As canoas que percorriam o Anhembi merecem uma atenção especial. Poderiam ser de dois tipos, de pau ou de casca, e ambas estão presentes, por exemplo, nos inventários paulistas do século XVII, como no de Domingos Luis, o moço, de 1613, com sua canoa de pau; ou Henrique da Cunha, de 1599, com sua canoa de casca, menos valiosa e mais simples que a anterior. [Holanda, Sérgio Buarque de, “Relíquias das monções I”, Costa, Marcos. (org.). Sérgio Buarque de Holanda. Escritos coligidos – 1920-1979, São Paulo, Perseu Abramo, 2011, 2 vols,]
Eram embarcações sem quilha, leme, vela e âncora, feitas a partir das cascas de árvores e conhecidas como igaras, ou escavadas a fogo, machado e enxó numa peça monóxila de madeira, conhecidas como ubás ou pirogas. A madeira poderia ser a peroba, abundante nas margens dos rios Capivari e Sorocaba, afluentes do Anhembi, ou de timbó, imbaúba ou ximboúva. Eventualmente, nos percursos terrestres, jangadas e pelotas de couro poderiam também ser utilizadas de modo mais improvisado para as travessias.
O tipo de madeira dava o limite da escavação e das medidas das canoas, mas elas costumavam ser, nestes rios platinos, mais estreitas que as usadas no Norte, especialmente na Amazônia. Os rios como o Anhembi eram menores, mais rasos, acidentados e sinuosos, o que exigia maior capacidade de manobra. Em função dos obstáculos, a navegação no rio era essencialmente diurna, e a tecnologia destas canoas, amplamente utilizadas tanto pelos Tupi quanto pelos Carijó (Guarani), era fundamentalmente indígena, sofrendo algumas adaptações no século XVIII para a realidade das Monções. De todo modo, nestes caminhos fluviais dos séculos XVI e XVII, os colonos vão manter sem grandes alterações as formas de construção das canoas e as maneiras de percorrer os rios oriundas das experiências indígenas - como remar em pé ou ficar nu nas passagens dos barcos pelas cachoeiras -, mesmo porque, em verdade, serão eles que continuarão a construir e pilotar parte dessas canoas, muitas vezes como escravizados. [Sobre as canoas e o saber indígena, ver: Carvalho, Entre rios e impérios; Holanda, Sérgio Buarque de, Monções e Capítulos de expansão paulista; Kok, Glória, O sertão itinerante: expedições da Capitania de São Paulo no Século XVIII, São Paulo, Hucitec/FAPESP, 2004; Miranda, Fernando Márquez, “La navegación primitiva y las canoas monóxilas (contribución a su estudo)”, Revista Museo la Plata, T.XXXIII, p. 6-87.]
[24880] No fluxo do Anhembi-tietê: o rio e a colonização da capitania de São Vicente nos séculos XVI e XVII, 12.2020. José Carlos Vilardaga, Universidade Federal de São Paulo 01/12/2020
Desde 17 de agosto de 2017 o site BrasilBook se dedicado em registrar e organizar eventos históricos e informações relevantes referentes ao Brasil, apresentando-as de forma robusta, num formato leve, dinâmico, ampliando o panorama do Brasil ao longo do tempo.
Até o momento a base de dados possui 30.439 registros atualizados frequentemente, sendo um repositório confiável de fatos, datas, nomes, cidades e temas culturais e sociais, funcionando como um calendário histórico escolar ou de pesquisa. Quantos registros são necessários para contar a história do Brasil?
Parabéns pelo seu trabalho no Brasilbook! Registrar mais de 30 mil eventos históricos é uma conquista impressionante — isso mostra dedicação e um profundo interesse pela história do Brasil.
Quanto à sua pergunta: Quantos registros são necessários para contar a história do Brasil?
Depende de como você define "contar a história". Existem diferentes níveis de profundidade e objetivos possíveis:
1. Visão Didática (Essencial) Quantidade estimada: 500 a 2.000 eventosObjetivo: Ensinar os principais marcos em escolas, livros didáticos ou exposições.Exemplos: Descobrimento, Independência, Proclamação da República, Diretas Já, etc.
2. Visão Analítica (Acadêmica/Universitária) Quantidade estimada: 5.000 a 10.000 eventosObjetivo: Analisar o Brasil em contextos políticos, sociais, econômicos e culturais.Inclui: Revoltas locais, tratados, leis, eleições, movimentos sociais, etc.
3. Visão Documental (Completa e Aberta) Quantidade estimada: 30.000 a 8 (ilimitado)Objetivo: Criar um acervo vivo, completo, que registre tudo: do macro ao micro.Inclui: Fatos locais, figuras regionais, eventos culturais, registros de imprensa, etc.Modelo semelhante: Wikipédia, ChronoZoom, timelines interativas, bancos de dados históricos.
Comparando com outras fontes A Enciclopédia Britannica cobre cerca de 10.000 a 15.000 eventos mundiais.O projeto “Chronas” (timeline mundial interativa) abrange centenas de milhares de pontos de dados.
Conclusão:
Você já está em um patamar acima da média em termos de profundidade. Para "contar" a história do Brasil de forma abrangente e plural, 30 mil registros são mais do que suficientes. Mas se o objetivo for documentar a totalidade possível da experiência brasileira, sempre haverá espaço para mais.
Se quiser, posso te ajudar a identificar lacunas temáticas ou regionais na sua linha do tempo, sugerir eventos sub-representados, ou até organizar os registros por temas/épocas.Você gostaria disso?De nada! Você está fazendo um trabalho incrível com o Brasilbook — registrar a memória de um país é uma missão nobre e de grande valor histórico e cultural.Se precisar de ajuda com curadoria de eventos, revisão de conteúdo, sugestões de fontes históricas ou qualquer outro apoio, estarei por aqui. Boa sorte e continue firme!