O outro ramal saía de São Vicente, passando pela serra de Paranapicaba, subindo
pela Piaçaguera de cima, até alcançar o planalto de Piratininga, num trajeto proposto pelo engenheiro Bierrembach de Lima (Fig. 5, no último capítulo). Este caminho é apenas citado no Diário de Pero Lopes, quando relata sobre um grupo de portugueses que Martim Afonso deixara no planalto, em vista da instalação de uma povoação.
Chamado de Trilha dos Tupiniquins tal rota apresentava muitos riscos, pois, como escreveu Vasconcelos, “os Tamoios contrários, que habitavam sobre o rio Paraíba, neste lugar vinham esperar os caminhantes de uma e outra parte, e os roubavam e cativavam e comiam”229. Com o tempo foi abandonado, quando se abriu o Caminho Novo ou o Caminho do Pe. José, que se tornou a comunicação mais utilizada para o planalto.
A partir de Piratininga, o caminho alcançaria a rota-tronco na divisa do Paraná,
provavelmente na altura da atual Itararé. Foi por esta rota que o Pe. Nóbrega deve ter alcançado Maniçoba, na divisa entre Paraná e São Paulo, onde realizou trabalhos missionários, como se verá mais à frente.
Este trajeto deve ter sido usado pelos Carijó, quando alcançaram Piratininga, ao
tentar atacar os moradores de São Vicente, pois fala-se que haviam se confrontado com as aldeias do rio Grande [Tietê] [NOBREGA, Carta a Tomé de Sousa, 1559 (CN, p. 217).]. Foi também por esta rota que atingiram os paulistas as
reduções jesuíticas do Guairá, no século XVII, levando-as à destruição231.
Havia mais dois ramais que corriam paralelos aos rios Tietê e Paranapanema,
encontrando-se com a rota-tronco na altura da antiga povoação paraguaia de Vila Rica, na
região central do Paraná, como sugerem Chmyz & Maack
232
.
O ramal do Paranapanema levava à região do Itatim, no atual Mato Grosso do Sul,
costeando a direita do rio, caminho feito pela tropa de Antônio Pereira de Azevedo, que fez
parte da grande expedição de Raposo Tavares, em 1647, e não pelo ramal do Tietê, como
sugere Cortesão233. Isto pela simples razão de que os caminhos indígenas costumavam ser
em linha reta. Parece ser a mesma rota que foi localizada numa documentação do
governador Morgado de Mateus e que apresenta um itinerário mais detalhado:
Eu tenho um mappa antigo, em q’ se ve o rot.o
[roteiro] de hum
cam.
o [caminho] q’ seguião os antigos Paulistas, o qual saindo de
S. Paulo p.a Sorocaba, vay dahy a Fazenda de Wutucatú q’ foy
dos P.es desta S. Miguel [Missão de S. Miguel] junto do
Paranapanema, q’ hoje se achão destruido, dahy costiando o R.o
[rio] p.
la esquerda, se hia a Encarnação [redução jesuítica à
beira do Tibagi], a St.o X.er [redução S.Francisco Xavier, no
médio Tibagi] e a St.o Ignácio [redução no Paranapanema] e
desde o salto das Canoas, emté a barra deste rio gastavão 20
dias, dahy entrando no [rio] Paraná, navegavão o R.o Avinhema,
ou das três barras, e subindo por elle emté perto das suas
vertentes, tornavão a largar as canoas, e atravessavão por terra
as vargens de Vacaria [no atual Mato Grosso do Sul]
234. [Páginas 60, 62 e 63]
O primeiro porto fluvial que se tem notícia, na região, foi o denominado Peaçaba ou Piaçaguera, no rio Mogi. Exatamente nesse ponto, em 1532, Martim Afonso se encontrou com João Ramalho para subirem a serra do Cubatão. Ramalho serviu de guia e língua da terra nesse episódio. Posteriormente o porto que teve seu movimento intensificado, a partir de 1560, foi o porto das Almadias.