeadas, essas datas já se têm prestado à crítica.

Basta-nos lembrar, em abono de tais dúvidas, que no testamento publicado de Sardinha (o velho), que o fez em 1592, não há os indícios de seus achados de ouro, que se deveriam esperar, se anteriores àquele ano. [História Da Civilização Brasileira, 1978. Sob a direção de Sergio Buarque de Holanda (1902-1982). Páginas 276 e 277]

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testeAfonso Sardinha, o Velho (1535-1616)
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Você sabia?
, o regimento de 1603 teria surgido em função das várias dúvidas existentes em relação às minas, em especial, depois das notícias da morte do tal mineiro alemão que andava com Francisco de Souza e dos boatos de que se fundia ouro do tamanho da “cabeça de um cavalo”. Esta história do ouro do tamanho de uma cabeça de cavalo aparece em outro documento. No Libro de los sucessos del ano de 1624, alocado na BNE MSS2355) fala- se deste mineiro alemão, só que teria sido assassinado a mando dos jesuítas, que temiam que a notícia da riqueza aumentasse a servidão dos gentios.

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