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“Segredos, delicadezas e um inimigo infernal”, por Gilson Camargo, em extraclasse.org.br
21 de dezembro de 202209/04/2024 09:38:33

O jesuíta Antonio Ruiz de Medeiros resumiu em seu livro Tesoro de la Lengua Guarani, publicado em Madrid, em 1639, a razão da grande importância dada pelas ordens religiosas ao aprendizado das línguas nativas.Desde a chegada das primeiras ordens religiosas às Américas, uma questão se impôs aos missionários. A diversidade de línguas, muitas vezes, era vista como uma artimanha do “inimigo infernal” com o único propósito de impedir a conversão dos indígenas.Assim, era preciso falar diretamente ao nativo sem recorrer a intérpretes: “Quem poderia persuadir a fazer aquilo que não sabe dizer?”, indaga o religioso, anotando que o aprendizado dos “segredos & delicadezas” das línguas indígenas, de fato, era um dos maiores desafios para os missionários.A comunicação com os nativos em seus idiomas, sem intermediários, no entanto, já mobilizava as ordens religiosas desde o século anterior e não era uma preocupação só dos jesuítas, explica a pesquisadora Fernanda Verissimo no livro A impressão nas Missões Jesuítas do Paraguai – Século XVIII (BBM e Edusp, 2022, 288p.).No prefácio de um vocabulário dominicano da língua zapoteca impresso no México, em 1578, uma advertência deixa clara essa preocupação: pregar o evangelho por intermédio de intérpretes faz com que a doutrina perca “grande parte de seu ser, autoridade e força” por conta de acréscimos, omissões e erros. “Se a trombeta der o sonido incerto, quem se preparará para a batalha?”, completa o jesuíta espanhol em seu Tesoro de la Lengua Guarani, parafraseando o apóstolo São Paulo aos Coríntios.“A impressão nas Missões se revela um capítulo importante e pouco conhecido da história do livro na América e, também, um bom indicador das aspirações dos missionários para sua ‘república’ e seus ‘cidadãos’. Demonstra igualmente o apego dos jesuítas ao livro como meio de evangelização e de educação, assim como meio de fixação de línguas até então não escritas como o guarani”, explica a pesquisadora.Os jesuítas foram os primeiros a imprimir livros na América do Sul, em seu Colégio de Lima, no Peru, a partir de 1584. Eles lutavam desde o início do século 17 para ter os direitos e os meios de imprimir também nas missões do Paraguai.“Serão obrigados a esperar quase um século: é apenas em 1700 que um primeiro livro será impresso nas missões, na redução de Loreto”, uma literatura impressa que se limita a traduções de práticas religiosas e a gramáticas e dicionários da língua guarani, buscando ordenar e ensinar um idioma considerado extremamente complexo – até então puramente oral.“Aliás, a importância conferida pelos missionários ao aprendizado das línguas indígenas não pode ser negligenciada”, repara a autora.Línguas bárbarasCartas e relatos dos missionários e prefácios e apresentações às gramáticas e vocabulários dedicados à multitude de idiomas indígenas da América mencionam, muitas vezes de forma exasperada, as penas sofridas pelos religiosos que tentavam aprender essas línguas “bárbaras”.

O guarani “excede em dificuldade o árabe, o grego e o hebreu”, desespera-se, em 1687, o linguista jesuíta Francisco Jarque. A pronúncia da palavra que significa “pimenta” em guarani, relata o missionário, “resultou em uma chaga na língua” de um jovem aprendiz.

Ao livro, frequentemente era conferido um poder totêmico. Em 1836, uma milícia maori teria se recusado a invadir um forte que abrigava uma biblioteca. Em 1839, um missionário relata que viu maoris usando folhas de livros enroladas e inseridas nos lóbulos das orelhas.As páginas também serviam para fazer cartuchos, e o uso da obra Church History para este fim dá um sentido ligeiramente diferente à expressão “igreja militante”, como sugere o autor D. F. McKenzie em seu tratado sobre a sociologia do texto. Em um desses cartuchos, era possível ler a frase bíblica: “Quanto tempo ainda viverei?”.A história do livro nas reduçõesFilha do escritor Luis Fernando Verissimo, Fernanda é mestre e doutora em História Moderna (Paris 4), mestre em Bibliografia e Estudos Textuais (Leeds) e especialista em política cultural e gestão das artes (Paris 3). Pesquisou os livros que foram publicados nas missões jesuítico-guaranis como bolsista da Biblioteca John Carter Brown, em Providence, EUA.O livro A impressão nas Missões Jesuítas do Paraguai – Século XVIII é resultado da tese de doutorado defendida pela autora na Faculdade de História Moderna da Sorbonne.“São livros religiosos – catecismos, sermões em guarani – e gramáticas – artes, vocabulários do guarani. Todos tentam seguir as convenções dos livros impressos na época, na Europa: em geral, têm sumário, paginação, títulos, ornamentos, vinhetas. Um deles, o mais bonito e bem ilustrado, tem 43 gravuras. O título também é lindo: Da Diferencia entre el Temporal y lo Eterno; é um clássico religioso jesuíta do século 17, que foi traduzido em várias línguas, inclusive no guarani, e impresso na redução de Loreto, em 1705. Houve publicação em pelo menos quatro reduções, mas não se sabe se eram ateliês locais ou se iam de uma redução a outra.”Uma utopia comunitáriaA história projeto missionário dos jesuítas na Província do Paraguai, entre o início do século 17 e o final do século 18, é uma experiência única na história das missões cristãs, destaca a autora.Entre os anos de 1609 e 1767, ao longo dos rios Paraná e Uruguai, a Companhia de Jesus, com a anuência e o suporte do poder colonial espanhol e seguindo uma primeira expedição empreendida pelos franciscanos junto aos guaranis, consegue reduzir e sedentarizar mais de 140 mil indígenas em 30 burgos rurais.As reduções atingem um grau de desenvolvimento surpreendente, através de um sistema econômico centralizado e, em grande parte, coletivista. Um projeto frequentemente citado, tanto por inimigos históricos para demonstrar a tirania dos padres como opressores dos indígenas, quanto para exaltar seus talentos de administradores e educadores determinados a proteger os guaranis da exploração colonial.“A ideia das missões do Paraguai como uma utopia comunitária deu pano para mangas desde o século 17 e é, ainda hoje, fonte de romantismo e controvérsia. Aquilo que sobreviveu da arte das missões – as ruínas de sua arquitetura, as esculturas, os instrumentos musicais, a literatura religiosa saída dos ateliês de copistas ou de impressores das reduções – tornou-se, para uns, a prova do gênio jesuíta e, para outros, o símbolo do massacre cultural dos indígenas”, resume.
“Segredos, delicadezas e um inimigo infernal”, por Gilson Camargo, em extraclasse.org.br

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Em 9 de julho de 1501 comunicava o Rei D. Manoel a seus sogros, Fernando e Izabel de Espanha o sucesso da segunda viagem á índia, por seu almirante Pedro Alvares Cabral, dizendo no que se referia ao Brasil, o seguinte:

“...O dito meu capitão partiu com 13 naus, de Lisboa, a 9 de março do ano passado, e nas oitavas da Pascoa seguinte chegou a uma terra que novamente descobriu, á qual colocou nome de Santa Cruz, na qual encontrou gente nua como na primitiva inocência, mansa e pacifica; a qual terra parece que Nosso Senhor quis que se achasse, porque é muito conveniente e necessária para a navegação da índia, porque ali reparou seus navios e tomou água; e pela grande extensão do caminho que tinha de percorrer, não se deteve afim de se informar das cousas da dita terra, somente me enviou de lá um navio para me noticiar como a achou."
Carta do rei dom Manuel, datada de Sintra, anunciando aos príncipes católicos o descobrimento da terra de Santa Cruz, por Pedro Álvares Cabral
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Apareceu mais (um) doido no Palco da Reforma Agrária


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