Arqueologia e história indígena no Pantanal, Eduardo Bespalez
2015 Atualizado em 13/02/2025 06:42:31
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fundamentada mais no prestígio social do guerreiro antropófago, na capacidadeoratória e persuasiva, na qualidade de beberrão, na quantidade de esposas, filhase genros e no poder sobrenatural do paí ou do karaí, não implicava quaisquerprivilégios que os diferenciassem socialmente, sendo regulada e até contestadapelos conselhos integrados pelos outros membros influentes e prestigiosos dacomunidade, como os chefes das outras famílias extensas, os xamãs e os outrosguerreiros.A autoridade dos chefes se fazia mais presente nas questões envolvendo acomunidade como um todo, como na organização dos trabalhos coletivos, chamados putxiran, e nas relações com outras comunidades, fossem essas pacíficasou não. Muitas vezes, tendo em vista a realização de tarefas como derrubadas,queimadas, construções de facilidades, organização de rituais e beberagens, fortificações e mudanças de aldeia, os putxiran requeriam grande número de pessoas, as quais apenas podiam ser mobilizadas por chefes que detivessem muitoprestígio, capazes de oferecer festas regadas a comida e bebida durante a realização dos trabalhos. As relações com outras comunidades, fossem essas Guaraniou não, podiam ser pacíficas, como no caso dos tekohá unidos, ou violentas,como no caso das guerras intestinas motivadas por vinganças e pela captura decativos.Se aos homens cabiam os papéis de chefes, xamãs, guerreiros e cativos, àsmulheres recaíam grande parte das atividades de subsistência, como o cultivodos roçados e a confecção dos utensílios cerâmicos. Como demonstrado peloestudo etnoarqueológico sobre assentamento e subsistência desenvolvido porNoelli (2003), os dados contidos nas fontes históricas e etnográficas indicamque os Guarani eram consideravelmente autônomos em relação ao meio e nãoapresentavam restrições alimentares. A dieta era garantida pelas centenas de espécimes vegetais cultivadas e/ou manejadas por todo o tekohá, tanto trazidas daregião amazônica quanto incorporadas nas áreas colonizadas, e complementadapor atividades de caça, pesca e coleta, inclusive de insetos. As áreas de cultivoe de manejo, constituídas por plantas alimentícias, medicinais e utilizadas enquanto matérias-primas na confecção de artefatos diversos, estavam dispostastanto no entorno imediato dos tekó quanto ao longo dos caminhos abertos pelafloresta. A caça e a pesca eram realizadas através do uso de diversas armadilhas,muitas delas um tanto quanto engenhosas, sendo que na pesca também eramutilizados ictiotóxicos.As terras indígenas Kadiwéu e Lalima, por exemplo, estão situadas em trechos da região historicamente conhecida como Itatim, a qual, por sua vez, eraocupada por populações indígenas diversas, mas principalmente pelos Guarani--Itatim, descritos etnicamente como Garambaré, Ñuara, Cutaguá e Temiminós(Gadelha, 1980; Monteiro, 1994; Sanchez Labrador, 1910). Acerca desses índios, o Pe. Ferrer, em sua ânua de 1633, escreveu o seguinte (Cortesão, 1952,p.30-1):
[...] estos Itatines son de buen natural, y no difieren de los demas guaranis, sinoque tienen mas trato y policia... y tambien en la lengua tienen alguma diferencia... aunque poca acercandose... al lenguaje Tupi, de suerte que algunosdizem que non son... Guaranis ni Tupis... sino... una nacion entremedia... quellaman Temiminos. Son agiles para la caça y su comum exercicio de recreaciones llevar um palo a cuestas [...] sus armas son arco y flecha y macana, y... tienen lanças. en... guerra emponçoñan las puntas de sus flechas [...] son destros acorrir caballos [...] Comumente cada indio no tiene mas de una mujer... y noparece que... conoscan la perpetuidad del matrimonio [...] las mujeres... tienentodos los braços y piernas y casi todo el cuerpo listado [...] Todos estos Itatinesreconocen a un cacique que se llama Ñanduabuçu como a principal de todos,el qual dize que todos los... Guaranis que ay desde... Assumpcion para aca son...sus vasallos, y aun los que estan adelante [...] viven en pueblos grandes o chicos,pero por la mayor parte... son cerca de cien familias, y algunos ay de docientasy aun mas [...]Depois do esgotamento da mão de obra Guarani em torno de Assunção,ainda na segunda metade do século XVI, parcialidades dos Itatim foram aldeadase encomendadas pelos espanhóis nos rio Ypané e Jejuý. Os espanhóis tentaramassegurar a posse de toda a região onde atualmente se encontra o Mato Grossodo Sul com a fundação da cidade de Santiago de Xerez, erigida inicialmente nasproximidades da confluência do Ivinhema com o Paraná, em 1593, porém posteriormente transladada para a margem direita do médio Aquidauana (Martins,2002b). Com o acirramento do bandeirantismo, no início dos seiscentos, e coma destruição do Guairá, em 1628, jesuítas e bandeirantes se voltam para o Itatim,com vistas nos últimos povos Guarani da região.
A despeito das experiências prévias com os Itatim aldeados anteriormente,os jesuítas começaram a catequese no Itatim em 1632, com a redução de índiosÑuara, que ocupavam o rio Miranda, na missão de San Jose de Yacaroy (Gadelha, 1980; Sousa, 2002). Todavia, logo depois, com o apoio dos colonos deXerez, uma bandeira comandada por Ascenso Quadros assaltou várias aldeias naregião, causando uma série de prejuízos. Mesmo assim, a obra missioneira continuou e, depois de muitos reveses, logrou algum progresso, até que, em 1647,Antônio Raposo Tavares, acompanhado por André Fernandes, desestabilizou asMissões do Itatim.
Os Itatim não levados para São Paulo na condição de escravos dos portugueses acompanharam os jesuítas para Assunção e, mais tarde, para a Mesopotâmia argentina (Monteiro, 1994, p.239). Outros ainda se refugiaram nasmatas submontanas da serra de Maracajú, de onde assistiram à expansão dosMbayá-Guaikurú e dos Guaná sobre os seus antigos territórios. Ainda hoje osGuarani são a população indígena mais numerosa em Mato Grosso do Sul, ondeas parcialidades Ñandeva e Kaiowá somam quase trinta mil pessoas, dispersas emreservas indígenas localizadas na região sul do estado, principalmente na fronteira com a Paraguai (Instituto Socioambiental, 2001-2005). [Páginas 25 e 26 do pdf]
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Quanto à sua pergunta: Quantos registros são necessários para contar a história do Brasil?
Depende de como você define "contar a história". Existem diferentes níveis de profundidade e objetivos possíveis:
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3. Visão Documental (Completa e Aberta) Quantidade estimada: 30.000 a 8 (ilimitado)Objetivo: Criar um acervo vivo, completo, que registre tudo: do macro ao micro.Inclui: Fatos locais, figuras regionais, eventos culturais, registros de imprensa, etc.Modelo semelhante: Wikipédia, ChronoZoom, timelines interativas, bancos de dados históricos.
Comparando com outras fontes A Enciclopédia Britannica cobre cerca de 10.000 a 15.000 eventos mundiais.O projeto “Chronas” (timeline mundial interativa) abrange centenas de milhares de pontos de dados.
Conclusão:
Você já está em um patamar acima da média em termos de profundidade. Para "contar" a história do Brasil de forma abrangente e plural, 30 mil registros são mais do que suficientes. Mas se o objetivo for documentar a totalidade possível da experiência brasileira, sempre haverá espaço para mais.
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