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“Entre a sombra e o sol. A Revolta da Cachaça, a freguesia de São Gonçalo e a crise política fluminense (Rio de Janeiro, 1640-1667)”. Antonio Filipe Pereira Caetano
200304/04/2024 23:50:53

mas este privilégio o terão os senhores de engenho que a fizerem, e havendoalgum comboio ou embarcando-se sem licença do administrador, pagará80$000 réis o vendedor, e o comprador outros 80$000 réis, e o senhor donavio que a levar outros 80$000 réis.138Acredito que não eram essas liberdades que os produtores de aguardente tantosonhavam, principalmente porque tinham que pagar constantemente 14$000 réis parasuprir as necessidades do presídio e 2$000 réis para as obras da Carioca. Além disso,segundo Vivaldo Coaracy, Francisco Monteiro Mendes não era visto com bons olhos pelosfluminenses, seja por sua caracterização como cristão-novo, seja pela intermediação dosnegócios escusos que envolviam Salvador Correia de Sá e Benavides.139 Mas, quandomenos se esperava, tudo que se tinha proposto voltava a estaca zero:não tardou Salvador Benavides a perceber o que talvez lhe tivesseescapado, que a resolução da câmara por ele aprovada representavaflagrante violação dos privilégios da Companhia de Comércio e viriaprejudicar os interesses daqueles a quem ele desejava servir. Alegandoentão que não seriam suficientes os recursos votados pela câmara, ogovernador anulou a aprovação que havia dado à proposta.140A suspensão das medidas implementadas pelo próprio governador meses antes,vieram acompanhadas da imposição de um novo tributo desta vez de forma autoritária: (...)tal lançamento seria feito tão severamente que ainda os mais ricos pagariam somente8$000 réis, regulando os fintadores as possibilidades de cada um e os coletados pagariammensalmente por ser assim mais suave a todos.141Se as revogações a comercialização não agradavam totalmente os produtoresfluminenses o seu cancelamento aliado a um outro tributo não deixava nada contentes osultramarinos depois de tanto desgaste para a negociação. Eximindo-se da discussão danova tributação, a sombra do sol, ordenado pelo monarca, rumou para a vila de São Paulo,deixando em seu lugar Thomé Correia de Alvarenga, seu primo e já um antigo conhecidodos moradores fluminenses. A sombra interina acompanhou de perto o início da revolta,quando [Página 79]

No mesmo bando, a sombra do sol exigia que o vereador mais velho ocupasse ocargo de provedor da fazenda, para lhe manter informado sobre os próximos passos domovimento, o que, evidentemente, não foi acatado pelos revoltosos. Pensando de uma outramaneira, o perdão que Salvador de Sá manifestava aos revoltosos, pode ser considerado umgrande artifício do governador para tentar escamotear ou amenizar os boatos quecirculavam pela capitania de que o mesmo estava organizando um exército de índios,conjuntamente com os jesuítas, para atacar o Rio de Janeiro.130 A tensão ocasionada peloboato promoveu a demissão do prelado jesuíta Antonio de Marins Loureiro do cargo desupervisor dos índios de São Barnabé,131 demonstrando como os poderes políticos ereligiosos mostravam-se em conflitos no mundo ultramarino. Logo, o complexo conflito deinteresse que existia nos domínios locais não estavam presentes somente entre osadministradores régios e os súditos ultramarinos, a Igreja e seus funcionários para oexercício da fé também faziam parte desse emaranhado político, cujo problema causadopela publicação da bula papal, em 1640, elucida muito bem tal situação.

De volta à vila de São Paulo, os revoltosos fluminenses até que tentaram alertar os paulistas sobre os males causados pela administração de Salvador de Sá, quando em 16 de novembro de 1660 escreveram aos vizinhos:

são tantos os apertos, ou para melhor dizer, as tiranias, com que o mau governo de Salvador Correia de Sá e Benavides e seus parentes tem oprimido a toda a esta capitania, que não podendo já suportá -los (por maiso intentou), se resolveu a nobreza, clero e povo, unânimes e conformes a deitar de si carga, com que já não podia, fiados na justificação ante as razões pés de Sua Majestade das causas que tiveram e os moveram, em quese fundamentaram para depor ao dito Salvador Correia de Sá e Benavides (...)132

Por trás da tentativa de alerta, os fluminenses visavam, além do esclarecimentosobre a morte do mineiro Jayme Commere, angariar o apoio dos paulistas frente ao domínio do luso-espanhol na repartição sul. Um mês e dois dias depois, a resposta dos paulistasdeixaria os camareiros fluminenses perplexos:em razão do general Salvador Correia de Sá nosso Governador,experimentamos tanto pelo contrário as mau fundadas queixar desse povo,que com todos os desse povo, que com todos os dessa capitania juntos e nãodeverão parte do muito que as estranham a novidade do sucesso, a que vosmercês devem acudir com remédio, para que Sua Majestade fique melhorservido, e nós não faltaremos a obrigação que temos de seus leaisvassalos. 133

O apoio dos paulistas a Salvador de Sá para os fluminenses não correspondia aosacontecimentos de 1640, quando governador da repartição sul ficou ao lado doseclesiásticos nas restrições à escravização dos negros da terra. No entanto, oposicionamento dos paulistas relacionava-se muito mais aos benefícios imediatosempreendidos pelo governador nas regiões mineradoras, que se encontravam listadas nacarta que a câmara da vila de São Paulo escreveu a Salvador Correia de Sá declarando seuapoio:

(...) grandes benefícios nas estradas, nas passagens do rio naobservância da justiça, tendo-se nestas capitanias o que parecia impossívelem tão breve tempo, sobretudo a V.S. mandado fazer a estrada do mar deque posso mandar carros por elas, cortando serras, e passar por onde umapessoa passava mal (...), onde fizeram mais de setenta pontes, obra queainda é aos que a fizeram lhes parecem impossível.134

A satisfação diante da administração da sombra do sol era tão grande que os paulistas colocaram-se à disposição para acompanhar o governador na empreitada de retomada da capitania do Rio de Janeiro. Tal atitude de fidelidade retribuiu as benfeitorias em solos paulistas.135 Em resposta, Salvador de Sá agradeceu o zelo e o apreço dos ministros, câmara e povo da vila de São Paulo, mas recusou o apoio militar, acreditando que a publicação de seu bando no Rio de Janeiro não encontraria dificuldades de adentrar na capitania amotinada. [Reposta de Salvador Correia de Sá aos paulistas, 2 de Março de 1661. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Op. Cit., Volume 3, p. 24]

Sobre a relação entre a Vila de São Paulo e a Revolta da Cachaça, os historiadoresestão acostumados a se apropriar da perplexidade dos fluminenses quando os paulistasaliam-se a Salvador Correia de Sá, desprezando, concomitantemente, a conjunturaespecífica em que viviam as regiões paulistas. A vila de São Paulo em nenhum momentofoi atingida pela crise econômica açucareira que assolava a baía da Guanabara. Suaeconomia voltava-se para a produção de cereais, como o trigo, e não para a aguardente oucana-de-açúcar. Nesse sentido, os privilégios da Companhia Geral do Comércio, asrestrições à geribita e à imputação de tributos não diziam respeito aos súditos paulistas,fazendo com que o movimento fluminense não contemplasse os interesses daquela Vila.137Sem dúvida alguma, a ausência dos paulistas no motim apontara como a diminuição dapossibilidade de alastramento da revolta por toda a repartição sul, como ao mesmo tempo,foi responsável pela curta estabilidade dos acontecimentos fluminenses.A atitude dos paulistas e o posicionamento de Salvador Correia de Sá e Benavidessobre a revolta fizeram, inesperadamente, outra vítima: Agostinho Barbalho Bezerra. Apóster atendido às reivindicações dos revoltosos, como a realização de eleições municipais, afinalização do imposto e a reforma da tropa e capitães, o administrador local passou aconfigurar-se como um elemento de desconfiança após a autorização de Salvador de Sápara que assumisse a capitania em sua ausência. José Vieira Fazenda desconfiou queAgostinho Barbalho sofreu o impacto da importância de assumir o governo local, poisdiante de tantas novidades não sabia que fazer o novo governador (verdadeiro PilastonoCredo); e vendo as constantes exigências dos amotinados (entre a cruz e caldeirinha)pretendeu moléstia, meteu-se na cama e sangrou-se (...)138Na realidade, a sedimentação dos revoltosos nos cargos da câmara e da tropa nãohavia assegurado a possibilidade de outras reformas serem implementadas na capitania, [Páginas 170, 171 e 172]
*“Entre a sombra e o sol. A Revolta da Cachaça, a freguesia de São Gonçalo e a crise política fluminense (Rio de Janeiro, 1640-1667)”. Antonio Filipe Pereira Caetano

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É de notar que em época tão remota já o fundador de Sorocaba tivesse construído a maior ponte que existiu em todo o sul do Brasil até o Senhor D. Pedro I.
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