1° fonte: História das missões orientais do Uruguai. Aurélio Pôrto.
Foi no dia 23 de Dezembro de 1637, segundo Azara, ou véspera do Natal, como quer Teschauer, que o capitão André Fernandes, à frente de sua tropa chegou à vista de Santa Teresa, magnífica povoação que tinha mais de 4.000 índios aldeados. Eram
curas da redução o P. Francisco Jiménez e P. João de Salas, cujos trabalhos apostólicos tinham granjeado resultados dignos de nota.
Além dos catecúmenos antigos haviam afluído para Santa Teresa, localizada nas pontas do Jacuí, proximidades da actual cidade de Passo Fundo, inúmeras tribos que demoravam pela província de Ibiaça, regiões de Caamo e litoral atlântico. Parece, também, que à aproximação dos invasores muitas famílias, que ainda estanciavam pelas proximidades de São Joaquim, houvessem ido procurar refúgio naquela redução.
Sem opor resistência, entregaram-se os habitantes, que foram logo mandados recolher às paliçadas construídas ali pela força de André Fernandes. E aos Padres Jiménez e João de Salas deu o chefe autorização de se retirarem, o que fizeram em seguida. Ao chegarem os paulistas ao povoado, o P. Jiménez tinha escrito um bilhete ao P. Palermo, que estava na redução dos Mártires de Caró, dizendo «que os portugueses haviam dado sobre a redução de Santa Teresa, haviam-na destruído e que se acercavam da de Caaçapá-guaçu (Apóstolos), com o mesmo intento».
Foi o P. Palermo a Apóstolos, e «encontrou já muito reduzida a gente que ali estava, e todos mui alvorotados, porque os portugueses já vinham perto, o que ocasionou a fuga de quase todos os índios dessa redução e de outras. Perderam-se assim muitas alfaias, bens, além de gados maiores e menores.
Depois disto, o P. Paulo Palermo, por ordem superior, juntamente com o P. Gaspar de Siqueira e Irmão António Bernal, foi à redução de Santa Teresa para auxiliar os Padres que ali estavam a trazer as suas coisas e, no caminho, lhes saíram à frente seis ou sete portugueses com alguns tupis, todos armados com alfanjes, rodelas, escupis e escopetas, com as quais apontaram aos Padres e seus companheiros, no intuito de arcabu-
zá-los.
Em seguida, tomaram-lhes os índios que os acompanha-
vam, maltrando-os com palavras, ferindo-os com os alfanjes e que-
rendo apossar-se das coisas que levavam para a viagem. A muito
custo, conseguiram livrar-se dos portugueses e, tendo caminhado
mais algum tempo, encontraram adiante os Padres Jiménez e João
de Salas, que vinham se retirando de Santa Teresa. E por eles
souberam que os mamalucos haviam destruído aquela redução e cativado grande número de índios, obrigando-os a abandonar ali
mais de 500 cabeças de gado vacum, que havia na redução e
outras coisas de muito preço.» s; )
O Irmão Bernal confirma a declaração do P. Palermo, feita em 4 de Fevereiro de 1638. E ambos informam que andavam com os portugueses que ataca-
ram as reduções, "desde Santa Teresa até Piratini", entre outros, André Fernandes, Baltasar Fernandes, 85 ) fulano Paiva, 86 ) fulano Pedroso, S7 ) Domingos Álvares, 8S ) e fulano Prie-
to. 8t) ).
Segundo Charlevoix, Techo e outros autores jesuítas, no dia
do Natal entraram na igreja os bandeirantes que, com velas na
mão, assistiram às três missas ditas pelo P. Francisco Jiménez, o
qual, subindo ao púlpito, exprobrou á injustiça e crueldade com
que eles tratavam os índios. Ouviram-no eles com calma e, finda
a prática, restituíram dois ajudantes de missa que haviam cati-
vado. Mas, apesar dos rogos dos Jesuítas, não consentiram em
libertar outros índios da redução.
Santa Teresa de los Pinales, ou Curiti, como a denomina o P. Alfáro, estava em situação vantajosa para se tornar um interposto de aprovisionamento de futuras bandeiras que demandas sem as doutrinas jesuíticas. Já então, aberto pelos índios, um caminho a ligava a São Carlos do Caapi e outras aldeias cristãs da bacia do Ijuí. Assinalada no mapa de Carafa, essa via de pe- outra citação. E António Pedroso de Barros, notável sertanista, que fa-
leceu em 1652 com testamento, e foi potentado pelo número de 600 índios
que tinha em suas fazendas (Geneal. 3", 444). Era filho do capitão-mor
governador Pedro Vaz de Barros e de sua mulher Luzia Leme, e neto ma-
terno de Fernão Dias Pais e de Lucrécia Leme.
Compreendeu o capitão André Fernandes a importância estratégica da povoação. Não a destruiu, como dizem os Jesuítas,
mas organizou aí os seus quartéis de inverno, plantou roças, ergueu paliçadas e a ocupou definitivamente. Dois índios ali cativados em pequenos, 30 anos depois, ao fugirem de São Paulo, em 1669, informam perante o corregedor da São Francisco Xa-
vier, que «nos Pinhais, junto ao povo que foi de Santa Tesesa, destruído por André Fernandes, e que não está muito distante
daqui, se havia fundado um povo de índios cujo cura era o filho do dito André Fernandes, onde se juntavam os portugueses que
saíam de São Paulo para as malocas: ali se aviam de comida e de todo o necessário para ida e volta.» 91 )
O P. Francisco Fernandes de Oliveira, filho do cabo bandeirante, que ficou administrando Santa Teresa, havia sido pelo pai
confiado ao governador do Paraguai, D. Francisco de Céspedes, cuja esposa, D. Vitória de Sá, fora para ali levada por André
Fernandes. Francisco havia-se ordenado naquela província.
Terminada a ocupação de Santa Teresa, mandou o caudilho André Fernandes que um destacamento de 30 a 40 paulistas, apoia-
do por mais de 1.000 tupis e índios amigos, fosse assolar as reduções do Ijuí, cativando os cristãos ou infiéis que ali encontrasse.
Esse grupo parece teria por comandantes os sertanistas capitães Francisco de Paiva e António Pedroso, se bem que outros paulistas de prol dele fizessem parte.