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Em busca das ruínas
Havia um belo, antigo e histórico casarão no bairro chamado atualmente Lajeado que, entre 1835 e 1855 foi residência do padre Florentino de Oliveira Rosa e, quando Luís Castanho de Almeida (1904-1981) estava investigando suas ruínas já em 1938, ouviu de seus moradores que eram assombradas pelas almas de padres que vinham ali rezar missas à meia-noite. Castanho passou a defender que as tais ruínas, já desaparecidas na atualidade, eram os resquícios finais da grande residência do sertanista Balthazar Fernandes. [5]
Dia 23 de outubro 1953 o jornal Cruzeiro do Sul publicou a "Doação do imóvel pelo sr. Jorge Caracante e sua exma. esposa d. Ignez Marques Caracante, ato assinatura" (imagem).
Os sorocabanos apresentaram durante os festejos do III Centenário de fundação de Sorocaba, uma das suas mais concretas e magníficas realizações com a solene instalação da "Casa de Balthazar Fernandes", onde funcionaria o Museu Sorocabano.
Esta a notícia teve muita repercussão em todos os meios sociais, com o envio á Câmara Municipal, pelo sr. Emerenciano Prestes de Barros, prefeito municipal, do projeto de lei, aprovando e ratificando por doação simples para a instalação daquela brilhante realização.
Como era do conhecimento público, o sr. Governador sancionou á pouco tempo a lei apresentada e aprovada pela Assembléia Legislativa do Estado de autoria do deputado Salgado Sobrinho, criando a "Casa de Bathazar Fernandes" em Sorocaba, sob às despesas do governo estadual, a qual será dirigida e e supervisionada pela direção do Museu Estadual.
RESTAURAÇÃO DO IMÓVEL
A restauração do imóvel que pertenceu a Balthazar Fernandes seria executada pela Diretoria de Obras de Municipalidade local, de acordo com a orientação do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, do Ministério da Educação, contando com a valoríssima cooperação do notável historiador Aluísio de Almeida, quem desde o lançamento da idéia tornou-se num dos mais ardorosos defensores da idéia, oferecendo inúmeros e inestimáveis subsídios para a planificação do trabalho que seria desenvolvido, no sentido de tornar concreta, palpável e palpitante tão louvável iniciativa.
Terminada a obra de restauração do imóvel, o mesmo seria entregue ao Museu Estadual do Ipiranga, na pessoa do seu dinâmico e realizador diretor Sergio Buarque de Holanda (1902-1982), que no momento está empreendo viagem de estudos na Europa.
Era salientado também o papel preponderante que bem ocupando nesse trabalho, os srs. Rodrigo de Mello Franco e Luiz Saya, respectivamente diretor do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e representante daquele serviço em São Paulo, os quais orientariam a restauração do edifício onde residiu o fundador da então chamada "Manchester" paulista, o maior centro industrial do interior brasileiro.
OS DOADORES DO IMÓVEL
O tradicional imóvel, como era do conhecimento de todos, pertencia ao sr. Jorge Caracante, velho morador da cidade que, num gesto muito significativo para todos doou ao município, que por sua vez fará a doação ao Estado para ser incorporado ao patrimônio do Museu Estadual. [8]
Não era, mas tinha outra mais antiga lá
Desconheço quando e o motivo da demolição da histórica e bela estrutura. O que foi construído do local? Beneficiou, de qualquer maneira, a História?
Também não sei quando o competente engenheiro Luiz Saia (1911-1975), do serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, esteve em Sorocaba. Sabe-se que julgou que a casa dita ter sido construída pelo "fundador" de Sorocaba não era tão antiga, sendo do século XVIII e não do século XVI ou XVII.
Luiz Saya conseguiu estudar doze casas seiscentistas em São Paulo e arredores, juntando-lhes algumas mais recentes, devido aos caracteres arquitetônicos. São ou eram de taipa de pilão. De seu livro, "A Casa Bandeirista. Uma interpretação Luiz Saia", lançado em 1955, replico trechos que nos interessa:
"Houve-as, principalmente menores, mas até mesmo grandes, em terras menos própria para taipa e junto à abundante madeira da floresta. No inventário de Isabel de Proença, com testamento em novembro de 1654, consta que a casa do fundador de Sorocaba, Balthazar Fernandes, era de pau-a-pique. E muito grande."
"Pertence a esta época a casa de taipa do bandeirante Baltazar Fernandes, a qual chegou até nossos dias e foi construída no lugar da primeira. A entrada ficava na parede lateral, que podemos dizer fachada mais comprida."
"A frente menor era alta, mas mostrava somente janelas. Naturalmente o porão não tinha esse nome. Janelas sem vidro, fechos de trancas de madeira e taramelas. Dois puxados, sendo um a cozinha, o pátio todo fechado por um alto muro: era o pátio interno."
"De suas casas de Sorocaba, setecentistas, uma a já citada de Balthazar, construída sobre o alicerce de outra mais antiga, tinha o lanço da cozinha, outra (que ainda está de pé) não o tem (...) Em conclusão: nas casas seiscentistas e até os meados do século XVIII, quando de potentados bandeirantes da caça ao nativo, preferia-se cozinha dentro das quatro águas, mas não se desprezava a solução do lanço separado."
"E dois lanços, pois o lado fronteiro era a despensa ou depósito. Este, em Sorocaba e, certamente, em Parnaíba e São Paulo, chamava-se armazém, e exigia pé direito mais alto. Já temos ouvido também o nome de sobrado. Podia ser de janelas e mesmo escuro, iluminado lateralmente pelo varandão em telha vã."
Ruínas
Poderia essa "primeira casa", construída no mesmo local do casarão demolido na década de 1950, ser a tão procurada primeira casa de Balthazar Fernandes em Sorocaba? Impossível saber! Aqui, costuma-se derrubar estruturas antigas para cederem espaço ($$$) às mais modernas ($$$).
"Em qual planeta" ocorreria o contrário? E, grande parte da Arqueologia depende da História, procede-a seguindo suas pistas, colocando-as em prática, mas, SE há pouco interesse pela História de Sorocaba, por consequência, menos ainda por sua Arqueologia.
Em 1940 o historiador Luiz Castanho de Almeida mencionou umas ruínas existentes, de uma possível fortaleza, no bairro Itavuvu [6], sem nos deixar detalhes, ao menos um desenho, imaginamos uma fotografia...
Os documentos indicam diversos locais onde Balthazar Fernandes poderia ter construído seu sobrado, mencionado no testamento de sua segunda esposa, Isabel de Proença, em 1654.
Há até a hipótese do sobrado de Balthazar localizar-se em Santa Ana de Parnaíba, sendo que o testamento menciona apenas um, em janeiro de 1681 a Câmara de Parnaíba decide demarcar o rocio da vila: “um ribeiro que fica por cima do moinho da vila e subindo por a capoeira deu em um têso que fica por baixo da casa de sobrado que foi de Balthazar Fernandes. [4]
De fato quando o testamento de Isabel foi registrado, tanto Sorocaba quanto Parnaíba, eram apenas uma! Há também a possibilidade, não explorada assim como as ruínas do Itavuvu, do primeiro sobrado de Sorocaba não ter sido o de Balthazar Fernandes.
Documentalmente, o primeiro sobrado registrado na região pertencia a Clemente Alvares (1641), que também possuía terras em Biraçoiaba e Pirapitingui (Itú). [3] No mesmo livro, Luiz Saya, apresenta outra possibilidade "despercebida":
"Seiscentista era a casa de Pedro Vaz de Barros, em muros de pedra. Um dos motivos era a defesa contra os nativos. Não se conservaram estas casas. Do mesmo modo não se sabe de casas de taipa de mão ou de pau-a-pique seiscentistas." [9]
Quem é Pedro Vaz de Barros? Respondo como faria um sábio sorocabano: Pedro Vaz de Barros era "bandeirante" desde que Balthazar utilizava fraldas"! Mais de 40 anos antes de Balthazar "povoar" Sorocaba, exatamente em 3 de março de 1607, à Pedro Vaz de Barros foi concedido sesmaria de terras em Canhambuçú (Piragicú), em Piragibú (Itú) e em Nhamuncaá. Custódia Dias ou Fernandes, irmão ou prima, respectivamente, de Balthazar Fernandes, possuía meia légua em Nhanhucaba das quais terras cabe a cada órfão 750 braças. [2] |
jjjjFontes/Referências:
[1] “História da siderúrgica de São paulo, seus personagens, seus feitos”, 1969. Jesuíno Felicíssimo Junior. Página 8 e 9 |
[2] Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, volume XXXIV, 1938. Página 332 |
[3] projetocompartilhar.org/Familia/ ClementeAlvares.htm - projetocompartilhar.org/SAESPp/ clementealvares1641.htm |
[4] Frei Agostinho de Jesus e as tradições da imaginária Colonial p.275 / "A idéia da cidade" / sites.rootsweb.com/~ brawgw/parnaiba/sph31.html |
[5] RICARDI, Alexandre. Usina do Itupararanga e a Brazilian Traction Tramway, Light and Power Co.: monopólio e expansão do capitalismo financeiro no final do século 19. 2019.326 f. Tese (Doutorado em História). Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas,Universidade de São Paulo, São Paulo, 2020. Página 152 |
[6] “Sorocaba e os castelhanos”, Aluísio de Almeida, codinome de Luís Castanho de Almeida (1904-1981). Diário de Notícias, 01.09.1940. Página 13 |
[8] Jornal Cruzeiro do Sul, edição 14087, 23.10.1953 |
[9] A Casa Bandeirista. Uma interpretação Luiz Saia, 1955 |
[10] RICARDI, Alexandre. Usina do Itupararanga e a Brazilian Traction Tramway, Light and Power Co.: monopólio e expansão do capitalismo financeiro no final do século 19. 2019. 326 f. Tese (Doutorado em História). Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2020. |
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