“Libertar e educar”: Sorocaba e a luta pelo fim da escravização de pessoas, por Adriano C. Koboyama
9 de abril de 2023
06/04/2024 01:19:40
Semáforo manual
Data: 01/01/1965
Créditos: Adolfo Frioli
Rua Padre Luiz. Esquina c/ a Rua da Penha
Existem muitas "Histórias" sobre A Lei Áurea, assinada em 13 de maio de 1888 pela princesa Isabel, e do projeto de Abolição, apresentado por Ruy Barbosa em 4 de Abril de 1870. Pouco conhecido, até por sorocabanos, que Sorocaba precedeu ambos.
Dezenove anos antes da princesa Isabel e oito meses antes de Rui Barbosa, um grupo de 24 homens haviam estabelecido um projeto emancipatório e educacional em Sorocaba. Organizados sobre o lema "educação e liberdade", na reunião do dia 7 de agosto de 1869, na esquina das atuais ruas Padre Luis e Penha (imagem 1; registrada em 1965, por Adolfo Frioli), Ubaldino do Amaral (imagem 2) faz uso da palavra, afirmando:
Trago, subscrita por essa presidência, por José Leite Penteado e por mim, a seguinte proposição que esperamos merecer a aprovação da oficina:
1°) a jóia da iniciação será de 25$000;
2°) a mensalidade de 1$000;
3°) colocar-se-á na oficina uma caixa Emancipação, na qual os iniciados, a convite do venerável e de qualquer irmão, quando queiram, depositarão suas ofertas;
4°) o produto dessa caixa será exclusivamente destinado à libertação de crianças do sexo feminino de 2 a 5 anos de idade;
5°) as crianças assim libertadas ficam sob a proteção da oficina;
6°) serão absolutamente proibidos os banquetes, ceias, copo d’agua que o uso tem admitido nas iniciação, devendo o venerável convidar os recipiendários para converter em quantias que dispenderiam com isso em donativos à Caixa de Emancipação;
7°) serão criadas escolas para adultos e menores. As escolas serão noturnas; mantidas pela oficina para o ensino gratuito das primeiras letras.
Leite Penteado (imagem 3) afirma:
A luta maior da nacionalidade se aproxima. Nós somos os obreiros precursores do movimento libertário e educacional no seio das lojas. Não há ocasião mais propícia ao início das atividades referidas do que o 7 de setembro. Nestas condições, submeto à apreciação da oficina a seguinte propositura:
a) que esta respeitável loja, comemorando a independência do Brasil, a 7 de setembro, nesse dia inaugure a escola noturna que se propôs estabelecer;
b) que nesse dia se esforce por libertar os menores escravos que os seus recursos permitirem; c) que se alugue uma casa e se compre mobília para a oficina e para a escola.
Ainda Ubaldino do Amaral propõe um aditivo, que dizia:
“no dia 7 de setembro de todos os anos é obrigatória a libertação de uma criança, ao menos. Na falta de fundos correrá uma subscrição entre os irmãos”
A proposta foi aprovada por unanimidade. A proposta sugere a libertação de filhos de escravos e a construção de escolas destinadas aos filhos de escravos e escravos. Para tanto, seriam proibidos os banquetes e foi sugerida a construção da caixa emancipatório destinada a libertação de filhos de escravos.
Essa propositura mostra a distancia entre esses homens e aqueles que (...), teimosos em não se definir, no momento histórico em que a própria política nacional impunha ação e lutar pelas reformas da estrutura social e econômica do país.
Nesta mesma sessão os membros desse "grupo" fazem uma arrecadação de 1$200 réis para a benemerência. Na sessão seguinte levantaram 10$000 réis para a libertação do escravo José e seus filhos, escravos de Ana do Sacramento. Nesta mesma sessão foi aprovado o regulamento da escola noturna (1o Livro de Atas, 29 de agosto de 1869).
Na sessão de 4 de setembro de 1869 confirmam a inauguração da escola noturna. Foram nomeados Antonio Joaquim Lisboa e Perciliano Marçal de Souza para cuidar da organização das salas e inauguração da escola noturna. A ata da reunião afirma que houve grande número de matriculados. Foram contratados dois professores Leonel Jandovy de Abreu Sandoval e João Lycio. Leonel Jandovy foi professor até 27 de novembro do mesmo ano. [28758]
Já em campanha pela libertação dos escravos, Ubaldino do Amaral em plena atividade jornalística, publicou no dia 15 de abril de 1870, um dos muitos artigos que produzia para o jornal “O Sorocabano”, assim se manifestando:
“Nestes dias em que a cristandade comemora o acontecimento mais notável da história, resumindo em breve quadro a vida de Jesus Cristo, desde a entrada triunfal em Jerusalém, até a ressurreição gloriosa, lembra um fato ocorrido no Grande Oriente (Beneditinos) ou seja, a ideia de se formar sociedades que algumas senhoras organizaram no Rio de Janeiro e em São Paulo para libertação de escravas.
Esse acontecimento, de grande alcance social, a nosso ver, não é só a redenção do cativo, para quem chega enfim uma gota do sangue derramado na cruz, senão também a nobilitação da mulher, cuja vida por bem da nossa educação asiática, dividia-se até agora em dois períodos, o das modas e o do beatismo inteligente, que a invasora horda dos jesuítas explora ao seu sabor.
Desejamos que os senhores sorocabanos adotem a generosa ideia, fazendo assim entrada na comunhão social de que vivem desterrados. Oferecemo-lhes nosso fraco auxílio, e pomos à sua disposição as colunas desta folha para quaisquer publicações”. [25216]
[28758] 1° fonte: 01/01/2007
*Apontamentos sobre Maçonaria, Abolição e a Educação dos filhos d...
*Retrato régio mais antigo da monarquia portuguesa *Retrato régio mais antigo da monarquia portuguesa
“
“Os nossos tupinambás muito se admiram dos franceses e outros estrangeiros se darem ao trabalho de ir buscar o seu arabutan [pau-brasil]. Uma vez um velho perguntou-me: Por que vindes vós outros, maírs e perôs (franceses e portugueses) buscar lenha de tão longe para vos aquecer? Não tendes madeira em vossa terra ? Respondi que tínhamos muita mas não daquela qualidade, e que não a queimávamos, como ele o supunha, mas dela extraíamos tinta para tingir, tal qual o faziam eles com os seus cordões de algodão e suas plumas.
Retrucou o velho imediatamente: e porventura precisais de muito? Sim, respondi-lhe, pois no nosso país existem negociantes que possuem mais panos, facas, tesouras, espelhos e outras mercadorias do que podeis imaginar e um só deles compra todo o pau-brasil com que muitos navios voltam carregados. — Ah! retrucou o selvagem, tu me contas maravilhas, acrescentando depois de bem compreender o que eu lhe dissera: mas esse homem tão rico de que me falas não morre? — Sim, disse eu, morre como os outros. Mas os selvagens são grandes discursadores e costumam ir em qualquer assunto até o fim, por isso perguntou-me de novo: e quando morrem para quem fica o que deixam? — Para seus filhos se os têm, respondi; na falta destes para os irmãos ou parentes mais próximos. — Na verdade, continuou o velho, que, como vereis, não era nenhum tolo, agora vejo que vós outros maírs sois grandes loucos, pois atravessais o mar e sofreis grandes incômodos, como dizeis quando aqui chegais, e trabalhais tanto para amontoar riquezas para vossos filhos ou para aqueles que vos sobrevivem! Não será a terra que vos nutriu suficiente para alimentá-los também ? Temos pais, mães e filhos a quem amamos; mas estamos certos de que depois da nossa morte a terra que nos nutriu também os nutrirá, por isso descansamos sem maiores cuidados.Jean de Léry (1534-1611) 8 registros