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Atualização: 25/10/2021 01:53:14


O Casarão localizado no atual zoológico Quinzinho de Barros foi construído pelos escravizados de João de Almeida Pedroso em 1780. [2] Aquelas terras viriam a pertencer a Rafael Tobias de Aguiar, o Brigadeiro Tobias, nascido em 4 de outubro de 1794, num casarão localizado na esquina da rua XV de Novembro c/ a atual Gonçalves Ledo. [4] Em 1842 o Capitão Chico ganharia essas terras do seu cunhado Tobias.

Pelos registros, Tobias também residiu no Solar da Marquesa de Santos, localizado em São Paulo, porém, em 1875 encontramos dados curiosos. [5]


A VIAGEM E O REVÓLVER

Em 1875, J. Köpke foi nomeado promotor público em Itapeva da Faxina (SP), onde também trabalhou como advogado. Durante a viagem ele passou por Sorocaba. [6]


“Fiz subir o meu pedido às escalas do palácio, e no dia 7 de novembro os jornais da capital unisonamente anunciaram aos povos que eu fora nomeado promotor público da comarca de Itapeva da Faxina.

Lendo a notícia, confesso-lhe que me pareceu ter um rei na barriga; e, com a maior alegria, comecei de aviar-me para a viajem não sem munir-me no Garraux de um revolver, tal era a descrição, que me faziam dos sertões em que ia viver”. [7]


Aos 27 de dezembro, depois de haver dito os últimos adeuses aos amigos, soltei o away, ou antes, soltou o silvo da locomotiva e, dentro de algumas horas achei-me em Sorocaba. [8]


Doi dias depois tomei um roteiro (sem calembourg). Íamos a mulher, uma filha e eu. Deixando a calma feliz da risonha cidade, que se recosta à gentil colina com uma volúpia verdadeiramente poética, seguimos a larga e sinuosa estrada que, qual túrgida serpente rubra, galgando a ofegar os moros sem número e arrastando-se indolente ao longo dos campos macegosos, se estende até Tatuhy – pequena agglomeração de casas, cortada de diversas ruas, algumas providas de lampeões, dos quaes um apenas vi espalhar amorável claridade, devida ao cuidado patrótipo do alli popularíssimo Chico Taques, em cuja casa fomos obsequiosamente recebidos. [9]


“O CIGARRO TIRA AS MÁGOAS DO CORAÇÃO”

O ajuste de um novo roteiro e a moléstia de minha companheirinha de jornada detiveram-nos quatro dias. Ao cabo d´elles, mandei atralar os animaes e puzemo-nos em marcha para Itapetininga.

Quando partimos, ainda o sol se não erguera acima do horizonte.As gottas de orvalho nas folhas cubriram-se do matiz rubro das nuvens, que precendem a aurora; o dorso longínquo das serranias começava a desprender nos ares os anileos mantos de tenuíssima neblina; a espaços, se ouvia o pio monótono das perdizes na macega, e, de vez em quando o berrar prolongado dos terneiros nas mangueiras dos sítios que beiram as estrada.O caminho, como o anterior, e na phrase experessiva dos caipiras é muito dobrado.

A curtas distâncias retesávamos as parelhas, suarentas e picadas das terríveis butucas, que as perseguiam. Por volta de meio-dia, chegamos à fazenda do Capitão Manoel Theodoro de Camargo. Hospitaleiro e chão, o velho recebeu os desconhecidos com o riso nos lábios, e deleitou-os pela delicadesa do seu tratamento.

Fartas tigelas de pingue leite mataram-nos o calor do sol ardente de janeiro, e confesso que me atirei a ellas com uma fúria verdadeiramente bárbara. Jantamos após, fizemos o chylo em molle embalo de frescas alvíssimas redes, e às três tão poucos momentos foram muitos para arraiguar-nos sympathias profundas no coração.Com o cahir das sombras, também nossas frontes se ensombraram. Lembranças dos que atraz ficavam.

A estrada descia mansamente – aqui uns ranchos, acolá outro; - bestas a espojarem-se – arreios empilhados, ao clarão avermelhado das fogueiras, um vulto de cocoras a mecher um caldeirão suspenso, e, sobre os ligaes, de barriga ao ar, tropeiros que repousavam enquanto um outro sentado sobre os calcanhares e com as costas à parede casava ao som da viola as notas rudes de uma trova sertaneja: Dizem que o cigarro tira As mágoas do coração; Pintado o cigarro acaba; As mágoas nunca se vão.

DESCRIÇÃO DA CIDADE: QUAL CIDADE?

A cidade aproxima-se. É Itapetininga: já nos Pinheirinhos nos haviam dito: É ali, (e, de passagem, registre-se que o ali do interior nunca é para menos de légoa). Luzes disseminadas, como estrellas dispersas, indicaram-nos o termo da viagem do dia. Entramos no povoado. Ruas quase desertas – altas massas perfiladas; muros de taipa ou casas; à porta de uma botica, um grupo; rótulas, que o rolador do trolly despertara, o ruído surdo de um tambaque a festejar os Reis, eis as primeiras impressões. [10]


Pela manhã abrimos ansiosos a janella. Uma cidade pequenos se desenrolou a nosso olhos; construção sofrível, ruas descuidadas; matriz vasta, mas não concluída; theatro disforme no exterior, cadeia vergonhosa, alguma animação, devida, talvez, às solenidades da Epiphania, foi o que verificamos ao sahir mais tarde. Três dias depois, prosseguimos. [11]


CASARÃO E EFÍGIE DE TOBIAS

Três dias depois, prosseguimos. Da cidade fomos ao Constantino, no Porto a pouco mais de légua de distância. Comemos, refrescamos os animaes e ganhamos caminho. O trolleyro, marujo de primeira viagem, calculou mal a jornada, e só às oito horas e meia chegamos ao Capivaryzinho, depois muitos solvancos e sustos, encontrando de jantar – nada, e por pouco um miserável quarto com um velho catre tecido de Couro – cru – duro e insuportável.

Valha, porém a verdade, nesse leito de Procusto dormimos como pedras. Ahi, pela primeira vez entrei no conhecimento do que é uma candeia: -torcida de cera à parece e vae se levantando à proporção que se consome. Do Capivaryzinho fomos ao alto da Pescaria, subida íngreme, escalvada, e aberta por milhares de regos cavados pela chuva, por ande ascende estrada, penosamente, entre despenhadeiros de um lado e fundas bussurocas do outro.

Estávamos no ponto culminande dáquellas paragens, onde medra o café ao abrigo das geadas. Os raios perpendiculares do sol esmagavam-nos. Fizemos abrir, à esquerda, uma porteira que rangeu ruídos e descemos por uma picada emmaranhada, que em alguns logares, foi preciso desbastar a golpes de facão.

D’ahi a momentos, transpondo milhares imóveis pelo excesso de calma e ausência de brisa, beirando algodoaes extensos, que penduravam suas estrelladas, vimos erguer-se ao longe, n’um baixo, um têlue fio de fumo a desenrolar-se mollemente, e, depois, a palissada de um terreiro, a que se acostavam, aqui e acolá, enormes capados e magras porcas cercadas de uma turba multa de leitões, que, grunhiam ávidos cabeceando as tetas verrugosas.

Era a vivenda do Tenente Coronel José Carneiro da Silva Lobo. Alto, moreno, olhos vivos, querendo esconder-se sob um óculos, que os trahem o distincto paranaense, liberal quand même, e partidista extremado acolheu-nos de braços abertos, e, no seu lar passamos dous dias que nos arrastaram a procura-lo sempre que, em viagem houvemos de passar na direcção do seu sítio.

O leite sem rival, o pingue queijo, o saboroso carneiro e as gabirobas apanhadas no campo, nada faltou a entremeia a prosa renhida, que se travou entre nosso amphytrião, sua extremosa senhora, seu sobrinho Major Licinio, e nós. Quando nos pozemos outras vez em marcha, íamos pesarosos de deixar a Pescaria.

Acompanhados até ao Porto de Paranapanema, transpozemos na balsa a tristonho e negro rio, e, sentado sobre as raízes das árvores da outra margem, depois de breve palestra, dissemo-nos compridos adeuses. Uma hora depois, avistamos, ao longe, as paredes brancas e o telhado pardo-escuro do Paranapitanga.

A aparição da casa enorme, que, pelo seu vulto e posição faz-se crer próximas quando remota está, despertou-nos no espírito recordações históricas, e, figurou-se nos ver, com a avizinhação, recostada ao parapeito de uma das janellas, a effigie veneranda do velho Raphael Tobias.

Apeamos para sestear, o Major Licínio, actual proprietário, sua senhora e nós: engulimos um virado sumptuoso com um appetite invariável dos caminheiros, dormimos uma boa hora, e estrada novamente. Começou, então, a madonha chapada do Paranapitanga – o horror dos viajantes, a perder de vista – nem numa árvore – nem uma sombra. [12]


Vista da cidade (01/01/1827)


BIOGRAFIAS E TEMAS RELACIONADOS


John Kopke
“Sorocabanos” históricos
Rafael Tobias de Aguiar
Ferrovias
Vila Hortência
Quinzinho de Barros
Capitão Chico
Diamantes, ouro e prata
Escravizados em Sorocaba
Luís António de Sousa Botelho Mourão


Fontes/Referências:

[1] 20/09/1766
Luis Antonio de Souza Botelho mourão o morgado de Mateus, incumbiu o paulista Antonio Furquim pedroso Xavier de estabelecer o distrito no lugar denominado vila velha a margem esquerda do rio Apiaí guassu
pretomattos.blogspot.com/2009/...
[2] 01/01/1780
*Escravizados de João de Almeida Pedroso constroem o Casarão do atual zoológico Quinzinho de Barros com ouro do Paranapanema
Jornal Cruzeiro do Sul
[3] 19/09/1785
O povoado foi mudado pela atual localidade
pretomattos.blogspot.com/2009/...
[4] 04/10/1794
Nascimento de Rafael Tobias de Aguiar, o Brigadeiro Tobias, na esquina da rua XV de Novembro c/ a atual Gonçalves Ledo
Ilustração Brasileira/FRA (1942)
[5] 01/01/1842
*Capitão Chico ganha as terras onde hoje se localiza o Zoológico, do seu cunhado, o Brigadeiro Tobias
Aluísio de Almeida
[6] 31/10/1875
"De São Paulo à Faxina Meu caro Lisboa, Há de você ter ainda em lembrança
caminhodosul.blogspot.com/2012...
[7] 07/11/1875
Jornais da capital publicam a nomeação de John Kopke
PANIZZOLO, 2006
[8] 27/12/1875
John Kopke chega em Sorocaba
PANIZZOLO, 2006
[9] 29/12/1875
John Kopke deixa Sorocaba
caminhodosul.blogspot.com/2012...
[10] 02/01/1876
John Kokpe deixa a propriedade de Chico Taques
PANIZZOLO, 2006
[11] 03/01/1876
Descrição da cidade
PANIZZOLO, 2006
[12] 06/01/1876
John Kokpe deixa a fazenda do Capitão Manoel Theodoro de Camargo
PANIZZOLO, 2006
[13] 21/04/1901
Fundação de Itapeva
pretomattos.blogspot.com/2009/...


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