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1576
Dom Sebastião, o Adormecido (1554-1578)
1578
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53
¨ RASUL

D. Sebastião envia ao embaixador em Madrid indicações para que este fizesse uma solicitação a Filipe II
01/05/1578
1 fontes

1° fonte: A ESTRADA PARA ALCÁCER QUIBIR. Universidade Nova de Lisboa. Faculdade de Ciências Sociais e Humanas. Mestrado em História do Império Português (data da consulta)
Independentemente do reforço espanhol (ou da ausência deste), D. Sebastião contrata mercenários alemães e italianos, ainda que não tenham sido conseguidos os efectivos desejados (pretendia o rei a contratação de 3000 de cada uma destas nacionalidades; mais tarde dará ordens para se conseguir o concurso de mais 2000 soldados espanhois) e no capítulo da logística, mandara o rei adquirir munições em Espanha e pólvora em Itália.

Já próximo do desfecho deste capítulo da história, mostra-se o rei preocupado com o segredo da operação, enviando ao embaixador em Madrid indicações para que este solicitasse a Filipe II “o encerramento dos portos de Peñon e Melilha a fim de por ali não passarem notícias para Molei Moluco” – também aqui, não consta que o monarca espanhol tenha dado algum passo no sentido de satisfazer as pretensões do sobrinho. Não é certo que a medida fosse eficaz (do ponto de vista da finalidade – negar informações ao inimigo), mas é mais um indicador da postura do rei vizinho relativamente ao auxílio à aventura do rei português.

E no capítulo das informações, é sabido que o rei mantinha constante a pressão de pesquisa86. Também não se tem por certo que as fontes fossem as mais fiáveis, mas o que importa – para efeitos da presente tese – era o que chegava aos olhos e aos ouvidos de D. Sebastião, e que essas informações o encorajavam a desenhar o mais favorável dos cenários. Tudo apontava para um inimigo desgastado e disperso, e as notícias da impossibilidade de ser reforçado só animavam ainda mais um rei cada vez mais propenso a acreditar numa campanha fácil.

Reúne o rei uma frota das maiores até então vistas87 para o embarque da força combatente e do apoio logístico entendido como necessário (mais um sinal de que a expedição não era um acto de um qualquer tresloucado, mas sim de alguém que...[p. 83]






Partiram de Lisboa
24/06/1578
3 fontes

1° fonte: Anais de História de Além-Mar, 2010. José Carlos Vilardaga
Já o nosso Francisco, o neto, acompanhou a armada de Dom Sebastião na malfadada batalha de Alcácer-Quibir na conquista do Marrocos, comandando um dos galeões da armada real, cujo almirante era seu tio D. Diogo de Souza.



2° fonte: Batalha de Alcácer-Quibir e o mito do sebastianismo. ensinarhistoria.com.br
Os preparativos da guerra

Começou-se a preparar uma grande armada, acompanhada de uma mobilização geral de homens de armas por todo país. Em 24 de junho de 1578, os 500 navios da armada portuguesa deixaram Lisboa rumo à África desembarcando em Tânger.

Era um exército composto por cerca de 15 mil a 23 mil homens, incluindo nobres, generais veteranos, mercenários e aventureiros alemães, castelhanos, holandeses e italianos. A maioria dos soldados era inexperiente, mal preparada e com pouca coesão. O exército estava equipado com 36 canhões.

A gravidade do momento foi bem compreendida pelos marroquinos que proclamaram a jihad contra os portugueses. Vieram combatentes de várias regiões do mundo islâmico. Mosquetes e canhões foram adquiridos dos turcos e dos ingleses.

Três reis estavam envolvidos nesta batalha: D. Sebastião, de Portugal, seu aliado emir Mulei Mohammed, e o sultão Abu Maruane Abdal Malique (que as fontes portuguesas chamam de Mulei Maluco) que tomara o poder. Por esta razão, a batalha de Alcácer-Quibir é muitas vezes referida como a Batalha dos Três Reis.



3° fonte: A ESTRADA PARA ALCÁCER QUIBIR. Universidade Nova de Lisboa. Faculdade de Ciências Sociais e Humanas. Mestrado em História do Império Português (data da consulta)






Parte do exército português inicia o longo caminho terrestre até Alcácer Quibir
29/07/1578
1 fontes

1° fonte: Batalha de Alcácer-Quibir e o mito do sebastianismo. ensinarhistoria.com.br
A 29 de julho, parte do exército português inicia o longo caminho terrestre até Alcácer Quibir. Além das tropas, integrava o grupo engenheiros militares, pajens, criados, lacaios, escravos, carreteiros, cozinheiros e muitas mulheres e crianças. Carros e burros carregavam cevada, água, biscoito, munições, pólvora, roupas, ferramentas, caixotes de dinheiro etc. Segundo alguns cronistas, os não-combatentes eram mais numerosos que os combatentes.






Depois de dois dias caminhando em terreno difícil e sob o sol abrasador do verão africano, D. Sebastião reuniu o Conselho de Fidalgos e decidiu regressar ao ponto de partida para embarcar o exército e atacar por mar
01/08/1578
1 fontes

1° fonte: Batalha de Alcácer-Quibir e o mito do sebastianismo. ensinarhistoria.com.br
Depois de dois dias caminhando em terreno difícil e sob o sol abrasador do verão africano, D. Sebastião reuniu o Conselho de Fidalgos e decidiu regressar ao ponto de partida para embarcar o exército e atacar por mar. Mas era tarde demais para mudar os planos: os navios já tinham partido para o local combinado anteriormente. O exército retomou a penosa marcha pelo deserto.






Batalha de Kasr-el-Kebir (Alcacer-Kibir)
04/08/1578
6 fontes

1° fonte: Anais de História de Além-Mar, 2010. José Carlos Vilardaga
Já o nosso Francisco, o neto, acompanhou a armada de Dom Sebastião na malfadada batalha de Alcácer-Quibir na conquista do Marrocos, comandando um dos galeões da armada real, cujo almirante era seu tio D. Diogo de Souza.



2° fonte: A RESTAURAÇÃO PRODIGIOSA DE PORTUGAL. 1640-1668 JOÃO ANDRÉ DE ARAÚJO FARIA



3° fonte: Batalha de Alcácer-Quibir e o mito do sebastianismo. ensinarhistoria.com.br
A Batalha de Alcácer-Quibir

O confronto começou por volta das 10 horas da manhã do dia 4 de agosto de 1578, na planície de Alcácer-Quibir. O exército português estava esgotado pela fome, cansaço e calor.

As forças marroquinas eram muito mais numerosas reunindo entre 50 mil e 60 mil soldados. Possuíam 26 canhões de grande porte e melhor posicionados.

A artilharia marroquina infligiu pesadas perdas aos portugueses enquanto a cavalaria moura atacou na retaguarda. O ar ficou obscurecido pela poeira dos cavalos e a fumaça dos canhões.

Para agravar a situação, explodiram as reservas de pólvora transportadas pelos carros portugueses. O fogo propagando-se de barril em barril, e de carro em carro, provocou ainda mais desordem e debandada nas hostes de D. Sebastião.

Por volta das 4 horas da tarde, a derrota portuguesa era total em todas as frentes. D. Sebastião reuniu um grupo de sobreviventes para uma derradeira e inútil ofensiva. Mas acabou cercado pelos marroquinos. Recusando a rendição, D. Sebastião foi morto com um golpe de espada na cabeça. Os outros reis também morreram no combate.

O exército português foi esmagado. Dos 15 mil ou 23 mil soldados, estima-se que morreram 8 mil e 16 mil caíram prisioneiros. Menos de uma centena conseguiu fugir para contar a história da derrota. Do lado marroquino foram mortos 3 mil homens.

Muitos dos nobres prisioneiros de Alcácer-Quibir foram resgatados por ouro e prata, o que enfraqueceu o tesouro português. Os que não foram resgatados caíram escravizados ou converteram-se ao islamismo, de forma voluntária ou forçada, integrando-se à sociedade marroquina. Destes, muitos exerceram funções importantes nas obras públicas, no exército e na administração do Estado.



4° fonte: Sebastianismo: O mistério obscuro de Portugal. Por Canal História Ibérica
Segundo os relatos da batalha, Sebastião, lutando valentemente, com armadura formidável, se lançava em meio aos mouros, combatendo os muçulmanos em sua cruzada no norte africano. No entanto, o Rei, após horas de combate, simplesmente desapareceu. Os nobres com que ele combatia o perderam de vista e a formação, com o passar das horas, acabou por ruir.

Após o fim da batalha procuraram pelo cadáver do Rei, sem que, no entanto, ninguém o encontrasse. De fato, com dezenas de milhares corpos nus, após terem sido roubados, mutilados, decepados e dilacerados, era difícil a identificação do Rei, até porque, por mais que D. Sebastião fosse loiro, quase ruivo, em seu exército combatiam também milhares de alemães e belgas.

Até que, um dos guias portugueses encaminha o provável cadáver de D. Sebastião. Um cadáver irreconhecível. Os portugueses demoraram dois dias para conseguir localizar o corpo e após tanto tempo, o cadáver fedia e estava inchado a ponto de desfigurar completamente a pessoa quando (...) Além disso, o reconhecimento foi feito a noite, á luz de velas e após reconhecerem o rei, os nobres o colocaram numa esteira de madeira e o puseram do lado de fora da tenda, nu, da mesma forma como veio. Após isso, o corpo foi trasladado para Ceuta e depois para Lisboa, onde foi finalmente sepultado.

Existem muitas teorias de qual forma faleceu D. Sebastião, numa delas, o Rei teria se entregado, mas dado que os marroquinos queriam espoliar o ouro de sua armadura, acabaram por despir o Rei, e sendo o Rei extremamente casto e beato, não permitiria que ninguém o despisse e acabou resistindo e foi acidentalmente morto pelos marroquinos.

Em outra teoria o Rei teria se rendido e com grupos mouros disputando quem o tinha prendido, acabaram o matando. Mas o fato é que ninguém ao certo viu como o Rei morreu. Segundo José Hermano Saraiva, isso dava em decorrência de que, dizer que viu o Rei morrer, sem fazer nada e sem morrer com ele, era uma desonra, assim os nobres preferiam dizer que não o teriam visto morrer.

Mas, haviam 3 testemunhas que afirmavam também que o viram partir do campo de batalha: Luiz de Brito, Jorge de Albuquerque e Sebastião Figueira.

Luiz de Brito afirmou que no final da batalha viu o Rei saindo do campo de batalha sozinho, sem ninguém o seguindo, dirigindo-se na direção do rio, uma direção bem diferente do lugar onde depois foi encontrado o cadáver. E está terá sido a última vez que o viu. Essa também foi a versão de Jorge de Albuquerque. Já Sebastião Figueira disse que acompanhou o Rei quando saiu do campo de batalha, mas o deixou de ver, o Rei tinha desaparecido. Assim o Rei não teria morrido em Alcácer-Quibir.



5° fonte: Maomé Mutavaquil, consulta em Wikipedia
Abu Abedalá Maomé Almotauaquil (Abu Abd Allah Mohammed al-Mutawwakil; Alcácer-Quibir, 4 de agosto de 1548), melhor conhecido como Maomé Mutavaquil,[1] Mutauaquil,[2] ou Almotauaquil[3] e ainda alcunhado de o Esfolado depois da sua morte,[4] foi o quarto sultão do Sultanato Saadiano do Magrebe, onde reinou de 1574 a 1576. Era o filho de Abedalá Algalibe (r. 1557–1574), a quem sucedeu, mas seu breve reinado foi interrompido por sua deposição por seu sobrinho Mulei Maluco (r. 1576–1578), vindo de Istambul, a capital do Império Otomano. Mutavaquil esteve presente na Batalha de Alcácer-Quibir de 4 de agosto de 1548 ao lado das tropas do rei Sebastião I de Portugal (r. 1557–1578) contra Mulei Maluco. Se afogou nas águas do rio Mocazim durante a batalha e o seu corpo foi recuperado por Mulei Maluco, que ordenou que fosse esfolado, razão pela qual foi alcunhado, e suas partes fossem expostas em Marraquexe.[5]



6° fonte: A ESTRADA PARA ALCÁCER QUIBIR. Universidade Nova de Lisboa. Faculdade de Ciências Sociais e Humanas. Mestrado em História do Império Português (data da consulta)
Juntemos a isso o nome local do sítio que na época conheceu a batalha: Tamda100, que é, ainda que autêntico, raramente utilizado. As causas para esta dualidade de análise encontramo-las em diferentes factores:

A – A influência dos escritos e circunstâncias que acompanharam e seguiram a batalha até aos nossos dias: os marroquinos (os antigos cronistas e os historiadores tradicionais) consideraram a batalha como um milagre, uma grande vitória santa contra o inimigo infiel. Eles deram-lhe um cariz religioso, e o Estado Saadida soube aproveitar para consolidar a sua posição contra os seus inimigos a nível local e internacional101.

Os cronistas marroquinos atribuíram milagres “karamats102” a esta batalha103 que eles comparam à grande batalha de “Ghazouat Badr” da época do profeta104. O espírito religioso dominava, portanto, os escritos pois os marroquinos consideravam esta batalha como uma continuidade das guerras que opunham muçulmanos a cristãos durante séculos.

A batalha, por conseguinte, pôs fim a este perigo que ameaçava, não só a sua existência, mas sobretudo a sua religião. Encontramos os ecos deste pensar mesmo em escritos contemporâneos e recentes. Os investigadores portugueses negligenciaram este espírito que animava os marroquinos à época desta batalha.

Abdelmaleque não conseguiu acabar com Almoutawakil depois de mais de 24 batalhas. Entretanto, desde que este pedira ajuda aos cristãos, e depois da vinda do rei de Portugal, em pessoa, a Marrocos, com um exército enorme, ele pode reunir a seu lado todos os marroquinos.

Estes últimos sentiram que não se tratava apenas de um conflito entre pretendentes ao trono, mas do destino de toda uma nação. Aliás, a noção de nação e nacionalismo era frequentemente ligada à pertença ao país do Islão e à religião muçulmana, e dirigida contra os cristãos, que eram os ocupantes (espanhois, portugueses, franceses). Recordemos que Marrocos nunca conheceu ocupação turca. Sidi Moussa, um marroquino que vivia em Portugal no séc. XVI, bem tinha aconselhado o rei Sebastião para não vir em pessoa a Marrocos.

Isso daria a impressão de uma vinda para ocupar o país e influenciaria as gentes para se porem ao lado de Abdelmalkeque. Segundo ele, bastaria enviar um comandante português com quatro ou cinco mil soldados para vencer a campanha. Sabendo que Marrocos é muito vasto e sub-povoado, e para o ocupar nem duas torrentes de homens e de dinheiro não chegariam…105.

Mas este espírito e esta forma de ver a batalha dominavam também os estudos e escritos contemporâneos, sobretudo durante o protectorado francês e mesmo depois da independência. Isto traduziu-se no facto de que ela fora dominada por uma atmosfera de patriotismo contra o ocupante que necessitava do recurso ao passado para recolher os trunfos positivos que ajudavam a encorajar a resitência em proveito do movimento nacionalista marroquino. O efeito deste sentimento nacional-religioso ficou bem depois da independência 106.

A influência deste aspecto nacional-religioso, impede certos investigadores de estudar os factos históricos com uma visão neutra e científica. Assim que Almoutawakil pede o apoio de uma potência vizinha “estrangeira” ele cometeu um acto que podemos classificar como político. No entanto as circunstâncias então existentes traduziram este acto como sendo uma grande traição. Aliás, ainda é assim considerado. No entanto nós sabemos que a história conheceu vários casos deste género107.

A atmosfera religiosa que reinava e que acompanhou os preparativos contra a campanha portuguesa é um factor muito importante. No entanto a maioria dos historiadores portugueses ignoraram-no. Os movimentos sufis, os Ulemas, animaram os espirítos. Os estudos portugueses não falam, por exemplo, da carta dirigida a Almoutawakil. Esta era uma resposta à sua carta, que justificou o recurso à ajuda portuguesa.

Uma carta que discute o problema da sucessão ao trono Saadida e que prova que todos os componentes do Estado e da sociedade marroquina tomaram o partido de Abdelmalek. Sobretudo depois que Almoutawakil pediu a ajuda dos portugueses “cristãos” contra os muçulmanos. A carta fala também dos preparativos materiais e morais: as bandeiras postas no centro da grande mesquita Al Quaraouiyne, os recitadores do Corão que recitaram o Corão 100 vezes e o livro de “Boukhari” que contém as Haddiths do profeta, e “tahlil e takbir”: as orações e as invocações, etc.108

Alguns investigadores marroquinos consideraram esta atmosfera de animação religiosa como um factor importante para explicar a tenacidade da resitência marroquina à época. No entanto, esta mesma atmosfera influenciou outros investigadores menos profissionais a insistir na glória, no heroísmo, no sentimento nacionalista e religioso… Então por vezes inflacciionam os feitos e o número de soldados portugueses e minimisam o número de soldados marroquinos.

B – Do lado português, certos historiadores consideraram esta batalha como uma catástrofe que demoliu um sonho gigantesco: o império português e as suas glórias. Ela foi igualmente considerada como um acidente que surpreendeu todo o mundo, sem excepção. Assim, a maioria dos estudos sobre esta batalha foram caracterizados pela lógica da justificação e pela procura de pretextos. Também a batalha é o fruto da aventura de um jovem rei inepto, a quem falta experiência…Podemos citar como exemplo a página web “O portal da história” onde encontramos as seguintes frases sobre D. Sebastião:

… Nunca ouviu conselhos de ninguém, e entregue ao sonho anacrónico de sujeitar a si toda a Berbéria a trazer à sua soberania a venerada Palestina, nunca se interessou pelo povo, nunca reuniu cortes nem visitou o país, só pensando em recrutar um exército e arma-lo, pedindo auxílio a estados estrangeiros, contraindo empréstimos e arruinando os cofres do reino, tendo o único fito de ir a África combater os mouros. Chefe de um numeroso exército, na sua maioria aventureiros e miseráveis, parte para África em Junho de 1578; chega perto de Alcácer-Quibir a 3 de Agosto e a 4 o exército português esfomeado e estafado pela marcha e pelo calor e dirigido por um rei incapaz, foi completamente destroçado, figurando o rei entre os mortos…” 109.

Estas amostras de frases provam que são atribuídos a D. Sebastião muitos defeitos e toda a responsabilidade pela derrota e pela decadência do império português. Contudo, existem outras razões que explicam o declínio do império. É preciso rebuscar para trás, aos anos de 1521 e 1522 e rever alguns feitos, julgamentos e preconceitos:

- O império português conhecera dificuldades económicas e políticas, e sinais de fragilidade que remontam a 1521, ao tempo de D. João III. A população portuguesa tinha igualmente passado por um abaixamento demográfico considerável devido aos portugueses que emigraram para o Brasil e Índia em busca de riquezas, e que não regressavam. De facto, regressava uma em cada dez pessoas. Portanto, Portugal perdera, durante o Séc. XVI, 50% dos seus habitantes o que causou danos consideráveis à agricultura e obrigou o país a importar escravos da África negra111. É preciso ainda adicionar a isto a grande peste que atingiu Portugal em 1569 112… Por consequência não seria por si só a responsável pelo declínio do império.

- Terá sido a batalha uma aventura mal estudada? De facto, aqueles que afirmaram isso apresentaram um julgamento posterior com base no resultado da batalha e que quadra perfeitamente com o número insuficiente de soldados e do efectivo do exército português. [Páginas 115, 116, 117 e 118]

II – Não está tudo dito e ainda há muito por fazer

Vistos os comentários precedentes, constatamos que malgrado a quantidade e qualidade dos estudos efectuados, sobretudo da parte de historiadores portugueses, muitos dos detalhes e factos continuam discutíveis ou incorrectos, ou seja, incompletos. Estes factos merecem de uma parte e outra mais atenção e pesquisa. Cito, de forma abreviada, alguns exemplos:

- a morte de Sebastião: as fontes marroquinas falam de uma delegação portuguesa que veio pedir o corpo ao Sultão Al Mansour118. Este tinha-lhes entregue o corpo sem contrapartidas, como demonstração de amizade. Sabemos que a busca do corpo levou mais de 3 dias por 3 equipas de 10 pessoas cada119.No entanto há fontes que contam o sepultar do corpo em Portugal em 1582120, enquanto outros duvidam veementemente do destino do corpo. Deve assinalar-se que igual dúvida se coloca para AlMoutawakil assumindo que não se sabe exactamente o que aconteceu ao seu corpo depois de um percurso por várias povoações marroquinas. E também para Abdelmalek, existe hoje um pequeno tumulo no sítio da batalha mas fontes escritas contam que o corpo foi transportado para Fez. Os detalhes sobre o significado de “sebastianismo” são comparáveis ao mahdismo em Marrocos?

- As estatísticas e o número de soldados e participantes nos dois lados: são números que aumentam ou diminuem de acordo com os campos, não mencionando que ninguém fez um esforço para, ao menos, rejeitar os números exorbitantes. Há vezes em que se fala de 14.000 participantes e 18.000 mortos! Sem um estudo do terreno para definir o sítio exacto e as posições. Nem mesmo a superfície para saber se ela seria capaz de suportar as presumíveis quantidades de homens, tendas, carroças, cavalos e canhões, etc. Quantos foram mortos, feridos, prisioneiros, fugidos… A ponte que os marroquinos demoliram, o rio de Oued El Makhazen, a sua profundidade nesse tempo e agora.

- A relação entre esta batalha com a glória e prosperidade do estado marroquino: os cronistas marroquinos atribuem o apogeu da dinastia saadida à vitória em El Ksar El Kebir. Materialmente não se consegue ver a relação porque Marrocos viveu momentos penosos por causa dos acontecimentos que precederam a batalha: uma série de guerras, mais de vinte batalhas, guerras que exauriram os recursos financeiros e humanos, com perdas consideráveis. As fontes marroquinas afirmam que o sultão Ahmed El Mansour começou o seu reinado com uma tesouraria vazia, sem ouro nem prata. O negócio dos cativos e dos despojos trazia, sem dúvida, recursos importantes mas insuficientes em face da atrocidade das guerras e do volume enorme das pestes. As consequências negativas para a economia do país e a sua estabilidade eram sem dúvida importantes e foi preciso mais que uma decénio para se sentir o fruto de todos os esforços, sobretudo após a conquista do Sudão. Além disso o país passou por anos de escassez e por epidemias que sobrecarregaram os aspectos negativos desta situação. 121

- Os preparativos de ambos os lados, o número de participantes do lado marroquino e o do português e de fora dos dois países, o papel dos turcos, dos espanhóis e da igreja no conflito, e o volume da ajuda que eles deram.

- Os pormenores respeitantes aos movimentos de cada um dos exércitos: os planos e estratégias seguidos por cada um deles, a presumível troca de correspondência entre eles. As cartas trocadas, sobretudo, por Abdelmaleque e Sebastião e o rei de Espanha. O local exacto da batalha, o desenrolar, as causas reais para a derrota (estritamente técnicas), quanto tempo durou…

Um grande obstáculo impede os investigadores de completar o seu dever que é a ausência de estudos comparados. Nós temos uma história comum, mas duas histórias escritas. Por causa da servidão linguística atrás citada, os portugueses não puderam ler o que está escrito em árabe sobre a batalha e sobre as relações bilaterais. Os marroquinos tampouco conseguiram ler tudo quanto está escrito em português do lado dos seus homólogos. Isto explica a falta de estudos comparativos que são necessários para completar os esforços desenvolvidos pelos investigadores dos dois países. Sem esquecer o que foi escrito por historiadores de outros países como a Espanha, França, Inglaterra e países árabes. [p. 121, 122 e 123]






D. Franscisco retornou a Lisboa portando cartas de Belchior de Amaral, que afirmava ter participado do sepultamento do corpo do rei português
24/08/1578
3 fontes

1° fonte: O Sebastianismo na iconografia popular. Pedro Vittorino
Segundo Frei Bernardo da Cruz, o Cardeal D. Henrique teve a certeza da morte do Rei por carta de Belchior do Amaral que trouxe Francisco de Souza. Várias circunstâncias, porém, são dignas de nota:

Encarregado de conduzir a prata que devia acompanhar o cadáver de D. Sebastião, foi mandado à África num moço da capela real, Francisco Vieira, o qual permaneceu em Ceuta quase um ano, aguardando a liquidação do negócio, o que prova as dificuldades que o revestiam, Sousa Vitterbo, que cita este fato, comenta:

"Tamanha demora contribuiu, decerto, para suscitar na imaginação do povo a suspeita de que D. Sebastião tinha desaparecido misteriosamente e não ficara morto na batalha."



2° fonte: Os quatro embusteiros que se fizeram rei de Portugal, jornal “A Gazetinha“, página 10
O mundo, desde o seu começo, esteve sempre cheio cheio de embusteiros, na mais alta sociedade. Mas, ao que parece, não houve na História, gesto mais audacioso de que o daqueles quatro indivíduos que, em Portugal, por volta de 1578, tentaram fazer-se passar, aos olhos do povo português, pelo rei então desaparecido, D. Sebastião. que nunca mais voltou da célebre batalha de Alcacer-Kebir.

D. SEBASTIÃO, O DESEJADO

Filho do príncipe d. João e de sua mulher a princesa d. Joana, filha de Carlos V, neto portanto de d. João III, foi este o 16° rei de Portugal. Nasceu algumas semanas depois da morte de seu pai. A educação, que o moço monarca recebera, havia feito dele um exaltado, quase um fanático. Só devaneava combates contra os inimigos da fé e se tornou ideia fixa em seu espirito o desejo de recuperar as praças da África, abandonadas por seu avô, e de reconquistas o império de Marrocos.

OS FALSOS D. SEBASTIÃO

Com a fé do povo na volta de D. Sebastião e com o seu desaparecimento no seio dos exércitos inimigos, acharam alguns indivíduos que não seria difícil fazer-se passar pelo desaparecido rei de Portugal.

A credulidade do povo foi então explorada por quatro indivíduos, que ficaram conhecidos na História pelos nomes de "O Rei Penamacor", "O Rei da Ericeira, "O Pasteleiro do Madrigal" (Gabriel Espinosa) e "O Calabrês" (Marco Tullio Catironi).

Não é preciso dizer que foram desmascarados e severamente punidos. O primeiro deles, "O Rei de Penamacor", era filho de um oleiro de Alcahsça, que, com o auxilio de dois cúmplices, tentou em Penamacor, em 1584, explorar o povo, na sua boa fé, fazendo-se passar por D. Sebastião.

Preso e condenado a remar nas galés, embarcou a bordo da "Invencível Armada" e, quando esta passou junto das costas da França, logrou escapar-se, nunca mais se tendo notícias dele. "O Rei da Ericeira" chamava-se Mateus Alvares e era filho de um pedreiro açoriano. Fizera-se eremita na Ericeira. Foi enforcado em 1585.

A LENDA DO PRÍNCIPE ENCOBERTO

O povo português não se convencera de que D. Sebastião tivesse morrido. Firmemente, esperava que ele surgisse cedo ou tarde para expulsar o usurpador. Muitos espíritos crédulos continuaram a acreditar que D. Sebastião se conservava oculto numa ilha ignorada, donde, em manhã de nevoeiro, voltaria numa galé para reclamar o seu trono aos espanhóis.

E foi assim que se formou a lenda do Príncipe Encoberto e nasceu a seita dos Sebastianistas, que durou mais de duzentos anos. Anos em meados do século XIX havia Sebastianistas em Portugal.



3° fonte: Anais de História de Além-Mar, 2010. José Carlos Vilardaga
Já o nosso Francisco, o neto, acompanhou a armada de Dom Sebastião na malfadada batalha de Alcácer-Quibir na conquista do Marrocos, comandando um dos galeões da armada real, cujo almirante era seu tio D. Diogo de Souza. Em 24 de agosto de 1578 retornou a Lisboa portando cartas de Belchior de Amaral, que afirmava ter participado do sepultamento do corpo do rei português em Fez. Nosso homem era, portanto, porta-voz de uma das notícias mais ansiosamente aguardadas da história de Portugal: o destino do corpo do rei.






O Cardeal D. Henrique foi aclamado Rei de Portugal
28/08/1578
1 fontes

1° fonte: O Sebastianismo na iconografia popular. Pedro Vittorino
Segundo Frei Bernardo da Cruz, o Cardeal D. Henrique teve a certeza da morte do Rei por carta de Belchior do Amaral que trouxe Francisco de Souza. Várias circunstâncias, porém, são dignas de nota:

Encarregado de conduzir a prata que devia acompanhar o cadáver de D. Sebastião, foi mandado à África num moço da capela real, Francisco Vieira, o qual permaneceu em Ceuta quase um ano, aguardando a liquidação do negócio, o que prova as dificuldades que o revestiam, Sousa Vitterbo, que cita este fato, comenta:

"Tamanha demora contribuiu, decerto, para suscitar na imaginação do povo a suspeita de que D. Sebastião tinha desaparecido misteriosamente e não ficara morto na batalha."






Celebraram as eséquias do monarca
19/09/1578
1 fontes

1° fonte: O Sebastianismo na iconografia popular. Pedro Vittorino
Barbosa Machado nas Memórias de El-Rei D. Sebastião refere:

Quando se celebraram as eséquias do monarca (19 de setembro de 1578) ao orador Fr. Miguel dos Santos foi ocultamente dito que reparasse como pregava porque tinha por ouvindo o rei D. Sebastião, de que resultou mandar saber do Cardeal D. Henrique se a oração havia de ser panegirica louvando aquele príncipe como vivo, ou funeral, lamentando-o como morto; e lhe foi respondido que recitasse a oração do modo que a tinha composto.

Este frade, eremita de Santo Agostinho, tendo engendrado no Madrigal, povoação espanhola onde se encontrava, um falso D. Sebastião (o terceiro) em cujo caso envolveu D. Ana da Áustria, originou um drama em que ele foi também sacrificado e levou à prisão perpétua a crédula religiosa (1595).


Nas Lendas Peninsulares, por José de Torres, Tom. II, Lisboa, 1861, a história Rei ou Impostor? romantiza este episódio, baseando-se num manuscrito dos princípios do século XVII, pertencente à biblioteca do Escurial, obra dum jesuíta testemunha da morte do rei fingido.

São curiosas as declarações do eremita incriminado feitas perante o juiz inquiridor, em abono da existência do rei, que se acham expressas no cap. XXI.[p. 11]






Os restos mortais de D. Sebastião foram entregues às autoridades portuguesas de Ceuta onde permaneceram na Igreja do Mosteiro da Santíssima Trindade
10/12/1578
1 fontes

1° fonte: Batalha de Alcácer-Quibir e o mito do sebastianismo. ensinarhistoria.com.br
O corpo do rei e o mito do sebastianismo

O corpo de D. Sebastião foi considerado “desaparecido” pela população do reino já que não retornou de imediato a Portugal. O rei foi sepultado na casa do alcaide de Alcácer-Quibir e ali ficou durante quatro meses sob a guarda do fidalgo português Belchior do Amaral.

Em 10 de dezembro de 1578, os restos mortais de D. Sebastião foram entregues às autoridades portuguesas de Ceuta onde permaneceram na Igreja do Mosteiro da Santíssima Trindade. Finalmente, em 1582, foram trasladados para o Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa, onde se encontram até hoje.

A demora em retornar o corpo de D. Sebastião a Portugal deu margem a muitas dúvidas quando à veracidade da morte do rei. A inscrição em sua tumba é dúbia:

Nesta sepultura se encontra, como se acredita, Sebastião. Uma morte prematura nos campos da Líbia levou-o embora. Mas não diga que é errado quem acredita que o rei ainda está vivo – em face da ordem destruída, a morte era como se a vida fosse.

O mito do sebastianismo cresceu durante a União Ibérica (1580-1640), nascido da esperança de um regresso de D. Sebastião para devolver o país aos portugueses. O mito iria perdurar e ganhar força nos tempos mais difíceis da história de Portugal, sob a crença da vinda de um salvador.

O Sebastianismo traduz a nostalgia de uma idade de ouro que passara e o sentimento de humilhação nacional de um povo ocupado pelo estrangeiro (espanhóis e, mais tarde, os franceses e ingleses), bem como a espera messiânica de um rei capaz de resolver todos os problemas nacionais.






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