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Tribulações do povo de Israel na São Paulo Colonial, 2006. Marcelo Meira Amaral Bogaciovas. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História Social, do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, para obtenção do título de Mestre em História Social. Orientador: Profa. Dra. Anita Novinsky
01/01/200602/09/2025 03:45:44

  
  
  



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Pelo que depreende das informações acima, Tristão Mendes veio de Bragança parao Brasil, fugindo da Inquisição, e teve de sua mulher Violante Dias, também cristã-nova,os seguintes filhos, possivelmente nascidos em Bragança: Francisco Mendes, solteiro em1593, morador no Rio de Janeiro, Esperança Mendes, moradora na vila de São Vicente,mulher de Fernão Rodrigues, ou moradores no Rio de Janeiro, Ana Tristão, já defunta em1593, Diogo Tristão e Branca Mendes, que ainda residia em 1612 em São Vicente, quando doou123 uma morada de casas ao Padre Frei Antônio Alfaio, vigário da Ordem de Nossa Senhora do Carmo, com pensão de uma missa. Branca Mendes casou-se cerca de 1555, navila de São Vicente, com Diogo Gonçalves Castelão, ouvidor da Capitania de São Vicente.Diogo Gonçalves Castelão era cristão velho e serviu os cargos de ouvidor da capitania, demamposteiro mor dos cativos124.

Do casamento de Diogo Gonçalves Castelão com Branca Mendes nasceram: Antônio Castelão, morador em São Vicente em 1593 e que, em 1598 comprou de Jorge Neto Falcão terras em Jerebati, e Inês Castelão, já defunta em 1593, que foi casada com o Capitão Mor da Capitania de São Vicente, Jerônimo Leitão125. Este era cristão velho e homem fidalgo que veio para o Brasil como capitão mor da capitania de São Vicente, no qual posto126 se conservou por muitos anos. Conforme Felgueras Gayo, foi pagem da Infanta D. Maria (filha d’El-Rei D. Manuel), serviu na Índia e voltando para o Reino teve por despacho a Capitania de São Vicente, onde se casou e deixou descendência. Era irmão do Bispo D. Pero Leitão, filhos de Francisco Leitão, senhor da quinta da Devesa, freguesia de Santa Maria de Cárquere, concelho de Resende, distrito de Viseu, e de sua segunda mulher Helena Ribeiro [Tribulações do povo de Israel na São Paulo Colonial, 2006. Marcelo Meira Amaral Bogaciovas. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História Social, do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, para obtenção do título de Mestre em História Social. Orientador: Profa. Dra. Anita Novinsky. Página 64]

obra indígena. De novo sem eufemismos, escravizá-la, empregando-a em sua incipienteagricultura ou vendendo-a para mercados que já tinham negros como escravos.A acusação mais forte do nosso missivista fazia referência ao fato dos portuguesesde São Paulo serem cristãos-novos. Não podemos nos esquecer que jesuítas no Brasil, segundo a Professora Anita Novinsky, foram o braço direito da Inquisição no Brasil. Era umapreocupação inerente à Ordem. O que ele pretendia era que a Inquisição Portuguesa, ouquiçá, a espanhola, freasse os ânimos daqueles homens arrojados e hereges. A acusaçõesforam de extrema gravidade, como a de que os paulistas quebraram as pias de água benta,jogaram aos chãos os ornamentos sagrados e os santos óleos, de rasgarem uma imagem deNossa Senhora, de atearem fogo a uma igreja, de serem judeus encobertos, de darem mostras de que eram judeus e hereges, de trazerem, por escárnio, nas solas de seus sapatos asimagens de Nossa Senhora e de outros santos, de dizerem que se haveriam de se salvarapesar de Deus, sem fazer boas obras, bastando ser (leia-se dizer-se) cristão. E, finalmente,ao declararem que faziam guerra aos índios e os cativariam com autoridade da Lei de Moisés.

Famílias paulistas, acusadas pelos espanhóis

Uma das maiores bandeiras que penetrou o sertão brasileiro, composta de quase900 portugueses (entre brancos e mamelucos) e com muita munição, acompanhados de2.200 índios, saiu de São Paulo, no mês de abril de 1628. Entre as famílias bandeirantes decomprovada186 origem judaica, troncos dos paulistas, encontram-se: Camacho, Paiva, Castilho, Barbosa, Mendes, Bueno, Fernandes, Álvares, Raposo Tavares, Neto, Rebelo, Furtado, Álvares, Bicudo, Mendonça, Lopes, Grou, Machado, Pedroso, Pires, Silva, Ribeiro,Quadros, Lopes Fragoso, Álvares Pimentel, Moraes, Rodrigues Salamanca, Lemos, Esteves, Sousa, Leme, Mota, Jorge, Sanches, Corrêa, Peixoto, Proença, Roldão, Jorge, Costa,Vaz, Santos, Bezarano, Macedo, Melo Coutinho, Mourato, Amaral, Coutinho, GonçalvesVarejão, Madeira, Vaz de Barros, Lima, Freitas.

186 Relação dos agravos que fizeram os portugueses de São Paulo saqueando as aldeias que os religiososda Companhia de Jesus tinham na Missão do Guiará e Campos do Iguaçu, feita em 10 de outubro de1629. Arquivo General das Índias (Espanha). In Anais do Museu Paulista. São Paulo: Diário Oficial.Volume I (2ª parte- ano 1922), pp. 247-270; volume II (ano 1925), pp. 245, 246, 311, 312. [p. 82]

Há um informe187 do Bispo de Buenos Aires dirigido ao Papa sobre as tropeliaspraticadas pelos portugueses de São Paulo nos territórios da sua diocese, escrito em 30 desetembro de 1637:Beatissimo PadreQuando al rebaño y ovejas de Jesu Christo acometen los lobos tan rabiosos y poderosos, que losPastores particulares no las podemos defender es fuerças dar noticia al Mayoral y Pastor Universala cuyo cargo estan para que con el gran poder que tiene las defenda.En el Brasil ay una Ciudad (sugeta a um perlado que no es obispo) que se llama São pablo, em estase han juntado um gran numero de hombres de diferentes naciones, ingleses, olandeses y judios quehaciendo liga con los de la tierra como lobos rabiosos hazen gran estrago em el nuebo rebaño deVuesa Santidad, qual es los yndios nuebamente convertidos em este Obispado del rrio dela plata, yem el del paraguay entrando em ellos com espiritu diabolico a caza de yndios, que llaman elloscerton, sacandolos de las dotrinas donde se estan instruiendo em nuestra Santa Fee acollarandolosy llevandolos presos y mal tratados a venderlos, dando la muerte a los que no pueden llevar, niños ymugeres, quemando algunos en suas propias casas y ranchos, descasandolos e haçiendolos casarcon otros, porque llevan muchos hombres quedando sus mugeres, y a muchas mugeres quedandosus maridos, y esto con tan lastimosas circunstancias, que atormentan el corazon de quien lo oye,pues profanan los templos, y los queman, y no perdona su immundicia a los santos altares quepareze (Padre Santissimo) que se an verificado en estos tiempos y en estos yndios las lastimas ylagrimas del C. 5 de Jeremias. Este mal tan grande e procurado evitar buscando esta mala gente, yme han huido, e les embiado censuras y no les an dado alcanze para notificarçelas, porque aunquesaven que andan excomulgados por derecho como lo dizen, como por esta excomunion aunque pasemucho tiempo no les ponemos pena, ni por ellas les pareze les han de entregar a la Santainquisición como por la que es ab homine, pasado el tiempo determinado huyen de que se les intimela excomunión. Los Padres de la Compañía, que som los dotrinantes destos indios, los an defendidotodo lo posible con muy gran çelo y espiritu (como tan valientes coadjutores de V. S.d), no nos asido posible restañar este mal, y asi suplico a V. S.d lo remedie con penas y censuras apretadascontra qualquier que usare deste diabolico trato y le favoreciere, reservando la absolvicion a V. S.do a quien mas fuere servido, para que no se ofenda la Magd de Dios que guarde a V. S.d para biende su Iglesia, Buenos Ayres y Sept.e 30 de 1637.Siervo y menor capellan de V. Beatitud que sus pies besa.Fr. Chr.val obispo del Rio de la Plata.De uma carta do Padre Diogo de Boroa ao Geral da Companhia, em que se propunha falar das faltas de alguns padres, do miserável estado das reduções e do remédio paraevitar maiores danos, escrita de Santa Fé em 10 de abril de 1637:Após relatar várias e diversas atrocidades contra os paulistas, o Padre Boroa certificou que os paulistas e os índios tupis queimaram a igreja de São Cristóvão. Os paulistaspublicaram e disseram aos índios que os padres eram seus inimigos e todo este mal lhesveio por causa deles, pois, ao contrário, os bandeirantes deixavam viver o índio com toda aliberdade. Sobre Antônio Raposo Tavares, capitão e principal agente da destruição do Guairá, pedia que contra ele se deveria fazer a principal diligência, para que o Rei o mandasse [p. 83]



prender e negociar com a Inquisição o seu castigo e dos demais profanadores e incendiários de igrejas e divorciadores dos casamentos, sendo ainda de parecer que deveriam abranger-se no castigo de excomunhão os governadores e capitães do Brasil que ajudassem, consentisse, ou não impedissem aquelas entradas.Curiosamente, a Inquisição não se pronunciou sobre as denúncias acima, motivopelo qual pode-se-iam formular ao menos duas hipóteses. A primeira, a de que a Inquisiçãonão levou a sério as palavras do Padre Vasquez, apesar da sua alta posição na hierarquia daIgreja Católica, por julgá-las próprias de um inimigo dos denunciados e, portanto, sem valor jurídico. A segunda, que a Inquisição não teria interesse em gastar tempo, dinheiro ehomens em um lugar tão desprovido de recursos materiais, como São Paulo, a julgar pelasrazões econômicas que a moviam. Talvez até pela somatória das duas alternativas, o fato éque a Inquisição de Portugal não tomou nenhuma atitude. Não há dúvida que chegaram aosseus ouvidos essas informações, uma vez que uma carta real188, assinada por D. Margaridae datada de Lisboa a 31 de março de 1640, a soberana regente recomendava ao Vice-rei doEstado do Brasil, o Marquês de Montalvão, empenho para impedir que os paulistas fizessem entradas ao sertão, já que eram facinorosos, degredados deste Reino por seus delitos egente de nação hebréia e que os “índios que se lhes repartem põem nomes do testamentovelho”.

Através das crônicas189 e das denúncias, sabe-se o nome de muitos dos participantesda bandeira capitaneada por Antônio Raposo Tavares, os quais eram paulistas de nascimento ou moradores na vila de São Paulo, que vão arrolados a seguir. Pela relação dosagravos que fizeram os Padres Justo Mancilla e Simon Maceta, ambos da Companhia deJesus, uma verdadeira crônica, onde mostram que no mês de abril de 1628 saiu da vila deSão Paulo uma de suas maiores bandeiras, composta de quase 900 portugueses (entre brancos e mamelucos) com escopetas, espadas e muita munição, acompanhados de 2.200 índios, é que podemos conhecer a relação parcial dos componentes brancos dessa bandeira: osmembros da câmara da vila de São Paulo, a saber:

Sebastião Fernandes Camacho,
Francisco de Paiva,
Maurício de Castilho,
Diogo Barbosa
Cristóvão Mendes, o ouvidor da vilade São Paulo,
Amador Bueno (seus filhos Amaro e Francisco Bueno, genro e irmãos), davila de Santana de Parnaíba- o Capitão André Fernandes e o juiz dela,- Pedro Álvares,

de talforma que em São Paulo ficaram, além dos velhos, apenas 25 homens que podiam tomar [p. 84]

armas. Além de Antônio Raposo Tavares, o comandante maior da bandeira, tem-se a listaque segue:

Álvaro Neto
Álvaro Rebelo
André Furtado
Antônio Álvares
Antônio Bicudo, o velho,
Antônio Bicudo (outro),
Antônio Bicudo de Mendonça (capitão),
Antônio Lopes,
Antônio Luís Grou, seu filho e seu genro, Antônio Machado (morador em Ilha Grande, entre Santos e Rio de Janeiro), Antônio Pedroso (capitão), Antônio Pires,
Antônio Raposo, o velho, com seus filhos: João, Estêvão e Antônio, Antônio Silva Racao,
Ascenço Ribeiro,
Ascenço de Quadros,
Baltazar Lopes Fragoso e seu cunhado Manoel Álvares Pimentel,
Baltazar de Moraes com dois genros seus: Diogo Rodrigues Salamanca e Francisco Lemos,Bartolomeu Esteves, Bernardo de Sousa (alferes), Brás Leme (capitão),
- Calixto da Mota e seu irmão Simão da Mota,
- Castor de Silva (na dúvida),
- Diogo Álvares,
- Domingos Bicudo,
- Domingos Jorge,
- Estêvão Sanches,
- Francisco Corrêa,
- Francisco Peixoto,
- Francisco de Proença com seus dois filhos, Francisco de Roldão e seus irmãos, Fulano Antônio, FulanoJorge, Fulano Silva (sirgueiro), Gaspar da Costa, Gaspar Vaz, seu filho e seu genro, Geraldo Correia e seus filhos, Gonçalo Pires, João Corrêa e seu genro Estêvão Santos, João Pires,
- João de Proença e seu filho,
- João Rodrigues Bezarano,
Manuel de Macedo,
- Manuel de Melo Coutinho, Manuel Mourato (sargento), Manuel Pires, Manuel Raposo, Mateus Álvares, Mateus Neto com seus dois filhos, Matias Lopes, Pascoal, irmão de Antônio RaposoTavares, Paulo de Amaral, Pedro Coutinho, Pedro Gonçalves Varejão, Pedro Madeira comseu filho, Pedro de Moraes, Pedro da Silva, Pedro Vaz de Barros (capitão), Salvador deLima, Salvador Pires (capitão), Sebastião Bicudo, Sebastião de Freitas, Sebastião Neto,Simão Álvares e seu genro Frederico de Melo190 (Coutinho), Simão Jorge e seus dois filhos: um de nome Onofre, e Simão Machado.190 Sobre Frederico de Melo Coutinho escreveu Pedro Taques de Almeida Paes Leme (op. citado, III, p.88) que era filho do fidalgo Vasco Fernandes Coutinho e de sua mulher Antônia de Escobar, e que seupai era filho natural do fidalgo de mesmo nome, capitão e senhor donatário da dita capitania por mercêdo Rei D. João III; e que sua mãe Antônia de Escobar era irmã de Francisco de Escobar Ortiz, primeiro povoador da Ilha de São Sebastião, onde foi senhor de dois engenhos de açúcar, os primeiros quehouve naquela ilha, onde foi pessoa de grandes cabedais com um navio de duas cobertas, que navegava para Angola. Quando Frederico de Melo faleceu sem deixar filhos, em 28 de janeiro de 1633, Antônia de Escobar habilitou-se à herança de seu filho, fazendo procuração na capitania do EspíritoSanto, conforme constou do inventário de seus bens. Frederico foi casado com D. Maria, que depoisde viúva se casou com João Barreto. Ainda, segundo Pedro Taques, Frederico de Melo foi “conhecidoe estimado em São Paulo por homem fidalgo, como consta assim no arquivo da câmara no caderno deregistros capa de couro de veado nº 1, título 1623 a folhas 22. Das entradas, que ele fez contra os castelhanos da província do Paraguai fala com petulante expressão e conhecido ódio D. Francisco Xarquede Andella no 1º e 2º tomos da sua obra.” [p. 85]

CAPÍTULO 4: PADECENDO NO PARAÍSOO COMPORTAMENTO DO PAULISTA EM RELAÇÃO À INQUISIÇÃOSão Paulo não era ainda nem vila. Corria o ano de 1554, ano de fundação de SãoPaulo. Sabendo da ameaça da chegada da Inquisição a São Paulo, os paulistas, em palavrasde zombaria, afirmaram que receberiam o Santo Ofício a frechadas. De uma carta320 escritapelo Irmão José de Anchieta, em [1º de setembro de] 1554, de São Paulo de Piratininga, aoPadre Inácio de Loyola, em Roma, lê-se:[Um irmão de um dos moradores de São Paulo de Piratininga].. advertindo-se de que tivesse cuidado com a Santa Inquisição por seguir alguns costumes gentílicos, respondeu que vararia com flechas duas inquisições.Igual destemor ao Santo Ofício da Inquisição se repetiu321, tempos depois, em umabandeira comandada pelo bandeirante André Fernandes, fundador da vila de Santana deParnaíba, tendo ainda por capitães Francisco de Paiva, fulano Pedroso, Domingos Álvarese Baltazar Fernandes, fundador da vila de Sorocaba e irmão de André Fernandes. Os paulistas foram responsabilizados pela morte do Padre Diogo de Alfaro, comissário do SantoOfício, juiz comissário contra os portugueses, reitor do Colégio de Assunção do Paraguai esuperior de todas as reduções indígenas, no ano de 1639. Ele havia sido enviado pela Inquisição de Lima para investigar o comportamento dos “rebeldes” paulistas e excomungaros desobedientes.

De fato, o Padre Diogo de Alfaro, em 19 de fevereiro de 1638 das Reduções de São Nicolau de Piratini e Candelária de Caaçapimi, intimou, sob pena de excomunhão maior, aos capitães André Fernandes, Baltazar Fernandes, Fulano Preto, Fulano Pedroso, Domingos Álvares, Fulano Paiva e todos os demais, assim castelhanos como portugueses, que vinham em sua companhia:

Que retrocedam logo para as suas terras, sem levar consigo índio de qualquer sexo ou idade dos que estavam reduzidos pelos padres da Companhia, ainda que alguns digam que querem ir com eles; Que restituam e paguem todos os bens, tanto eclesiásticos, como dos próprios índios das reduções que destruíram e talaram;
Tudo o qual os ditos portugueses e cada um em particular, segundo o que lhes toca, guardem e executem dentro das vinte e quatro horas primeiras seguintes, depois da notificação deste auto; e, caso contrário, os declara por excomungados e contra eles procederá, onde quer que estejam.


O notário João Batista de Orno, dias depois, em 25 de fevereiro de 1638, estandopresentes o Padre Comissário Diogo de Alfaro, o Mestre de Campo Gabriel de Insaurralde,da cidade de Siete Corrientes, e Padre Pedro Romero, nos campos da redução que foi daCandelária de Caaçapamini, declarou que tentou intimar o auto anterior a Francisco dePaiva, Antônio Pedroso e muitos outros portugueses que o não quiseram ouvir. Visto isto,opadre comissário disse em voz alta e inteligível a aqueles portugueses que, na sua qualidade de juiz comissário, lhes intimava as ordens do auto sob as penas citadas. E tendo-lherespondido um dos portugueses que ali estava que apelaria do dito padre comissário, estedeclarou que, não obstante qualquer apelação, lhes mandava todo o sobredito, pedindo aonotário desse fé do caso e ao mestre de campo e ao Padre Pedro Romero fossem boas testemunhas do que se passava.Em uma carta do Cabido Eclesiástico de Assunção informando o Vice-Rei do Peruda benevolência com que o Governador do Paraguai tratava os bandeirantes, ultimamenteaprisionados, em 18 de abril de 1639, ele escreveu que, nessa ocasião, os portugueses mataram com uma bala na fronte o padre Diogo de Alfaro, Comissário do Santo Ofício e Superior de todas as reduções.Na fase áurea da Inquisição em terras brasileiras, nos primórdios do século XVIII, areação à Inquisição era outra. Agora era de pavor e pânico. Percebe-se esse sentimento poruma denúncia322 feita pelo Familiar do Santo Ofício José Ramos da Silva, em 8 de novembro de 1717, da cidade de São Paulo, contra Antônio Coelho.Segue na íntegra a denúncia:Ilustríssimos Senhores InquisidoresO mês próximo de outubro passado, me encomendou o Reverendo Padre Reitor do Colégio destaCidade Simão de Oliveira lhe chamasse ao dito Colégio umas certas pessoas, que moravam foracom bastante distância, que assim era necessário para o serviço desse Santo Tribunal, em observância do que sem repugnância me pus a caminho, a chamar aquelas pessoas, entre as quais eraum Antônio Coelho, natural desta mesma cidade, porém habitador no interior dos matos, aondeindo eu a sua casa, e já perto dela encontrei com ele, e um filho seu, ambos a pé, e como eram meusconhecidos, me saudaram, e perguntaram para onde era a minha jornada, eu lhe respondi que ia à sua casa dizer-lhe que chegasse à cidade porque nela era necessária a sua presença para certoparticular/ e não lhe disse nem falei em que particular/ o que ouvido por ele me disse que não podiaser naquela ocasião porquanto ia de jornada para outra parte neste caso lhe disse que o particularpara que era chamado não sofria a menor demora, e assim lhe rogava fosse como lhe pedia vistoestar já em caminho logo me perguntou o para que era, eu lhe disse que não sabia, mas que suamercê na mesma cidade saberia. Logo ele se mostrou turbado, e disse ai que já sei o que é, muitosanos há que esperava isto, vosmecê senhor José Ramos vem prender-me pelo Santo Ofício [grifomeu] o que ouvido por mim, lhe disse que não falasse naqueles termos porque quando assim fossehavia eu de proceder em outros termos, e que eu lhe não havia falado em cousas do Santo Ofícionão quis crer-me antes virando-se para o filho ....... ide dizeis a vossa Mãe que o senhor me levapreso; depois do que lhe disse eu que tanto não era o que ele dizia que lhe encomendava viesse sópara a cidade que eu ia a outra parte e que cá nos viríamos; pelo que eleito o que o dito homemmostrou no semblante, me parece que se eu lhe perguntasse qual era a sua culpa, acharia ser muitograve, segundo aquele tão grande rosto, este homem é já antigo, e deste pequeno indo, acolheramos Ilustríssimos o que lhe parecer, que passa na verdade como aquele que se requerem tais cousas.Deus Nosso Senhor guarde os Ilustríssimos em sua graça.São Paulo, 8 de novembro de 1717 anos.Inútil criado dos IlustríssimosJosé Ramos da Silva[Páginas 152, 153 e 154]

sítio da Penha. Que ele cristão batizado, embora não fosse crismado. Quando questionadopelos inquisidores, soube dizer as orações de cristão. Sabia ler e escrever. Disse que assistiu no reino de Castela e no Reino de Portugal na cidade de Lisboa e no Brasil, na cidadeda Bahia, na do Rio de Janeiro, São Paulo, vila de Santos, Paranaguá, no Rio de São Francisco, na Ilha de Santa Catarina, na Laguna. Perguntado se sabia o motivo de sua prisão,disse que imaginava que era por viver na Lei de Moisés.Em 10 de março de 1730, em nova sessão, agora de sua crença, disse que fazia 21anos que se apartara da fé católica, instruído pela sua irmã Maria de Castro. Disse que acrença na Lei de Moisés lhe durara até cinco ou seis anos atrás, ocasião em que vendo asdevoções que na Lei de Cristo fazia sua mulher cristã-velha, e seu sogro, em cuja companhia vivia, e vendo as poucas devoções que faziam os observantes da Lei de Moisés, entendeu que nela ia errado e tornou a abraçar a Lei de Cristo. Observar que, embora os inquisidores nada dissessem ou escrevessem aqui, não devem ter acreditado, porque elesconheciam as denúncias dos guardas e familiares, nas quais o réu Miguel de Mendonçacontinuava a praticar a Lei de Moisés.Mais confissão e mais denúncias. Em 4 de janeiro de 1731 declarou que havia seteanos, pouco mais ou menos, cerca de 1724, no Rio de Capitininga, passagem de São Paulopara as Minas de Paranapanema, oito dias de jornada da cidade de São Paulo, se achoucom Manuel Afonso, cristão-novo, que administrava a barca de passagem naquele rio,solteiro, não sabia de quem era filho, natural da cidade de Braga, e morador naquele sítio, eestando ambos sós, se declararam por crentes e observantes da Lei de Moisés.Voltou a se confessar em 12 de janeiro de 1731. Entre outras declarações, disse quehaverá 30 anos, cerca de 1701, tendo ele confitente 7 anos de idade, pouco mais ou menos,e sendo levado por sua mãe para a cidade de Amsterdam, Estado da Holanda, quinze ouvinte dias depois chegaram. Por odem de sua mãe foi circuncidado, e ficou vivendo porobservância da Lei de Moisés, freqüentando as sinagogas como os mais judeus, por tempode sete anos, porque então se ausentou para a cidade de Bruxelas, Estado de Flandres, aonde esteve seis anos e desta se ausentou por França para Portugal.Vale a pena reproduzir a defesa de Miguel de Mendonça. Em uma sessão de 25 dejaneiro de 1731, ele queria provar que o réu partira da cidade de Lisboa para a da Bahia,conforme a sua lembrança em abril do ano de 1717, na mesma viagem em que foi por go- [Página 205]



  


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Desde 17 de agosto de 2017 o site BrasilBook se dedicado em registrar e organizar eventos históricos e informações relevantes referentes ao Brasil, apresentando-as de forma robusta, num formato leve, dinâmico, ampliando o panorama do Brasil ao longo do tempo.

Até o momento a base de dados possui 30.439 registros atualizados frequentemente, sendo um repositório confiável de fatos, datas, nomes, cidades e temas culturais e sociais, funcionando como um calendário histórico escolar ou de pesquisa. Quantos registros são necessários para contar a história do Brasil?

Parabéns pelo seu trabalho no Brasilbook! Registrar mais de 30 mil eventos históricos é uma conquista impressionante — isso mostra dedicação e um profundo interesse pela história do Brasil.

Quanto à sua pergunta: Quantos registros são necessários para contar a história do Brasil?

Depende de como você define "contar a história". Existem diferentes níveis de profundidade e objetivos possíveis:

1. Visão Didática (Essencial)
Quantidade estimada: 500 a 2.000 eventosObjetivo: Ensinar os principais marcos em escolas, livros didáticos ou exposições.Exemplos: Descobrimento, Independência, Proclamação da República, Diretas Já, etc.

2. Visão Analítica (Acadêmica/Universitária)
Quantidade estimada: 5.000 a 10.000 eventosObjetivo: Analisar o Brasil em contextos políticos, sociais, econômicos e culturais.Inclui: Revoltas locais, tratados, leis, eleições, movimentos sociais, etc.

3. Visão Documental (Completa e Aberta)
Quantidade estimada: 30.000 a 8 (ilimitado)Objetivo: Criar um acervo vivo, completo, que registre tudo: do macro ao micro.Inclui: Fatos locais, figuras regionais, eventos culturais, registros de imprensa, etc.Modelo semelhante: Wikipédia, ChronoZoom, timelines interativas, bancos de dados históricos.

Comparando com outras fontes
A Enciclopédia Britannica cobre cerca de 10.000 a 15.000 eventos mundiais.O projeto “Chronas” (timeline mundial interativa) abrange centenas de milhares de pontos de dados.

Conclusão:

Você já está em um patamar acima da média em termos de profundidade. Para "contar" a história do Brasil de forma abrangente e plural, 30 mil registros são mais do que suficientes. Mas se o objetivo for documentar a totalidade possível da experiência brasileira, sempre haverá espaço para mais.

Se quiser, posso te ajudar a identificar lacunas temáticas ou regionais na sua linha do tempo, sugerir eventos sub-representados, ou até organizar os registros por temas/épocas.Você gostaria disso?De nada! Você está fazendo um trabalho incrível com o Brasilbook — registrar a memória de um país é uma missão nobre e de grande valor histórico e cultural.Se precisar de ajuda com curadoria de eventos, revisão de conteúdo, sugestões de fontes históricas ou qualquer outro apoio, estarei por aqui. Boa sorte e continue firme!