Quanto à possibilidade de Lopo Dias ser antepassado de FernãoDias Pais, não creio sustentar-se. Ele casou-se, efectivamente, com Beatriz,fílhade Tibiriçá; costuma-se indicar dois filhos seus, SuzanaDias eBelchiorCarneiro, que se entroncam, respectivamente, em seus descendentes Fernandes Grou. Lopo Dias não é citado no Dicionário de Bandeirantes eSerlanistas do Brasil, de Carvalho Franco. Mas encontrei um sub-capítulosobre ele em Washington Luís(Na capitania de São Vicente, p. 125 e segs),cuja cópia segue em anexo. 2. Sobre a origem de IvlARIA BETIM, mulherde Fernão Dias Pais: É, sem dúvida, mais uma desinformação de Diogode Vasconcelos. Ela chamava-se Maria GarciaRodrigues Betim, nascidaem 1642, filha do paulista Garcia Rodrigues Velho (também sertanista,morto em 1671) e de MariaBeting. Esta, por sua vez, era filha de GeraldoBetting, natural de Guelder. Veja que Carvalho Franco e Taunay discrepam,por um problema de geografia histórica: o primeiro afirma que GeraldoBetting era "natural de Guelder, antigo ducado da Alemanha", enquantoo segundo o dá como holandês. Na verdade, esta região fronteiriça, dedomínio senhorial, foi destacada da Alemanha (Sacro Império) em 1471,incorporando-se às Províncias Unidas quando de sua constituição, no finaldo século XVI (V. Tapié, Le XVIIe. siècle. Paris, PUF, 1949, p. 41).
Geraldo Betting veio para o Brasil em 1609, com o governador D. Franciscode Sousa, para auxiliá-lo na instalação de fundições de ferro. Nada tem aver com Nassau, como conjeturou Diogo de Vasconcelos. Estou enviando,também, xerox do Dicionário mencionado, verbetes Betim e Beting. Aípode estar sua dúvida em relação à questão anterior: Geraldo Beting casou--se, informa Taques, com CustódiaDias, filha de Manuel Fernandes Ramose de ... Suzana Dias, filha de Lopo Dias e da índia Beatriz. Os filhos deFernão Dias Pais, portanto, descendem de Tibiriçá. Não ele. 3. Sobre BORBAGATO: As fontes referem-se a Manuel Borba Gato como paulista, filhode João Borba Gato e SebastianaRodrigues. O xerox do verbete correspondente, no Dicionário de Carvalho Franco, também segue anexo. Comolhe disse ao telefone, há outro Borba Gato, Baltasar, também do séc. XVII,envolvido nos acontecimentos paulistas de 1640. Este esteve em Lisboa,em 1642, levando mensagem da câmara de São Paulo ao rei D. João IV.Não há referências a relações entre eles. O assunto BorbaGato, ao contráriodos anteriores, fica menos bem estabelecido. O Dicionário de Carvalho [p. 265]
Antónia ou Mariana Chaves, irmã do Reverendo Dr. Manuel de Chaves,sem mais notícia); neto de outro GarciaRodrigues (s.m.n.) e de suamulherD. Isabel Velho, a qual por sua vez seria 5aneta de Fernão Pais Velho e deD. Maria Álvares Cabral, irmã do navegador Pedro Álvares Cabral, descobridor do Brasil. Os genealogistas micaelenses, (segundo apontamentodo Dr. Pedro R.C. Cymbron Borges de Sousa), não concordam inteiramente com esta linhagem, sustentando que GarciaRodrigues Velho teriasido neto de Domingos Gonçalves da Maia, da Ilha da Madeira e de suamulher Mécia Rodrigues Velho; e por esta última, bisneto, de GarciaRodrigues c.c. D. Isabel Velho.No que respeita à ligação desta ao Descobridor do Brasil é denotar que, Sanches de Baêna, "Resanha Genealógica da família de PedroAlvares Cabral", (considerado geralmente o melhor estudo sobre amatéria),não refere entre as irmãs do Navegador qualquer Maria... Uma suatia-avó,D. Brites Alvares Cabral foi, sim, casada com Fernão Velho. Fica o pontoem aberto...2. Ascendência materna de D. Maria Betim. Origem dafamília Beting ou Betim e sua ida para o Brasil.Sustenta Diogo de Vasconcelos, (ob. cii. Vol. I, pg. 81), que amãe de D. Maria Garcia ou Rodrigues Betim seria filha de Geraldo ouGibaldo de Bentink, descendente dos Condes mediatizados de Bentink noWurtemberg, - (tendo-se o nome aportuguesado em Betim ou Bitting),cujos antepassados teriam ido para o Brasil com a invasão holandesa.Tese, todavia, insustentável, face às mais sólidas fontes brasileiras, comonota o Prof. A Wehling. Recorra-se, de novo, aojá citado "Dicionário deBandeirantes e Sertanistas do Brasil" de Francisco de Assis CarvalhoFranco: "Beting, Geraldo: Natural de Guelder, antigo ducado daAlemanha.Veio para São Paulo em 1609 e não em 1598 como muitos escrevem, como governador D. Francisco de Sousa, que o trouxe do reino com o fíto demandar construir engenhos de ferro na capitania. Acompanhou GeraldoBeting a esse fidalgo português em todas as entradas que fez em S. Paulo,indo ao Araçoiaba, ao Jaraguá, Ibitutuna e outros pontos. Casou-se em São Paulo com Custódia Dias, filha de Manuel Fernandes Ramos e desua mulher Susana Dias e foi tronco dos Betins paulistas (Rev. Inst. Hist.e Geog. Brasileiro - CLIX, 24)". E veja-se ainda o que escreve AfonsoEscragnolle Taunay em "A grande vida de Fernão Dias Pais", Ed. Melhoramentos, S. Paulo. 1977. pg. 150: "...Falando de Maria Betim descreve-lheDiogo de Vasconcelos a genealogia muito erradamente, (cf. Silva Leme,Genealogia Paulistana, 7,452), e estabelece grande confusão em sua linhagem. E a este propósito incide em grave cincada ao afirmar que o avôde Maria, Geraldo Betting, veio para o Brasil com a invasão holandesa,quando é indiscutivel que foi dos principais companheiros de Dom Francisco de Sousa. Também não sabemos onde descobriu que este GeraldoBetting pertencia à família dos Condes wurtembergueses de Betink. SerIhe-iamais fácil atribuir-lhe uma ligação altissonante com o famoso validode Guilherme III de Inglaterra,João GuilhermeBentinck, que o Stathouderrevolucionariamente empossado em 1689 da coroa da Inglaterra, criouconde de Portland. Afirma ainda Diogo de Vasconceloster GeraldoBetimsido alemão quando é inconstestável a sua nacionalidade holandesa comonatural da Gueldria ". (Note-se, aliás, que não há qualquer referência aGeraldo Beting na clássica obra sobre os holandeses no Brasil de CharlesBozer "The Dutch inBrazil, 1624-1654",Clarendon,Press,Oxford, 1957).Silva Leme, porseu lado, confirma que seria originário do antigoducado de Gueldres, e específica que da cidade de Drusbruch.Casou, portanto, Geraldo Betting, com Custódia Dias filha deManuel Fernandes Ramos, natural da vila de Moura, em Portugal e que,segundo Silva Leme, (ob. cit. Vol. II, pg. 35 e 225) teria ido para a capitaniade S. Vicente na segunda metade do séc. XVI e exercido cargos no Governode São Paulo até final desse século, e de sua mulher, (1° casamento desta),Suzana Dias que era, porsua vez, filha de Lopo Dias e sua mulherBeatriz. [p. 281, 282]
IX. LOPO DIAS: A NOTÍCIA DE WASHINGTON LUÍSAcercade Lopo Diastemos a amplanota, (mais uma vez apontadapelo Prof. A. Wehling), da autoria dessa simpática figura de Historiador/ /Presidente que foi Washington Luís, em "Na capitania de S. Vicente", eque abaixo se transcreve da edição "Martins", S. Paulo, 1976."Lopo Dias era português. Aparece o seu nome na Câmara deSanto André, pela primeira vez, em 5 de Outubro de 1555, multado em25 réis por não ter comparecido a fazer caminho da vila, que então eraconservado a mão comum (Atas de Santo André, Pg. 16).Em 31 de Março de 1558 o povo se reúne e juntamente com osoficiais da Câmara de Santo André deliberam a reparação dos muros econstrução de guaritas para defensão da vila, porquanto chegavam novasque os índios do planalto iam atacar e destruir a vila, havia pouco tempocriada porTomé de Souza Todos se obrigaram afazer essas obras indispensáveis, até sua completa execução, ajudando-se uns aos outros, para defesade todos (Atas de Santo André, pg. 74). A vida aí não corria sem perigose era necessário manter a povoação. Não eram muitos os moradores deSanto André. A Câmara compunha-se então dos oficiais Antônio Magalhães, comojuiz, João Ramalho, como vereador, João Eanes, como procurador de conselho, eDiogo Fernandes escrivão. Com o povo e com os oficiaisassinam apenas, ao todo 16 moradores entre os quais está Lopo Dias.Mudada a sede da vila, em 1560, de junto da ermida de SantoAndré para junto à igreja de S. Paulo, Lopo Dias continua a prestar osseus serviços à administração municipal. Em 28 de dezembro de 1562 eem 28 de agosto de 1563 é eleito almotacé; em 21 de fevereiro de 1564 éeleito vereador em substituição de João Ramalho, que a esse cargo se excusou declarando ter mais de 70 anos.Em 12 de maio de 1564 é, como vereador, um dos signatáriosda representação a Estácio de Sá para que permanecesse em S. Vicentecom a sua esquadra para defesa da capitania sempre ameaçada, principalmente a vila de S. Paulo, "situada entre gente de várias qualidades e forças,que há em toda a costa do Brasil, como são os tamoios e os tupiniquins,que quebrando as pazes feitas sempre matam no sertão muitos homensbrancos, entre os quais Geraldo, Francisco de Serzedae João Fernandes".Os tamoios, ajudados pelos franceses, atacavam as vilas de Santos e deS. Vicente, por mar e por terra, e de todas elas levavam escravos, gadosmulheres e homens. Os tupiniquins se levantaram e puseram cerco a S.Paulo durante dias, em 1562, destruindo mantimentos e gados. [p. 283]