Construído em madeira e gesso, o curioso pórtico de Sorocaba foi a maneira que a cidade paulista encontrou para homenagear a passagem pela cidade, em 1927, do heróico aviador brasileiro e jauense João Ribeiro de Barros. Naquele mesmo ano o célebre aviador cruzou o Oceano Atlântico, sem escalas, pilotando o hidroavião italiano Savoia- Marchetti S- 55.
Após a realização da histórica travessia, houve uma grande comoção por todo o país e, especialmente, pelo Estado de São Paulo, surgindo comemorações e condecorações quase em todas as cidades paulistas.
O feito levou ao governo estadual a lançar o seguinte apelo, em maio de 1927:
Este pedido desencadeou uma verdadeira competição entre as cidades paulistas, cada uma querendo homenagear e presentear João Ribeiro de Barros e os demais aviadores do hidroavião Jaú, da melhor maneira possível.
Em Santos, por exemplo, a companhia de bondes doou a arrecadação de um dia inteiro de tarifas aos aviadores. Em Santo Amaro, então município independente da capital, realizou- se cerimônia na represa. Em São Paulo inúmeras homenagens, condecorações e até apresentação no Theatro Municipal.
Já a cidade de Sorocaba optou por erguer um arco do triunfo para homenagear os aviadores e a chegada do Jahú à cidade. O único arco que se tem notícia para este fim.
De acordo com a minha pesquisa o arco foi instalado próximo da igreja matriz da cidade, no centro de Sorocaba. A estrutura, além do arco em si, contava com uma espécie de réplica, em madeira, do hidroavião na parte superior.
A construção do pórtico e até mesmo a sua existência é quase desconhecida pelos sorocabanos. Mesmo registro jornalísticos ou fotográficos desta curiosa passagem da histórica da cidade são raríssimos. Na internet é possível encontrar um historiador da cidade afirmando que o arco foi erguido no início de 1930, mas reafirmo que ele foi erguido entre junho e julho de 1927.
Sobre a duração do arco a inexistência de dados históricos torna impossível determinar. É bem possível que ele tenho durado algumas semanas, ou no máximo, dois ou três meses. Com a ação do tempo (chuva, sol, vento etc) a estrutura em gesso e madeira não aguentaria mais tempo que isso, tal qual ocorreu com o Arco do Triunfo de São Paulo.
“Os nossos tupinambás muito se admiram dos franceses e outros estrangeiros se darem ao trabalho de ir buscar o seu arabutan [pau-brasil]. Uma vez um velho perguntou-me: Por que vindes vós outros, maírs e perôs (franceses e portugueses) buscar lenha de tão longe para vos aquecer? Não tendes madeira em vossa terra ? Respondi que tínhamos muita mas não daquela qualidade, e que não a queimávamos, como ele o supunha, mas dela extraíamos tinta para tingir, tal qual o faziam eles com os seus cordões de algodão e suas plumas.
Retrucou o velho imediatamente: e porventura precisais de muito? Sim, respondi-lhe, pois no nosso país existem negociantes que possuem mais panos, facas, tesouras, espelhos e outras mercadorias do que podeis imaginar e um só deles compra todo o pau-brasil com que muitos navios voltam carregados. — Ah! retrucou o selvagem, tu me contas maravilhas, acrescentando depois de bem compreender o que eu lhe dissera: mas esse homem tão rico de que me falas não morre? — Sim, disse eu, morre como os outros. Mas os selvagens são grandes discursadores e costumam ir em qualquer assunto até o fim, por isso perguntou-me de novo: e quando morrem para quem fica o que deixam? — Para seus filhos se os têm, respondi; na falta destes para os irmãos ou parentes mais próximos. — Na verdade, continuou o velho, que, como vereis, não era nenhum tolo, agora vejo que vós outros maírs sois grandes loucos, pois atravessais o mar e sofreis grandes incômodos, como dizeis quando aqui chegais, e trabalhais tanto para amontoar riquezas para vossos filhos ou para aqueles que vos sobrevivem! Não será a terra que vos nutriu suficiente para alimentá-los também ? Temos pais, mães e filhos a quem amamos; mas estamos certos de que depois da nossa morte a terra que nos nutriu também os nutrirá, por isso descansamos sem maiores cuidados.