9 de maio de 2011, segunda-feira Atualizado em 13/02/2025 06:42:31
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Uma viagem feita para a Europa em 1818 somente agora terá uma espécie de volta para casa. Levado para a Alemanha há dois séculos, o jovem botocudo Kuêk saiu de Minas Gerais com o príncipe alemão Maximilian Alexander Philipp Wied-Neuwied (1782-1867), que além dos afazeres monárquicos, atuou fortemente como naturalista e etnógrafo. Uma de suas expedições teve como destino o Brasil, onde chegou em 1815. Por dois anos, Wied-Neuwied percorreu Minas, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Bahia. Ele chegou a morar entre índios que viviam às margens do Rio Jequitinhonha, onde fez amizade com muitos deles, especialmente com Kuêk.
O indígena teria ajudado o príncipe alemão a registrar costumes, língua e hábitos dos botocudos, além de colaborar na elaboração de dicionário da língua botocuda. Depois de 16 anos vivendo na Europa, o índio morreu vítima de alcoolismo.
Seu crânio serviu para experiências na Universidade de Bonn, na Alemanha, onde se encontrava em exposição até então. Reivindicados para devolução à tribo crenaque (oriunda do tronco dos botocudos), os restos mortais de Kuêk chegariam em maio de 2011 à cidade mineira de Jequitinhonha, a 677 quilômetros de Belo Horizonte, no Vale do Jequitinhonha, que vai comemorar seu bicentenário com conferências e debates a respeito. Os eventos ocorrerão entre sexta-feira e domingo.
"O trabalho científico do príncipe, que encontrou em Kuêk um colaborador fiel e fonte de inspiração, é a maior contribuição resultante do encontro entre os dois. Entretanto, nenhum deles deixou um depoimento pessoal sobre esse relacionamento. Um autor alemão que afirma em uma de suas obras que o botocudo não imaginava que não voltaria a rever seu país.
E se pergunta: ‘O que esperava encontrar na terra do príncipe? Teria sido para o príncipe somente uma espécie de ‘animal para experiências’ ou de fato tornara-se um amigo, um acompanhante, a quem devia ser dada uma nova existência?’. Nenhum dos dois deixou essas respostas", diz a curadora do evento, Solange Pereira.
O que ocorreu com o índio Kuêk, explica a professora Christina Rostworowski, autora da dissertação O príncipe Maximilian de Wied-Neuwied e sua viagem ao Brasil, não era algo comum no início dos anos 1800, mas tornou-se prática bastante difundida na segunda metade do mesmo século. "Os espetáculos envolvendo o que se convencionou chamar de ‘exótico’ não se restringiam aos índios, mas aos não-europeus de um modo geral. Além disso, houve também um interesse maior por parte das academias de ciência, fundadas principalmente na França, muitas das quais o próprio Maximilian Alexander fazia parte. Em relação a Kuêk, não há qualquer afirmação de Maximilian de algum propósito específico", analisa.
Fantasia
Kuêk morou no palácio do príncipe Maximilian Alexander Wied-Neuwied, na cidade alemã de Neuwied, onde recebia frequentes visitas de curiosos: pediam para que ele montasse arcos e flechas e agisse de acordo com o que era considerado "tipicamente indígena". Isso contribuiu para reforçar as concepções romantizadas oriundas de formulações e imagens da literatura de viagem, produzida durante os séculos de exploração colonial nas Américas. "Fortemente imbuídas de fantasias e lugares-comuns", acrescenta Christina Rostworowski, responsável por conferência sobre o tema dia 14, em Jequitinhonha. Além dela, também contribuirá para a discussão a pedagoga Geralda Soares, com o tema "Na trilha dos guerreiros boruns".
No dia seguinte, haverá na cidade a cerimônia de transferência dos restos mortais de Kuêk, envolvendo guarda de honra, autoridades alemãs e o prefeito Roberto Alcântara Botelho. Ele é que os entregará ao líder da nação crenaque, que dará prosseguimento com rituais próprios e demonstrações de canto e dança. Das diversas nações indígenas mineiras remanescentes das visitadas pelo príncipe Maximilian ao longo do Rio Jequitinhonha, ao menos seis estarão presentes: aranã, crenque, maxacali, mucurin, pancararu e pataxó.
Palavra de príncipe
O príncipe alemão Maximilian ficou três meses no Quartel dos Arcos, posto militar português instalado dentro das terras ocupadas pelos botocudos. Teve tempo de sobra para observar esse povo e, a respeito de sua constituição física, escreveu: "A natureza deu a esse povo uma constituição física muito boa (...) são em sua maioria de estatura média, alguns poucos alcançam uma altura considerável, e ao mesmo tempo são fortes, quase sempre de peito e ombros largos, carnudos e musculosos, mas mesmo assim são bem proporcionados e as mãos e os pés são delicados. (...) Seus cabelos são pretos como carvão. (...)".
Questão de nome
Segundo a pedagoga Geralda Soares, que fará conferência no evento, no período colonial os borun (nome que significaria "homem verdadeiro") foram chamados de tapuia. Já o nome aimoré foi dado pelos povos tupi, habitantes do litoral com quem os boruns guerreavam, e pode ter vários significados. No fim do século 18, foi cunhada a forma discriminatória botocudo (batoque, em Portugal, é a rolha com que se fecha o barril de cachaça). A partir do século 19, os boruns passaram a se autodenominar engrecmuns no Vale do Mucuri – a denominação significava algo como "nômade, andarilho, que tem gosto pelo caminhar". Por fim, borun é o nome com que voltaram a se identificar até hoje.
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