Assim, é bastante plausível que o mapa que chegou à Lisboa apresentasse, nessa área, detalhes geográficos bem próximos aos que se observa, em pormenor, na cópia (figura 14). Elas estavam relativamente bem atualizadas, no que diz respeito às particularidades geográficas e administrativas da região, mas ainda refletia o estágio inicial da principal atividade econômica ali desenvolvida, leia-se da exploração das minas, que então se encontrava em seu auge. É interessante ressaltar que, embora praticada pelos jesuítas, a mineração não se conformou como uma das suas principais atividades econômicas, principalmente no que diz respeito a essa região. Tal proposição é confirmada pelo conjunto de elementos que o cartógrafo deixou registrado nesse espaço.O Caminho até a Nossa Senhora da Ponte de Sorocaba (3), ligando as vilas de Curitiba e Sorocaba, existia antes mesmo da criação de tais vilas e, apesar de sua importância, não era o único caminho existente nessa porção. Ele foi a consolidação melhorada de uma das várias trilhas indígenas que compunham a complexa rede que interligava toda a região. Mais tarde, a partir da década de 1720, quando se iniciou o sistema de tropas e muares, foi expandido até a região do atual rio Grande do Sul.491As chamadas Minas de Curitiba (6) foram exploradas inicialmente por Gabriel de Lara, a partir de 1646, mesma época em que ele foi encarregado de povoar a baía de Paranaguá (13), onde estabeleceu um povoado de mesmo nome. 492 Esse logo se desenvolveu, sendo, em 1648, elevado à condição de Vila Nossa Senhora do Rosário de Paranaguá e, no ano seguinte, recebeu o Pelourinho e a casa de Fundição.493 Pouco tempo 491 BUENO, Beatriz Piccolotto Siqueira. “Dilatação dos confins: caminhos vilas e cidades na formação da Capitania de São Paulo (1532-1822)”, p. 271-272. REIS, Nestor Goulart. As Minas de Ouro e a formação das Capitanias do Sul, p. 233. Cf. TRINDADE, Jaelson Britan. Tropeiros. São Paulo: Editoração Publicações e Comunicações, 1992.492 FRANCO, Francisco de Assis Carvalho. Dicionário de bandeirantes e sertanistas do Brasil: séculos XVI, XVII e XVIII. São [p. 178]
de onde era natural.501 De acordo com Francisco de Assis Carvalho Franco, mesmo de posse da licença, em 1698, “ele ainda tratava das medidas necessárias para a efetivação” da fundição, que, como outras tentativas anteriores e posteriores, fracassou. Parece que terminou seus dias no fim da primeira década do XVIII, na cidade do Rio de Janeiro, “baldo de recursos exercendo o cargo de escrivão da fazenda”. 502 Empreendimento semelhante para exploração do ferro nessas serras só ocorreu quase um século depois, em 1763, levado a cabo por Domingues Pereira Ferreira.O período em que o padre Cocleo esteve no Rio de Janeiro coincidiu com o de maior atuação do fidalgo Luís Lopes de Carvalho nas Capitanias do Sul. Este, enquanto governava a Capitania de Itanhaém, exercia a função de administrador das minas por ele descobertas, as de Cananeia e as da Ribeira de Iguapé (8).503 Das duas, apenas a segunda aparece registrada de forma genérica, situada entre os afluentes do rio Iguape. A vila de Iguapé, a segunda mais importante da região, por possuir Casa de Fundição, desde a primeira metade do século XVII, também aparece aí representada (14). Já os anos em que o Mapa da maior parte do Brasil estava sendo produzido, coincidiram com os que o fidalgo lidava com a implementação da sua Fábrica de Ferro nas Minas de Luís Lopes (9), cujas jazidas aparecem desenhadas. Em 1692, Luís Lopes descreveu, ao Rei, as Serras de Araçoiba,504 onde se encontrava abundância de ferro. Segundo ele, ela tinha
de circunferência sete léguas, segundo afirmam várias pessoas que a tem investido, toda coberta de denso alvoreado, em que se acham paus Reais, e madeiras de lei que será lastima reduzi-los a carvão, porém como distam trinta léguas do mar, não tem outra serventia, e nela se acham vários Rios capazes de em qualquer deles se fabricarem muitos engenhos de agua.No meio desta serrania esta uma vargem que tem três léguas de cumprido e meia de largo, e pelo meio dela corre um Rio capaz de se fazerem nele as fábricas; toda esta vargem, e águas de miada área, até pedras de arrobas, e muitas e mui dilatas betas profundas, largas e cumpridas, como poderão dizer o Coronel de Itu Manuel de Moura Gavião, Manuel Gonçalves Fonseca, e Manuel Fernandez mestre ferreiro, porque estiveram muitos dias em minha companhia.505
A figura 15 é um detalhe mais ampliado dessa área, em que é possível perceber as Minas de Luís Lopes, “distante oito dias da vila de Sorocaba e doze da de São Paulo, a jornadas moderadas”,506 circundada por vegetação arbórea. A cadeia de serras não está disposta em forma de circunferência, e sim em duas linhas de montanhas separadas pelo rio. Figura 15: Detalhes do Mapa da maior parte da costa, e sertão, do Brasil em que aparecem representadas as Minas de Luís Lopes, entre as Latitudes 2501 CARTA Régia pedindo informações sobre as minas de ferro descobertas em Biraçoyaba por Luís Lopes de Carvalho e a fundição que este pretendia ali estabelecer (acompanhada dos respectivos documentos. Lisboa, 23 de Outubro, 1692. RIGS, v. XVIII, São Paulo, p. 272, 1913. 502 FRANCO, Francisco de Assis Carvalho. Dicionário de bandeirantes e sertanistas do Brasil, p. 111.503 BUENO, Beatriz Piccolotto Siqueira. “Dilatação dos confins: caminhos vilas e cidades na formação da Capitania de São Paulo (1532-1822)”, p. 262-263. 504 As Serras de Araçoiaba, compostas de rochas alcalinas contendo concentrações de magnetita e apatita, estão situadas ao norte da Cidade de Araçoiaba, no centro-leste do Estado de São Paulo. Têm uma altitude média de 570 metros, estendendo-se em direção NW-SE por 8 km, chegando a atingir 6 km de largura. Os principais rios são os afluentes [p. 181, 182]
A atualização das informações da parte Sul ou a maior permanência de dados desatualizados nessa região, quando comparado com a parte Norte, reforçam a ideia de que os mapas – o que chegou a Lisboa e o que permaneceu na Provedoria – estavam representados de forma muito próxima, e a cópia setecentista que permaneceu no Brasil presta-se bem ao estudo do original.3.5 Além de Tordesilhas Uma simples olhada na cópia remanescente do mapa de Cocleo chama a atenção para a ausência, na carta, dos extremos Norte e Sul, e do Centro-oeste do Brasil, sendo que as duas primeiras regiões foram vigorosamente defendidas pela Coroa portuguesa, nos três séculos anteriores, tanto por atos militares, quanto por negociações diplomáticas. O território limita-se ao que estava situado a Leste do que seria o Meridiano de Tordesilhas e, mesmo esse, estaria posicionado de forma bastante desfavorável aos portugueses, já que não inclui, no Sul, nem a futura capitania do Rio Grande, nem a boca do Rio da Prata, nem a do Rio Amazonas, no Norte.507O título do original - Mapa da Maior Parte do Brasil – indica que esse apresentava configuração bastante semelhante do território, limitando-se à mesma área representava na cópia. Dessa forma, excluía duas regiões, a Amazônia e o Leste do Paraguai, onde os jesuítas tinham intensa atividade missionária e nas quais, em fins do século XVII, exatamente quando o Padre produzia seu mapa, a administração portuguesa buscava garantir seu domínio. Uma década antes, em 1686, enviara Antônio de 507 Para ter uma noção da área representada por Cocleo ver o ane [p. 183]
volta. Que não encontram gentio algum; mas supõem-se que os que poderá haver por aqueles distritos vizinhos, ao no caminho, serão de corso.554De um lado, as expressões “demarcando as balizas naturais de montes, rios e serros”, “certeza da rota”, “me trouxe um roteiro fiel”, “um caminho novo sem erro”, “capaz de se seguido ou frequentado”, entre outras selecionadas por dom João Lencastre, refletem o embate que ele e Antônio de Albuquerque estavam travando no Conselho Ultramarino a respeito da descoberta do caminho555 e da disputa de jurisdição entre os dois Estados, do que, propriamente, das notícias do trajeto percorrido por Manuel Gonçalves na abertura do mesmo. Demarcar os limites pelas balizas naturais do terreno, servindo-se de montes, rios e serros era estratégia usual nas disputas de jurisdição.556Por outro, as várias referências às águas, à proveitosa vegetação e até à suposta ausência indígena, apesar de serem expressões genéricas, são voltadas para justificar a serventia da empresa e as possibilidades de terras devolutas a serem colonizadas. Cabe lembrar que, por esses anos, a região dos atuais Estados de Pernambuco, Ceará e Rio Grande passava por várias dificuldades impostas pela atuação dos gentios e dos negros dos mocambos, e até pela epidemia de bexigas.557 Portanto, não foi gratuito o 554 AHU. Maranhão. Cx. 09, doc. 957. Anexo: COPIA da carta de dom João Lencastre ao Rei. Bahiaadministrador terminar a sua missiva enfatizando a salubridade e a segurança do caminho aberto. De acordo com ele, o caminho estava “tão frequentado que por ele veio agora daquele Estado o Doutor Manuel Nunes Colares que ali serviu de Ouvidor-geral e antes e depois vieram outras pessoas e os oitenta homens que mandei explorar este caminho foram e vieram sem adoecer, nem morrer alguém”. 558 Recém-provido no posto de desembargador, Colares acompanhou a expedição saindo do Pará, à cavalo, pelo caminho recém-aberto, para tomar posse das suas novas atribuições na Relação da Bahia.559 No meio do caminho, em janeiro de 1697, a expedição topou “com os tapuias bravos chamados Aroatizes, e Goanazes com os quais ajustaram as pazes”.560
Vários caminhos estão assinalados em todo o Mapa da maior parte costa, e sertão do Brasil, a cópia remanescente. Alguns deles frequentados e reconhecidos no início do século XVII, como aquele que ligava Curitiba a Sorocaba; outros, oficialmente abertos na centúria seguinte, como é o caso do Caminho Novo de Garcia Rodrigues, a partir de 1704, que não constava com certeza do original do Padre Cocleo, podendo ser considerado um acréscimo posterior existente apenas na cópia. Mas voltemos à região percorrida pela expedição, nessa área está traçado um outro caminho que se divide em dois trechos, destacado em amarelo na figura 19. O primeiro sai do rio Itapecuru (2) e segue até o Parnaíba (7), quando passa a ser fluvial. O segundo trecho surge no Praguiaçu sua história): Domingos Jorge Velho e a “Tróia Ne [p. 201]
CARTA de dom Rodrigo sobre a casa da fábrica da pólvora: Minas do Salitre; insuficiência de seu administrador, e ir Pedro Barbosa Leal examinar e ver o que nelas se tem obrado, Bahia 26 de Junho de 1703. Provisões, patentes, alvarás e cartas 1692-1712, p. 251-253, v. XXXIV, 1936. RESPOSTA do governador dom Rodrigo da Costa ao Rei. Bahia, 29 de Janeiro de 1704, p. 257, n. XXXIV, 1936.CARTA sobre mandar Sua Majestade plantas das Vilas do Recôncavo desta cidade. Lisboa, 29 de janeiro de 1704, p. 260-261. Provisões, patentes, alvarás, cartas (1692-1712), p. 255-256, v. XXXIV, 1936.CARTA de dom Rodrigo da Costa ao padre. Bahia, 23 de Junho de 1704. Correspondência dos governadores gerais (1704-1714), p. 137-138, v. XL, 1936.RESPOSTA de dom Rodrigo da Costa a El-Rei sobre quais são as Capitanias sujeitas à jurisdição e Demarcação deste Governo Geral, e as que pertencem ao do Rio de Janeiro. Bahia, 29 de Julho de 1704, p. 256-257, v. XXXIV, 1936.CARTA para o cônego Gaspar Ribeiro Pereira, sobre as excomunhões que tem posto ao Cura dos distritos do Serro do Frio e Tucambira. Bahia, 17 de Março de 1705. Correspondência dos governadores gerais (1705-1711), p. 17, v. XLI, 1938.CARTA Régia sobre se despachar a causa que corre Juízo no da Coroa acerca da pretensão que o arcebispo desta cidade e o bispo do Rio de Janeiro têm à administração dos moradores do Serro Frio e Tucumbira. Lisboa, 16 de setembro de 1705, p. 268-269, n. XXXIV, 1936.CARTA de Luiz Cezar de Menezes para o capitão-mor Antônio de Almeida Velho, sobre a retirada das oficinas de salitre. Bahia, 15 de Julho de 1707, p. 206. Correspondência dos governadores-gerais 1705-1711, v. XLI, 1938.CARTA do Vice-Rei, Conde de Óbidos, para o Capitão-mor do Ceará, João de Mello de Gusmão (sic.). Bahia, 24 de abriu de 1665, p. 228-229. DH, v. IX da série VII, 1929.ORDEM que se enviou a Francisco Dias para prender, ou matar uma tropa de negros levantados. Bahia, 19 de Setembro de 1661. Documentos Históricos. Documentos da Biblioteca Nacional (1660-1670). Rio de Janeiro, v. 7 da série V, p. 70-71, 1928.Revista do Instituto Geográfico de São Paulo (RIGSP)CARTA Régia pedindo informações sobre as minas de ferro descobertas em Biraçoyaba por Luís Lopes de Carvalho e a fundição que este pretendia ali estabelecer (acompanhada dos respectivos documentos). Lisboa, 23 de Outubro, 1692, v. XVIII, p. 272, 1913. CARTA régia mandando dar índios para as diligências das minas de prata e ferro de Sorocaba, realizada por Luís Lopes de Carvalho e Frei Pedro de Souza. Lisboa, 08 de Fevereiro de 1687, v. [p.373]
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