brancos, que geralmente não eram inventariados, como abordaremos adiante.Num mundo moldado por relações familiares, a posse de índios era tambémuma questão de domínio familiar, muito diferente da noção de propriedadeprivada de nossos dias. Doar e/ou partilhar, em inventários e testamentos, índiosforros às gerações seguintes pressupõe a certeza na continuidade do domíniofamiliar sobre tais índios.
Tamoios, pés largos, tapanhunos e outras qualidades de peças escravas
Certos índios, mormente os frutos da guerra, eram escravos, e a justificativa para sua escravização frequentemente era a guerra, e assim era importante marcar a diferença entre quem era ou não escravo. A moça Maria “mulata, filha de uma negra tupioaem e de tapanhum, por isso não se avaliou por ser forra”, como consta no inventário de João de Santana, de 1612.433
No mesmo inventário se disse “que estava uma negra em Pirapetinguy por nome Paula de nação carijó, escrava do tempo da guerra de Jerônimo Leitão, que por os avaliadores já a conhecerem a avaliaram” em 12 mil réis (grifos nossos).
Índio forro e índio escravo nomeados eram distinguidos naquela sociedade porqueos paulistas conheciam suas gentes. Sabiam, por uso e costume, e conhecimento,quem era ou não escravo ou forro e quem devia ou não entrar e de que modonos inventários.A que índios escravos eles se referiam? Em primeiro lugar, lembramos quelidamos com os índios presentes ou mencionados em inventários, dentro daordem vigente ou em contato com os paulistas no momento posterior à mortedos senhores. Não é o caso aqui de, apenas, aludirmos às percepções que ospaulistas tinham sobre os diferentes índios, mas nossa maior intenção é a derealçar que os índios ora analisados serem apenas os do contato.Nesses termos, embora poucos, os índios mencionados com valor nãoeram quaisquer índios, e ao observar determinadas qualidades deles notamosaspectos importantes sobre o conjunto dos índios, por comparação, inclusivecom filhos de brancos e com bastardos. Dessa maneira, no inventário de bensde Martim Rodrigues, de 1612, vê-se uma “negra por nome Guaya digo da nação Guoaya que diz ser escrava da entrada de Domingos Rodrigues de Paraupavacom 3 filhos”, todos os quatro, listados no item peças, foram avaliados em 22mil réis.434 Ainda nesse inventário, que contava com 34 índios, estão, imediatamente depois da negra, as peças tememinós, dentre as quais uma “negra pornome Genebra de nação tamoia com uma criança”, de 27 mil réis, e um “rapazpor nome Casao tamoio”, de 20 mil réis. Os outros tememinós eram sem valor,diferente dos tememinós tamoios. Salvo os tamoios e a negra do Guoaya, osdemais 27 índios, inclusos entre os tememinós e as peças que se acharam vivas,não receberam avaliação monetária, incluindo um “moço por nome Pedro quedisseram ser filho do defunto Martim Rodrigues”, o inventariado. O escrivãoSimão Borges sabia muito bem quem podia ou não ser descrito com valor, comoescravo. O filho do senhor não era escravo, como o próprio Martim Rodriguesafirmara em seu testamento de 1603, feito em pleno sertão às margens do rioParacatu. Ainda que em meio aos perigos do sertão, não estava doente à beira da morte, mas “são e de saúde e em todo o [seu] siso e juízo perfeito”. Noentanto, para “desencargo de [sua] consciência”, declarava possuir dois filhosbastardos que os houve no sertão”, um de nome Diogo e o outro, infelizmente,ilegível na fonte, mas muito provavelmente o tal Pedro descrito no inventário.Sobre o filho Diogo, Martim afirma que ele e sua mulher, Suzana Rodrigues(de pai desconhecido, provavelmente descendente de índio), o forraram “emcomunidade”, de comum acordo.A par do estado da documentação, sabe-se que para Diogo o documentotraz referências a “notas do tabelião Antônio Rodrigues”. Teria sido a alforriaregistrada em cartório? Não sabemos, mas Martim Rodrigues tinha muitapreocupação com os “dois meninos (...) filhos bastardos”, e pediu a sua mulherque ficasse curadora das crianças. Se Suzana não quisesse, ficaria a cargo deseu genro, que também os ensinaria a “ler e escrever”, e “alguns outros ofíciosque lhe parecer bem”. Sua terça, depois de cumpridos os legados, deveria serrepartida por “ambos irmãmente de permeio”. De fato, os filhos do senhor nãoeram escravos. Eram parentes, ainda que um deles tenha sido arrolado no inventário do pai, mas não como escravo. Filhos bastardos não necessariamente [*De que estamos falando? Antigos conceitos e modernos anacronismos – escravidão e mestiçagens, 2015. Eduardo França Paiva, Manuel F. Fernández Chaves e Rafael M. Pérez García (orgs.). Páginas 193 e 194]
Desde 17 de agosto de 2017 o site BrasilBook se dedicado em registrar e organizar eventos históricos e informações relevantes referentes ao Brasil, apresentando-as de forma robusta, num formato leve, dinâmico, ampliando o panorama do Brasil ao longo do tempo.
Até o momento a base de dados possui 30.439 registros atualizados frequentemente, sendo um repositório confiável de fatos, datas, nomes, cidades e temas culturais e sociais, funcionando como um calendário histórico escolar ou de pesquisa. Quantos registros são necessários para contar a história do Brasil?
Parabéns pelo seu trabalho no Brasilbook! Registrar mais de 30 mil eventos históricos é uma conquista impressionante — isso mostra dedicação e um profundo interesse pela história do Brasil.
Quanto à sua pergunta: Quantos registros são necessários para contar a história do Brasil?
Depende de como você define "contar a história". Existem diferentes níveis de profundidade e objetivos possíveis:
1. Visão Didática (Essencial) Quantidade estimada: 500 a 2.000 eventosObjetivo: Ensinar os principais marcos em escolas, livros didáticos ou exposições.Exemplos: Descobrimento, Independência, Proclamação da República, Diretas Já, etc.
2. Visão Analítica (Acadêmica/Universitária) Quantidade estimada: 5.000 a 10.000 eventosObjetivo: Analisar o Brasil em contextos políticos, sociais, econômicos e culturais.Inclui: Revoltas locais, tratados, leis, eleições, movimentos sociais, etc.
3. Visão Documental (Completa e Aberta) Quantidade estimada: 30.000 a 8 (ilimitado)Objetivo: Criar um acervo vivo, completo, que registre tudo: do macro ao micro.Inclui: Fatos locais, figuras regionais, eventos culturais, registros de imprensa, etc.Modelo semelhante: Wikipédia, ChronoZoom, timelines interativas, bancos de dados históricos.
Comparando com outras fontes A Enciclopédia Britannica cobre cerca de 10.000 a 15.000 eventos mundiais.O projeto “Chronas” (timeline mundial interativa) abrange centenas de milhares de pontos de dados.
Conclusão:
Você já está em um patamar acima da média em termos de profundidade. Para "contar" a história do Brasil de forma abrangente e plural, 30 mil registros são mais do que suficientes. Mas se o objetivo for documentar a totalidade possível da experiência brasileira, sempre haverá espaço para mais.
Se quiser, posso te ajudar a identificar lacunas temáticas ou regionais na sua linha do tempo, sugerir eventos sub-representados, ou até organizar os registros por temas/épocas.Você gostaria disso?De nada! Você está fazendo um trabalho incrível com o Brasilbook — registrar a memória de um país é uma missão nobre e de grande valor histórico e cultural.Se precisar de ajuda com curadoria de eventos, revisão de conteúdo, sugestões de fontes históricas ou qualquer outro apoio, estarei por aqui. Boa sorte e continue firme!