A rodovia que liga Tapiraí e Juquiá tem variadas denominações, uma delas recebe um número federal (BR-478) que identifica seu alcance até o Acre, na fronteira com o Peru.
Em 2018 perguntaram a um funcionário de uma lanchonete localizada nessa rodovia, quem construiu a estrada? Ele sugeriu que antes de ser estrada era uma picada aberta por tropeiros para ligar Sorocaba ao Vale do Ribeira e ao Litoral Sul. [16]
A construção dessa estrada foi aprovada em 15 de outubro de 1923 [13] e sua inauguração se deu em 1936 [14]. Passaria por Piedade? Pois em 30 de julho desse ano registra concorrência pública para a reconstrução da ponte sobre o ribeirão Jurupará, entre as cidades de Sorocaba e Piedade [15].
Benedito Maciel de Oliveira Filho, atual presidente do Sorocaba Club, nativo de Piedade e conhecedor de todos os caminhos que ligam aquela cidade á Sorocaba afirma que:
“A abertura da estrada que a interliga ao litoral se iniciou no final dos anos 50 do século XIX e se arrastou por mais de setenta anos. O exército a concluiu mas Celestino Américo, tenente da Guara Nacional, muito fez por essa abertura”. [18]ANTES DE 1900
Em 1893, durante a chamada Revolta da Armada, iniciada em 6 de Setembro, a região foi "notada" por integrantes de uma escolta das Forças Expedicionárias no Setor Sul que perseguia o ex-deputado constituinte, dr. Ferreira Braga (pai daquele que nomeia o Boulevarvd Braguinha), fato este que muitos sorocabanos ainda devem se lembrar. [12]
Um deles relata a existência de 3 caminhos desde 1880:
Nesse ano foi aberto um que descia pelo Rio Verde, que servia Pìedade e Pilar, o qual foi reaberto pelo governo do Estado em 1.892: entretanto, este, para servir a Piedade, fazia uma curva de mais de 10 quilômetros.
Outros dois já existiam, um de São Miguel Arcanjo ao Rio Assungui, que só era utilizado por caçadores, e outro que partindo do município de Itapecerica, passava por Jequitiba, ia à Prainha, atravessando os rios Juquiá e São Lourenço, e a Serra da Lagoinha, que se achava em completo abandono. [10]
A Carta illustrada da provincia de São Paulo, levantada sobre os estudos do engenheiro R. Habersham em 1875 (imagem 2), registra um caminho ligando Piedade ao rio São Lourenço. [9]
ANTES DE 1870
Em 29 de agosto de 1863 o engenheiro Guilherme Schuch de Capanema recebeu a ordem de examinar o caminho até fábrica em Ipanema e a própria fábrica [3]. Ele esteve aqui e foi a favor da abertura de uma estrada até Juquiá [4].
Após a apresentação do relatório do engenheiro, em 19 de agosto, "com o devido respeito vem perante v. ex. a câmara municipal da cidade de Sorocaba em nome de seus munícipes para bem do público, e porque assim praticando te consciência de cumprir o seu dever, representar e pedir providencias acerca da abertura da estrada, que se projeta construir da comarca de Itapetininga ao rio da Ribeira, conforme foi por v. ex. determinado baseando-se sem dúvida no relatório do engenheiro encarregado da exploração.
Esta câmara, exm. senhor, que conhece perfeitamente o quanto essa estrada pelo lugar indicado nesse relatório é desvantajosa para as povoações de Sorocaba, Itu, São Roque, Capivari, Pirapora, Porto Feliz, Piedade, Una e Campo Largo, e diremos mesmo para Itapetininga, Botucatu, Tatuí, São Domingos e Lençóis". [5]
Em 27 de agosto o presidente da província, Francisco Ignácio Marcondes Home de Melo responde a Câmara de Sorocaba afirmando ser “a favor da abertura da estrada das Sete Barras (...)”. [6]
Em 3 de setembro um ofício dirigido á câmara municipal de Sorocaba “cobrindo três contratos, por cópia, para a fatura de diversas obras nesse município, sendo um com Antonio Pereira de Camargo para a construção da ponte sobre o rio Sorocaba no bairro do Itavuvu pela quantia de 1:860$000 (...)” [7]
EXISTIA UM CAMINHO: O relatório de Guilherme Schuch de Capanema
"Foi-me recomendado o exame da estrada que se havia projetado para um porto de embarque no rio Juquiá, afluente da ribeira do Iguape: as notícias que achei acerca desta estrada davam a distância entre Ypanema e o referido porto de nove até dezesseis léguas.
Como eu não conhecia o rumo em que ficava o porto em questão, resolvi seguir por qualquer caminho que para lá conduzisse, calcular a posição astronômica e dai deduzir a distância e a direção á fábrica.
Informei-me dos habitantes do lugar se havia meio de transitar com os meus instrumentos geodésicos, afirmaram-me que havia estrada pela qual passavam animais carregados, boiadas, etc.; além disso tive notícia que posteriormente a 1859 se havia gasto 14:000$00 rs. com ela.
Segui para o sul, e afastando apenas 1/3 de légua do meridiano de Ypanema, cheguei á Fazenda do Taboleiro é margem do rio Sarapuhy: ela já é situada sobre terreno granítico, distando em linha reta 4 3/4 de légua da fábrica, e dentro da orla da mata que acima mencionei quando indiquei a necessidade de uma estrada até ai, para abastecimento de combustível.
Continuei ainda no mesmo rumo atravessando a serra de São Francisco, que é fácil de transpor, com declive suave; ela separa a região fluvial que deságua para o Tietê daquela do rio Turvo que corre para o Paranapanema.
Atravessando esse rio até um seu afluente, o Rio Bonito, ainda avancei em direção ao sul 3 1/2 léguas, e perto de duas para leste quase todo o caminho atravessa a mata virgem, por isso não pude avaliar se todas as subidas, das quais algumas bem íngremes e as descidas opostas, podiam ser evitadas, como acontece a muitas delas.
Já uma légua, antes de chegar ao Rio Bonito, viajei pela nova estrada em terras inteiramente desabitadas, tanto que tive de arranchar ao relento. Esta estrada é uma derrubada em mato virgem, com 60 palmos de largura, bem destocada na maior parte de sua extensão; infelizmente são algumas léguas de serviço perdido, porque a direção vária a cada passo, a ponto de desandas ás vezes caminho feito.
Não ha motivo algum que justifique esta irregularidade, porque colinas perfeitamente rodeáveis, são atravessadas com notável afouteza; outras, cujas faldas permitiriam ascensão com declive muito branco, sobe-se perpendicularmente ao seu espigão. Em alguns lugares busca-se uma crista, abaixo da qual se avistam á direita e esquerda as mais altas copas de árvores; do lado oposto encontra-se para descida verdadeiros despenhadeiros.
Já se vê, que além da má direção, não houve escolha alguma do mais vantajoso terreno. Do Rio Bonito avancei até a tapéra do Caetano com quase três léguas para leste e 5/6 para o sul; o caminho é sempre através de mato virgem, e os últimos 3/4 de légua já pertencendo á vertentes do Rio Verde que desaguá para o Juquiá, formam um só atoleiro, a ponto que no último quarto de légua foi preciso deixar as malas dos instrumentos e conduzir estes em costas dos negros, porque era preciso atravessar terrenos alagadiços, que se teriam evitado se a estrada acompanhasse a falda de uma montanha na margem oposta do rio". [4]
Se essa estrada "chegou até aqui, melhor parar por aqui"! É quase certo que ela é a mesma registrada desde 1532, mas isso é outra longa História... |