As rudimentares preoccupações do urbanismo paulistanorevelam-se desde os primeiros annos nas Actas. Na sessão de 19 de julho de 1608 determina o termo que se concertem as pontes de Guarepe e da Tabatinguera.
A 5 de setembro de 1610, como estivesse a villa com muitomá apparencia, mandava pôr a Camara escriptos á porta conselho e da egreja matriz, para que todos caiassem suas casassob pena de dois mil réis de multa.
A 23 de julho de 1612 grande discussão no recinto da Camara a proposito de novos arruamentos na villa. O procurador adhocFrancisco da Gama requerera que o poder municipal “attentas-se pelas ruas abertas pela Camara sua antecessora de accordocom a ordem do recem-fallecido governador d. Francisco deSouza”.
Succedia, porém, que Manuel Affonso, procurador deGarcia Roiz, protestava contra taes arruamentos, porque inva-diam o accesso ás serventias do seu procurado. Era preciso so-lucionar o caso. Allegou o juiz ordinario, Jusepe de Camargo, quedo governador d. Luiz de Souza, ouvira formal prohibição “nãobulisse nisso”. Em todo o caso convinha que s. s. soubesse doque havia e fosse informado da verdade. E tal seria o despachoprovisorio, dado ao requerimento de Manoel Affonso que fosseentender-se com aquelle mais alto valor alevantado.
Exigia tambem a Camara que os seus aquinhoados por doação trouxessem sempre á vista as cartas de data do Conselho.Neste millesimo foi Domingos Cordeiro multado em mil réispor não ter podido apresentar a sua.
Naquelle mesmo anno (1620), a dezoito de abril, decidiu aCamara salvaguardar a serventia da entrada da villa por meio docaminho para o rio e caminho real muito antigo e estar a villa deposse delle “ab initio” (que o escrivão graphou “abenisio”).
Cravou-se marco, fixou-se em determinado logar uma largurade quinze palmos e meio para a entrada e o procurador declarou-se empossado em nome do povo.
Ale mdesta referencia aos mananciaes abastecedores da villa,conhecemos outra, de 1651, quando a Camara concedeu terrasa Henrique da Cunha entre os dous ribeiros “aguada desta villachamados Anhangobay e Hiacuba”.
Vejamos mais algumas medidas sobre o incipiente urbanismopaulistano.
A 4 de dezembro de 1627, conversou-se em Camara sobregrave assumpto de arruamento. Mandaram os officiaes a seuescrivão que lançasse solenne termo de que haviam tomada ébecco em frente a Nossa Senhora do Carmo, entre André Fernandes e João Maciel, para rua publica.
Já aliás, havia posse municipal desde o tempo em que naCamara servira Garcia Rodrigues Velho. Resolveu-se a aberturade outra via, partindo do além das casas de Januario Ribeiro atéattingir os fundos do quintal de Aleixo Jorge. Outra decisão va-liosa foi a tomada de posse, para serventia da villa, de duas braças“pegadas no canto das casas de Paulo da Costa”.
Requereu o procurador Cosme da Silva que outro tanto não se fizesse com o terreno do canto das casas de Francisco de Paiva até chegar a esta praça (?) provavelmente a da casada Camara, para desafogo do transito e “porcoanto hera bemdo povo estar assim do modo que estava”.
Obtemperou a Camara á suggestão do digno official.Pouco depois estava a edilidade habilitada para fazer alinhamentos. Já havia em S. Paulo engenheiro formado.
Foi ao "que parece o patriarcha da classe, em terras piratininganas, certo Pero Roiz Guerreiro “homem do mar que en-tendia do rumo de agulha” declara o termo de 19 de julho de1636, em que a Camara se mostra satisfeitissima com a acqui-sição para a sua villa de tão util e distincto profissional aolhe dar juramento aos Santos Evangelhos “pera que fizessenesta vila o hofisio de arrumador de todas as terras, por ser ho-nesesario ao bem comu deste povo”.
Pouco rendoso haja talvez sido o “hofisio” de arrumador deterras ou quiçá logo morresse o “piloto”. Certo é que o termo de23 de outubro de 1639 consigna que fôra a successão de Guerreiroconferida a um tal Belchior de Borba. 1636 pedia o procurador LeonelFurtado que s. mercês fossem vêr o que fazia Belchior de Go-doy com umas taipas que construa .Estaria “por parte e lugar” conforme o marco que se pu-zera, medição que se fizera e Suas Mercês haviam visto?Isto prova que já então havia alguma ordem nas conces-sões de licença para construcções. Partisse o procurador, assis-tido do escrivão municipal, a conferir as seis braças e meiaconcedidas a Godoy. Si este homem houvesse excedido a me-dida fosse a Camara notificada immediatamente “para se prover no causo como de justiça”. Outrosim, se advertisse que, s!a vistoria constatasse excesso de medida e marco, que se lhedera, interrompesse a obra immediatamente sob pena de multade 15 cruzados. é“Não bula mais nas obras nem vá com elas por adiante atése determinar o causo” declararam Suas Mercês. aGrave questão esta de algumas braças de terreno na villapiratiningana? Valeria tanto assim? Mais provavel é que ao“causo” se ligasse alguma demonstração de politicagem.Na sessão de 6 de fevereiro de 1638. reclamou o procuradorCosme da Silva contra inqualificavel abuso particado porAleixo Jorge. Atirara um mundo de terra sobre uma via pu-blica “a rua que ia para S. Antonio” o que era em prejuizodos moradores que andavam na villa”.Mandassem S. Mercês desaterrar o aterrado. Intimou aCamara ao remisso cidadão a fazer tal serviço, dentro de 8 dias,sob pena de mil reis de multa. “Deixasse a rua como dantesestava”.Foi a sessão de sete de agosto seguinte consagrada a umgrande melhoramento urbano; tomou-se “hua rua para a no-breza da villa”. Partia do outão da casa que fora de Franciscode Proença, agora de Salvador Pires, o moço, começando trintapalmos deante da dita casa pelos chãos que ahi estavam correndoá rua Direita ás casas de João Pires. E fazia-se questão de suarectiliniedade “indo a rua direita”.A edilidade de 1639 mostrou-se muito cuidadosa em trazera villa “bem arrumada”. Na sessão de 19 de novembro pediao procurador Sebastião Gil que se mandasse concertar e ater-rar a rua que ia da Misericordia a Santo Antonio “por fazernela laguoas”. A culpa desta inundação cabia sobretudo a noveproprietarios desidiosos, entre os quaes Aleixo Jorge, useiro eveseiro em infracções posturaes, “Entupam suas testadas den-tro de oito dias em modo que a auguoa não represe e corra arua direita” intimava-lhes a Camara, ameaçando-os com cincocruzados de multa.Cada vez mais se organizava São Paulo. Sob a camara se-guinte, a de 1640, determinava-se que nenhuma pessoa edifi-casse casa nova, nem abrisse quintal, sem que fosse pelos srs.officiaes “armado”.A 7 de abril seguinte declarava a Camara que pelos ar-rabaldes da villa havia muitos chãos por aproveitar, sendo no-breza della fazerem-se casas.Queria a Camara realizar uma revisão das cartas de con-cessão de teras parecendo-lhe que isto fomentaria a construc-ção de novos predios, “pera nobreza desta tera”, repartindo-seas terras por cada morador conforme sua possibilidade.Decisão importante, curiosa, significativa é a da vereançade 30 de agosto de 1642, primeira no genero em terra paulis-tana. Resolveu a Camara que se avaliassem os chãos de Fran-cisco João e se lhos pagassem “pera asi ficar a vila mais eno-brecida e a praça dela e que ficasse por assento que qualquer da-quellas casas da mesma carreira que cahisse e se derrubasse senão levantasse mais.”Eis uma preoccupação bem pouco commum em éras seis-centistas! Seria devida ao procurador Simão Roiz Coelho? Cer-to é que, ainda no termo seguinte, vemol-o requerer, segundo amesma ordem de idéas, que no outão das casas de Leonel Fur-tado se não fizessem mais predios para que a praça ficasse mais[p. 32]
Dos nomes antigos de ruas de São Paulo citadas nas Actas pouco se nos deparam: uma rua Direita que não é a atual pela localização que dela dá uma carta de chãos; a rua dos Lemes em 1638 que não sabemos onde possa ser também etc.
Estes nomes de outrora com a deficiência dos documentos tornam-se difícil identificar. É o que já notamos a proposito do de Piritininnga. Seria ele atribuído a algum núcleo de casas, alguma aldeiola vizinha da vila? É o que não nos indicam os documentos seiscentistas, tão vagos quase sempre. [Página 33]
Um dos capítulos da correição de 1675, a do Dr. Pedro de Unhão Castella Branco, perece indicar que já nessa data havia uma ponte sobre o Tietê. "Proveu mais que a serventia do Rio de guaré e dos pinheiros obriguem aos oficiais da Câmera aos moradores que lá tem suas fazendas e sítios que façam as pontes dos rios e aterrados e caminhos alias o mandem fazer os ditos officiais da câmara a sua custa, e cobrem delles os gastos que se fizer pro rata executivamente".
Em 1 de setembro de 1622 relatava o procurador aos parceiros quanto estavam danificados os caminhos, pontes e serventias da vila, sobretudo a ponte da fazenda, outrora de Afonso Sardinha, onde chamavam Ibatatá ou Tabatinguera e Guarepe.
Convocaram-se os moradores dos bairros para tal serviço e como fosse sobretudo o gado de Aleixo Jorge o grande danificador da ponte de Tabatinguera recebeu ele a intimação de a concertar. Deu-se por intimado, notificando a Camara de que, apenas voltasse de Santos a sua gente, ele faria todo o serviço á sua custa.
Obra de vulto é a que solenizaria a passagem do século XVII, a construção da “ponte do Rio Grande de Guaré” (o Tietê), a tão popular Ponte Grande, apostrofada por Castro Alves, em versos de outrora celebres e hoje ainda frequentemente citados. (...) Era a primeira obra de grande engenharia que se realizava na capitania de São Vicente. (Página 34)
Ilustração Brasileira Data: 01/11/1929 Página 32
ID: 11739
Ilustração Brasileira Data: 01/11/1929 Página 34
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Ilustração Brasileira Data: 01/11/1929 Página 33
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