Beda Krusf, na aula inaugural, por ocasião da solene abertura dos Cursos da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Sorocaba, em 7 de março de 1954, proferiu as seguintes palavras:
"A vila de Sorocaba foi fundada no lugar denominado Itavovú, onde em 1654 já existia feito vila por despacho de D. Francisco de Souza, Governador desta Capitania. O lugar onde se acha a cidade, era da Sesmaria do Balthazar Fernandes.
E desejando este mudar a vila para aqui, onde já tinha construído uma Igreja a Nossa Senhora da Ponte que depois ficou sendo de São Bento e existindo já alguns moradores, fez neste sentido a competente petição.
É, pois, motivo justo estarmos reunidos em jubilosa solenidade para comemorarmos, condignamente, a existência tricentenária desta cidade, iniciada e construída sob a divisa dos monges de São Bento: "ora et labora". Em nome, e como filho, embora indigno, de São Bento, apresentamos a todos os Sorocabanos votos congratulatórios, implorando as bênçãos de Deus e da Santíssima Virgem para a felicidade temporal e sobrenatural de todos." [13]
BALTHAZAR NÃO FUNDOU
Em conformidade com Beda Krusf, a historiadora Sonia Nancy Paes diz que "o documento oficial mais antigo de Sorocaba é o testamento de Isabel de Proença, segunda esposa do fundador de Sorocaba, Baltasar Fernandes. A data de fundação da cidade é de 1654 justamente pela data de registro desse testamento. Se o testamento do próprio Baltasar Fernandes fosse encontrado talvez mudasse a história da cidade". [17]
Sendo assim, trata-se de um erro! Além do testamento de Isabel Proença registrar "sorocabua" e "sorocava", o verdadeiro fundador de Sorocaba deveria ser Diogo de Onhate, "um homem que tinha oito filhos e levou muitas frechadas na defesa das terras da Coroa, ficando manco e aleijado do braço esquerdo".
Até recentemente era desconhecido, ou despercebido, por Historiadores, fixado na "capa" deste grupo, um documento datado de 7 de março de 1608 registra “terras de Diogo de Onhate próximas ao rio Nharbobon Sorocaba e sendo caso que do rio Pirayibig para a banda do campo não houver a légua de matos (...)”. [3]
Nharbobon ou Nharybobõ, na língua nativa, significa "ponte". Mas isso, e Diogo de Onhate, são temas para outros momentos...
MAIS VELHA, E TALVEZ MUITO MAIS ANTIGA
D. Francisco de Souza chegou em Sorocaba em 3 de junho d 1599, ocasião de fundação de um povoado, onde levantou um pelourinho [1]. Em 19 de março de 1605 D. Francisco de Sousa é convocado à Espanha durante a sua ausência, os moradores do Vale das Furnas trasladaram-se para Itavuvu, às margens do rio Sorocaba, 2 léguas a nordeste de Araçoiaba e cêrca de meia légua a jusante da barra do rio Pirajibú, à sua margem direita [2].
Entre aqueles que confirmam esses escritos está Adolfo Frioli, cujas palavras são as que mais respeito, escreveu em 1997, na página 30 de “A idéia da cidade”:
"Quando D. Francisco retornou da Espanha, elevou este novo local com o nome de vila de São Filipe, em 21 de abril de 1611, em referência provável à administração hispano-portuguesa dos Reis Filipes, no período da União Ibérica das coroas." [4]
SILÊNCIO
A partir daí até a chegada mudança do Itavuvu para o centro da atual cidade "tudo é silêncio na História de Sorocaba", segundo as palavras de Aluísio de Almeida. Tanto o destino de D. Francisco de Souza quanto os acontecimentos até 1654, são ainda mistérios a serem desvendados.
Com certeza, em 12 de maio de 1611 D. Francisco está no Sertão [5], menos de um mês antes ele estaria no Itavuvu. Teria o 7° Governador-Geral do Brasil encontrado alí o seu destino?
Alguns poucos autores dizem que os empreendimentos de D. Francisco em Sorocaba terminaram em 1612 [8]. Outros que parte dos metalúrgicos voltou para São Paulo e outra parcela continuou mantendo a fábrica, que produziu até 1615 e um terceiro grupo mudou-se para uma região melhor, às margens do Rio Sorocaba, conhecida então como Itavuvu, cerca de 12 quilômetros a leste do Araçoiaba. [6]
Sendo o "período do silêncio", neste ponto é conveniente e necessário perguntar se Balthazar Fernandes não partiu de Santa Ana de Parnaíba para Sorocaba, mas do bairro Itavuvu, local onde e talvez sempre esteve? Alguns registros me dão a certeza que desde 1609 ele estava numa canoa no Rio Sorocaba, e:
1° - Aluísio de Almeida supõe que sim! Segundo ele, além "de ter feições castelhanas (pele morena), a imagem trazida por Balthazar em 1654 podia ser a Nossa Senhora de Montesserrate, orago do Ipanema, ou outra do próprio Balthazar e é provavel que já se chamasse Nossa Senhora da Ponte antes da mudança do pelourinho para o atual lugar, pois o Itavuvu é à beira-rio e tinha provavelmente a primeira ponte". [13]
2° - Em 23 de setembro de 1619 André, irmão de Balthazar, obteve para si uma sesmaria onde havia encontrado ouro e Balthazar obteve sesmaria num "Porto de Canoas". [7]
3° - Segundo João Monteiro Salazar, foi em 1620 que os habitantes se retiraram para o Itavuvu [8]. Em 6 de janeiro desse ano, em carta que dirigiram ao donatário, afirmavam os mineradores, aos juízes e vereadores:
"que havia na serra de Araçoyaba, 25 léguas daqui para o sertão, em terra mais larga e abastada, e perto dali com três léguas está a Cahatyba (Bacaetava) de onde se tirou o primeiro ouro e desde ali ao Norte haverá 60 léguas das cordilheiras de terra alta, que toda leva ouro principalmente a serra do Jaraguá, Nossa Senhora do Monserrata, a de Voturuna e outras" [9].
4° - Em 1628 uma grande comitiva conduzida por André Fernandes passou 30 dias num porto ainda não identificado pelos historiadores, construindo canoas. Sabe-se que viram moradores no Itavuvu e que D. Cespedes chamou o local de Nossa Senhora de Atocha, cuja imagem sacra é também chamada La Morenita. [10]
5° - Se, após 9 de dezembro de 1634, “Balthazar teria deixado definitivamente sua casa grande em Parnaíba”, onde esteve até 1654? Ano em que se estabelece em Sorocaba? [11]
6° - A imagem de Nossa Senhora da Ponte, que se encontra atualmente no Mosteiro de São Bento de Sorocaba, não é realmente aquela que foi trazida por Balthazar Fernandes e as "provas parecem surgir a esse respeito com certa facilidade". [16] |