Assim se explica que certos fatos da geografia americana, cuja, revelação deveria caber aos espanhóis, foram primeiramente conhecidos pelos bandeirantes de São Paulo e do Belém do Pará.
Caso típico é o do Rio Grande ou Guapaí que, junto ao Mamoré, engrossa, com o Guaporé, o Madeira, afluente por sua vez, do Amazonas. Durante o século XVI, os espanhóis consideraram o Guapaí como terminação do Maranhão (Mearim). Assim figura na carta de Gutierrez (1562) a que nos referimos. Nas várias relações quinhentistas de Santa Cruz de La Sierra e governação respectiva, publicadas por Jimenez de la Espada, continua a identificar-se o Guapaí com o Maranhão português.
Para melhor se compreender o significado deste erro, convém relembrar que Santa Cruz de la Sierra, tendo embora mudado de posição, quedou sempre situada cercas das margens daquele rio e no começo do larguíssimo trecho em que é navegável até às quedas do Madeira.
Mais tarde, em 1612, Rui Dias de Gusman, em sua "Argentina", continua a sustentar a mesma opinião. Finalmente, nas vésperas de 1650, em que Raposo Tavares e os seus companheiros desciam o rio toda a sua extensão, e depois de baixar a escadaria de ciclopes do Madeira, desembocaram no rio-mar, a cartografia dos jesuítas espanhóis fazia desaguar o Guapaí no Paraguai!
Aliás, até à viagem memorável do grande bandeirante domina entre os portuguese a falsa opinião de que Potosí e as demais cidades do Peru estavam muito próximas do Brasil. Para isso contribuiu grave erro de Lisboa na cartografia da América do Sul. Desviando muito para o leste o curso do Prata-Paraguai, para abranger na soberania portuguesa todo ou quase todo o vale platino, resultava que o Tocantins-Araguaia ocupava nas cartas da primeira metade do século XVII o lugar que na realidade pertencia ao Tapajoz e ao Madeira-Guaporé. No atlas de 1630, de João Teixeira Albernaz, que se guarda na Biblioteca de Washington, o curso geral e as fontes do Araguaia figuram a oeste do Paraguai!
Não espanta assim que os mitos geográficos e geográfico-humanos pululassem e tivessem resistido até ao século XVIII na pena dos cronistas mais conspícuos, como o Padre Lozano. Já nos referimos ao mito essencial da Ilha Brasil, ao qual veio agregar-se o da Lagoa Dourada, mito secundário. Ao lado desses, outros mitos, como o da Serra resplandecente, das Amazonas, o dos gigantes e pigmeus, esmaltaram a geografia e a cartografia dos primeiros séculos.
Servindo-se de todos esses dados míticos, um explorador, a cuja pena devem vários relatos verídicos e reais, não hesitou em misturar à narrativa das suas aventuras aquilo a que podemos chamar uma bandeira mítica. Esse relato, a que vamos referir-nos com alguma demora, posto que puramente fantasioso, não deixa de ter interesse. Faz-nos entrar no ambiente psicológico da época. Dá-nos a medida da importância dos mitos e de sua eficácia como possível incentivo da ação. Mostra-nos igualmente quanto as fraudes cartográficas acabavam por influir na mentalidade dos contemporâneos.
É o caso de Anthony Knivet quando, em 1597, resolve abandonar a bandeira de Martim de Sá, por alturas do Sapucaí ou do Rio Verde, isto é, no extremo ocidental da bacia do Paraná, para se internar para oeste. O aventureiro inglês e seus doze companheiros lusos de aventura resolvem, no dizer do primeiro, seguir para o Mar do Sul, quer dizer, para o Pacífico e o Peru. Passada uma semana, os aventureiros encontraram, além de pedras verdes, objetos de ouro em mãos dos nativos. "Ao deparar com tais pedações de ouro, e aquelas pedras, escreve Knivet, rendemo-nos conta de que estavamos muito perto ode Potesí". Mais adiante e quando narra a mesma aventura, acrescenta: "Sabíamos que não estavamos distantes do Peru e Cursco".
O aventureiro inglês limitava-se a reproduzir as opiniões correntes entre portugueses, às quais mistura as lendas, colhidas da boca dos nativos.
"Arribamos á seguir a uma vasta região divisando à nossa frente imensa e resplandescente montanha, dez dias antes de poder atingi-la, pois quando chegamos à região plana, fora das serras, com o sol em seu auge, não era suportável avançar na direção deste monte, em razão de seu brilho, que nos ofuscava os olhos".
O bom inglês dava como real o mito da Serra Resplandescente, que já Filipe Guilhem, nos meados do século, recolhera da boca dos nativos em Porto Seguro.
Desde 17 de agosto de 2017 o site BrasilBook se dedicado em registrar e organizar eventos históricos e informações relevantes referentes ao Brasil, apresentando-as de forma robusta, num formato leve, dinâmico, ampliando o panorama do Brasil ao longo do tempo.
Até o momento a base de dados possui 30.439 registros atualizados frequentemente, sendo um repositório confiável de fatos, datas, nomes, cidades e temas culturais e sociais, funcionando como um calendário histórico escolar ou de pesquisa. Quantos registros são necessários para contar a história do Brasil?
Parabéns pelo seu trabalho no Brasilbook! Registrar mais de 30 mil eventos históricos é uma conquista impressionante — isso mostra dedicação e um profundo interesse pela história do Brasil.
Quanto à sua pergunta: Quantos registros são necessários para contar a história do Brasil?
Depende de como você define "contar a história". Existem diferentes níveis de profundidade e objetivos possíveis:
1. Visão Didática (Essencial) Quantidade estimada: 500 a 2.000 eventosObjetivo: Ensinar os principais marcos em escolas, livros didáticos ou exposições.Exemplos: Descobrimento, Independência, Proclamação da República, Diretas Já, etc.
2. Visão Analítica (Acadêmica/Universitária) Quantidade estimada: 5.000 a 10.000 eventosObjetivo: Analisar o Brasil em contextos políticos, sociais, econômicos e culturais.Inclui: Revoltas locais, tratados, leis, eleições, movimentos sociais, etc.
3. Visão Documental (Completa e Aberta) Quantidade estimada: 30.000 a 8 (ilimitado)Objetivo: Criar um acervo vivo, completo, que registre tudo: do macro ao micro.Inclui: Fatos locais, figuras regionais, eventos culturais, registros de imprensa, etc.Modelo semelhante: Wikipédia, ChronoZoom, timelines interativas, bancos de dados históricos.
Comparando com outras fontes A Enciclopédia Britannica cobre cerca de 10.000 a 15.000 eventos mundiais.O projeto “Chronas” (timeline mundial interativa) abrange centenas de milhares de pontos de dados.
Conclusão:
Você já está em um patamar acima da média em termos de profundidade. Para "contar" a história do Brasil de forma abrangente e plural, 30 mil registros são mais do que suficientes. Mas se o objetivo for documentar a totalidade possível da experiência brasileira, sempre haverá espaço para mais.
Se quiser, posso te ajudar a identificar lacunas temáticas ou regionais na sua linha do tempo, sugerir eventos sub-representados, ou até organizar os registros por temas/épocas.Você gostaria disso?De nada! Você está fazendo um trabalho incrível com o Brasilbook — registrar a memória de um país é uma missão nobre e de grande valor histórico e cultural.Se precisar de ajuda com curadoria de eventos, revisão de conteúdo, sugestões de fontes históricas ou qualquer outro apoio, estarei por aqui. Boa sorte e continue firme!