Um caminho de São Paulo à Sorocaba existia antes da chegada dos colonizadores. A atual rodovia Raposo Tavares segue um dos antigos caminhos do Peabiru, e era o principal caminho que ligava as duas cidades, Sorocaba e São Paulo. A rodovia Castelo Branco só seria inaugurada em novembro de 1968 [4].
Em 1804 o Governador da Província de São Paulo, António José da Franca e Horta, visitou Sorocaba, fazendo um caminho parecido com o da atual rodovia Castelo Branco, ou seja, passando por Itu.
A viagem de Franca e Horta, quando ele passou pelas vilas de Itu, Sorocaba e Porto Feliz, tinha dois motivos:: obter mais informações sobre a construção do novo caminho que ligava Itu à cidade de São Paulo e sobre a fundação de duas Irmandades da Misericórdia – uma em Sorocaba, outra em Itu.
Em 30 de outubro do mesmo ano ele escreveu ao secretário de estado da Marinha e Ultramar, visconde de Anadia, João Rodrigues de Sá e Melo Souto Maior falando sobre a viagem. Sobre o novo caminho ele diz:
“A fatura de um novo caminho da villla de Ytú para esta cidade, caminho ha muitos anos projetado, mas sobre o qual eram tantas as opiniões como as cabeças, foi um dos objetos que me levaram a fazer esta jornada. Ha daqui a vila de Ytú 22 léguas (106,2km) de caminho a que chamarei velho e se me propunha com instancia a abertura de um novo que encurtava para 18 léguas (86,9km)”.
Sobre a construção do primeiro hospital de Sorocaba ele diz:
“(...) em Sorocaba o capitão-mór Francisco José de Souza, homem de estimáveis qualidade, igualmente benemérito e zeloso do real serviço, o qual além da despesa que tem feito não só ofertou uma attendivel quantia a edificação daquelle hospital, mas tem promovido o haver esmola e deixar taes que posso contar haver já com que ele se complete”. [3]
CONVENTO DE SANTA CLARA
Outro ponto importante da viagem foi a fundação do Recolhimento ou Convento de Santa Clara. Quatro anos antes (1800) foram feitos os primeiros pedidos para a fundação de uma instituição religiosa na Vila de Sorocaba, como consta nos documentos enviados pela Câmara da Vila deste ano.
No primeiro pedido, não há nenhuma referência à Manoela de Santa Clara e Rita de Santa Ignes, fundadoras do convento, porém, a família das duas mulheres possuía grande importância financeira e política na região, o que nos leva a imaginar que a solicitação fora motivada pela vontade das mulheres, utilizando as redes de influência criadas e exercidas pelos seus familiares.
A primeira vez que essas mulheres aparecem claramente é na documentação sobre os pedidos para a fundação de um recolhimento. De forma indireta no parecer, o então capitão-general de São Paulo Franca e Horta apresenta a opinião desfavorável à fundação de um recolhimento na vila.
“Resta-me finalmente informar a Vossa Alteza motivos particulares que tiveram estes camaristas para [ileg.] a presente súplica, circunstâncias que pessoalmente examinei, quando por outra diligência que interessava o Real Serviço, me foi preciso chegar à vila de Sorocaba. Existe ali uma insensata mulher, que pelo vaidoso entusiasmo de ser fundadora, e regente, havendo-lhe tocado uma pequena fonte de terras por herança, deu princípio a um edifício com essa destinação.
O terreno onde tem algumas casinhas, e uma asseada capela, suposto tenha capacidade para os ofícios de um recolhimento, falta-lhe, contudo, o essencial, que é o seu interior uma área indispensavelmente [ileg.] para [ileg.] e passeio das Recolhidas, o que é impossível de conseguir-se por achar situado no centro da vila cercado por toda a parte das casas de moradores.
Este informe edifício de taipas de terra, mal construído pela direção daquela mulher, que sem discurso, nem força para a dita obra, não faz mais que levantar este ano, o que no passado se desfez, foi olhando por aqueles homens como um fundo suficiente para o dito recolhimento lisonjeados da esperança de que outros concorreriam com esmolas para o complementarem como se tão débeis fundamentos [ileg.] se pudessem contar alguma coisa.” [2] |