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Fatos estão eternizados em documentos e telas, Carlos Araujo, Jornal Cruzeiro do Sul
17 de maio de 201205/04/2024 02:54:30

Era a manhã de 17 de maio de 1842. O local era a junção das ruas São Bento, do Comércio (futura Barão do Rio Branco) e da Ponte (depois 15 de Novembro). No casario urbano, destacava-se um prédio em forma de sobrado com várias janelas. Foi por meio dessas janelas que os líderes da Revolução Liberal convocaram o povo sorocabano à luta em defesa dos ideais que pregavam. O acontecimento está registrado em tela do artista Ettorre Marangoni de 1973. Mostra o ajuntamento de um povo com ruído de tambores, o que foi descrito pelos liberais como povo e tropa, e prontos para pegar em armas. O presidente revolucionário da Província de São Paulo, Rafael Tobias de Aguiar, apareceu numa das janelas e discursou para o povo anunciando o início do movimento armado.

Pouco antes, Tobias tinha sido presidente da Província de São Paulo (cargo equivalente, na época, ao de governador atualmente). Com a perda de poder por parte dos liberais após as eleições do "cacete", Tobias foi destituído do cargo e em seu lugar foi nomeado José da Costa Carvalho, um filho da Bahia chamado de Barão de Monte Alegre. Outros dirigentes vinculados a Tobias também perderam seus cargos, como o comandante do Corpo de Permanentes (atual Polícia Militar, da qual Tobias é o fundador).

De São Paulo, Tobias veio para Itu, cidade de grande capacidade econômica pela produção açucareira. Segundo o presidente do IHGGS, Adilson Cezar, no século 18 Itu foi um dos maiores produtores de açúcar do Brasil. Sorocaba também tinha grande projeção econômica. O tropeirismo, com suas feiras de muares todos os anos nos meses de abril e maio, atraiu muita gente de fora e transformou Sorocaba numa das principais cidades do país.

Em Itu, Tobias estudou se teria apoio para a Rebelião Liberal. O sonho do movimento, depois de nascer na casa do senador José Martiniano de Alencar, no Rio, deveria se espalhar pelo país inteiro. Como isto não ocorreu e menos ainda em São Paulo, a opção de Itu foi a primeira alternativa nos planos de Tobias. Lá, ele se reuniu com o presidente da Câmara de Sorocaba e outros liberais. O grupo, então, voltou em caravana para Sorocaba acompanhando Tobias. Ele chegou na casa da sua família, no Largo do Canhão, na noite de 16 de maio de 1842.

No dia seguinte, a Câmara proclamou Sorocaba capital da Província de São Paulo, nomeou Tobias como presidente e o autorizou a administrar como representante de Dom Pedro II. O plano era que isso ocorresse até que o imperador se livrasse da "coação" imposta pelos conservadores, nomeasse um ministério de "confiança nacional", e até que a Assembleia Geral Legislativa (semelhante à atual Câmara dos Deputados) tivesse extinguido as leis do Conselho de Estado e da perda de autonomia dos municípios.

A Câmara de Sorocaba trabalhou em seguida para obter a adesão de Câmaras vizinhas. Era preciso juntar forças. Vieram as adesões de Itapetininga, Itu, Capivari, São Roque. Além de Silveiras e Areias, no Vale do Paraíba. Tatuí e Campinas, que eram conservadoras, ficaram de fora.

Ocupar a capital

Era preciso tomar medidas de urgência e entre as principais estava a ocupação da capital. O major Barros França, de Itu, assumiu a missão de comandar as tropas revolucionárias. Segundo descrição de Adilson Cezar, vieram homens de Itapetininga e de todas as vilas que aderiram à revolução para formar a Coluna Libertadora, constituída de 1.500 homens.Estes homens eram cidadãos comuns, sem treinamento, e havia casos em que não tinham roupa, uniforme ou calçados. Muitos achavam que tudo aquilo era uma festa. O quartel general ficava próximo ao Largo do Rosário, onde casarões abrigavam os homens. Dias depois, a tropa saiu de Sorocaba e se reuniu em frente à igreja do Carmo, em Itu, de onde partiu a Coluna Libertadora para atacar São Paulo. Outro grupo marchou em direção a Campinas.Ocupar São Paulo era estratégico por se tratar da capital da Província. Necessário destituir o Barão de Monte Alegre do cargo de presidente e prendê-lo. Adilson Cezar disse que o aspecto geográfico da capital, no Planalto de Piratininga, ponto alto da Serra do Mar, fazia da investida dos liberais uma ação para barrar tentativas de acesso de Santos até a capital. Numa época sem aviões ou outro meios de ligação como as rodovias, o acesso era restrito e feito por um antigo caminho chamado de Estrada do Lorena - que ligava São Paulo a Cubatão.

Os liberais cometeram o erro de subestimar a capacidade de reação de Dom Pedro II. Era uma época em que as notícias andavam a cavalo - recurso à metáfora para lembrar que não havia televisão, rádio, nada disso. Em 19 de maio, dois dias depois, a Corte já tinha nomeado Luís Alves de Lima e Silva, o Barão de Caxias (futuro Duque de Caxias) para liderar tropas com o objetivo de abafar a rebelião. Ele embarcou com tropas em navios e desembarcou um grupo em São Sebastião. As tropas seguiram para Cunha e o Vale do Paraíba. Outro grupo criou uma barreira para evitar que a Revolução entrasse no Rio de Janeiro.Barão de Caxias continuou a viagem até Santos, onde desembarcou com o restante da tropa e imediatamente subiu a Serra do Mar. Ocupou São Paulo rapidamente, antes da chegada dos liberais. E os liberais, num erro estratégico e militar, estavam mais próximos de São Paulo e mesmo assim perderam a oportunidade de ocupar a capital.Caxias e Monte Alegre entraram em contato com o Barão de Antonina, morador de Curitiba, a quinta comarca da Província de São Paulo. E fizeram uma articulação: se o Barão de Antonina os ajudasse a barrar a expansão da Revolução nascida em Sorocaba, ele teria uma recompensa. O Barão de Antonina, aceitando esse compromisso, criou uma barreira em Itararé para impedir que os revolucionários entrassem em contato com os farroupilhas do Rio Grande do Sul. Neste Estado, os farroupilhas estavam em plena guerra com as forças legalistas e tinham proclamado as Repúblicas Piratinin (RS) e Juliana, em Santa Catarina.

Caxias informava que tinha três mil "periquitos", soldados nordestinos que traziam uma faca entre os dentes, eram pagos para lutar e habituados aos combates. "Os imperialistas eram uma tropa determinada, com estratégia e organizada", descreveu Adilson Cezar. O 12º Batalhão de Caçadores de Caxias se dirigiu para ocupar Campinas e garantir que a cidade não fosse tomada pelos liberais. Os liberais estavam lá, acampados num local chamado Venda Grande. Em 7 de junho, foram cercados, atacados e vencidos pelo 12º Batalhão de Caçadores. Nos combates morreu o capitão Boaventura do Amaral. Os sobreviventes foram feitos prisioneiros e entregues aos cuidados de um padre conservador de Limeira. Foram degolados, e esse número, segundo Adilson Cezar, pode ter sido de 19 vítimas. A partir desse episódio o local da batalha passou a ser conhecido como Massacre de Venda Grande.

Retirada sem combate

Em meio a esses movimentos, a Coluna Libertadora chegou ao córrego Pirajuçara, em São Paulo. A notícia do Massacre de Venda Grande foi desanimadora. E estavam em número menor se comparados às tropas de Caxias na capital. Naqueles dias, o padre Diogo Antonio Feijó, que havia sido regente do Império, saiu de Campinas e veio apoiar a Revolução Liberal em Sorocaba. Trouxe uma impressora que havia pertencido a Hércules Florence e com ela fez em Sorocaba a edição de "O Paulista", o primeiro jornal do interior de São Paulo. Saíram quatro números entre 17 de maio e 20 de junho de 1842, período que durou a revolução.

Adilson Cezar lembrou que deveria haver o combate de Sorocaba, mas isso não existiu. O major Barros França e Tobias de Aguiar avaliaram que a resistência seria inútil. Se insistissem, haveria um novo massacre dos liberais. Sem alternativa, os liberais começaram a recuar. Adilson Cezar disse que não houve debandada. O recuo foi feito de forma organizada. E Caxias avançou contra eles. Ao atingirem Sorocaba no retorno, os liberais tinham três canhões e os posicionaram na altura do Largo do Canhão para defender a cidade da entrada das tropas de Caxias, que teria que atravessar a ponte sobre o rio Sorocaba. E continuaram a se retirar até Campo Largo, atual Araçoiaba da Serra. Ali, Barros França reuniu os homens para que retornassem às suas casas.

Tobias, convencido de que tudo estava perdido, casou-se com sua companheira, Domitila de Castro Campo e Melo, a Marquesa de Santos. Ela veio de São Paulo com filhos de Tobias e filhos que tivera com o imperador D. Pedro I, na década de 1820. Sabendo que poderia ser preso e morrer, Tobias chamou o pároco da igreja Matriz para celebrar o seu casamento com Domitila. Feijó foi testemunha.

O objetivo do casamento era oferecer condição de amparo legal a Domitila e aos filhos. Após a cerimônia, Tobias fugiu das tropas de Caxias para o Rio Grande do Sul. Domitila, com os filhos e a sogra, Gertrudes Eufrosina Aires, recolheram-se ao Convento de Santa Clara, na esquina das ruas São Bento e Padre Luiz, onde hoje se localiza o prédio que abriga a Galeria Santa Clara. O convento, como local sagrado, não seria invadido pelos soldados de Caxias.

Tobias se escondeu em fazendas e chegou a um lugar chamado Guarita, no Rio Grande do Sul, onde foi preso em dezembro de 1842. Foi enviado para o Rio, onde ficou preso na Fortaleza da Laje, uma rocha no meio da baía de Guanabara. Ganhou a liberdade em 14 de março de 1845, quando foi anistiado por Dom Pedro II.
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