Assim, em 1915, uma nota publicada no Cruzeiro do Sul, se indagava sobre o homemmoderno:Que é o homem moderno?Um arremesso, uma disparada, um flecha, em direcção do dinheiro, da famaou do luxo. O próprio prazer, mesmo na sua accepção inferior, mas real,deixou de ser um grande estímulo á vida. O que caracterisa o mundomoderno é a máxima preponderância da vida exterior. O homem vive fora desi mesmo. O homem é o salão, é o jornal, é a usina, é o theatro, é a rua, sónão é elle próprio; só não é a sua própria alma.A vida moderna consiste em precipitar-se no mundo, não como os rios quevão levando as imagens do céo e as paisagens do caminho, mas como o raiocego que nada vê, nada escuta, nada reflete.Há homens que desperdiçam uma existência afanosa e chegam ao fim dellasem ter realisado um ceitil de sua alma. Na sua pressa delirante, estiveramparados.81
Essa parte inferior que era "coisa", porque escrava, ou que era tratada como bicho, como nós tratamos gente camponesa, a gente que está por baixo, a gente miserável, essa gente que estava por baixo, foi despossuída da capacidade de ver, de entender o mundo. Porque se criou uma cultura erudita dos sábios, e se passou a chamar cultura vulgar a cultura que há nessa massa de gente.
Data: 01/11/1977 Fonte: José Viana de Oliveira Paula entrevista Darcy Ribeiro (1922-1997)*