| Militante do PCB desde 1934, o baiano Carlos Marighella acabou rompendo com a legenda partidária poucos anos depois do Golpe de 64, optando por seguir o caminho guerrilheiro da luta armada contra a ditadura, o que o fez ficar da clandestinidade.
Em fevereiro de 1968, Marighella fundou o grupo Ação Libertadora Nacional (ALN) que, segundo relata Frei Betto em Batismo de Sangue: Guerrilha e Morte de Carlos Marighella, participou do sequestro do embaixador norte-americano Charles Elbrick — ato que teve a colaboração do Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8).
A ditadura começou a fechar o cerco contra o grupo, concentrando esforços na captura de seus membros, principalmente de Marighella, tido como “inimigo número um” dos militares. No dia 4 de novembro de 1969, Marighella teria um encontro com frades dominicanos.
A informação foi descoberta pelo delegado Sérgio Fleury dias antes, quando a Operação Bandeirantes (Oban) prendeu e torturou os frades Ivo e Fernando de Brito, como conta Elio Gaspari em ‘A ditadura escancarada’.
No dia do encontro, Fleury invadiu o convento dos dominicanos e preparou uma emboscada contra Carlos. A reunião do guerrilheiro com o grupo foi marcada na Alameda Casa Branca, próxima à Avenida Paulista. Mas chegando lá, o baiano percebeu a armação e tentou fugir do tiroteio iniciado por Fleury.
Como relata matéria da Folha de S. Paulo, o corpo de Marighella foi encontrado pouco depois dentro de um Volkswagen azul. Um relatório da Oban aponta que Carlos, ao receber ordem de prisão, correu em direção a um carro, “momento em que fez menção de sacar, de dentro de uma pasta, dois revólveres que estavam nela”.
Porém, ates de revidar, o baiano foi alvejado por uma rajada de uma metralhadora, “caindo morto dentro do carro”. No entanto, em 1996, um dossiê feito pela Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos, do Ministério da Justiça, contrariou essa versão.
De acordo com um laudo cadavérico, feito à época pelo legista Harry Shibata, o guerrilheiro foi morto com um tiro na região do peito — a bala teria sido disparada à queima-roupa.
“A distribuição dos tiros não corresponde a uma rajada de metralhadora”, explicou o médico legista Nelson Massini, que fez a análise do laudo, à Folha. “Não há perfuração no carro que justifique os ferimentos. O ferimento no tórax, além de ter sido à queima-roupa, foi disparado de cima para baixo”.
Além do mais, a posição em que estavam os pés de Marighella, para fora do veículo, indicam que ele não poderia ter caído na posição que estava após tomar um tiro no peito, o que pode indicar que foi arrastado para o local.
Reparação à família
No dia 9 de novembro de 2012, o Diário Oficial publicou a decisão do ministro José Eduardo Cardozo, que reconheceu que Carlos Marighella sofreu perseguição do Estado no auge da repressão política no período da Ditadura. O reconhecimento de tal perseguição, existe como uma anistia “post mortem”.
Fábio Providelli (09/10/2021) |