Representação das Câmaras de Santos e São Vicente ao capitão-mor Jerônimo Leitão, lugar-tenente do donatário, sobre a necessidade de fazer-se guerra aos índios Tupiniquim e Carijó 10/04/158508/10/2025 22:30:14
Os motivos alegados escondiam o verdadeiro motivo. [“Bandeiras e Bandeirantes de SP”, 1940. Francisco de Assis Carvalho Franco. Página 29]
E assim termina a sumaria exposição: "Pretende o depoimento dos jesuítas espanhóis que tais aldeias chegavam a ser 300, contando 30.000 habitantes, que os portugueses e os mamelucos seus filhos exterminaram ou arrastaram ao cativeiro litorâneo." [A primeira guerra de Jerônimo Leitão, Correio Paulistano, 25.07.1942, página 5. Américo de Moura]
Representação das Câmaras de Santos e São Vicente ao capitão-mor Jerônimo Leitão, lugar-tenente do donatário, sobre a necessidade de fazer-se guerra aos índios Tupiniquim e Carijó, porquanto a terra estava pobre e não tinha escravaria
Não obstante taes diligencias, eram-lhe frequentes as representações dos moradores vicentinos para outros descimentos e por mais de uma vez foi esse capitão-mor ameaçado de ser accusado de inerte, junto ao governo central.
Uma dessas representações, foi feita a 10 de abril de 1585, pelos pricipaes de São Vicente e de Santos e visando uma guerra aos carijós. As razões allegadas eram pueris,. uma vez que serviam apenas para encobrir o verdadeiro motivo que eJ:.a o commercio indígena.
Requeriam que a guerra se fizesse por mar, porque pelo sertão não era possível o transporte de todo o necessario. Firmavam ainda, e esse o ponto essencial, quetodos os índios aprisionados fossem repartidos pelas praças da bandeira, porque a capitania estava falta de braços para o trabalho.
As Câmaras de Santos e São Vicente dirigem uma representação ao capitão-mor Jerônimo Leitão, mostrando a “necessidade da guerra contra os Tupiniquim e os Carijós, por estar a terra pobre e sem escravaria e hostilizada pelos selvagens”
1ª fonte
Data: 1796
“Memória Histórica da Capitania de São Paulo e todos os seus memoráveis sucessos desde o ano de 1531 até o presente de 1796”, Manuel Cardoso de Abreu (1750-1804)
“Diccionario geographico, historico e descriptivo do Imperio do Brazil”, J.C.R. Milliet de Saint-Adolphe
Carijós - Nação nativa assás numerosa que dominava nas costas da província de São Paulo, ao sul da bahia de Cananéa, até as vizinhanças da lagoa dos Patos. Eram estes nativos afáveis, porém suspeitosos e pusilânimes. Em 1585, os naturais de São Vicente penetraram neste país em procura de minas, e porque quisessem obrigar os nativos a ajudarem-nos em suas explorações, ou por outro qualquer motivo, foram quase todos mortos.
Os habitantes da capitania de São Vicente, indignados com este acontecimento, pediram licença á câmara da vila de São Paulo para fazer guerra aos ditos nativos, que foram a final subjulgados e reduzidos á escravidão; porém algumas das tribos mais valerosas se recolheram no interior das matas. No século seguinte um sem-número de paulistas se derramaram pela parte do sul e do oeste do país, e os Carijós que viviam nas matas se retiraram para o sertão; porém encontraram nas margens do rio Guacúhi uma cabilda d´eles que não tiveram mais que o tempo necessário para fugirem com suas armas e alguns objetos que estimavam, deixando nas aldeias as mulheres decrepitas, que entendiam não tinham forças para executarem os trabalhos a que os portugueses sujeitavam aos que d´entre eles caiam em suas mãos, e d´ai veio o nome de Rio das Velhas dado a este Rio. Esta nação está hoje extinta ou confundida com outras tribos reduzidas igualmente a mui poucas famílias. [24159]
3ª fonte
Data: 1940
“Bandeiras e Bandeirantes de São Paulo”. Francisco de Assis Carvalho Franco (1886-1953)
Os motivos alegados escondiam o verdadeiro motivo. [p. 29] [24343]
4ª fonte
Data: 1942
“A primeira guerra de Jerônimo Leitão”. Américo de Moura (1881-1953), Jornal Correio Paulistano
Na poucas linhas em que esbocei o estudo da personalidade do capitão-mór que, como loco-tenente do donatário, governou a capitania de São Vicente no período decorrido entre os anos de 1572 e 1591, ficou patente o caráter de um administrador que, sem fugir à responsabilidade e aos perigos de guerras, no consenso dos próprios jesuítas consideradas justas, tinha entretanto, o firme propósito de impedir os excessos dos colonos contra os nativos e preferia recorrer a meios pacíficos para chamar estes à civilização.
Viu-se, porém, que em abril de 1585, apesar da hesitação demonstrada na demorado despacho dado à petição dos homens da governança de Santo e São Vicente, e na forma aleatória desse deferimento, estava ele disposto a empreender guerra, "por mar", aos carijós sulinos. Nesse mesmo ano desencadeou-se a chamada guerra de Jerônimo Leitão, que, conclui, merece maior estudo o que lhe dedicaram os nossos historiadores.
O que a respeito dessa guerra se vê na lição do maior historiador das bandeiras paulistas, é que ela foi feita, por terra, no litoral, até Paranaguá; que no estado-maior do capitão, salvo o padre Sebastião de Paiva, que era vigário de São Vicente, somente aparecem os nomes de onze moradores de São Paulo; e que a guerra de prolongou, pois "durante seis anos assolou Leitão as aldeias do Anhembi."
E assim termina a sumaria exposição: "Pretende o depoimento dos jesuítas espanhóis que tais aldeias chegavam a ser 300, contando 30.000 habitantes, que os portugueses e os mamelucos seus filhos exterminaram ou arrastaram ao cativeiro litorâneo."
É evidente o contraste entre as premissas que com bom fundamento estabeleci e os supostos resultados constantes da lição do acatado historiador. Teria Jerônimo Leitão, que "sempre fez muito caso" dos conselhos do padre José, ainda antes que este deixasse o provincialato, assumido atitude tão diferente da que dessa influência se poderia esperar, tornando-se perseguidor dos selvícolas durantes os londos anos em que ainda governou?
E outras dúvidas surgem, em matéria de fato. Como se teria transformado em guerra contra os nativos do Anhembi a empresa ideada como expedição marítima aos Patos? De que modo teria passado a ser encabeçada por moradores do planalto uma campanha de iniciativa tomada a sua revelia pelos do litoral?
Como se deduz de termos oficiais anteriores e posteriores, a população do campo era em 1585 de cerca de 120 moradores, em parte reinois e em parte brasileiros natos, brancos e mestiços. Os filhos-família de mais de 14 anos não chegariam ao dobro desse número, e pouco maior seria o de nativos escravizados ou particularmente administrados como forros. As aldeias de Pinheiros e São Miguel, "entre ambas terão 1000 pessoas", como dizia no fim desse ano o Padre Anchieta.
Qual teria sido o papel dessa gente no drama, que os jesuítas castelhanos assinalaram como tremenda hecatombe? Dificilmente se encontrará respostas a todas as interrogações que o problema suscita. E é claro que absolutamente não me proponho a resolver todas as dúvidas, trazendo à discussão o fraquíssimo concurso de minhas pesquisas e reflexões.
Embora determinada em 25 de abril, a reunião da junta das câmaras de Santos e São Vicente só se realizou em 10 de junho. E como resultado desse mês e meio de preliminares, o que se vê, sem uma explicação para o fato, é radical mudança no objetivo e na forma da expedição projetada: já não se fala em viagem "por mar" e sorrateiramente se acrescentam aos inimigos carijós os tupiães, habitantes do planalto.
Até aí não se manifesta nenhuma interferência dos moradores e homens da governança de Piratininga, ostensivamente postos à margem, como se destinados a não entrar na campanha ou a ter nela participação secundária.
Nas atas de São Paulo, até essa data, nenhum indicio encontrei em relação com o movimento. Apenas se observa que, precisamente no dia 10 de junho, deixou de comparecer o vereador Pedro Alvares "por estar fora desta vila e ser ido ao mar".
Em Santos, estaria ele então, e como ele outros moradores do planalto, em confabulação com o governador e com os homens bons de lá? Teria de tal confabulação resultado a mudança que se verificou no plano de guerra? Isso muto possível, mas em falta de documento positivo, é somente como hipótese que se pode admitir interferência paulistana em tal mudança.
Cerca de três meses ainda se passariam sem que o projeto ecoasse nos termos de vereança de São Paulo. Finalmente, em 1 de setembro, os capítulos da junta vicentina foram pelo governador submetidos à aprovação da câmara e do povo.
A esse ajuntamento não compareceu, assim como o vereador Pedro Alvares, o juiz Antonio Preto. E na assinatura do termo os vereadores presentes deram precedência a Afonso Sardinha.
O mais importante é que, aprovando e ratificando os assentos, requerimentos e capítulos das vilas do litoral, a de São Paulo se refere à entrada como tendo ser feita "ao nativo do sertão da dita capitania carijós e tupiães e outro qualquer que licitamente se puder trazer".
Aprestavam-se os elementos da expedição e parece que São Paulo seria o ponto de partida. Em 21 de outubro estava tudo disposto para se por em marcha a bandeira. Na sessão desse dia, a que não compareceram os já referidos edis, mas cuja ata, Antonio Preto assinou "de fora", tomaram-se medidas contra os moradores que iam à guerra sem ter pago a "finta" para a casa do conselho e contra os que a ela fossem estando encarregados da defesa e guarda da vila.
Em 2 de novembro, realizando-se sessão para eleger almotacel, não compareceram Pedro Alvares, Diogo Teixeira de Carvalho e Antonio Preto. E em 17, sessão a que também não compareceu Pedro Alvares, os oficiais restantes, Sebastião Leme e Afonso Dias, como Jorge Moreira, vereador do ano passado, "mandarão chamar os moradores da dita vila que havia por os mais serêm idos ao sertão em companhia do capitão-mór Jerônimo Leitão e entrada que se fez ao nativo do sertão", para se proceder à eleição de juízes ordinários, na ausência dos que tinham seguido a expedição.
Muitos foram os bandeirantes dessa companhia. Em 14 de junho de 1586 foi feita em camara a declaração "que toda a gente do povo estava ausente da capital com o capitão Jerônimo Leitão que eram idos a guerra e não ficaram senão as mulheres".
Apesar disso, da lista de 11 paulistanos que com o padre Sebastião de Paiva, segundo Taunay, figuravam no estado maior do governador devem ser retirados alguns nomes. Ficaram em São Paulo, como se vê nas atas: Diogo de Onhate, Antonio de Proença, Sebastião Leme, Salvador Pires e Afonso Dias.
Se de fato essa bandeira rumou para o sertão dos carijós, deve ter seguido pelo vale do Ribeira. Teria ela atingido as cabeceiras do Paranapanema. O que nesse caso não parece provável é que, em buscas de tupinães, tenham descido também o Anhembi. Este ainda seria considerado "caminho de paz"...
O certo é que, depois de assolar o sertão durante nove meses voltou ela a povoado, deixando, talvez, alguns postos ocupados, como o em que ficou com forja o ferreiro Domingos Fernandes. Em 27 de junho de 1586, em São Paulo, Jerônimo Leitão nomeou Diogo Teixeira de Carvalho escrivão de campo. Estava terminada a guerra, a primeira guerra desse capitão governador. [25047]
5ª fonte
Data: 1942
Caminho do Anhembi, Américo de Moura, Correio Paulistano, 22.08.1942, página 4
Em 1565, - informa-nos P. Padro - is camarista (de São Paulo) dirigem uma longa representação a Estácio de Sá, capitão-mór da Armada Real destinada ao povoamento do Rio de Janeiro, reclamando de termos energéticos, providências contra os assaltos dos tamôios e tupiniquins, que matam a roubam impunemente em todo o território da capitania, não lhe fazendo a gente desta capitania mal nenhum" (!!!).Mais tarde, em 1585, a situação exige organização de verdadeira companha, sob o comando do capitão-mór Jerônimo Leitão, loco-tenente do donatário, contra as tribos dos carijós, tupinaés e outras que infestavam diversas regiões da capitania.[Página 316]Depois das expedições escravizados do litoral, foi talvez a primeira guerra de caça ao nativo, requerida a aconselhada pelos camaristas da vila de São Paulo. "Estava iniciada e organizada, em larga escala, a escravidão do nativo. Com esse ardimento e afã, que sempre foram característicos da raça, os bandos paulistas se atiraram à expedição de resgate".Enquanto isso, os castelhanos, no sul, iam,semeando pequenos povoados como Mendoza, San Juan, San Luis e Tucumán, na vasta província do Rio da Prata, e os inacianos, procedentes do Brasil e do Peru, penetravam no Paraguai, dando início à catequese dos ameríndios de Guaíra, Vila Rica, etc. [24869]
7ª fonte
Data: 1957
“Na capitania de São Vicente”. Washington Luís (1869-1957), 11° presidente do Brasil
A 10 de abril de 1585 (Atas, vol. 1º, pág. 275), a Câmara de S. Paulo dirigiu longa e interessante representação a Jerônimo Leitão, alegando a situação aflitiva da capitania, na qual desde seis anos tinham morrido mais de seis mil peças do gentio, de câmaras de sangue e de outras moléstias, estando ela sem escravaria para o trabalho de plantações e criação de gado, de que viviam e pagavam o dízimo ao rei, e alegando ainda que o gentio carijó já havia matado dos brancos mais de 150 homens, espanhóis e portugueses, entre os quais os 80 mandados por Martim Afonso pela terra adentro, e até padres da Companhia de Jesus.
A Câmara de S. Paulo nessa representação requereu que fizesse guerra a esse gentio carijó, inimigo dos tupiniquins, por mar, pela facilidade de se levar mantimentos, e, vencendo-os fossem eles trazidos ao ensino e à doutrina cristã. Sem essa guerra de escravização e de vingança, a capitania se despovoaria, porque estavam todos dispostos a “largar a terra e ir viver onde tivessem remédio de vida”. Pediu ainda que a respeito fossem ouvidas as demais Câmaras. [p. 238] [24528]
8ª fonte
Data: 2015
A escravização indígena e o bandeirante no Brasil colonial: conflitos, apresamentos e mitos, 2015. Manuel Pacheco Neto
A situação econômica no planalto, como vimos, não era das melhores, contribuindo para que as justificativas que orbitavam o apresamento se tornassem mais consistentes. Em 10 de abril de 1585, os oficiais enviavam um extenso requerimento ao Capitão-Mor da capitania de São Vicente, Jerônimo Leitão, solicitando autorização formal para organizar uma entrada ao gentio do sertão. O tom discursivo do documento ora em questão assume o seguinte viés de argumentação:
[...] a grande necessidade em que esta terra está a qual é que esta terra parece e está em muito risco de se despovoar mais do que nunca esteve e se despovoa cada dia mais por causa dos moradores e povoadores dela não tiverem escravaria do gentio desta terra como tiveram e com que sempre se serviram e isto por razão de muitas doenças e enfermidades que na terra haviam como são as câmaras de sangue e outras doenças que são mortais nesta capitania de seis anos para cá e mataram duas mil pessoas, digo, peças de escravos [...] (ACTAS DA CÂMARA, 1585, p. 275). [20137]
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