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Varnhagen em movimento: breve antologia de uma existência, 2007. Temístocles Cezar
200705/04/2024 03:12:01

vantagem” porquanto o “conhecimento individual” que fez delas – dessas “duas localidades, núcleos de duas de nossas capitanais primitivas” –ampliará sua capacidade de escrever a história: “melhor poderei descreverpara o futuro.”114 O olho, como diria Foucault, “torna-se o depositárioe a fonte da clareza”.115 Não se trata apenas de uma compensação à inexistência de documentos acessíveis ou confiáveis, mas de um expedientecognitivo: isto é, a visão aparece não como um último recurso, mas comoinstrumento de saber; portanto, não como uma metodologia alternativa,mas como fundamento epistemológico da pesquisa. Ou seja, não é buscarno presente os traços do passado de uma forma instantânea e irrefletida;a autópsia não é, em Varnhagen, um dado imediato da consciência e simum trabalho intelectual que requer conhecimento anterior e uma constante interlocução entre a inatualidade pretérita e o presente.

A morte e o cuidado de si

Varnhagen tinha a intenção de um dia “depois de acabar a nossa Historia da Independência”, publicar o diário desta viagem – na qual inclusive acreditava ter encontrado o local exato da chegada de Cabral e da celebração da primeira missa – e “(que resultou até em proveito de nossa saúde), com as observações feitas, especialmente com respeito a ortographia dos pontos percorridos, na ida e na volta; o que tudo apontávamos em cada noite, apezar das fadigas do caminho, e depois de haver andado, desde às 6 da manha, às vezes oito e nove leguas”.116

O historiador-viajante não teve tempo de escrevê-lo. As vicissitudes da viagem provocaram-lhe uma doença fatal. Em 29 de junho de 1878, com 62 anos, o visconde de Porto Seguro morre em Viena, longe, como sempre, de sua terra natal*.

*Seu filho, Xavier de Porto Seguro confirma, em suas memórias, que a viagem foi a causa de sua morte: “no fim de nosso segundo ano de colégio, meu pai teve a infeliz idéia de fazer uma viagem ao Brasil. Essa viagem foi a causa de sua morte. Ele ficou seis meses ausente, e voltou com uma doença nos pulmões”, PORTO-SEGURO, Xavier de. Mémoires, recueillies et mises en ordre par Hippolyte Buffenoir. Paris: Bureaux de la Revue dela France Moderne, 1896, p. 21.

Em seu testamento consta a orientação de que no local de seu nascimento fosse erigido um monumento à sua memória. Quatro anos após sua morte, nas terras da Real Fabrica de Ferro de São João de Ipanema,sua vontade é atendida. Em uma das faces do pedestal se lê a seguinte inscrição:

À memória de Varnhagen, Visconde de Pôrto Seguro, nascido na terra fecunda descoberta por Colombo, iniciado por seu pai nas coisas grandes e úteis. Estremeceu sua Pátria e escreveu-lhe a História. Sua alma imortal reúne aqui tôdas as suas recordações.”118

Não se sabe quem escreveu esse epíteto. Pode ter sido um amigo, um admirador, alguém da família ou o próprio Varnhagen. Seja como for, a solicitação do historiadornão precisa ser percebida apenas como um reflexo egocêntrico, mas talvez como uma atitude preventiva. Tudo indica, a partir do que se sabe sobre sua vida, que Varnhagen tinha consciência de não ser muito popularem seu país, e que desconfiava da fidelidade de seus colegas em preservarsua memória. Ele sempre reivindicou que a pátria reconhecesse seus grandes homens. Parece que não mudou de opinião, mesmo após a morte! Eisaqui, mais uma vez, um dos limites do paradoxo varnhageniano que vimos tentando demonstrar ao longo deste ensaio: o melhor historiador danação tinha dificuldades em ser reconhecido como desejava, sobretudono IHGB; o grande patriota que não está quase nunca na sua pátria. JoséVeríssimo é um dos poucos comentadores de Varnhagen a chamar a atenção para essa aparente contradição:Consagrou toda a sua laboriosa existência a estudar a história do Brasil, e aservi-lo com dedicação e zelo em cargos e missões diplomáticos. Sente-selhe, entretanto, não sei que ausência de simpatia, no rigor etimológico dapalavra, pelo país que melhor que ninguém estudou e conhecia, e era o doseu nascimento. Não é patriotismo, entenda-se, que lhe desconhecemos,esse o tinha ele, como qualquer outro e do melhor. Faltava-lhe, porém, nãolho sentimos ao menos, aquele não sei quê íntimo e ingênuo, mais instintivo que raciocinado, sentimento da terra e da gente. Ele não tem as idiossincrasias do país.119Nota-se, tanto na sua correspondência quanto na sua obra, que Varnhagen passa boa parte de sua vida procurando resolver essa ambigüidade, ou,no mínimo, a dominar esse sentimento de desterrado. Ele procura estabelecer uma ligação constante, uma coerência íntima entre os termos contraditórios de sua existência, como brasileiro (levando-se em consideraçãoque ele é o único em seu núcleo familiar – filhos nascidos no estrangeiro,esposa estrangeira, filho de estrangeiro…) e como historiador da nação.120A imensa obra dedicada ao Brasil não seria uma maneira, para ele, de estar sempre entre os brasileiros? “Toda a modestia não é bastante para queeu não reconheça que a Historia do Brazil, ao menos em muitos de seusperíodos, fica com a minha obra de uma vez escripta, e que ella viverá (aobra) eternamente, e fará eternamente honra, ao Brazil e ao reinado de [Páginas 28 e 29 do pdf]
*Varnhagen em movimento: breve antologia de uma existência. Temístocles Cezar

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Nascido de uma inspiração religiosa ou paradisíaca, esse topônimo, se não o mito que o originou, perseguirá teimosamente os cartógrafos, revelando uma longevidade que ultrapassa a da própria Ilha de São Brandão. Com efeito, representada pela primeira vez em 1330 (ou 1325) na carta catalã de Angelino Dalorto, ainda surge mais de cinco séculos depois, em 1853, numa carta inglesa de Findlay, com o nome de High Brazil Rocks, isto é, Rochedos do Brasil ou de Obrasil, tal como nos mapas medievais e quinhentistas", cita ainda Sérgio Buarque.
*Carta de Angelino Dalorto
E ainda que tivesse o dom da profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse Amor, nada seria.

Primeira Epístola de Paulo aos Coríntios


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