' O rio inabalável: Conhecimento e território, caminhos mbya guarani desde Yvymbyte a Piraí - 01/01/2021 de ( registros) Wildcard SSL Certificates
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O rio inabalável: Conhecimento e território, caminhos mbya guarani desde Yvymbyte a Piraí
2021. Há 4 anos
no Laudo Pericial, quando a filha de Lídia tinha um ano, em 1979, o grupo liderado porKirimaco estava vivendo embaixo da ponte de Pirabeiraba, em Joinville.Esta cidade, a maior do Estado em número de habitantes, cresceu rapidamente entre asdécadas de 1950 e 198012, período de forte industrialização e urbanização, ocupando grandeparte desse ambiente conhecido e ocupado pelos guarani: a faixa litorânea do nordeste de SantaCatarina, entre a Serra do Mar e a baía da Babitonga. Foi nesse período que não-indígenaspassaram a registrar e a falar sobre a presença guarani na região, sendo o padre Luiz Facchiniuma das pessoas mais destacadas.Na década de 1980, Lídia morou por um tempo na aldeia Piraí, junto à família de seutio, Francisco Kirimaco. "Tinha uma casa de reza, no alto da Piraí. Nossa bisavó morava aqui",ela relata. Numa conversa entre Lídia e Ronaldo, traduzida por Jera Poty, foi mencionado ointenso e antigo deslocamento guarani pela área que atualmente é entendida como a faixalitorânea do sul do Brasil. As famílias de Lídia e Ronaldo, que são primos, em momentosdiferentes, caminharam por essas vias. Os topônimos desse extenso território, utilizados atéhoje por não-indígenas, são alguns dos registros mais evidentes da presença guarani históricana região. É importante reiterar e enfatizar esse registro, pois a colonização dos imigranteseuropeus nessa região, primeiro a partir do século XV e, depois especificamente na região daPiraí a partir do século XIX, provocou o apagamento da presença indígena por meio dasinvasões, violências físicas e simbólicas.Pirabeiraba, Ubatuba, Guaramirim, Jaraguá do Sul, Araquari, Itaperiú, Itapocu, Itajaí,Camboriú, Guaratuba, Paranaguá, Itapoá, Garuva são algumas das palavras guarani quenomeiam localidades e paisagens entre o Sul do Paraná e o Norte de Santa Catarina. PorémLídia enfatizou que os nomes dessas cidades contêm pequenas variações morfológicas efonéticas em relação às palavras originais da língua guarani – fruto do desentendimento nacomunicação entre as línguas guarani e portuguesa em contexto de colonização. Essesequívocos foram comentados por Lídia Timóteo em língua guarani durante uma conversaregistrada em vídeo13, que posteriormente assisti junto com Kleber Wera Poty Ramires e Darcida Silva Karaí Nhe´ery, em momentos diferentes.Dona Lídia comentou especificamente a respeito da tradução dos nomes de três locaisda região: Garuva, Pirabeiraba e Guaratuba. A respeito do nome Garuva, Kleber Ramires [p. 38]

Outros dois fatos que chamam a atenção é que a alimentação da população dos colonosera à base de peixe e farinha (Idem p.96), refeição característica dos povos originários daregião34; e que a somatória da população do distrito era de 871 indivíduos escravizados e 3.157indivíduos livres (Idem: p.92). Em 1840 eram 1.057 pessoas escravizadas.Segundo consta no livro de Saint-Hilaire, ele não teve contato direto com os indígenasna região do litoral norte, mas ouviu e reproduziu em seu livro histórias a respeito de “bugres”,que os colonos caracterizaram em seus discursos como selvagens e violentos (Idem: p. 23-24).No início do texto percebe-se que o autor teve acesso a traduções guarani que estãocorretas, são equivalentes aos termos utilizados atualmente nas comunidades mbya guarani daregião. Ou seja, as palavras mbya que circularam há dois séculos – até mais – nessa região, sãoas mesmas que circulam hoje, indicando a presença histórica dessa etnia específica e oapagamento social sofrido pelo povo. Quando Saint-Hilaire teve a oportunidade de escrever arespeito da existência indígena na região e citá-la diretamente, deixou de comentar no texto quea etnia era guarani, mas ao contrário: reduziu aos termos “bugre” e “selvagem”, mesmo sabendode sua importância na constituição da realidade do lugar, seja por meio das rotas marítimas eterrestres, da alimentação, das nomeações ou do cultivo das plantas que esse botânico francêsbuscava conhecer.

Por fim, a navegação de Saint-Hilaire continuou pelo rio Itapocu, o qual grafou como“Itapicú (do guar. Ytapecy, pedra concava)” (Idem: p.121) e seguiu rumo ao sul. Numaconversa que tive com o pesquisador Darci da Silva Karaí Nhe´ery35, ele traduziu o termo“Itapocu” como “pedra comprida”. Também a respeito dessa palavra guarani, cito a seguir aimportante nota do tradutor Carlos da Costa Pereira.

Assim escrevi essa palavra louvando-me em Casal e como a ouvi pronunciar no próprio local. Aubé escreveu Itapecú, mais de accordo com a etymologia indigena. Apezar dos dois autores acima citados discordarem sobre a graphia da denominação Itapicú, ambos, entretanto, dão relativamente a esse rio, interessantes informações. Dia o primeiro (Corogr. Bras., I, 189) que a 10 milhas de sua embocadura existe uma queda e nelle desaguam o Piranga, o Upitanga, o Itapicú Mirim, o Jaraguá e o Braço. Conforme o segundo (Notice, 33), o Itapieú banha uma das mais vellas regiões da provincia; a sua queda poderia ser nivelada e tambem seria facil abrir um canal interior que ligasse a extremidade do Itapicú (Lagoa da Cruz) ao rio do Araquary, - Van Lede faz apenas ligeiras referencias ao Itapicú e escreve essa denominação da mesma maneira que Aubé (Colonisation, 101). S.H. - A graphia e a prosodia hoje dominante relativamente à denominação desse rio é – Itapocú. A forma exacta seria – Itapucú, de ita, pedra e pucu, comprida. - Além dos afluentes Piranga (Pirahy-piranga), Upitanga (Putanga), Itapicú Mirim (Itapocúsinho), Jaraguá e Braço, citados por Casal, desaguam no Itapocú mais os rios Preto, Itaperiú, Ribeirão Az, Salto, Serra, Ribeirão da Luz, Pedra de Amolar, D. Izabel e outros de menor importância" - N. Do t. (SAINT-HILAIRE, 1930, p.121).

Nas cartografias apresentadas a seguir, é possível perceber a utilização dos topônimosnativos da geografia regional catalogados em 1871 – com destaque para a extensão do Rio Piraí– e, em seguida, o registro de 2014 demonstra a localização das aldeias antigas e áreas deesbulho que as comunidades guarani sofreram ao longo da história nas proximidades dos riosPiraí e Itapocu. [p. 64, 65]



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