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¨ RASUL

Joaquim Coresca, o homem que salvou o filho do professor Toledo, eu e a história de Sorocaba
01/01/1876
1 fontes

1° fonte: titulo
Rara fotografia do prédio do Colégio do Lageado, feita um ano após a instalação da 2ª fase, pois se pode ainda notar ao lado direito o barracão construído para abrigar a máquina de beneficiar algodão (na foto está desfocada em virtude do pequeno ângulo da objetiva). Duas observações importantes ainda na fotografia, é a colocação das mulheres em segundo plano, bem próximas ou do lado de dentro do prédio, somente aparecendo algumas impossíveis de serem identificadas pela distância da impressão fotográfica; a outra observação é a quantidade de menores – os primeiros 60 alunos da 2ª fase.

Da esquerda para a direita no centro da fotografia, está o comerciante de tropas em Sorocaba, José Dias de Arruda; atrás, Joaquim Coresca da Fraga Neves, o “Coresca”, ex-escravo e agregado ao Colégio do Lageado – foi ele que seguiu para o Paraguai como voluntário em substituição a Joaquim Caiuby – filho do Professor Toledo; ao centro o Professor Toledo, de paletó branco – já com mais de 50 anos o Professor Toledo usava um “bonet” de seda preta para dissimular os cabelos encanecidos e ralos, um cavanhaque afilava ainda mais seu rosto; em seguida o fazendeiro de Campo Largo de Sorocaba, Francisco Ignácio de Arruda; Bento Mascarenhas Jequitinhonha (o primeiro do nome) – foi voluntário na Guerra contra o Paraguai e recebeu a patente de major do Corpo de Voluntários da Pátria, foi mestre de primeiras letras, tinha um feitio autoritário de “gravata de couro” como se dizia na época; em seguida outro professor de Primeiras Letras, Joaquim Belchior Martins – que havia sido aluno da 1ª fase do Colégio do Lageado.

As duas crianças que aparecem na frente de mãos dadas, uma com o Professor Toledo e outra com Joaquim Belchior Martins, estão vestidas com batas longas, roupas usadas somente nos dias festivos (missa aos domingos), por esse motivo é quase que certa que essa fotografia, pelas vestimentas da maior parte das pessoas – crianças, jovens e adultos, tenha sido tirada num domingo de 1876.







Generoso errado
11/09/1876




“Sarú-taiá”, 10.1876. Manuel Eufrásio de Azevedo Marques (1825-1878)
01/10/1876
1 fontes

1° fonte: Almanach Litterario de São Paulo para o ano de 1877, José Maria Lisboa. 2° ano
Almanach Litterario de São Paulo para o ano de 1877, José Maria Lisboa. 2° ano O Satú-taiá

Amigo e sr. J. M. Lisboa, - Em seu Almanak Litterario Paulista de 1876, deparei com uma notícia sobre o vulto histórico, que também tomei por título deste pequeno artigo.

Ai se diz, em resumo, que o Sarú-taiá descendia mui próximo, e que fora criado entre os aborígenes; que em seus princípios vagava pelas ruas de Sorocaba vendendo taiá, que carregava em burrinho e que apregoava pelas portas, enquanto jaziam enterradas em sua pequena casa, ou sítio, as grandes riquezas que possuía; que vivendo pela metade do século passado, organizara uma número expedição, internando-se pelos sertões do Paraguay, onde cativára muitos nativos, e fora afinal capitão-mór de Sorocaba.

Dá-nos também o artigo a que aludo, notícia de que o nome Sarú-taiá era composto de Sarú (abreviação de Salvador) e taiá, espécie de cará; sendo que o verdadeiro nome do personagem era Salvador Corrêa.

Contestando em sua maior parte as asserções que ficam transcritas, não me anima a intenção de criticar e menos de censurar o escrito assinado por F. M. P.: somente a verdade histórica obriga-me a opor a esse escritor, algumas corrigendas.

O personagem a que a tradição conserva ainda o apelido de Sarú-taiá, não chama-se Salvador Corrêa e sim Salvador de Oliveira Leme: não teve os princípios que o articulista lhe atribui, nem havia sido criado entre os aborígenes, Salvador de Oliveira Leme faleceu em Sorocaba onde residiu, a 5 de julho de 1802, e do seu testamento (ainda existente no 1o. cartório de órfãos da cidade de São Paulo) se vê que foi natural de Ytú, filho legítimo de João Lourenço Curin e de d. Maria de Jesus; neto paterno de Sebastião Sutil de Oliveira e de d. Luzia Curin, todas pessoas consideradas, que tiveram na vila da Parnahyba os seus ascendentes, como nos dá a conhecer a Genealogia das principais famílias de São Paulo, trabalho precioso do paulista Pedro Taques de Almeida Paes Leme, ha poucos anos publicado na Revista do Instituto Histórico do Rio de Janeiro.

Do seu testamento consta mais, que o capitão-mór Salvador de Oliveira Leme foi contratador dos direitos reais no século passado em toda a comarca, que estendia-se desde Sorocaba até além de Curitiba, sendo por isso improvável que organizasse a expedição e com ela devassasse as regiões paraguaias naquele tempo, em que além de ser muito moço, já tinham cessado as excursões dos paulistas em procura de nativos; excursões que tiveram a sua época nos séculos XVI e XVII, e que cessaram inteiramente de 1700 a 1720 com a descoberta das minas de ouro nos territórios de Minas Gerais, Goyaz e Mato-Grosso.

Ainda de seu testamento consta que fora casado duas vezes, a primeira com d. Rita de Godoy, da qual teve somente um filho, que foi o ajudante Francisco Xavier de Oliveira, par de três respeitáveis senhoras, d. Manoela, d. Rita e d. Anna, que fundaram o Recolhimento de Santa Clara em Sorocaba, para o qual o capitão Salvador de Oliveira Leme e sua segunda mulher d. Maria do Rosário deixaram legados em seus testamentos; assim como deixaram legados para o hospital de caridade, que a esse tempo, em 1801 a 1803, estava tratando de fundar o coronel Francisco José de Souza.

Do segundo casamento teve o referido capitão-mór 4 filhos, que foram:

1 - Vicente de Oliveira, casado e falecido em Cuyabá.

2 - Antonio João Ordonho, sargento-mór, casado com d. Hermenegilda Ferreira.

3 - D. Gertrudes do Rosário, casado com o sargento-mór Manoel Joaquim de Castro.

4 - D. Anna Maria, casada com o coronel Paulino Ayres de Aguirra. Destes últimos houve entre outros filhos, d. Gertrudes Eufrozina Ayres, que foi casado com o coronel Antonio Francisco de Aguiar, pai do finado brigadeiro Rafael Tobias de Aguiar.

A este como bisneto deixou o referido capitão-mór Salvador de Oliveira Leme uma escravizada, por estas palavras de seu testamento: "deixo a meu bisneto Rafael, filho de minha neta Gertrudes, casada com o tenente coronel Antonio Francisco de Aguiar, a escravizada Delfina".

Que o capitão-mór Oliveira Leme possuiu grande riquezas para a sua época, demonstra-o o seu testamento: dele se vê que além de muitas propriedades de raiz, grande escravatura e dinheiro em giro, edificou á sua custa uma capela á Senhora das Dores em sua fazenda de Pirapóra, distrito de Sorocaba, e outra á Senhora do Rosário na então vila de Sorocaba, que ambas dotou com patrimônio.

Do exposto resulta que o Sarú-taiá não foi uma espécie de aventureiro que nos descreve o sr. F. M. P.; foi antes um paulista muito distinto, cuja vida e feitos deixou assinalados para respeito e veneração da posteridade.

São Paulo, outubro de 1876. M. E. A. Marques. [Almanach Litterario de São Paulo para o ano de 1877, José Maria Lisboa. 2° ano. Páginas 35, 36 e 37]






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