28021*Revista trimensal do Instituto Histórico, Geográphico e Etnográphico Brasileiro, tomo XXVI
A vinda do Apóstolo São Thomé á estas partes da América, e principalmente ao Brasil e ás regiões do Paraguay, está baseada em tais fundamentos, que d´ela não se pode duvidar. Faltam monumentos antigos que testifiquem a vinda de São Thomé, e por tanto a tornem perfeitamente certa, mas é inegável que a tradição constante e uniforme de diversas nações do novo mundo, os sinais e vestígios, e o nome de São Thomé conhecido desde tempo imemorial por elas, fazem probabilíssima sua vinda a estas regiões. 2450A Passagem de São Thomé pelo Brasil, por Eurico Branco Ribeiro
Em interessante artigo escrito especialmente para a Companhia Editora Nacional, o fino beletrista que é Heitor Moniz, focalizou recentemente, um dos pontos mais curiosos da história da terra brasileira: o que se refere é visita evangelizadora de São Thomé, apóstolo de Christo.
O assunto é deveras atraente, tão atraente que nos arrancou da absorção das lides profissionais para revivel-o através da recordação de um passado não muito distante, em que nos sobrava tempo para pacientes pesquisas nos domínios da história pátria. E por ser assunto atraente, repisando-o com o resultado de estudos que fizemos, esperamos que a seguir a palavra dos eruditos venha a lume debatendo-o como informações menos preciosas, com argumentação mais fundamentada, com conclusões mais seguras. Na certeza de que isso se dê, pedimos vênia para reproduzir aqui o que escrevemos em 1918 e em 1922 ao historiar a primeira fase do povoamento da região de Guarapuava, no Paraná, quando ali se instalaram as célebres Reduções Jesuíticas do Guairá.
Antes de tudo não está fora de propósito referir que esta questão da visita de um apóstolo de Jesus ás terras que Colombo veio encontrar em 1492 foi estudada com muito carinho, em dias de 1902, pelo monsenhor dr. Camilo Passalacqua, que chegou á convicção da possibilidade de tal cometimento.
Mas relatemos, sem mais delonga, o que se sabe a respeito de São Thomé em terras de Guarapuava.
Logo depois de encetar as suas peregrinações através dos sertões de Guairá, os jesuítas ficaram surpresos com o que lhes contavam os nativos acerca de um personagem misterioso um "caraíba" de grande poder, que atravessara aquelas paragens em época remota e cujas façanhas eram transmitidas de pai a filho com religiosa emoção. A princípio os missionários deram ouvidos moucos ás palavras dos selvagens. Cedo, porém, desvaneceram-se-lhes as desconfianças: todas as tribos arguidas separadamente, narravam mais ou menos os mesmos fatos.
E isso os levou a declarar oficialmente que São Thomé havia estado na margem esquerda do Paraná, entre o Paranapanema e o Iguassú.
Viera do lado do Atlântico, atravessando o Tibagi no seu curso médio, galgando a serra da Apucarana, vadeando o Ivahy, enveredando para o Piquiry e dalí prosseguindo não se sabe como nem para onde.
E o trajeto que fez ficou indelevelmente assinalado com uma estrada milagrosa de oito palmos de largura, construída pela simples passagem do apóstolo. Ao que parece essa estrada subsistiu por centenas de anos, pois encontramol-a delineada em mapas antigos, com a denominação de estrada de São Thomé, sendo por ela que se fazia no século XVI o percurso de São Vicente ao Paraguay. Washington Luis afirma que os nativos davam a essa estrada o nome de Peabiru ou Piabiin.
Em sua passagem, o santo sempre esteve em contato com o íncola, pregando a moral, falando em Deus, fazendo profecias, praticando milagres e ensinando coisas úteis.
Discorreu sobre o dilúvio, sobre a conveniência de cada nativo possuir uma só mulher, sobre a vinda de missionários brancos como ele, que deviam modificar seus costumes e guial-os á ilégivel do bem e da retidão corporal e espiritual. Anunciou a ereção de uma vila na foz do Pirapó. Deixou as impressões de seus pés em uma pedra no vale do Piriqui, no lugar donde dirigiu muitas prédicas. Ensinou o uso do fogo, das raízes alimentícias, do "caá" - a saborosa erva mate, cujo poder mortífero o santo exterminou, tostando-a ao fogo com suas sagradas mãos.
Na margem esquerda do Ivahy, acima da foz do Corumbatahy, e onde os jesuítas levantaram em sua homenagem a Redução de São Thomé, o apóstolo realizou o enterramento de grande quantidade de selvagens, recebendo, por isso, aquele lugar a denominação de cemitério de "Pay Zumé".
Nessas minúcias que ai ficam relatadas pode haver muita coisa de lendário, mas o fato principal o da visita de São Thomé, esse não oferece, hoje em dia, contestação que pese, em vista de provas irrefutáveis colhidas em toda a América.
A título de documentação, vejamos o que dizia o missionário José Cataldino ao seu superior no Paraguay, padre Diogo de Torres:
"...Muitas coisas me tinham dito desde o princípio estes nativos, acerca do glorioso apóstolo São Thomé, que eles chamavam pay Zumé, o não as tenho escritas antes, para melhor me certificar e averiguar a verdade..."
E passa a contar o que lhe relatavam os nativos anciãos e os caciques principais: São Thomé, "vindo das terras do lado do Brasil", chegara ás margens do rio Tibaxiva (Deve ser o Tibagy), onde eles e seus antepassados habitavam. Formavam então uma numerosíssima nação, pelo meio da qual passou pay Zumé em direção ao rio Ivai (2); sabiam ainda que deste rio o santo se dirigiu para o Piriqui.
"Nas cabeceiras deste rio, continua o padre Cataldino, dizem os nativos, se acham as pisadas do santo impressas em uma pedra e o caminho pelo qual atravessou estes campos, está ainda aberto, sem se ter nunca fechado, nem ter crescido nunca a erva, apesar de estar no meio do campo onde não trilham os nativos e asseguram que as
Também um historiador paraguayo, tendo descrito a passagem de São Thomé por terras sul-americanas, referiu-se, sem garantir sua veracidade, á existência ilegível pedra "nas serras de Guairá", que conserva a impressão de dois pés, sendo considerada como o púlpito de onde pregou o grande santo.
Agora raciocinemos um pouco. Seria a visita de São Thomé que abrandou o sentimento combativo do selvagem de Guairá?
A resposta deve ser afirmativa; se não o for, por que ao contrário de quase todos os primeiros navegadores ilegível, Diogo Garcia e Sebastião Caboto foram tão bem recebidos pelos habitantes do médio Paraná? 24803Fragmentos de História: índios e colonos em Sorocaba - 1769-1752, 09.2012. Erik Petschelies*
O termo “índio” refere-se explicitamente a uma pessoa vinculada a uma aldeia, diferentemente de outros dois registros que classificam os índios como Gentios, Carijós, Negros ou Servos. Carijó, aliás, foi uma denominação dada aos Guaranis, mais como sua escravização sistemática, ou termo acabou se tornando uma categoria para denominar os índios escravizados. Os índios também eram vistos como "remédio para a pobreza" em um discurso moralizante em que se justificava a escravização. [Fragmentos de História: índios e colonos em Sorocaba - 1769-1752, 09.2012. Erik Petschlies. Página 286]
Há, entretanto, um problema que esta nomeação não esclarece. A historiografia sorocabana prega que antes da fundação da vila moravam naquela região índios, e que os povoadores chegaram ali quando os índios já não se encontravam mais. Ora, se não houve contato entre índios e brancos, como os brancos puderam saber como os índios chamavam os locais que habitavam? Certamente os índios não escreveram os nomes nos próprios locais, já que os índios não escreviam. [Fragmentos de História: índios e colonos em Sorocaba - 1769-1752, 09.2012. Erik Petschelies. Página 289] 28118Trilha do Peabiru: Conheça caminho que levava nativos do Atlântico para o Pacífico. Por Isabelle Lima. portalamazonia.com
O termo “índio” refere-se explicitamente a uma pessoa vinculada a uma aldeia, diferentemente de outros dois registros que classificam os índios como Gentios, Carijós, Negros ou Servos. Carijó, aliás, foi uma denominação dada aos Guaranis, mais como sua escravização sistemática, ou termo acabou se tornando uma categoria para denominar os índios escravizados. Os índios também eram vistos como "remédio para a pobreza" em um discurso moralizante em que se justificava a escravização. [Fragmentos de História: índios e colonos em Sorocaba - 1769-1752, 09.2012. Erik Petschlies. Página 286]
Há, entretanto, um problema que esta nomeação não esclarece. A historiografia sorocabana prega que antes da fundação da vila moravam naquela região índios, e que os povoadores chegaram ali quando os índios já não se encontravam mais. Ora, se não houve contato entre índios e brancos, como os brancos puderam saber como os índios chamavam os locais que habitavam? Certamente os índios não escreveram os nomes nos próprios locais, já que os índios não escreviam. [Fragmentos de História: índios e colonos em Sorocaba - 1769-1752, 09.2012. Erik Petschelies. Página 289] 24385*Caminhos e descaminhos: a ferrovia e a rodovia no bairro Barcelona em Sorocaba/SP, 2006. Emerson Ribeiro, Orientadora Drª. Glória da Anunciação Alves
Estes caminhos Inhaíba, Passa-três e Caputera estão próximos ao bairro Brigadeiro Tobias no município de Sorocaba, vindo de São Paulo pela rodovia Raposo Tavares sentido Sorocaba. O caminho da direita vindo hoje de pinheiros tomaria o sentido não exato do que é hoje a rodovia Castelo Branco, saindo do planalto para a depressão periférica encontrando Tatuí e a serra de Botucatu, a que lembrarmos que vários caminhos se cruzavam vindo de vários povoados (fundados) levando os bandeirantes à caça de índios e mais tarde o surgimento de um comércio de pequenas trocas nesses lugarejos.
26567*“Visão do Paraíso - Os motivos edênicos no descobrimento e colonização do Brasil”. Sérgio Buarque de Holanda
onde ficara a impressão das pisadas, para consigo levarem as raspas
em relicários. Foi, em parte, a êsse hábito que, segundo o autor da
Crônica da Companhia, se deveu o desgaste das ditas rochas, até ao
paulatino desaparecimento das pegadas que já nos meados do século
XVII eram invisíveis, pôsto que a lembrança delas ainda a guardassem
os antigos. Além disso era sua existência atestada em certas cartas de
doação, onde se lia por exemplo: "Concedo uma data de terra sita nas
pegadas de São Tomé, tanto para tal parte, tanto para outra[ .... ]"10•
A relação dos milagres do apóstolo, aqui como na índia, não
fica, porém, nisso, e sua notícia não nos chegou unicamente através
dos padres missionários. Ao próprio Anthony Knivet, tido por herege,
que em certo lugar chamado Itaoca ouvira dos naturais ter sido ali
o lugar onde pregara São Tomé, mostraram perto do mesmo sítio um
imenso rochedo, que em vez de se sustentar diretamente sôbre o solo,
estava apoiado em quatro pedras, pouco maiores, cada uma, do que
um dedo. Disseram-lhe os índios que aquilo fôra milagre e que a
rocha era, de fato, uma peça de madeira petrificada. Disseram mais,
que o apóstolo falava aos peixes e dêstes era ouvido. Para a parte do
mar encontravam-se ainda lajedos, onde o inglês pudera distinguir
pessoalmente grande número de marcas de pés humanos, todos de igual
tamanho li.
Parece de qualquer modo evidente que muitos pormenores dessa
espécie de hagiografia do São Tomé brasileiro se deveram sobretudo
à colaboração dos missionários católicos, de modo que se incrustaram,
afinal, tradições cristãs em crenças originárias dos primitivos moradores da terra. Que a presença das pegadas nas pedras se tivesse
associado, entre êstes, e já antes do advento do homem branco, à
passagem de algum herói civilizador, é admissível quando se tenha em
conta a circunstância de semelhante associação se achar disseminada
entre inúmeras populações primitivas, em todos os lugares do mundo.
E é de compreender-se, por outro lado, que entre missionários e catequistas essa tendência pudesse amparar o esfôrço de conversão do
gentio à religião cristã.
Não admira, pois, se a legenda "alapego de sam paulo", que numa
das mais antigas representações cartográficas do continente sul-americano, a de Caverio, aparentemente de 1502, se acha colocada em
lugar aproximadamente correspondente à bôca do Rio Macaé, no atual
Estado do Rio de Janeiro e que, em 1507, Waldseemüller chega a
converter em "pagus S. Paulli", originando a hipótese de que se acharia
ali o mais antigo povoado europeu no Brasil, levasse pelo menos um
estudioso e historiador à idéia de que a outro apóstolo cristão, além
de São Tomé, se associassem as impressões de pés humanos encontradas em pedras através de várias partes do Brasil e ligadas pelos
índios à lembrança ancestral de algum personagem adventício que, ao lado de revelações sobrenaturais, lhes tivesse comunicado misteres mais
comezinhos, tais como o plantio, por exemplo, e a utilização da mandioca 12. Essas especulações foram reduzidas a seus verdadeiros limites,
desde que Duarte Leite, aparentemente com bons motivos, explicou
como a discutida palavra "alapego" não passaria de simples corrupção
de "arquipélago", alusivo à pequena Ilha de Sant´Ana, em frente à foz
do Macaé e a algumas ilhotas circunvizinhas.
Em realidade a identificação de rastros semelhantes no Extremo
Oriente, que os budistas do Cambodge atribuíam a Gautama, o seu
"preah put" como lhe chamam, e os cristãos a São Tomé, de onde o
dizerem vários cronistas que uns e outros os tinham por coisa sua,
não deveria requerer excessiva imaginação de parte das almas naturalmente piedosas no século XVI.
A prova está em que, ainda em 1791, missionários franceses do Cambodge se deixarão impressionar também pela possibilidade da mesma aproximação. Em carta daquela data,
escrita por Henri Langenois, um dêsses missionários, encontra-se, por exemplo, o seguinte trecho, bem ilustrativo : "Há alguns anos, nosso chefe Capo de Orta, tendo ido a Ongcor vat, perto do sítio onde estamos, mais para o norte, disse-lhe o grande bonzo: Cristão, vês essa estátua de um homem prosternado em frente ao nosso preah put
(é o nome de seu falso deus)? Chama-se Chimé. Que significa aquela marca de uma planta de pé impressa em suas costas? Foi por não querer reconhecer e adorar a divindade de nosso preah put, que a tanto o forçou êsse pontapé. Ora, como se afirma que São Tomé Dídimo passou para a China através do Ongcor, não estaria aqui a
história de suas dúvidas sôbre a Ressurreição e, depois, da adoração de Nosso Senhor Jesus Cristo?"14.
Sumé no Brasil; Chimé em Angcor, nomes que aparecem relacionados, um e outro, a impressões de pegadas humanas, que tanto no
Oriente, como aqui, se associavam, por sua vez, às notícias do aparecimento em remotas eras de algum mensageiro de verdades sobrenaturais, essas coincidências podem parecer deveras impressionantes.
Não seria difícil, pelo menos na órbita da espiritualidade medieval e
quinhentista, sua assimilação à lembrança de um São Tomé apóstolo,
que os autores mais reputados pretendiam ter ido levar às partes da
1ndia, a luz do Evangelho cristão. Não só as pisadas atribuídas ao
santo, mas tudo quanto parecesse assinalar sua visita e pregação aos
índios da terra. Em Itajuru, perto de Cabo Frio, existiu outrora um
penedo grande, amolgado de várias bordoadas, sete ou oito para cima,
como se o mesmo bordão dera com fôrça em branda cêra, por serem
iguais as marcas, e os naturais do lugar faziam crer que viriam do [p. 109, 110]
[1] Revista trimensal do Instituto Histórico, Geográphico e Etnográphico Brasileiro, tomo XXVI, 01/01/1863 [2] A Passagem de São Thomé pelo Brasil, por Eurico Branco Ribeiro, 01/03/1936 [3] Maniçoba, porta do Paraguai, Luís Castanho de Almeida (1904-1981). Jornal Correio Paulistano, 08.09.1940, 08/09/1940 [4] Lendas e Tradições da América, Marcus Cláudio Acquaviva, 01/01/1979 [5] Dagoberto Mebius - A História de Sorocaba para crianças e alunos do Ensino Fundamental I*, 01/11/2003 [6] Caminhos e descaminhos: a ferrovia e a rodovia no bairro Barcelona em Sorocaba/SP, 2006. Emerson Ribeiro, Orientadora Drª. Glória da Anunciação Alves, 01/01/2006 [7] “Boa Ventura! A Corrida Do Ouro No Brasil” (1697-1810). Lucas Figueiredo, 01/01/2011 [8] Santos, Heróis ou Demônios? Sobre as relações entre índios, jesuítas e colonizadores na América Meridional (São Paulo e Paraguai/Rio da Prata, séculos XVI-XVII), 2012. Fernanda Sposito. Tese apresentada ao Programa de Pós Graduação em História Social da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Doutora em História. Orientador: Prof. Dr. Pedro Puntoni, 01/01/2012 [9] Fragmentos de História: índios e colonos em Sorocaba - 1769-1752, 09.2012. Erik Petschelies*, 01/09/2012 [10] Trilha do Peabiru: Conheça caminho que levava nativos do Atlântico para o Pacífico. Por Isabelle Lima. portalamazonia.com, 07/01/2022 [11] Sorocaba e a feira do Tropeirismo Por Marco André Briones, consultado em cidadeecultura.com, 20/03/2023
Desde 17 de agosto de 2017 o site BrasilBook se dedicado em registrar e organizar eventos históricos e informações relevantes referentes ao Brasil, apresentando-as de forma robusta, num formato leve, dinâmico, ampliando o panorama do Brasil ao longo do tempo.
Até o momento a base de dados possui 30.439 registros atualizados frequentemente, sendo um repositório confiável de fatos, datas, nomes, cidades e temas culturais e sociais, funcionando como um calendário histórico escolar ou de pesquisa.