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      1576
Lançada a obra Pero de Magalhães Gândavo, “Tratado da Terra do Brasil”
Atualizado em 30/06/2025 04:02:02
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Capítulo quintoDUMA NAÇÃO DE GENTIO QUE SE ACHA NESTA

\CapitaniaPelas terras desta capitania até junto do Espírito Santo, se acha uma certa nação de gentio que veio do sertão há cinco ou seis anos, e dizem que outros índios contrários destes, vieram sobre eles a suas terras, e os destrui-ram todos e os que fugiram são estes que andam pela costa.

Chamam-se aimorés, a língua deles é diferente dos outros índios, ninguém os entende, são eles tão altos e tão largos de corpo que quase parecem gigantes; são mui alvos, não têm parecer dos outros índios na terra nem têm casas nem povoações onde morem, vivem entre os matos como brutos animais; são mui forçosos em extremo, trazem uns arcos mui compridos e grossos conforme a suas forças e as frechas da mesma maneira. Estes índios têm feito muito dano aos moradores depois que vieram a esta costa e mortos alguns portugueses e escravos, porque são inimigos de toda gente. Não pelejam em campo nem têm ânimo para isso, põem-se entre o mato junto de algum caminho e tanto que passa alguém atiram-lhe ao coração ou a parte onde o matem e não despendem frecha que não na empreguem. Finalmente, que não têm rosto direito a ninguém, senão a traição fazem a sua. As mulheres trazem uns paus tostados com que pelejam.

Estes índios não vivem senão pela frecha, seu mantimento é caça, bichos e carne humana, fazem fogo de-baixo do chão por não serem sentidos nem saberem onde andam. Muitas terras viçosas estão perdidas junto desta capitania, as quais não são possuídas dos portugueses por causa destes índios. Não se pode achar remédio para os destruírem porque não têm morada certa, nem saem nunca dentre o mato: e assim quando cuidamos que vão fugindo ante quem os persegue, então ficam atrás escondidos e atiram aos que passam descuidados. Desta maneira matam alguma gente. Todos quantos índios há no Brasil são seus inimigos e temem-nos muito, porque há gente atraiçoada. E assim onde os há nenhum morador vai a sua fazenda por terra que não leve quinze vinte escravos consigo de arcos e flechas. Estes aimorés são mui feroz e cruéis, não se pode com palavras encarecer a dureza desta gente.

Não andam todos juntos, derramam-se por muitas partes, e quando se querem ajuntar assobiam como pássaros ou como bugios, de maneira que uns aos outros se entendem e se conhecem. Também os por-tugueses matam alguns deles, e têm muitos destruídos, principalmente nesta Capitania dos Ilhéus, e guardam-se muito deles, porque já sabemsuas manhas e conhecem mui bem sua malícia.[p. 41, 42]

nestas partes, a que com verdade se nam pode negar muito louvor. E porque ellas samtaes que por si se apregoam pela terra, nam me quiz entremeter a trata-las aqui maispor extenso: basta sabermos quam aprovadas sam em toda parte suas obras por santase bôas, e que sua tençam nam he outra senam dedica-las a nosso Senhor, de quemsomente esperam a gratificaçam e premio de suas virtudes.

CAPÍTULO XIV - DAS GRANDES RIQUEZAS QUE SE ESPERAM DA TERRA DO SERTÃO

Esta Provincia Santa Cruz alem de ser tam fertil como digo, e abastada de todos os mantimentos necessarios pera a vida do homem, he certo ser tambem mui rica, e haver nella muito ouro e pedraria, de que se tem grandes esperanças. E a maneira como isto se veio a denunciar e ter por causa averiguada foi por via dos Indios da terra. Os quaes como nam tenham fazendas que os detenham em suas patrias, e seu intento nam sejam outro senam buscar sempre terras novas, afim de lhes parecer que acharão nellas immortalidade e descanço perpetuo, aconteceu levantarem-se huns poucos de suas terras, e meterem-se pelo sertão dentro: onde depois de terem entrado algumas jornadas, foram dar com outros Indios seus contrarios, e ali tiveram com elles grande guerra. E por serem muitos, e lhes darem nas costas, nam se puderam tornar outra veza suas terras: por onde lhes foi forçado entrar pela terra dentro muitas legoas.

E pelo trabalho e má vida que neste caminho passaram, morreram muitos delles, e os que escaparam foram dar em huma terra, onde havia algumas povoações mui grandes, e demuitos vizinhos, os quaes possuiam tanta riqueza que afirmaram haver ruas muicompridas entre elles, nas quaes se nam fazia outra cousa senam lavar peças douro e pedrarias.

Aqui se detiveram alguns dias com estes moradores: os quaes vendo-lhes algumam ferramentas que elles levavam consigo perguntaram-lhes de quem as haviam, ou porque meios lhes vinham ter ás mãos. Responderam-lhe que huma certa gente habitava ao longo da costa da banda do Oriente, que tinha barba e outro parecer differente, de que as alcançavam, que sam os Portuguezes. Os mesmos signaes lhes deram estoutros dos Castelhanos do Perú, dizendo-lhes que tambem da outra banda tinham noticia haver gente semelhante, então lhes deram certas rodellas todas chapadas douro, e esmaltadas de esmeraldas, e lhes pediram que as levassem, pera que se acaso fossem ter com elles a suas terras lhes dixessem que se a troco daquellas peças e outras semelhantes lhes queriam levar ferramentas, e ter comunicação com elles, o fizessem que estavam prestes pera os receber com muito bôa vontade.

Depois disto partiram-se dahi e foram dar em o Rio das Amazonas, onde se embarcaram em algumas canoas que fizeram e a cabo de terem navegado por elle acima dous annos, chegaram á Provincia do Quito, terra do Perú, povoada de Castelhanos. Os quaes vendo esta nova gente espantaram-se muito, e nam sabiam determinar donde eram,nem a que vinham. Mas logo foram conhecidos por gentio da Provincia Santa Cruz de alguns Portuguezes que então na mesma terra se acharam. E perguntando por elles a causa de sua vinda contaram-lhes o caso meudamente fazendo-os sabedores de tudo o que lhes havia succedido. E isto veio-nos á noticia, e assi por via dos Castelhanos doPerú, onde estas rodellas foram vendidas por grande preço, como pela dos mesmos Portuguezes que lá estavam quando isto aconteceu, com os quaes falaram alguns homens deste Reino, pessôas de autoridade e dignas de credito, que testeficam ouvirem-lhes afirmar tudo isto por extenso da maneira que digo. E sabe-se de certo que está toda esta riqueza nas terras da Conquista de ElRei de Portugal, e mais pertosem comparaçam das povoações dos Portuguezes, que dos Castelhanos.

Isto se mostra claramente no pouco tempo que puzeram estes Indios em chegar a ella, e no muito que despenderam em passarem dahi ao Perú, que foram dous annos, como já disse. Alem da certeza que por esta via temos ha outros muitos Indios na terra que tambem afirmam haver no sertão muito ouro, os quaes posto que sam gente de pouca fé e verdade, dá-se-lhes credito nesta parte, porque àcerca disto os mais delles sam contestes, e falam em diversas partes per huma boca.

Principalmente he publica fama entre elles que ha huma lagoa mui grande no interior da terra donde procede o Rio de Sam Francisco, de que já tratei, dentro da qual dizem haver algumas ilhas e nellas edificadas muitas povoações, e outras orredor della mui grandes onde tambem ha muito ouro e mais quantidade, segundo se afirma, que em nenhuma outra parte desta Provincia. Tambem pela terra dentro nam muito longe do Rio da Prata descobriram os Castelhanos huma mina de metal da qual se tem levado ouro ao Perú e de cada quintal delle dizem que se tirou quinhentos e setenta cruzados e de outro trezentos e tantos: o de mais que della se tira he cobre infinito.

Tambem descobriram outras minas de humas certas pedras brancas e verdes, e de outras cores diversas, as quaes sam todas de cinco, seis quinas cada huma, á maneira de diamantes, e tambem lavradas da natureza, como se per industria humana o foram. Estas pedras nascem em hum vaso como Coquo, o qual he todo oco com mais dequatrocentas pedras orredor, todas enxeridas na pedreira com as pontas pera fora. Alguns destes pedernaes se acham ainda imperfeitos, porque dizem que quando sam de vez, que por si arrebentam com tanto estrondo, como se disparasse hum exercito de arcabuzes: e assi acharam muitas, que com a furia, segundo dizem, se metem pelaterra hum e dous estadios.

Do preço dellas nam trato aqui, porque ao presente o nam pude saber, mas sei que assi destas como doutras ha nesta Provincia muitas e mui finas, e muitos metaes, donde se pode conseguir infinita riqueza. A qual permitirá Deos que ainda em nossos dias se descubra toda, pera com ella se augmente muito a Coroa destes Reinos: aos quaes desta maneira esperamos, mediante o favor divino, ver muito cedo postos em feliz e prospero estado, que mais se nam possa desejar. [p. 153, 154, 155]



haver muito ouro, porque indo eles por15 entre duas serras, desta maneira foram dar num ribeiro que pelo pé duma delas descia, no qual acharam entre a areia uns grãos miúdos amarelos, os quais alguns homens apalpa-ram com os dentes e acharam-nos brandos, mas não se desfaziam. Final-mente que todos assentaram ser aquilo ouro nem podia ser outro metal, pois o mesmo ouro desta maneira nasce nas partes onde o há. Apanha-ram destes grãos entre a areia do ribeiro quantidade dum punhado, os quais acharam muito pesados, que também era prova de ser ouro: disto não fizeram mais16 experiência por ser aquilo no deserto e haver muitos dias que padeciam grande fome nem comiam outra cousa senão semente de ervas,17 e alguma cobra que matavam: passaram adiante determinando a vinda tornar por ali apercebidos de mantimentos para buscarem a serra mais devagar, donde aquele ouro descia ao ribeiro. Acharam pelos ma-tos muita canafístula, e por este caminho acharam outros muitos metais que não conheceram, nem podiam esperar pelas guerras dos índios que se alevantaram contra eles.

Alguns índios lhes deram notícia segundo a menção que faziam que podiam estar cem léguas da serra das pedras verdes que iam buscar, e que não havia muito dali ao Peru, finalmente que com os amigos que recreciam18 e pela gente que adoecia tornaram-se outra vez em almadias por um rio que se chama Cricaré, onde se perdeu numa cachoeira a canoa em que vinham os grãos de ouro que traziam pera mostra. Nesta viagem gastaram oito meses, e assim desbaratados chegaram a esta Capitania de Porto Seguro.Os que deste perigo escaparam afirmaram haver naquelas partes muito ouro, segundo as mostras e os sinais que acharam. E se lá tornar gente apercebida como convém, com toda a provisão necessária, e levarem pessoas que disto conheçam, dizem que se descobrirão nesta terra grandes minas. [p. 76]

Oh, as minas desse confusoRio da Prata, tão longínquo e extraordinário! "Pela terra a dentro, não muito longe do Rio da Prata, narra-o Gandavo — “descobriram os Castelhanos uma mina de metal; e de cada quintal dele dizem que se tirou quinhentos e setenta cruzados de prata...” Contava-se até que um mareante, depois de abicar ai por muita, praia — "levara consigo hum morador deste pais, o qual qusz com muito empenho ver o Rei de Portugal e dizer-lhe que se lhe oferecia a trazer tanta prata que mal a poderãocarregar"

SABARÁ ANT. TABARÁ, DE QUE SE FEZ TABARABOÇU, COMO SE VÊ EM VELHOS DOCUMENTOS. TABARÁ É A FORMA CONTRATA DE ITABARABA, ITABERABA QUE É ITÁ-BERABA, A PEDRA RELUZENTE, O CRISTAL.

“Sabarabuçu” de “Tabará-boçú”, corruptela de “Itaberaba-uçú”, que significa “pedra reluzente grande” ou “cristal grande”, que também se entende como “serra resplandecente”, lugar lendário entgre os colonos do primeiros século da conquista.

Eis o que, a respeito, nos diz o historiador Pero Magalhães Gândavo em 1576:

“A esta capitania chegaram certos nativos sdo sertão a dar novas de umas pedras verdes, que haviam numa serra muitas léguas pela terra dentro e traziam algumas delas por amostras, as quais eram esmeraldas (...) os mesmos natviso diziam que daquelas havia muitas e que e que esta serra era muito formosa e resplandecente (...)”

Essa serra resplandecente que os nativos em sua língua chamavam Itaberabuçu, tranformada por corrupção em Taberabuçu e mais geralmente em Sabarabuçu, vai ser por todo o século seguinte, o alvo das mais arrojadas expedições sertanejas.

"A ESTA CAPITANIA DE PORTO SEGURO CHEGARAM CERTOS ÍNDIOS DO SERTÃO A DAR NOVAS DE UMAS PEDRAS VERDES, QUE HAVIA NUMA SERRA MUITAS LÉGUAS PELA TERRA DENTRO E TRAZIAM ALGUMAS DELAS POR AMOSTRAS, AS QUAIS ERAM ESMERALDAS, MAS NÃO DE MUITO PREÇO; E OS MESMOS ÍNDIOS DIZIAM QUE DAQUELAS HAVIA MUITAS E QUE ESTA SERRA ERA MUI FORMOSA E RESPLANDECENTE..." ESTA SERRA RESPLANDECENTE QUE O GENTIO EM SUA LÍNGUA CHAMAVA ITABERABUÇÚ, TRANSFORMADA POR CORRUPÇÃO EM TABERABUÇÚ E MAIS GERALMENTE EM SABARABUÇÚ, VAI SER, POR TODO O SÉCULO SEGUINTE, O ALVO DAS MAIS ARROJADAS EXPEDIÇÕES SERTANEJAS. SABAÚNA CORR. TAMBÁ-UNA, O CONCHA PRETA; UMA ESPÉCIE DE MOLUSCO DE ÁGUA-DOCE. SÃO PAULO. [pop]partes é o das Amazonas, o qual sai ao norte meio grau da equinocial para o sul e tem trinta léguas de boca pouco mais ou menos. Este rio tem na entrada muitas ilhas que o dividem em diversas partes e nasce de uma lagoa que está cem léguas do mar do Sul ao pé de umas serras do Quito, província do Peru, de onde partiram já algumas embarcações de castelha-nos, e navegando por ele abaixo vieram sair em o mar oceano, meio grau equinocial, que será distância de 600 léguas por linha direta, não contando as mais que se acrescentam nas voltas que faz o mesmo rio. Outro muito grande cinqüenta léguas deste para Oriente sai também ao norte, a que chamam rio do Maranhão. Tem dentro muitas ilhas, e uma no meio da barra que está povoada de gentio, ao longo da qual podem surgir quais-quer embarcações. Terá este rio sete léguas de boca pela qual entra tanta abundância de água salgada, que daí cinqüenta léguas pelo sertão dentro, é nem mais nem menos como um braço de mar até onde se pode navegar per entre as ilhas sem nenhum impedimento. Aqui se metem dois rios nele que vêm do sertão, por um dos quais entraram alguns portugueses quando foi do descobrimento que foram fazer no ano de 35, e navegaram por ele a cima duzentas e cinqüenta léguas até que não puderam ir mais por diante por causa da água ser pouca, e o rio se ir estreitando de maneira que não podiam já por ele caber as embarcações. Do outro não descobriram cousa alguma e assim se não sabe até agora donde procedem ambos.Outro muito notável sai pela banda do Oriente ao mesmo oce-ano a que chamam de São Francisco: cuja boca está em dez graus e um terço, e será meia légua de largo. Este rio entra tão soberbo no mar, e com tanta fúria que não chega a maré à boca, somente faz algum tanto represar suas águas e daí três léguas ao mar se acha água doce. Corre-se da boca, do sul para o norte: dentro é muito fundo e limpo, e pode-se navegar por ele até sessenta léguas como já se navegou. E daí por diante se não pode passar por respeito de uma cachoeira mui grande que há neste passo onde cai o peso da água de muito alto. E acima desta cachoeira se mete o mesmo rio debaixo da terra, e vem sair uma légua daí, e quando há cheias arrebenta por cima e arrasa toda a terra. Este rio procede de um lago mui grande que está no íntimo da terra, onde afirmam que há muitas povoações, cujos moradores (segundo fama) possuem grandes haveres de ouro e pedraria. Outro rio muito grande, e um dos mais espantosos do mundo, sai pela mesma banda do Oriente em trinta e cinco graus, a que chamam rio da Prata, o qual entra no oceano com quarenta léguas de boca: e é tanto o ím-peto de água doce que traz de todas as vertentes do Peru, que os navegantes primeiro no mar bebem suas águas, que vejam a terra donde este bem lhes procede. Duzentas e setenta léguas por ele acima está edificada uma cidade povoada de castelhanos que se chama Assunção. Até aqui se navega por ele, e ainda daí por diante muitas léguas. Neste rio pela terra dentro se vem meter outro a que chamam Paraguai, que também procede do mesmo lago como o de São Francisco que atrás fica. Além destes rios há outros muitos que pela costa ficam, assim grandes como pequenos, e muitas enseadas, baías, e braços de mar, de que não quis fazer menção, porque meu inten-to não foi senão escolher as cousas mais notáveis, e principiais da terra, e tratá-las aqui somente em particular, para que assim não fosse notado de prolixo e satisfizesse a todos com brevidade.[p. 97, 98]

saram mui depressa, e tira os sinais de maneira, que de maravilha se enxerga onde estiveram e nisto faz vantagem a todas as outras medicinas. Este óleo não se acha todo ano perfeitamente nestas árvores, nem procuram ir buscá-lo senão no estio que é o tempo em que assinaladamente o criam. E quando querem tirá-lo dão certos golpes ou furos no tronco delas pelos quais pouco a pouco estão estilando do amargo este licor precioso. Porém não se acha em todas estas árvores senão em algumas a que por este respeito dão o nome de fêmea, e as outras que carecem dele chamam machos, e nisto somente se conhece a diferença destes dois gêneros, que na proporção e semelhança não difere nada umas das outras. As mais delas se acham roçadas dos animais, que por instinto natural quando se sentem feridos ou mordidos de alguma fera as vão buscar para remédio de suas enfermidades.Outras árvores diferentes destas há na Capitania dos Ilhéus, e na do Espírito Santo a que chamam Caboraíbas, de que também se tira outro bálsamo: o qual sai da casca da mesma árvore, e cheira suavissimamente. Também aproveita para as mesmas enfermidades, e aqueles que o alcançam tem-no em grande estima e vendem-no por muito preço, porque além de tais árvores serem poucas correm muito risco as pessoas que o vão buscar, por causa dos inimigos que andam sempre naquela parte emboscados pelo mato e não perdoam a quantos acham.

Também há uma árvore na Capitania de São Vicente, que se diz pela língua dos índios “Obirá paramaçaci”, que quer dizer pau para enfermidades: com o leite da árvore da qual somente com três gotas pur-ga uma pessoa por baixo e por cima grandemente. E se tomar quantidade de uma casca de noz, morrerá sem nenhuma remissão. De outras plantas e ervas que não dão fruto nem se sabe o para que prestam, se podia escre-ver, de que aqui se faço menção, porque meu intento não foi senão dar notícia (como já disse), destas de cujo fruto se aproveitam os moradores da terra. Somente tratarei de uma mui notável, cuja qualidade sabida creio que em toda parte causará grande espanto. Chama-se erva-viva, e tem alguma semelhança de silvam macho. Quando alguém lhe toca com as mãos, ou com qualquer outra cousa que seja, naquele momento se encolhe e murcha de maneira que parece criatura sensitiva que se anoja, e recebe escândalo com aquele tocante. E depois que assossega, como cousa já esquecida deste agravo, torna logo pouco a pouco a estender-se [p. 111]

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .Capitulo XDO GENTIO QUE HÁ NESTA PROVÍNCIA, DA CONDIÇÃO E COSTUMES DELE, E DE COMO SE GOVERNAM NA PAZá que tratamos da terra e das cousas que nela foram criadas para o homem, razão pela qual demos aqui notícia dos naturais dela: a qual posto que não seja de todos em geral será especialmente daqueles que habitam pela costa, e em partes pelo sertão dentro de muitas lagoas, com que temos comu-nicação. Os quais ainda que estejam divisos, e haja entre eles diversos nomes de nações, todavia na semelhança, condição, costumes, e ritos gentílicos, to-dos são uns; e se em alguma maneira diferem nesta parte, é tão pouco, que se não pode fazer caso disso, nem particularizar cousas semelhantes entre outras mais notáveis, que todos geralmente seguem, como logo adiante direi.

Estes índios são de cor branca, e cabelo corredio; têm o rosto amassado, e algumas feições dele à maneira de chins. Pela maior parte são bem dispostos, rijos e de boa estatura; gente muito esforçada, e que estima pouco morrer, temerária na guerra, e de muito pouca consideração: são mal agradecidos em grande maneira, e muito desumanos e cruéis, incli-nados a pelejar, e vingativos por extremo. Vivem todos muito descansados sem terem outros pensamentos senão de comer, beber, e matar gente, e por isso engordam muito, mas com qualquer desgosto pelo conseguinte tornam a emagrecer, e muitas vezes pode deles tanto a imaginação que se algum deseja a morte, ou alguém lhe mete em cabeça que há de morrer tal dia ou tal noite não passa daquele termo que não morra. São muito inconstantes e mutáveis: crêem de ligeiro tudo aquilo o que lhes persuadem por dificultoso e impossível que seja, e com qualquer dissuasão facilmente o tornam logo a negar. São muito desonestos e dados à sensualidade, e assim se entregam aos vícios como se neles não houvera razão de homens: ainda que todavia em seu ajuntamento os machos e fêmeas têm o devido resguardo, e nisto mostram ter alguma vergonha.A língua de que usam, toda pela costa, é uma: ainda que em cer-tos vocábulos difere em algumas partes; mas não de maneira que se deixem uns aos outros de entender: e isto até altura de vinte e sete graus que daí por diante há outra gentilidade, de que nós não temos tanta notícia, que falam já outra língua diferente. Esta de que trato, que é geral pela costa, é muito branda, e a qualquer nação fácil de tomar. Alguns vocábulos há nela de que não usam senão as fêmeas, e outros que não servem senão para os machos: carece de três letras, convém a saber, não se acha nela F, nem L, nem R, cousa digna de espanto porque assim não tem Fé, nem Lei, nem Rei, e desta maneira vivem desordenadamente sem terem além disto conta, nem peso, nem medida.Não adoram a cousa alguma, nem têm para si que há depois da morte glória para os maus, e o que sentem da imortalidade da alma não é mais que terem para si que seus defuntos andam na outra vida feridos, despedaçados, ou de qualquer maneira que acabaram nesta. E quando al-gum morre, costumam enterrá-lo em uma cova assentado sobre os pés com sua rede às costas que em vida lhe servia de cama. E logo pelos primeiros dias põem-lhe seus parentes de comer em cima da cova e também alguns lho costumam meter dentro quando o enterram, e totalmente cuidam que comem e dormem na rede que têm consigo na mesma cova.Esta gente não tem entre si nenhum rei, nem outro gênero de justiça, senão um principal em cada aldeia, que é como capitão, ao qual obedecem por vontade, e não por força. Quando este morre fica seu filho no mesmo lugar por sucessão, e não serve de outra cousa senão de ir com eles à guerra, e aconselha-lhes como se hão de haver peleja; mas não castiga erros nem manda sobre eles cousa alguma contra suas vontades. E assim a guerra que agora têm uns contra outros não se levantou na terra por serem diferentes em leis nem em costumes, nem por cobiça alguma de interesse: mas porque antigamente se algum acertava de matar outro, como aindaagora algumas vezes acontece (como eles sejam vingativos e vivam como digo absolutamente sem terem superior algum a que obedeçam nem te-mam) os parentes do morto se conjuravam contra o matador e sua geração e se perseguiam com tal mortal ódio uns aos outros que daqui veio dividi-rem-se em diversos bandos, e ficarem inimigos da maneira que agora estão. E por que estas dissenções não fossem tanto por diante, determinaram atalhar a isto, usando do remédio seguinte, para por esta via se poderem melhor conservar na paz e se fazerem mais fortes contra seus inimigos. E é que quando tal caso acontece de um matar a outro, os mesmos parentes do matador fazem justiça dele e logo à vista de todos o afogam. E com isto os da parte do morto ficam satisfeitos e uns e outros permanecem em suas amizades como antes. Porém, como esta lei seja voluntária e executada sem rigor nem obrigação de justiça alguma, não querem algum estar por ela, e daqui vem logo pelo mesmo caso a dividirem-se, e levantarem-se de parte uns contra os outros, como já disse.As povoações destes índios são aldeias: cada uma delas tem sete, oito casas, as quais são muito compridas feitas à maneira de cor-doarias ou tarracenas fabricadas somente de madeira e cobertas com palma ou com outras ervas do mato semelhante; estão todas cheias de gente de uma parte e de outra e cada um por si tem a sua instância, a sua rede armada, em que dorme e assim estão uns juntos dos outros por ordem, e pelo meio da casa fica um caminho aberto por onde todos se servem como dormitório, ou coxia de galé. Em cada casa destas vivem todos muito conformes, sem haver nunca entre eles nenhuma diferen-ças: antes são tão amigos uns dos outros, que o que é de um é de todos, e sempre de qualquer cousa que um coma por pequena que seja, todos os circunstantes hão de participar dela. Quando alguém os vai visitar a suas aldeias depois que se assenta costuma chegarem-se a ele algumas moças escabeladas, e recebem-no com grande pranto derramando muitas lágri-mas perguntando-lhe (se é seu natural) onde andou, que trabalhos fo-ram os que passou depois que daí se foi. Trazendo-lhe à memória muitos desastres que lhe puderam acontecer buscando enfim para isto as mais tristes e sentidas palavras que podem achar para provocarem o choro. E se é português, maldizem a pouca dita de seus defuntos, pois foram tão mal afortunados que não alcançaram ver gente tão valorosa e luzida,como são os portugueses, de cuja terra todas as boas cousas lhes vêm, nomeando algumas que eles têm em muita estima. E este recebimento que digo de tão usado entre eles, que nunca ou de maravilha deixam de o fazer, salvo quando reinam alguma malícia contra os que os vão visitar, e lhes querem fazer alguma traição.As invenções e galantarias de que usam, sem trazerem alguns o beiço de baixo furado, e uma pedra comprida metida dentro do buraco. Outros a que trazem o rosto todo cheio de buracos e de pedras, e assim parecem muito feios e disformes; e isto lhes fazem enquanto são meni-nos.

Também costumam todos arrancarem a barba, e não consen-tem nenhum cabelo em parte alguma de seu corpo salvo na cabeça, ainda que ao redor dela por baixo tudo arrancam. As fêmeas prezam-se muito de seus cabelos e trazem-nos muito compridos, limpos e penteados, e as mais delas enastrados. E assim também machos como fêmeas costumam tingir-se algumas vezes com o sumo de um certo pomo que se chama jenipapo que é verde quando se pisa e depois que o põem no corpo e se enxuga, fica muito negro e por muito que se lave não se tira senão aos nove dias. As mulheres com que costumam casar são suas sobrinhas, fi-lhas de seus irmãos e irmãs: estas têm por legitimas, e verdadeiras mu-lheres, e não lhes podem negar seus pais, nem outra pessoa alguma pode casar com elas, senão os tios. Não fazem nenhumas cerimônias em seus casamentos, nem usam de mais neste ato que de levar cada um sua mu-lher para si como chegar a uma certa idade, porque esperam que serão então de quatorze ou quinze anos pouco mais ou menos. Alguns deles têm três ou quatro mulheres: a primeira têm em muita estima e fazem mais caso que das outras. E isto pela maior parte se acha nos principais que o têm por estado e por honra e prezam-se muito de se diferenciar nisto dos outros. Algumas índias a que também entre eles determinam de ser castas, as quais não conhecem homem algum de nenhuma qualidade, nem o consentirão ainda que por isso as matem. Estas deixam todo o exercício de mulheres e imitam os homens e seguem seus ofícios, como se não fossem fêmeas. Trazem os cabelos cortados da mesma maneira que os machos, e vão à guerra com seus arcos e flechas, e à caça perseverando sempre na companhia dos homens, e cada uma tem mulher que a serve, com quem diz que é casada, e assim se comunicam e conversam como marido e mulher. Todas as outras índias quando parem, a primeira cousa que fa-zem depois do parto, lavam-se todas em uma ribeira, e ficam tão bem dis-postas, como se não pariram, e o mesmo fazem à criança que parem. Em lugar delas se deitam seus maridos na rede e assim os visitam e curam como se eles fossem as mesmas paridas. Isto nasce de elas terem em muita conta os pais de seus filhos, e desejarem em extremo depois que parem deles de em tudo lhes comprazer. Todos criam seus filhos viciosamente, sem nenhuma maneira de castigo, e mamam até a idade de sete, oito anos, se as mães até então não acertam de parir outros que os tirem das vezes. Não há entre eles ne-nhumas boas artes a que se dêem, nem se ocupam noutro exercício senão em granjear com seus pais o que hão de comer, debaixo de cujo amparo estão agasalhados até que cada um por si é capaz de buscar sua vida sem mais esperarem heranças deles nem legítimas de que enriqueçam, somente lhe pagam com aquela criação em que a natureza foi universal a todos os outros animais que não participam de razão. Mas a vida que buscam e granjearia de que todos vivem, é a custa de pouco trabalho, e muito mais descansada que a nossa: porque não possuem nenhuma fazenda, nem procuram adquiri-la como os outros homens e assim vivem livres de toda a cobiça e desejo desordenado de ri-quezas, de que as outras nações não carecem; e tanto que ouro nem prata nem pedras preciosas têm entre eles nenhuma valia, nem para seu uso têm necessidade de nenhuma cousa destas, nem doutras semelhantes.Todos andam nus e descalços assim machos como fêmeas, e não cobrem parte alguma de seu corpo. As camas em que dormem são umas redes de fio de algodão que as índias tecem num tear feito à sua arte; as quais têm nove, dez palmos de comprido, e apanham-nas com uns cordéis que lhe rematam nos cabos, em que lhes fazem umas azelhas de cada banda por onde as penduram de uma parte e doutra, e assim ficam dois palmos pouco mais ou menos suspendidas do chão de maneira que lhes possam fazer fogo debaixo para se aquentarem de noite ou quando lhes for necessário.Os mantimentos que plantam em suas roças, com que se susten-tam são aqueles de que atrás fiz menção, são mandioca e milho-zaburro. Além disto, ajudam-se da carne de muitos animais que matam, assim com flechas como por indústria de seus laços e fojos onde costumam caçar a maior parte deles. Também se sustentam de muito marisco e peixes que vão pescar pela costa em jangada, que são uns três ou quatro paus pregados nos outros e juntos de modo que ficam à maneira dos dedos da mão esten-dida, sobre os quais podem ir duas ou três pessoas ou mais se mais forem os paus, porque são muito leves e sofrem muito peso em cima d’água. Têm quatorze ou quinze palmos de comprimento, e de grossura ao redor, ocu-param dous pouco mais ou menos. Desta maneira vivem todos estes índios sem mais terem outras fazendas entre si, nem granjearias em que se desvelem, nem tampouco estados nem opiniões de honra, nem pompas para que as hajam mis-ter: porque todos, como digo, são iguais e em tudo tão conformes nas condições, que ainda nesta parte vivem justamente e conforme à lei da [p. 133]Capítulo XIDAS GUERRAS QUE TêM UNS COMOUTROS E A MANEIRA COM QUE SE HÃO NELAS

Estes índios têm sempre grandes guerras uns contra outros e as-sim nunca se acha neles paz nem será possível, segundo são vingativos e odiosos vedarem-se entre eles estas discórdias por outra nenhuma via, se não for por meios da doutrina cristã, com que os padres da Companhia pouco a pouco os vão amansando como adiante direi.As armas com que pelejam são arcos e flechas nas quais andam tão exercitados que de maravilha erram a cousa que apontam, por difícil que seja de acertar. E no despedir delas são mui ligeiros em extremo, e sobretudo muito arriscados nos perigos, e atrevidos em grã maneira contra seus adversários. Quando vão a guerra sempre lhes parece que têm certa a vitória e que nenhum de sua companhia a de morrer, e assim em partindo dizem, vamos matar, sem mais outro discurso, nem considerações, e não cuidam que também podem ser vencidos. E somente com esta sede de vin-gança sem esperanças de despojos, nem doutro algum interesse que a isso os mova, vão muitas vezes buscar seus inimigos muito longe caminhando por serras, matos, desertos e caminhos muito ásperos.Outros costumam ir por mar, de umas terras para outras em umas embarcações a que chamam canoas, quando querem fazer alguns saltos ao longo da costa. Estas canoas são feitas à maneira de lançadeiras [p. 139]

tirem de suas terras muito determinados, e desejosos de exercitarem sua crueldade, se acontece encontrar uma certa ave, ou qualquer outra cousa semelhante, que eles tenham por ruim pronóstico, não vão mais por diante com sua determinação, e dali consultam tornar-se outra vez, sem haver algum da companhia que seja contra este parecer. Assim que com qual-quer abusam destas, a todo o tempo se abalam muito facilmente ainda que estejam muito perto de alcançar vitória, porque já aconteceu terem uma aldeia quase rendida e por um papagaio que, havia nela falar umas certas palavras que lhe eles tinham ensinado, levantaram o cerco, e fugiram sem esperarem o bom sucesso que o tempo lhes prometia, crendo sem dúvida, que se assim o não fizeram morrerão todos a mão de seus inimigos. Mas afora desta pusilanimidade a que estão sujeitos, são muito atrevidos, como digo, e tão confiados em sua valentia, que não há forças de contrários tão poderosas que os assombrem, nem que os façam desviar de suas bárbaras e vingativas tenções. A este propósito contarei alguns casos notáveis que aconteceram entre eles, deixando outros muitos à parte, de que eu pudera fazer um grande volume se minha tenção fora escrevê-los em particular como cada um dos seguintes.Na Capitania de São Vicente sendo capitão Jorge Ferreira aconteceu darem os contrários em uma aldeia que estava não mui longe dos portugueses e neste assalto matarem um filho do principal da mesma aldeia. E porque ele era benquisto e amado de todos não havia pessoa nela que não pranteasse, mostrando com lágrimas e palavras magoadas o sentimento de sua morte. Mas o pai, como corrido e afrontado de não haver ainda neste caso tomado vingança, pediu a todos com eficácia que se o amavam dissimulassem a perda de seu filho, e que por nenhuma via quisessem chorar. Passados três ou quatro meses, depois da morte do fi-lho, mandou aperceber sua gente como convinha, por lhe parecer aquele tempo mais favorável e acomodado e seu propósito, o que todos logo puseram em efeito. E dali a poucos dias deram consigo na terra dos con-trários, que seria distância de três jornadas pouco mais ou menos, onde fizeram suas ciladas junto da aldeia em parte que mais pudessem ofender a seus inimigos; e tanto que anoiteceu o mesmo principal se apartou de companhia com dez ou doze frecheiros escolhidos de que ele mais se confiava, e com eles entrou na mesma aldeia dos imigos, que o haviam ofendido, e deixando-os à parte, só, sem outra pessoa o seguir, começou de rodear uma casa e outra, espreitando com muita cautela, de maneira que não fosse sentido, e da prática que eles tinham uns com outros veio a conhecer pela notícia do nome qual era, e onde estava o que havia morto seu filho, e pera se acabar de satisfazer, chegou-se da banda de fora à sua estância, e como foi bem certificado de ele ser aquele, deixou-se ali estar em terra esperando que se aquietasse a gente, e tanto que viu horas aco-modadas para fazer a sua, rompeu a palma muito mansamente de que a casa estava coberta, e entrando foi-se direito ao matador, ao qual cortou logo a cabeça em breve espaço com um cutelo, que para isso levava. Feito isto tomou-a nas mãos e saiu-se fora a seu salvo, os inimigos que neste tempo acordaram ao reboliço e estrondo do morto conhecendo serem contrários, começaram de os seguir. Mas como seus companheiros que ele havia deixado em guarda estavam prontos ao sair da casa, mataram muitos deles, e assim se foram defendendo até chegarem às ciladas donde todos saíram com ímpeto contra os que os seguiam e ali mataram muitos mais. E com esta vitória se vieram recolhendo para sua terra com muito prazer e contentamento. E o principal que consigo trazia a cabeça do imigo chegando à sua aldeia a primeira cousa que fez foi-se ao meio do terreiro da aldeia, e ali a fixou num pau à vista de todos dizendo estas pa-lavras: agora, companheiros e amigos meus, que eu tenho vingado a mor-te de meu filho, e trazida a cabeça do que o matou diante vossos olhos, vos dou licença que o choreis muito embora, que dantes com mais razão me podereis a mi chorar, enquanto vos parecia que por algum descuido dilatava esta vingança, ou que porventura esquecido de tão grande ofen-sa já não pretendia tomá-la, sendo eu aquele a quem mais devia tocar o sentimento de sua morte. Dali por diante foi sempre este principal muito temido e ficou seu nome afamado por toda aquela terra. Outro caso de não menos admiração aconteceu entre Porto Se-guro e o Espírito Santo, naquelas guerras onde mataram Fernão de Sá,4filho de Mem de Sá, que então era governador-geral destas partes. E foi que tendo os portugueses rendido uma aldeia com favor de alguns índios[p. 141, 142]lhe que uma certa gente habitava ao longo da costa da banda do Oriente, que tinha barba e outro parecer diferente, de que as alcançavam, que são os por-tugueses. Os mesmos sinais lhes deram estoutros dos castelhanos do Peru, dizendo-lhes que também da outra banda tinham notícia haver gente seme-lhante, então lhes deram certas rodelas todas chapadas douro, e esmaltado de esmeraldas, e lhes pediram que as levassem, para que se acaso ter com eles a suas terras lhes dissessem que se a troco daquelas peças e outras semelhan-tes lhes queriam levar ferramentas, e ter comunicação com eles, o fizessem que estavam prestes para os receber com muito boa vontade. Depois disto partiram-se daí e foram dar em o rio das Amazonas, onde se embarcaram em algumas canoas que fizeram, e a cabo de terem navegado por ele acima dos anos, chegaram à Província do Quito, terra do Peru, povoada de caste-lhanos.

Os quais vendo esta nova gente espantaram-se muito, e não sabiam determinar donde eram, nem a que vinham. Mas logo foram conhecidos por gentio da Província de Santa Cruz de alguns portugueses que então na mesma terra se acharam. E perguntando por eles a causa de sua vinda conta-ram-lhes o caso miudamente fazendo-os sabedores, de tudo o que lhes havia sucedido. E isto veio-nos notícia, e assim por via dos castelhanos do Peru, onde estas rodelas foram vendidas por grande preço, como pela dos mesmos portugueses que lá estavam quando isto aconteceu, com os quais falaram alguns homens deste Reino pessoas de autoridade e dignas de crédito, que testificam ouvirem-lhes afirmar tudo isto por extenso da maneira que digo. E sabe-se decerto que está toda esta riqueza nas terras da Conquista de el-Rei de Portugal, e mais perto sem comparação das povoações dos portugueses, que dos castelhanos. Isto se mostra claramente no pouco tempo que puse-ram estes índios em chegar a ela, e no muito que despenderam em passarem daí ao Peru, que foram dous anos, como já disse. Além da certeza que por esta via temos há outros muitos índios na terra que também afirmam haver no sertão muito ouro, os quais posto que são gente de pouca fé e verdade, dá-se-lhes crédito nesta parte, porque acerca disto os mais deles são contestes, e falam em diversas partes por uma boca. Principalmente é pública fama entre eles que há uma lagoa muito grande no interior da terra donde procede o rio de São Francisco, de que já tratei, dentro da qual dizem haver algumas ilhas e nelas edificadas muitas povoações, e outras ao redor dela muito grandes onde também há muito ouro, e mais quantidade, segundo se afirma, que[p. 154]


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“Bandeiras e Bandeirantes de São Paulo”
Data: 01/01/1940
Créditos/Fonte: Carvalho Franco
Página 44


ID: 11737


Historia da prouincia sa[n]cta Cruz a qui vulgarme[n]te chamamos Brasil: feita por Pero de Magalhães de Gandavo
Data: 01/01/1576
Página 48


ID: 13302




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