No início da década de 1870, entretanto, o engenheiro J. Coutinho revelava uma percepção das condições ambientais mais próxima daquela que hoje conhecemos do Vale do Ribeira:
O principal gênero cultivado nas margens da Ribeira é o arroz para o qual se presta perfeitamente o clima e o terreno. Por diversas vezes têm-se tentado a cultura do café, porém sem resultado vantajoso, o mesmo acontecendo com a do algodão, por causa da umidade atmosférica. Nos terrenos banhados pelo São Lourenço, afluente do Juquiá, prosperam, entretanto, muito bem estas duas plantas, segundo fui informado. A cana desenvolve-se satisfatoriamente mas o caldo contém pequena porção de matéria sacarina, exigindo por isso o cozimento grande quantidade de combustível, principalmente na parte inferior do vale, onde a terra é muito úmida.19
Para Coutinho, a alternativa agrícola para a região passava pelo cultivo de plantas de clima úmido, como o cacau e a seringueira:
Abertas as estradas de Xiririca a Paranapanema, e de Iporanga a Faxina, aclimado o cacaueiro e Sinphonia elastica, e posta em prática a exploração de ferro de Jacupiranga, chumbo e prata de Iporanga e Apiahy, bismuto e antimônio da região que se estende à Assunguy, então não terá Iguape que invejar a sorte dos distritos cafezistas, sendo nesta época o mais rico e industrioso.20
É possível dimensionar o entusiasmo de J. Coutinho utilizando seus próprios cálculos sobre a renda per capita em Iguape comparada com a região campineira. Lá, segundo o engenheiro, a renda por habitante atingia Rs. 9$506; em Iguape, Rs. $534, isto é, 17 vezes menos do que a obtida com a agricultura agro-exportadora do Oeste paulista.
Contudo, os arrozais mantiveram-se como a principal prática agrícola dos ribeirenses. No início da década de 1880, não obstante “(...) a ausência de uma política capaz de orientar a produção e os mecanismos de distribuição para o consumo do conjunto de populações urbanas” (LINHARES, 1979, p. 218), o estímulo à importação de arroz estrangeiro produziu uma considerável redução no preço registrado no Rio de Janeiro, de Rs. 14$000/12$000 para Rs. 8$000/6$000 por saco, reduzindo ainda mais os ganhos obtidos pelos ribeirenses (cf. LINHARES, 1979, p. 176). Esta prática, segundo Paul Mandell, manteve-se até 1896, quando o governo brasileiro duplicou a tarifa de importação de 30 para 60 réis por quilo.
Esta taxa foi novamente duplicada em 1903 e reajustada em 33% em 1906; ainda incidia uma sobretaxa de 50%, resultando em 215 réis por quilo, praticamente 50% do preço no atacado. Os dados sintetizados pelo autor evidenciam uma queda substancial na quantidade importada no primeiro decênio do século XX, de 100 mil toneladas em 1902 para pouco menos de 11 mil em 1909. Os efeitos desta política induziram o desenvolvimento do cultivo do arroz em outras regiões brasileiras, como o Rio Grande do Sul, Goiás, Mato Grosso e a [p. 15]
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