¨
RASULAfonso Sardinha (45 anos) adquiriu uma grande fazenda em São Paulo (o nas serras de Iguamimbaba, que agora se chama Mantaguyra, na de Jaraguá, termo de S. Paulo, na de Vuturuna (São Roque), na de “Hybiraçoyaba (Sorocaba)” 01/01/1580 5 fontes 1° fonte: Festa de São Benedito, 11.11.1937, Dalmo Belforte de Mattos, Jornal Correio Paulistano A 4 de abril de 1589 morria, no mosteiro de Grigenti, em plena terra italiana, o monge Benedito, conhecido em toda a Sicília pela heroicidade de suas virtudes. Pelo espantoso de seus milagres. E pela cor tisnada, que denunciava a origem africana de sua estirpe.
Já o diziam santo. E, como tal, passou para o hagiológio cristão, sob o nome latino de Benedictus a Santo Philadelpho. Enquanto que os devotos gauleses apelidavam-no de Saint Benoite, le More. Relembrando a ascendência agarena que se fixara na Itália, no tempo em que as galés sarracenas pirateavam até junto ás costas chanfradas das Duas-Sicílias.
E o tempo correu. Os navios negreiros cortaram o Mar de Treva. E quem passasse, dois séculos mais tarde, pelas vielas coloniais da Pauliceia, veria uma turba enorme de escravizados ondear pela rua Nova de São José, subir o beco da Lapa, apertar-se pela rua Direita de São Bento. E alcançar, enfim, o velho largo do Capim, onde os dois templos de taipa de aprumavam, entre milhares de corpos semi-nús...
Os sinos repicavam. Respondiam, ao longe, os campanários irmãos da Boa Morte e dos Remédios, convocando africanos para a grande festa de São Benedito. O patrono da Raça. O santo protetor das senzalas. Aquele a quem os escravizados podiam pedir, como a um irmão. Orago negro cujos pais sofreram o cativeiro, e gemeram ao estalar do chicote nas culturas da Itália.
E os pretos chegavam aos magotes. Chusmas de negros desembocavam da rua do Ouvidor, subiam a ladeira do Piques, enchiam o grotão. Outros vinham do Emboaçava distante, através dos campos fervilhantes de perdizes.
Eram todos bantu´s, da raça forte que fora trazida da Angola, do Moçambique e do Congo, de Loanda e Mossamedes. Havia também mulatos pernósticos, cafuzos nascidos nos quilombos perdidos de Tieté...
2° fonte: Papa Gregório XIII fixou a data da festa de Sant´Ana em 26 de Julho, e o Papa Leão XIII A devoção a Sant’Ana obedece a uma tradição vinda de Portugal, onde os moedeiros de Lisboa administravam a Confraria de Sant’Ana da Sé. Era comum, naquela época, cada corporação administrar a Confraria de seu padroeiro. Os moedeiros e oficiais da Casa da Moeda desde os primeiros tempos da sua existência colocaram-se sob a proteção de Sant’Ana, celebrando anualmente, em 26 de julho, o seu dia. [2]
Eduardo Hoornaert:
Dentro da família patriarcal, o senhor, sempre ocupado em tarefas fora de casa, pouco se interessava pela religião, deixando esta tarefa de educação religiosa à mulher branca, à “dona de casa”, que, que passou a ser considerada guardiã e transmissora da religião. A imagem desta função atribuída à mulher branca é a imagem de Sant´Ana que se encontra tão frequentemente nos engenhos e nas fazendas. Sant´Ana é símbolo da Casa Grande ensinando o catecismo ao pessoal da senzala. O livro sagrado, que Sant´Ana mostra a Maria, simboliza a tentativa, por parte da casa grande, de marginalizar culturalmente a senzala. Ao julgar a frequência desta e de outras imagens de cunho catequético, estaríamos inclinados a pensar que a mulher branca foi a transmissora da religião católica no Brasil (HOORNAERT, 2008, pp. 370-371).
Essa associação não é algo inédito da cultura brasileira, no século XV e XVI já se faziam presente pinturas e esculturas que representavam Santa Ana e São Joaquim ricamente vestidos, buscando ressaltar a importância e nobreza da família de Maria (FIGUEIREDO PINTO, 2014). Concordando com essa afirmação observamos que a cultura luso-brasileira só copia os padrões já tipicamente estabelecidos em Portugal.
Os senhores de engenho são na realidade frutos da colonização e herdam desde os primórdios, sentimentos, tradições e vivencias trazidas de Portugal. As representações marianas associadas a vida nos engenhos são reflexos da paixão
portuguesa pelas imagens da virgem, como deixa-nos claro Hoornaert:
Os portugueses que vieram para o Brasil eram particularmente devotos de Maria Santíssima. Pode-se escrever uma História do Brasil descrevendo os diversos significados que a imagem de Nossa Senhora teve ao longo da história. A devoção a Maria marcava as épocas do ano e as horas do dia (HOORNAERT, 2008, p. 346-347).
As imagens da mãe de Deus são classificadas de acordo com as fases da vida da Santa, aparições e milagres. Megale (2001) classifica esses momentos da trajetória de Maria em seis: infância, imaculada conceição, encarnação, virgem mãe, paixão e glória.
O primeiro momento remete a infância da santa, geralmente, são imagens de Nossa Senhora ainda criança, acompanhada de Santa Ana, ou respectivamente de Santa Ana e São Joaquim, pais de Nossa Senhora. Em alguns casos podemos também encontrar a imagem de Maria infante também representada sozinha.
Na perspectiva patriarcal, as inúmeras imagens dos Santos, principalmente as representações femininas, costumavam sofrer releituras e interpretações simbólicas, limitadas ao contexto social em que as mesmas eram introduzidas. Sobre esse aspecto Leonardo Boff, ao debater sobre as formas de exercer-se o domínio sobre a mulher afirma que Neste sentido, houve uma exploração mariológica no sentido que interessava ao poder machista:
apresentar Maria apenas como aquela mulher que diz sim (fiat), que se resigna a fazer a vontade de Deus, que se esconde nos afazeres caseiros, na modéstia e anonimato (BOFF, 2012, p. 54).
Desta forma observamos uma ressignificação, que impões limites as ações da mulher a padrões instituídos pelo regime patriarcal que centraliza na figura do homem, todas as forças políticas e religiosas que o colocavam em um status superior ao da mulher. Desta forma, as imagens marianas refletiam para as senhoras de engenho a ética moral de submissão natural da mulher ao homem. Porém não é possível desconsiderar o caráter matriarcal que tomava conta das
relações dentro dos limites da casa. Ao mesmo tempo que a rua era domínio do senhor (patriarcalismo) a casa era domínio da senhora (matriarcalismo) como deixa claro Frei Clodovis Boff:
A família brasileira, com efeito, conserva traços fortemente matriarcais. Ao patriarcalismo social corresponde um certo matriarcalismo psicológico. O “mundo da rua” é domínio do pai, enquanto que o “mundo da casa” é o da mãe. Por isso, a religião e a educação são consideradas deveres femininos e maternos, enquanto que o trabalho e a política são aqueles cabíveis ao homem (BOFF, 1995, p. 32).
O Reflexo dessa realidade é sintetizado no símbolo, que aqui analisamos dentro da escultura de arte sacra. A escultura de Santa Ana pode ser observada como um espelho da configuração social de uma família condicionada aos valores do patriarcado.
Observar a imagem de Santa Ana é visualizar a maneira como a senhora do engenho era vista e também a forma como ela se observava, sendo a mãe responsável pelos afazeres domésticos e pela educação de seus filhos.
Falando um pouco sobre a história de Santa Ana e a devoção a mesma, é possível observar alguns dos elementos que podem ter servido de ligação entre a imagem da santa com a figura da senhora de engenho. Primeiramente, santa Ana era vista como uma esposa fiel e temente a seu Deus.
Santa Ana era casada com São Joaquim, conta-se a história que o Santo sofreu inúmeros infortúnios pela falta de um herdeiro ou herdeira para propagar a sua linhagem, até que certo dia, profundamente entristecido pelas recriminações de seus amigos e dos próprios sacerdotes, isolou-se no deserto, fazendo com que sua esposa acreditasse que teria se tornado viúva.
Mesmo sendo estéril e acreditando que seu marido teria falecido, Santa Ana nunca renunciou a seu Deus, pelo contrário, foi através de sua fé que surgiram forças para continuar seu caminho, se apegou ao senhor através de suas orações, com confiança inabalável.
Conta-se que certa vez, em uma de seus momentos de oração, em seu jardim, um anjo apareceu e anunciou que Ana viria a ter uma filha, seu nome seria Maria e todas as nações falariam sobre seus feitos. São Joaquim também foi comunicado por um anjo que seria pai, o santo então, reuniu seus pastores e retornou para os braços de sua esposa. Após completar três anos, Nossa Senhora foi apresentada no templo, para que se dedicasse ao trabalho de Deus (MEGALE, 2001).
Podemos observar três virtudes que deveriam compor as senhoras de engenho, refletidas na história de Santa Ana: A primeira é a fidelidade que a mulher deveria ter perante seu esposo; a segunda seria sua fé inabalável em seu Deus e a terceira sendo a devoção e amor por sua família.
Muitas vezes as Senhoras de Engenho, de fato, assumiam um papel de tremenda maternidade, até com os filhos bastardos de seus maridos com as escravas que lhes dispunham, como nos deixa claro Perdigão Malheiro:
A bondade e caridade proverbiais das senhoras brasileiras têm chegado ao ponto de interessarem-se pelas crias, quase como se fossem seus próprios filhos, tratando-as com verdadeiro amor materno, levando-as por vezes ao colo e até aos próprios seios e praticando outros atos semelhantes (MALHEIRO apud HOORNAERT, 2008, p.317)
Desta forma as senhoras de Engenho, espelhavam-se na imagem de Santa Ana, a santo tornou-se a protetora das mulheres casadas, e das futuras mães, sendo muito cultuada durante o período colonial. As mulheres que desejavam curar, através da intervenção divina, rogavam a Santa Ana que as ajudassem, assim como acreditava-se que a Santa também ajudava suas fieis a terem um parto rápido e alegre (MEGALE, 2003).
Pudemos observar que dessa forma a mãe de Deus acaba por ser identificada com a aristocracia da época, o mesmo veio a ocorrer com inúmeras imagens de Nossa Senhora, da mesma forma as classes mais pobres viriam a atribuir um significado
inverso as interpretações da elite, colocando Maria como uma protetora do pobre, que identifica-se com o sofrimento e dessa forma intercede na vida dos seus devotos humildes. Abordamos de forma mais aprofundada esses fatores na continuidade da análise das imagens de Nossa Senhora.
ROSÂNGELA WOSIACK ZULIAN
2022
No Brasil português a dilatação da fé não foi apenas tarefa da Igreja, mas também da família aristocrática e patriarcal. Nela, o senhor, sempre ocupado em tarefas externas, pouco se interessava pela religião, passando à mulher branca, a “dona da casa”, esse papel. Imagem dessa função atribuída à mulher branca é a de Sant’Ana, que se encontra frequentemente nos engenhos e nas fazendas. Sant’Ana pode ser vista como o símbolo da casa grande ensinando o catecismo ao pessoal da senzala.
3° fonte: “Memória Histórica de Sorocaba: Parte I”. Luís Castanho de Almeida (1904-1981)
4° fonte: *Revista Brasileira Conclusão lógica é que os primeiros negros de serra acima, que tomaram parte no bandeirismo, foram os de Afonso Sardinha. Embora não tivesse chegado a realizar grandes correrias heroicas.
Desde o início da mineração do Jaraguá, levas de nativos e de negros africanos, que começaram a ser introduzidos na Capitania, eram conduzidos pelos seus donos ao sopé do morro, a fim de intensificarem esse trabalho, que prometia lucros fabulosos.
5° fonte: Casarão de Afonso Sardinha. Joice Rodrigues, em "Até Amanhecer" (857.000) 580.714
|
|
| | Brasilbook.com.br Desde 27/08/2017 | | |
| | | 27882 registros, 14,578% de 191.260 (meta mínima) |
|
|
Agradecemos as duvidas, criticas e sugestoes |
Contato: (15) 99706.2000 Sorocaba/SP |
|
| | |
|
|