| 28 de junho de 1591, Heitor Furtado de Mendonça dá início à primeira Visitação da Inquisição às terras do Brasil, que tem como objetivo tornar efetiva a administração inquisitorial da fé (e em particular a perseguição aos judaizantes) nas capitanias do Brasil, desde o início colocadas sob a jurisdição do Tribunal de Lisboa.
Mas logo no segundo dia do período de graça reservado às confissões e denúncias, aparecem duas pessoas a denunciar um, acusando-o de ter dado proteção em sua fazenda a um grupo de índios que praticavam cerimônias pagãs.
Nos dias que se seguem multiplicam-se as denúncias contra o senhor de engenho: chegam a ser 38, quase um quinto de todas as denúncias feitas. Enquanto tenta reconstruir o episódio e desvendar as motivações dos intervenientes, o Visitador dá-se conta, talvez, de que está a lidar com algo que ultrapassa a sua experiência inquisitorial.
Entre seis e dez anos antes, na buscas do "Caminho para a terra sem Mal", conhecido como Caminho de São Tomé, aparecera no sertão um profeta indígena, que juntou à sua volta uma comunidade de algumas centenas de índios empenhados na procura da "Terra sem Mal". Esse grupo teria em sua liderança um "profeta", convertido pelos jesuítas e algo extremamente novo e extremamente herético para a época: uma profetiza.
Senhores de escravos e jesuítas começaram a reclamar providências, e em 1585 e expedições são lançadas para cortar o mal pela raiz. Porém, o inesperado aconteceu, um dos principais organizadores das expedições teria se "convertido".
As tatuagens que o líder convertido teria feito, tinham despertado a desconfiança do Visitador. O mameluco alegou ter aderido à seita por fingimento e ter-se riscado para se parecer valente e facilitar a sua aceitação pelos índios.QUEM SERIA ESTE HOMEM? E ESSA PROFETIZA?
Esse movimento tinha características especificamente híbridas. O próprio profeta tinha sido catequizado pelos jesuítas e o grupo tinha à sua frente uma profetiza, fenômeno desconhecido no mundo tupi, que se chamava Santa Maria Mãe de Deus ou Santa Ana. Hoje podemos facilmente localizar o epicentro dos eventos ocorridos. |