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Bento Antunes de Proença, um pilarense na Guerra do Paraguai, Blog Caminhos do Sertão, caminhodosul.blogspot.com
13 de julho de 201205/04/2024 02:53:21

Conto de ouvido de meu amigo João Irineu de Proença, que de ouvido ouviu de seu tio Eduardo Antunes de Proença, grande memorialista que já há muito nos deixou. Os detalhes nos faltam; por isso, o que é grande aumento, o que é pequeno diminuo. Floreio, invento e reinvento, não perco o rumo nem o prumo. Prólogo Ano de Nosso Senhor Jesus Christo de 1864 quando no novembro numa ofensa mui grande por ordem de Solano Lopes um navio brasileiro foi aprisionado pelos paraguaios no rio Paraguai. Solano, ganancioso, queria no grito uma saída pro mar e nofensa maió no dezembro entrô cas tropa pelo Mato Grosso. Ano seguinte afrontô os argentino ocupando Corrientes e pegando o rumo da Província de São Pedro. Atrevido o guasca. No primeiro de maio de 65; Brasil, Argentina e Uruguai declararam guerra contra o paraguaio. O entrevero durou mais que o esperado e só acabo com o fim do tirano nos idos de 70, lá pras bandas do cerro Corá.

Eu caboclo mui forte; Bento Antunes de Proença me chamavam. Filho de outro Bento e de Dona Escolástica, neto de Manoel Proença cresci na lida de tropa chucra, desde a província der sur té a fêra de Sorocaba. Nos idos de 64 casado e com duas cria seguia na lida duma posse na bera do Turvo, entre as terras dos Cordeiro e a Fazenda do Pilar do Tenente Almeida. Veio a guerra e dos filhos de meu pai era eu que ia; o Imperador tinha dado orde, deixei a lida, mulher nova e as cria no cuidado da parentada e segui meu destino. Sobesse que me esperava tinha amoitado.



O 7º Batalhão de Voluntários da Pátria.

Era per fim do ano de 1865, dexei famía e cumpromisso na Villa do Pilar pro mor defende o Império, não tinha ideía do que vinha. Arriei a baia cum esmero, botei pilcha de guasca, a garrucha e a sorocabana na guaiaca e sortei a mula no passo das 8 légua; dois dia inté Sorocaba.

No eito das cunversa fui pro largo du São Bento onde tava a junta militar e ali alistei como voluntário junto mais cem. Pedi poso em casa dos parente e dois dia despois seguimo rumo à capitar. Doze légua em trêis dia e entramo per São Paulo, arranchamo e aguardamo as ordem da tar “Associação Promotora de Voluntários da Pátria”. A orde foi aquartelá na colina do Ipiranga. Uma semana e recebemo armamento, fatiota de sordadesca e seguimo pro Largo da Sé onde fizemo parada, escuitamo o palavreado dos graúdo e recebemo as instrução e orde. Da Sé seguimo pra Santos, co batalhão do 7º de Voluntários da Pátria. O batalhão tinha oito companhia, cada uma cum capitam, um tenente e dois arferes; o comandante era o Tenente Coronel Francisco Joaquim Pinto Pacca, major reformado do Exército. "Em 1º de agosto de 1865 com o efetivo de 759 homens, o 7o levantou acampamento e seguiram para Santos, onde embarcaram no “Princeza de Joinville” com destino final no Rio Grande.Em Porto Alegre o batalhão teve instrução e treino por pouco mais de um mês, infelizmente tempo suficiente para vitimar 33 praças e um oficial, mortos por varíola. No dia 7 de outubro, o 7º batalhão embarcou no “Vapor São Paulo” iniciando a longa viagem rumo a Corrientes. Durante os próximos quatro meses o 7º acampou em diversos pontos da fronteira paraguaia e se juntou com o 42º também de São Paulo. Teve a honra de ter sido passado em revista pelo venerável General Osório que afirmou:“Esses são soldados! E devem selos, pois os paulistas, seus antepassados, foram bravos, como certifica a história”1866 – Taunay escreve do TabocoÀ frente das tropas brasileiras que deveriam protagonizar o episódio da retirada da Laguna, como integrante da comissão de engenheiros, Taunay volta a escrever ao pai, no Rio de Janeiro:“Aqui estamos acampados desde 2 de julho o que quer dizer há perto de dois meses. Os víveres não nos faltam mais: a abundância começa a reinar e mesmo os objetos de luxo vêem apresentar-se à nossa cobiça. Temos boa cerveja, vinho e até mesmo excelente manteiga.O movimento comercial enfim se estabeleceu conosco e os carros de boi fazem ouvir sua melodia especial pelos caminhos impraticáveis do Pantanal. De modo que encontramos no nosso mercado toda espécie de roupa e já em nós se nota alguma faceirice na apresentação depois de havermos ficado reduzidos a um estado quase completo de nudez... o que contribui para a alegria geral e a melhoria sensível do estado sanitário da expedição.A terrível paralisia que em menos de um mês levou oito oficiais no número dos quais se acha o nosso querido Chichorro da Gama, diminuiu de intensidade e as febres intermitentes resistem aos esforços dos médicos devido a falta completa de sulfato de quinina. Guardo como um tesouro os pacotinhos que V. me deu, reservando-os para uma ocasião em que forem necessários. Tenho creio que 120 gramas bem empacotadas numa caixinha de folha creio que é até um preservativo tê-los à mão, para infundir confiança no organismo e o salvaguardar das influências destes lugares pestilentos.Meu álbum continua a enriquecer-se. Começo a temer em breve não ter mais página em branco, no entanto terei feito bastante desenhos. Minhas habilidades se aperfeiçoam sensivelmente e a coleção merece a atenção de todos. Tento desenhar as flores mais notáveis com todos os seus caracteres fitológicos e tomar bem os tipos de índios que me caem sob as vistas.O coronel Carvalho está agora nos Morros onde passamos quatro meses e meio; vai tentar restabelecer a saúde alterada por pequena febre que já estava tomando o caráter muito sério de perniciosa. Do braço vai melhor e já tirou o aparelho.Pelos relatórios que já foram entregues, quando V. receber esta carta de Trindade e Luiz, poderá ter idéia bem nítida desta localidade: Morros nascida da força das circunstâncias e que deverá desaparecer quando estas cessarem.Alguns doentes das pernas o acompanharam para ver se uma mudança de clima traria alguma modificação ao seu estado mórbido e agora começa a evidenciar-se que só uma pronta retirada da Província poderá salvar os doentes.Os dois oficiais que se safaram imediatamente acham-se melhor, começando a ter algum movimento nas pernas.” FONTE: Taunay, CARTAS DE CAMPANHA DE MATO GROSSO (1866), Mensário do Jornal do Commercio, Rio, 1943. Página 170.A CONQUISTA DA ILHA DA REDENÇÃOOutono de 1866; no rastro do sangue dos paraguai entramo pela província de Corrientes e na barra do Rio Paraguai com o Paraná apreparamo pra travessia do Passo da Pátria, dotro lado terra Paraguaia e o Forte Itapiru. A missão do 7º no dia 5 de abril era toma, ocupá e mante posição na Ilha do Ataio. Na escuridão desembarcamo das chata e montamo trincheira, a engenharia assentou uma bateria Lahitte 12 e 4 morteiros; às nove horas da manhã hasteamo a bandeira do 7º e nessa hora rompeu o fogo inimigo e daí por diante cinco dia a fio. Os paraguaios não quietaram instante, preparando o assarto da ilha. Na madrugada do dia 10 mais de mir paraguaio em três batalhão fizeram carga na escuridão.Quando escasseou a munição, o comandante Pinto Pacca fêiz grito: "Camaradas! A Província de São Paulo vos contempla!" Em seguida mandou tocar carga à baioneta.Atendendo o comando do Coronel Cabrita e do Major Deodoro da Fonseca batemo corpo a corpo até o raiar; alto o dia conseguimo estancá a investida. Pocos paraguaio regressaram ao forte porque nossa esquadra bombardeo a retirada cuaindo o rio de sangue. Garantimo a ilha que da quela hora em diante chamamo de Ilha da Redenção. Cabrita, o comandante da guarnição descuido e quando escrevia no vapô Fidelis foi atingido por uma granada. No memo campo em que venceu ficô defunto.

No dia 16 de abril entramo pelo território inimigo protegido pelas bocas de fogo da Ilha da Redenção e da esquadra que bombardeava a fortificação do Itapirú enquanto uns 10.000 aliado cruzavam o rio Paraná. Dia seguinte batemo contra 4.000 paraguaio sob o comando do tenente-coronel Benítez e fizemo ele recuá para Itapiru. Da Ilha da Redenção não passô o João Cordeiro e o Frederico Grohman que vieram comigo de Sorocaba. Aí tamém começô minha perdiçam.

"Diante da concentração de tropas brasileiras que assim iniciavam a invasão do território paraguaio, Solano López ordenou o abandono da fortificação, permitindo a sua ocupação pelas tropas brasileiras a 18 de abril.Transformada em acampamento aliado com o desenvolvimento da campanha, essa posição, escala obrigatória para aqueles que iam ou retornavam das frentes de batalha, transformou-se numa pequena cidade onde conviviam militares, comerciantes e aventureiros, e onde se encontravam desde barbeiros, dentistas, casas de jogo, bordéis e uma igreja, a até mesmo uma casa bancária."A Batalha de Estero BellacoDois do maio de 1866, recebemo orde de avançá pelo caminho de Humaitá, os paraguaio tinha afroxado na retranca. A tropa de vanguarda ia com quatro batalhão de uruguaio, quatro brasileiro, a cavalaria da Província de São Pedro e uns duzentos cavalariano da guarda do Generar Florês o comandante. Juntando prá mais de sete mir home. Nóis do Sétimo seguia de pontero avançado cas quatro peça do Primero de Artilharia. Paramo o avanço no Estero Bellaco der Sur, como os castelhano chamava, e pusemo acampamento. Na hora do rancho, pro meio do dia a surpresa chego a cavalo, a sordadesca montada do paraguai caiu sobre nóis coa sede de sangue. Num tive tempo de pegá o fuzir senti o sangue quente tapá meus zóio e um zumbido no ovido, logo tudo fico escuro e quieto.Parte do Gen Osorio ao Ministro da Guerra, sobre o combate de Estero Bellaco:“Comando em Chefe do 1º Corpo de Exército Brasileiro em operações contra o Paraguai. Quartel-General junto ao Estero Bellaco, 3 de maio de 1866.Ilmo e Exmo Sr – Participo a V Exa que, ontem, a 1 hora da tarde, foi atacada a vanguarda do Exército Aliado, onde se achavam desde o dia 1º do corrente mês 2 batalhões de infantaria, 1 corpo de cavalaria e 4 canhões deste corpo de exército, além da brigada 12ª, que já dela fazia parte, por uma força inimiga de 6.000 homens, mais ou menos, aproveitando-se esta do momento em que nossa tropa conduzia da margem do rio para os bivaques as suas rações, e do terreno montuoso que contornava a sobredita vanguarda.Nesse momento tive aviso do Sr Gen Flores de semelhante ocorrência e, mandando tocar chamada, marchei com a infantaria para o lugar do conflito. Entrando em combate os primeiros batalhões que ali chegaram, e restabelecendo-se a ordem na vanguarda, o inimigo foi batido até além de sua linha de avançadas, penetrando em seguida no campo que ele ocupava anteriormente partidas exploradoras de nossa cavalaria e infantaria.O inimigo deixou no campo mais de 1.000 mortos, como igual número de armas, especialmente de infantaria, 1 bandeira tomada pelo soldado do 7º batalhão de infantaria Seraphim Lourenço da Silva, que matou o respectivo porta, 3 bocas de fogo de montanha, e muitos prisioneiros feridos e sãos; estes mandei entregar ao comandante em chefe do Exército Aliado, e aqueles fiz recolher ao hospital...Manoel Luis Osorio, Marechal de Campo”(Fonte: História do General Osorio, de Joaquim Luis Osorio e Fernando Luis Osorio, 2º Vol, pág 204)Prisioneiro Num sei o tempo que passô, dei por mim tava de pé coa espada desembainhada. A vista turva não enchergava mui longe; sentia chero de sangue fresco e pórvora queimada ardeno nas venta. Me segurei no carroção dos armamento que tava no arcance do braço, foi quando senti o baque na nuca e tombei gemendo pru riba dum defunto. Escuitei os berro dos bugre e senti a ponta de uma baioneta nas costela, nessa hora o medo de morrê deu força que eu percisava, levantei erguendo os braço e nessa hora que vi o inferno, companheros morto e otros agonizando; esses tavam sendo passado no fio da espada pelos paraguaio. Per mi sorte eles precisavam recolhe os mantimento e as arma e eu, já recuperado, servia pro seviço, tratei de entende o que falavam e achei força por mór guentá o tranco. Tinha mais companhero vivo, dois argentino e sete uruguaio. Um índio atarracado passô revista e aproveitô prá marca cada um de nóis com uma riscada despada na cara, queimô na arma fiquei quieto, eu táva vivo. Posto cinco carroção de carga e arriada as pareia tomamo rumo junto coa tropa paraguaia que fazia retirada. Eles tinham muito ferido e parece que tinham levado uma refrega já que vortavam pelo eito que vieram, em passo acelerado.Seguimo entre os carroção cercado dos lado pelo mesmo índio que me pasô o risco da espada e otros dois. Não tardo um dos companhero castelhano que tinha um rasgo de espada na perna não suporto o estirão e caiu, num chego no chão e o índio trespasso a garganta do infeliz co facão. Puxaram ele pro lado e alí ele fico estrebuchando quar rêis abatida. Seguimo no eito dua picada estreita no mato. Passada meia légua de marcha forçada, o peito tava ardendo pru sorte paramo numa clarera. Foi o tempo de respirá e seguimo em marcha cadenciada. Pru mór do enervamento dos paraguaio achei que vinha no rastro nosso exército; dexaram prá tráis dois carroção mais pesado coas peça de artilharia e seguimo em marcha pela mato. Um dos companhero mais nervoso quis apará ua espetada de baioneta no lombo; não teve piedade; foi sangrado no ato. Nessa hora triste botei sizo, se me quero vivo suporto o que não suporta um home. Ao Longe A Batalha de TuyutiAndemo atéo sor baxá na vista quando cheguemo onde tava o grosso da cavalaria paraguaia. Era muitos vermeio. Carculei que mais de treis milhero. Chegando no acampamento mandaram nóis dá água pros cavalo despois desarriá a tropa, sempre com o chiru velho nos carcanhá. A sordadesca tava agitada, cuspia e ameaçava cas arma. No caminho do rio levei uns par de chute e tapa na cabeça e naquela hora me agarrei com Nossso Senhor do Bom Fim prá não perde o senso e guardá minha vida.A MORTE DE SOLANO LOPESO fim se achegava; era 1868 e as tropa brasileira chegaram em Assunção. Fugindo dos aliado, Solano López enveredou-se nos montes de Amambay, oito léguas da fronteira com o Brasil num ermo chamado de Cerro Corá. . O fim do ditador aconteceu no Rio Aquidaban Nigui; era 1º de março de 1870. Nesse eito o diabo encontro com su destino. Eu no meu purgatório num fiquei sabendo nada. Por treis ano na mam dos paraguaio fiquei esquecido de mi pátria.Fatos narrados pelo historiador brasileiro Gustavo Barroso:"Quando o General Câmara parou o cavallo resfolegante na orla da pequena mata, avistou o Major José Simeão de Oliveira acompanhado por alguns soldados, que de longe lhe gritou:- General, elle entrou por aqui.... por aqui! E apontava um trilho estreito entre o arvoredo embastido.O dia estava quente e lindo. No céo limpo, muito azul, o sol offuscava. E toda a vegetaçào virente e humida se banhava no oiro da luz. O caminho, de barro amarello, manchava-se de sombras sob a larga ramaria das arvores.Câmara apeou-se rapido e foi entrando pelo mato adentro. José Simeão prevenio-o:- Cuidado general, com um tiro de tocaia. Elle não ia so.Camara deu de hombros. O major chamou os soldados - Vamos.O general sempre tranquilo, pausado, silencioso, sentia bem a importancia dos acontecimentos que naquelle dia se desenrolavam. Punha-se o ponto final na guerra, na ´pequena guerra´ que Caxias deprezara. Tudo devia terminar. Os idos de março eram contrarios aos Tyrannos.Desde cedo, estava a cavallo, combatendo, governando o circulo de ferro de suas tropas que se constringia em volta dos ultimos defensores do lobo perseguido. E foi por deante, rompendo as lianas, apartando os arbustos, patinhando nas poças da ultima chuva, esmagando os folhiços, escoltado pelos soldados e o major, que exploravam o bosque em todas as direcçòes, de pistolas e clavinhas engatilhadas.A luz amoedava-se no chão e pelos troncos viçosos, coada através das folhagens. Tranquilidade absoluta. Nem signal do lobo acosado.As ultimas defesas do dictador paraguaio tinham sido atacadas pela columna de Joca Tavares no passo das Taquaras e na picada angusta de Chiriguelo. Pouco mais de mil homens fatigados e desmoralizados defendiam esses execellentes pontos estrategicos com algumas peças de artilharia.O 9 de infantaria do major Floriano Peixoto e o 36 de voluntarios do tenente coronel Cunha Junior tirotearam algum tempo com os paraguaios. Quando o fogo do inimigo esmoreceu, o 19 e o 21 de cavallaria, a pesar da difficuldade da manobra na estreiteza das ladeiras, galgaram-nas a galope e foram lancear os artilheiros sobre o reparo de seus canhòes. Entào, os batalhões avançaram de baioneta calada. E os derradeiros defensores do supremo debandaram ou se renderam.Um general, quatro coroneis, oito tenentes-coroneis, dez majores e perto de trezentos subalternos , inferiores e preças, entregaram as armas. Estava acabado aquelle exercito de leões que se abatera heroicamente durante cinco longos annos.Victorioso, Joca Tavares corre com os seus gaúchos a toda a brida para o acampamento de Solano Lopez. Era precisso agarralo houvesse o que houvesse. Ainda pela manha, promettera um punhado de oiro ao soldado que o preasse. E a cavallaria entra pelo meio das barracas , das carretas empilhadas e das cabanas de folhagem, agitando as lanças apendoadas de galhardetes rubros, aos sol, aos gritos de victoria.No meio dos officiaes e soldados fieis, ainda a pé, avistaram o dictador. Correm para alli. Um indio semi-nu, de ma catadura, descoifado, barra-lhes o caminho, disparando a pistola. Crava depois a lança cruzetada, com ambas as mãos, no peito dum official brasileiro. Era o cabo Fernandez, ordenança do Lopez. Enfuriados, os gaúchos matam aquelle heroe obscuro como se mata um cão.Circulam o grupo do dictador. Este, em camisa, cabeça descoberta, monta ligeiro o malacara, colhe as redeas com força e arranca a espada da bainha. Os lanceiros de Joca Tavares rodamoinham, derrubando a lançaços os dois ultimos ordenanças de Lopez e alguns officiaes. Tapezapeam as láminas de aço. Gritos enlouquecidos. Gemidos lancinantes. Uivos. Mas o supremo desvencilha-se dos atacantes, aproveita a confusão, o facto de estar sem farda, que o disfarça, esporeia raivoso o cavallo e corre pela picada que saía do acampamento pela direita.Foi quando um cabo de lanceiros, ordenança de Joca Tavares, Xico Diabo, lhe atirou um lançaço que o colheou pela ilharga. O sangue mancha a gualdrapa da sella e a badana. Elle curva-se sobre o pescoço do animal, que, incitado, ferido pelas esporas, parte como uma flecha.Jose Simeão, que precedia Camara, vae chegando com um piquete, reconhece o fugitivo que mais alguns paraguaios acompanham, e grita para um sargento:- La vae o Lopez! atire! faça fogo!O inferior leva a clavina Spencer à cara e puxa varias veces o gatilho. Um dos cavalleiros inimigos libertados do entrevero e que fugia com o dictador desaba no chão pesadamente, com a mioleira vazando. Era o ministro Caminos.Jose Simeão, Xico Diabo, o sargento, mais alguns soldados, perseguem os fugitivos, enquanto Francisco Martins de Menezes toma a picada da direita, com seus lanceiros, no encalco de Elisa Lynch e de Panchito Lopez, que um prisionero informara terem fugido por alli na companhia de Isidoro Resquin.À beira da mata, tomba o malacara estropeado e ferido. O Supremo apea-se e vara-a a pé. José Simeão apercebe-o ja se perdendo entre os troncos com os dois ultimos officiaes que lhe restam. É o tempo que Camara chega e segue-lhe o rasto.Mais o sol rompe de repente o arvoredo alegre, clareando-o todo. Um sussurro de agua. E o general brasileiro, afastando galhos, ve-se na barranca do ribeiro Aquidaba-niguy, em cujo fundo lodoso se arrasta um fio liquido, peço e preguicento, que se vae despejar no Aquidaban.Ajoelhado na margem fronteira, o Dictador caira, procurando galgar o barranco, ajudado pelos seus fieis companheiros. Camara disse:-Marechal! Marechal!Elle volta-se. Na face terrosa refulge um olhar de fereza e de odio, de desespero e de dor. É o lobo acuado, olhando a matilha e os monteiros que avançam para o seu derradeiro refugio, olhando a morte fatal, inilludivel: o fim! Os cabelos estão empastados de suor e sangue. Os braços nús, surgem nervosos e peludos, das mangas esfarrapdas da camisa. Uma das garras enclavinha-se no punho de tartaruga da espada armoriada.A barranca, em volta de Camara, ja se povoa de officiaes, de cavallarianos a pé, de clavinoteiros do 9, vindos todos no piso do general.- Marechal! continua Camara, sou o general brasileiro que comanda estas forças. Renda-se que lhe garanto a vida! Renda-se!Salta no riacho e approxima-se do grupo.A voz do Supremo, rouca, estertorante, ecoa pela derradeira vez na terra paraguaia, pronunciando uma frase de anthologia:- Muero con mi patria y con mi espada en la mano!E o seu braço, distendido como uma mola, procura acutilar o general, que se desvia e ordena:- Desarmem este homem!Então, um torbellino de officiaes e soldados invade a estreita sanga do corrego. Furiosos, atiram no grupo. É a matilha deçasaimada sobre o lobo. Os officiaes paraguaios tombam. Um clavinoteiro avança para Lopez, segura-o pelos pulsos, quer arrancar-lhe a espada. O dictador resiste, e, na luta, duas vezes a sua cabeça mergulha no ribeiro esverdinhado. Solta ao final sua arma, cuja ponta se partira, e que o soldado apanha. Um gaúcho, João Soares, encosta o cano da clavina nas suas espaduas possantes e da-lhe o tiro de misericordia.Todos aquelles homes alli reunidos, depois que morreu o eco da detonação, soltam um suspiro de allivio como no fim dum drama atroz, dum pesadelo, e ficam parados, absortos quasi ante o corpo estendido na barranca, a boca e o nariz distillando sangue, a cabeça ferida, as botas n´agua.Silencio profundo sob a luz ardente, tranquila do sol. Corta-o a voz energica de José Simeão:- Arranjem uns paus e levem o corpo para o acampamento!Entardecia. Pelo caminho empapado de humidade, quatro sapadores caminhavam a passo curto e cadenciado, carregando em dois varapaus o cadaver do derradeiro grande caudilho que as armas do Imperio varriam da America.Não se acabara um povo à margem do Aquidaban; porém se finara um regimen que o fizera desgraçado e abusara do seu fanatico heroismo. Agora, livre da tyrannia, embora dessorado pela guerra fatal, o Paraguai poderia viver outra vida e preparar-se para melhores dias.O passo cadenciado dos sapadores resoava no caminho lamacento. O corpo de Lopez oscillava, enorme, ao sacolejos da rustica padiola. Fios de sangue coagulavam-se nas mandibulas fortes. O vento brincaba nos cabellos revoltos e negros. As mãos pendiam lamentavelmente para o chào.Era o enterro do caudilhismo que passava."
Bento Antunes de Proença, um pilarense na Guerra do Paraguai, Blog Caminhos do Sertão, caminhodosul.blogspot.com

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